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27 de nov. de 2014

Gotham 1x09/10: Harvey Dent/Lovecraft

GOTHAM: Detectives James Gordon (Ben McKenzie, second from L), Renee Montoya (Victoria Cartagena, second from R) and Crispus Allen (Andrew Stewart Jones, R) meet Harvey Dent (guest star Nicholas D'Agosto) in the "Harvey Dent" episode of GOTHAM airing Monday, Nov. 17 (8:00-9:00 PM ET/PT) on FOX. ©2014 Fox Broadcasting Co. Cr: Jessica Miglio/FOX

ATENÇÃO:  esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

1x09 – Harvey Dent

Poucas séries são tão dedicadas à construção do mundo ficcional que habitam quanto Gotham. O leitor pode argumentar que era de se esperar, visto o próprio título da série, mas isso não diminui a importância do trabalho que os roteiristas realizaram nessa primeira fatia da temporada, nos mostrando os meandros e as naturezas de Gotham City, e o que nela move os personagens que a povoam. A essa altura, se aproximando do seu primeiro fall finale, a série da FOX respira com vitalidade impressionante pela complexidade e audácia que o seu retrato da metrópole mais famosa dos quadrinhos trouxe para a televisão americana. Gotham é notavelmente dark para o ambiente em que é produzida e o alcance potencial que tem, e poucas vezes isso ficou mais claro que em “Harvey Dent”.

Simbólico que seja essa o episódio, é claro, em que conhecemos o jovem promotor que é figura mais que carimbada do universo de Gotham. Interpretado por um histriônico Nicholas D’Agosto (conhecido dos fãs de Masters of Sex, que estão familiarizados com as suas limitações como ator), o futuro Duas-Caras é uma presença imediatamente impressionante em tela, porque representa a forma mais insidiosa de corrupção que poderia se infiltrar em qualquer cidadão de Gotham: aquela que aflora pelo desejo fulguroso de justiça. Garantidamente que o roteiro pesa a mão nos diálogos e na caracterização, e o ator não ajuda – mas há algo no Harvey de Gotham que mantem o espírito do personagem, e o torna um espelho interessante de Gordon.

O outro ponto principal de “Harvey Dent”, nas mãos do roteirista Ken Woodruff (1x04, “Arkham” – review), é a estrutura social da metrópole que dá nome à série. Há algo de cruel na forma como o episódio retrata a interação entre Bruce e Selina, por exemplo, embora Woodruff não esqueça de dar aos diálogos entre eles um tempero agridoce. Esse é o nascimento de um casal complicado que estamos vendo, e é interessante colocar o sempre focado David Mazouz em frente à vivaz Camren Bicondova – não só os dois soltam faíscas juntos, como puxam a mente do espectador, e a de Bruce, para a realidade que existe além dos muros da Mansão Wayne. Gotham vem tratando a evolução do seu herói como um núcleo separado do cerne da trama, e “Harvey Dent” deixa isso claro (para realçar a divisão social de Gotham) ao mesmo tempo que trata de trazê-la de volta ao nível terreno.

O caso da semana compreende um fugitivo da prisão de Gotham (Leslie Odom Jr, de Smash e Person of Interest), conhecido como um especialista em bombas, e a operação de guerra de máfias que parece estar por trás da sua fuga. Gotham não tem tempo para perder com histórias descartáveis para a evolução da trama, então descobrimos que não só Fish está por trás do estratagema todo, buscando fragilizar ainda mais Falcone, como a história do personagem de Odom Jr. serve para levar adiante a storyline do Asilo Arkham, que parece ser uma queridinha do roteirista Woodruff. Contando a história que conta, Gotham é uma série que estava fadada a jogar muito com expectativas, mas até que está indo adiante com notável rapidez – e transformou a construção das fundações de uma das histórias mais famosas do mundo em uma narrativa excelente por seus próprios méritos.

