por Caio Coletti
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
No mundo paralelo de Family Tree, os personagens que passam pela vida do protagonista Tom Chadwick na sua jornada de descobrimento pessoal e familiar são pitorescos, caricatos e histericamente engraçados simplesmente pela forma que são construídos. No entanto, de alguma forma o roteirista e criador Christopher Guest também encontra o ponto certo para fazê-los críveis e, de sua própria forma irônica, tocantes. Até os membros da família que Tom procura através da caixa de lembranças herdada da tia-avó são assim: o Harry Chadwick que Tom descobre nesse “Treading The Boards” provoca muitas risadas devido a sua estranha (e de alguma forma não muito digna) carreira, mas é nessa bizarrice, na qual mora o próprio coração de Family Tree, que está seu grande trunfo.
Nós já conhecíamos Harry do episódio anterior, “The Box”, mas esse “Treading The Boards” nos revela que o que sabemos sobre ele é pouco: depois de se aposentar da fotografia, o tataravô de Tom se mudou para o interior inglês e se tornou ator, inclusive contracenando com Laurence Olivier no final de sua carreira. Seu ato mais famoso, no entanto, era uma vinheta de comédia em que ele e um colega se colocavam na fantasia de um cavalo (Harry era a parte de trás) e divertiam o público. Depois de saber (por um funcionário hilário do teatro) que Harry e seu parceiro brigaram porque o dito cujo tinha um caso com a mulher do amigo, Tom toma as dores do antepassado e resolve correr numa espécie de derby (corrida de cavalos americana) com fantasias, evento que ocorre anualmente na cidade e que seu tataravô ganhou nove vezes seguidas.
A aparição da irmã Bea da sensacional Nina Conti (e seu ventríloquo Monkey) mostra que Family Tree tem a capacidade de seguir a evolução de mais de um personagem ao mesmo tempo, mesmo que Bea seja verdadeiramente a única dos coadjuvantes que apresenta sequer esse potencial (o Keith de Michael McKean e o Pete de Tom Bennett funcionam mais como artifícios cômicos do que como personagens com arcos definidos). Com mais verve cômica até que o primeiro episódio, “Treading The Boards” é recheado de pequenos diálogos engraçados e brilhantes, e não se priva do olhar sempre cínico e um tanto depreciativo de Guest sobre seus personagens – ainda que não menospreze sua ordinariedade, se é que isso faz sentido.
A cena com a velhinha que se lembra do tataravô de Tom é culpadamente hilária e curiosamente tocante, assim como a encenação derradeira com Tom no cemitério vendo o túmulo de Harry (e contemplando o dos pais do mesmo, provavelmente temas do próximo episódio). Family Tree confia nessa estranha e saborosíssima alquimia para funcionar, e até agora tem se mostrado mais do que certeira em sua missão.
**** (4/5)
Próximo Family Tree: 01x03 – The Austerity Games (02/06)
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