Notinhas adicionais:

  • Nicholas D’Agosto, really? Por hora até que o moço funciona nos moldes que Gotham coloca para o personagem, mas se a série tem a ambição de se demorar mais em Dent (e esperamos que tenha!) a coisa vai ficar feia.
  • Palmas para a diretora Karen Gaviola (The Blacklist, Criminal Minds) pela câmera elegante, a fotografia linda das cenas na Mansão Wayne, e a adição de sombras e dramaticidade nos momentos certos. “Harvey Dent” é um pouco uma bagunça de tons, mas a moça faz um trabalho hercúleo (e competente) em equilibrá-los.

✰✰✰✰ (4/5)

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1x10 – Lovecraft

A sensibilidade de Gotham com os seus personagens é um caso para se analisar de perto. Embora as virtudes da série da FOX sejam inúmeras quando estamos falando de encenação, construção de mundo e cerne temático conectado com todas as outras (boas) encarnações do Batman no cinema e na TV, todo esse trabalho bem feito veio a grandes custos para o desenvolvimento emocional da história. “Lovecraft” é o primeiro episódio (e, não por coincidência, também o fall finale da trama) que tenta nos envolver de verdade com os relacionamentos entre os personagens, e é notável o quanto o trabalho desenvolvido até aqui em pequenas doses durante os episódios dessa complexa e bem-pensada trama rende frutos em vários momentos. “Lovecraft” é muito bom em mostrar o que esses personagens significam uns para os outros, e a partir desse processo cria um interessante fechamento para a primeira meia-temporada de Gotham.

A trama é colocada em movimento quando assassinos profissionais são enviados à Mansão Wayne na busca por Selina, a já alardeada testemunha que pode conectar Dick Lovecraft ao assassinato do pais de Bruce. Apesar da atuação heroica de Alfred, o bilionário e a garota de rua precisam fugir para as ruas para evitar serem pegos pela equipe comandada por Diaz (Lesley-Ann Brandt, Spartacus) – e então a caçada começa. “Lovecraft” é um episódio com poucas implicações práticas na sua trama central, com a honrosa exceção de nos trazer a noção de uma força maior invisível manipulando todas as marionetes de Gotham, e também de provocar o racha entre Gordon e o prefeito James (Richard Kind, em sua melhor atuação na temporada), o que por sua vez leva o nosso protagonista a ser transferido da polícia para a guarda do Asilo Arkham, uma perspectiva empolgante para a segunda metade da temporada.

Por falar no personagem de Ben McKenzie, ele está pegando fogo em “Lovecraft” de uma forma que não víamos desde “Penguin’s Umbrella” (review) – Gordon volta a ser o centro da trama aqui, e o roteiro pega dicas da atuação furiosa de McKenzie para transformá-lo em um transgressor perigoso e pronto para explodir a qualquer momento. O acerto é tanto nesse retrato do futuro comissário da GCPD que até o Harvey Dent de Nicholas D’Agosto aparece mais amansado, e muito mais crível também. McKenzie é a segunda melhor atuação do episódio apenas porque Sean Pertwee eterniza seu Alfred em meio a todos os retratos do mordomo dos Wayne, trabalhando a destreza física mas principalmente o tough love britânico que torna a sua relação com Bruce a conexão de personagens mais tocante de Gotham até agora. Em muitos sentidos, “Lovecraft” é o produto desses dois atores.

Enquanto a guerra de gangues se desenrola com o ritmo característico da série no pano de fundo, e as histórias de vida de personagens conhecidos vão sendo mostradas de forma delicada em flashes intermitentes (esse episódio marca o retorno de Ivy!), Gotham trata de se fortalecer como narrativa e obra própria, mostrando que tem mais a dizer sobre esses personagens do que tudo aquilo que já foi dito. É ao estabelecer essa visão própria com mais assertividade que a série pode deixar de ser uma boa surpresa para se tornar uma ótima história.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

Gotham - Episode 1.10 - LoveCraft - Promotional Photos

Gotham volta depois do holiday break, em Janeiro.

25 de nov. de 2014

The Newsroom 3x02/03: Run/Main Justice

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

3x02 – Run

The Newsroom é (e, acrescente-se, sempre foi) a série que precisava ser. Há algo de romântico na forma como Aaron Sorkin trata a atividade de seus personagens, a nobreza do ato de prover informações e o descomunal peso da ética que é exigida deles. Em “Run”, segunda entrada da terceira e última temporada da série da HBO, ele nos (re)apresenta a um mundo onde as consequências de cada ato pesam sobre a cabeça dos nossos protagonistas, e os levam a agir de maneiras que são absolutamente particulares deles – e ao mesmo tempo dizem muito sobre a profissão que eles praticam. Não há algo de anti-heroico nessa visão que Sorkin tem do jornalismo, pelo contrário: há muito de retidão moral, e o reconhecimento que nem sempre a natureza humana garante que esses personagens vão agir da forma que lhes é esperado.

Assim, “Run” é uma coleção espetacular de falhas jornalísticas que se acumulam no clímax mais concretamente (em oposição à discursivamente) intenso da série até o momento. Sorkin nos chama a ver esses passos em falso sob um novo olhar, que leva em conta tanto o cenário maior da moral pela qual Will e cia. deveriam ser guiados, quanto a pequenez e a humanidade de cada um deles. A besteira descomunal cometida por Neal (um Dev Patel mais vivaz do que nunca) se torna um ato de heroísmo jornalístico no esperto jogo de expectativas do script do episódio, conforme as consequências legais dos seus atos são pesadas contra a importância social do que ele descobriu. The Newsroom brinca de reverter nossos conceitos, e mostra que a habilidade de ver para além de si mesmo é a prerrogativa mais importante de um jornalista.

Salpicadas em pequenas doses enquanto essa trama central se desenrola, as outras storylines ilustram com precisão o quanto o rol de personagens de Sorkin é um inteligente mosaico de comportamentos. Sloan e Don travam diálogos cáusticos em um buffet sobre o fato do moço ter usado informação privilegiada da namorada para conseguir um boost nos lucros de seus investimentos na Bolsa de Valores. A bem da verdade, boa parte das divertidas cenas entre os dois se torna sobre o fato de que ambos não estão exatamente confortáveis em admitir que estão em um relacionamento. É notável como o diálogo de Sorkin confia na química entre Thomas Sadoski e Olivia Munn para mostrar as expectativas e medos desses personagens, e o quanto elas são causadoras colaterais de todos os comportamentos deles – em suma, 80% dos roteiristas de Hollywood podem aprender muito com Sorkin sobre construção de personagem.

Enquanto isso, Maggie (e este que vos fala continua amando a atuação de Allison Pill como a personagem, não importa o que todos os outros críticos digam) está presa em uma verdadeira fábula moral no seu trem de volta de Boston – ao entreouvir um oficial da EPA, agência do governo americano responsável pela preservação do meio ambiente, falando ao telefone sobre a falta de fundos e apoio, Maggie é confrontada com uma decisão fundamentalmente ética sobre usar ou não essa informação. Não machuca ter Jimmi Simpson (House of Cards) como um convenientemente colocado professor universitário de direito dividindo a cena com a moça, mas é bonito vê-la tomar uma decisão bastante autônoma que nega a prática furtiva do jornalismo, e reafirma o seu papel social de abertura de diálogo com a opinião pública.

O episódio se completa com a discussão entre Reese, Charlie e os jovens gêmeos Lansing (interpretados por Kat Dennings e Chris Smith, em performances absolutamente pontuais) sobre a operação que ameaça a integridade da ACN como emissora e empresa; e com o conto escuso sobre a demissão de Hallie da newsroom, que coloca muitas dúvidas sobre as intenções por trás das ações da moça. “Run” é complexo e incompleto como toda boa peça de ficção está fadada a ser, mas é uma reflexão muito válida em relação à reponsabilidade e honestidade jornalísticas, valores pelos quais The Newsroom sempre prezou – que Sorkin tenha escutado seus críticos e se tornado um pouco mais sutil com seus objetivos é um bônus, e traz profundidade à elaboração moral da série com a evolução gradual dos personagens.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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3x03 – Main Justice

“Main Justice”, como tem sido com cada episódio dessa derradeira temporada de The Newsroom, é um épico íntimo de disputa de poder. Aaron Sorkin está estruturando sua história numa sequência espetacular de acontecimentos: as coisas explodem na cara dos nossos protagonistas e, a cada dobra do sua trama labiríntica, eles são surpreendidos por mais uma prova de que eles não estão no controle. O roteirista anda recebendo muitas críticas positivas para essa nova temporada por retratar os membros da equipe da ACN sob uma luz mais honesta do que o restante da série fez, e de fato essa virtude brilha em “Main Justice”. Will, Mac, Charlie, Rebecca, Jim e Maggie são indivíduos magníficos em seu próprio mérito, mas há algo de muito realista na forma como o exercício da profissão os coloca em conflito direto com forças poderosas e dilemas inescapáveis. Nada em The Newsroom é simples, e de fato não deveria ser.

Depois da espetacular fuga de Neal na semana passada, os protagonistas se livram da operação de busca e apreensão do FBI com um stunt brilhante que demonstra o poder do jornalismo como “o quinto poder”. Essa não é uma história de Davi e Golias, porque a imprensa e seu alcance público não são uma força a ser subestimada em The Newsroom – e Sorkin se assegura de que a batalha entre os jornalistas e os oficiais do governo seja de igual para a igual, principalmente em termos discursivos. É fácil ver em Will o narcisista de direita tentando defender o próprio ego contra todas as relatividades morais do novo século, mas é ao ser verdadeira com esse retrato do personagem que a série da HBO consegue se permitir investi-lo de tanto poder e retidão. Jeff Daniels domina a maioria das cenas em que a negociação com o FBI é carregada, e é difícil não reconhecer a extraordinária força com que os diálogos lhe investem.

Talvez a grande qualidade do terceiro ano de The Newsroom seja, então, a aguda consciência que Sorkin adquiriu de suas próprias ideias e do quanto elas são (ou não são) válidas. Sumiu da série aquele maniqueísmo em relação aos princípios e liderança de Will, mas não desapareceu a certeza de que mesmo o tipo mais moderno de jornalismo precisa estar ancorado em determinados preceitos de ética e moral. The Newsroom deixou um pouco de ser uma narrativa quase-ludista (ou talvez apenas sadosista?) para ser um importante espaço de discussão sobre os limites e as complexidades do fazer jornalístico em pleno século XXI. Além de, é claro, ter se tornado melhor ficção pelo caminho.

Notas adicionais:

  • Enquanto isso, nas subtramas: a reaproximação profissional entre Maggie e Jim já dá pistas sobre o futuro do casal mais aguardado da série – além de render diálogos bem bacanas, que exploram a recém-descoberta confiança da personagem de Alison Pill; por falar em Jim, a relação dele com Hallie parece estar indo para o ralo, e o mais legal é que Sorkin faz com que a degeneração do casal tenha algo a acrescentar para a história – é muito bom ver que The Newsroom aprendeu como derivar todas as suas elaborações pessoais do tema da série: jornalismo.
  • Ah, é, o Toofer de 30 Rock aparece na pele de um novo chefe dos Recursos Humanos, de olho no relacionamento de Sloan e Don, e o episódio tira boas piadas dos dois tentando negar o envolvimento.
  • Só mais três horas de The Newsroom para acabar =(

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo The Newsroom: 3x04 – Contempt (30/11)

22 de nov. de 2014

Review: “Interestelar” é cinema-extravagância, mas não poderia deixar de ser

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por Caio Coletti

Conforme os anos passam e os filmes continuam chegando, é notável como nós espectadores (e críticos), em maior ou menor escala, passamos a conhecer bem os nomes que verdadeiramente marcarão essa época da cinematografia humana. Não dá para negar que Christopher Nolan é um deles – aos 44 anos, esse cineasta londrino é um dos poucos diretores superstar da sua geração, atraindo um exército de seguidores e outro exército de detratores. Lá se vão 14 anos e sete filmes desde que o mundo conheceu Nolan com Amnésia, e ao assistir seu último feito, esse Interestelar, é gritante como a personalidade do diretor (e roteirista) transpira pelo filme de maneira quase infiltrada – mas o que isso significa?

Para começar, na fundação de tudo, Nolan é um contador de histórias. E mais, ele é um contador de histórias que necessita, com todas as suas forças, ser entendido – esse não é o diretor que vai te encantar pela perfeição econômica de um take ou pelo absoluto enigma de suas intenções. Daí a quantidade homérica de diálogo expositivo que aparece em Interestelar e também figurou de forma insistente em A Origem. É uma característica que irrita muito dos neo-Kubrickianos (termo que talvez eu tenha acabado de forjar), crentes fiéis de que a única forma de tocar o espectador e ser fidedigno a esse mundo complexo em que vivemos é desafiá-lo a resolver um quebra-cabeças irresolvível. Kubrick não fazia cinema para discursar, e o que o fazia especial era o quanto ele se permitia ser incompreensível no caminho de satisfazer seus caprichos cinematográficos. Kubrick nos dava um olhar pelo qual podíamos espiar o enigma da vida, o que é admirável, com certeza – mas não é a única forma de se fazer bom cinema.

Interestelar, ao contrário de 2001 (e o objetivo dessa comparação toda é fazer parar todas as outras comparações que andaram jorrando desde a estreia do filme de Nolan), quer se explicar para o espectador. Quer que ele toque o significado cósmico de toda a sua filosofia, a concretização de toda a sua observação de personagem, as consequências sólidas de cada ato em cada parte do universo que o filme acompanha. Nessa missão, Nolan é descomunalmente bem-sucedido – em vários momentos de Interestelar, a dimensão da trama é atirada na cara do espectador, e o resultado emocional, eu posso testemunhar em primeira mão, é devastador. Esse é um filme que arquiva a proeza de nos engrandecer ao mesmo tempo em que nos coloca em nosso lugar, com a nossa devida insignificância, e nossas devidas falhas.

O protagonista da trama é Cooper (Matthew McConaughey), fazendeiro em uma Terra inóspita de um futuro próximo, em que a natureza se voltou contra a humanidade e ela, em resposta, se agarrou com mais firmeza ao solo árido do planeta. Cooper é também ex-piloto de testes da NASA, entidade que oficialmente foi fechada séculos atrás pelo governo americano (quem precisa de exploração espacial quando a preocupação com o nosso chão é tão urgente?). Ele detecta uma estranha anomalia gravitacional no quarto de sua filha mais nova, Murphy (feita por Mackenzie Foy e Jessica Chastain em momentos diferentes da jornada temporal do filme), e segue a mensagem em código binário que essa tal anomalia parece estar passando até um local ultra-secreto em que os últimos operativos da NASA estão construindo a última esperança da humanidade. E aí, é claro, as coisas ficam complicadas.

Em nenhum momento de sua complexa viagem cósmica, com efeitos da relatividade do tempo-espaço e física quântica incluídos, Interestelar deixa o espectador à deriva. Esse é outro elemento pelo qual é impossível culpar Nolan por querer ser entendido: ele consegue. O grande público teve um gosto muito breve do quão bom o moço é em conduzir uma narrativa complicadíssima quando A Origem nos guiou por múltiplos mundos de sonhos e nos trouxe sãos e salvos até o seu final ambíguo (mas não confuso). Em Interestelar, tanta coisa está acontecendo ao mesmo tempo que é compreensível que Nolan precise de 2h49 minutos de filme, metragem que muita gente achou excessiva, para não transformar seu filme em uma montanha russa de ficção científica metafísica. O filme toma seu tempo para fazer as coisas acontecerem, e talvez isso o torne menos poderoso em termos de sinergia de narrativa – mas também o torna muito mais forte quando se trata de significado.

Por fim, é preciso admirar uma narrativa como Interestelar quando ela consegue impressionar o espectador sem lançar mão de truques baratos. Um dos momentos mais poderosos do filme (os spoilers na frase seguinte são bem leves, eu prometo) acontece quando a Murph adulta está ateando fogo em uma plantação da antiga fazenda do pai enquanto, há galáxias de distância, Cooper e Brand (Anne Hathaway) lutam contra um inesperado contra-tempo que é fruto do puro egoísmo humano. A grande surpresa envolvendo o “personagem secreto” do filme de Nolan não é uma reviravolta inesperada – é possível vê-la há quilômetros de distância, se você prestar atenção. E por mais que o elemento-surpresa seja uma forma infalível de pegar o espectador pelo pescoço, há algo de muito honesto na forma como Nolan prefere conduzir-nos gentilmente pelo braço e nos mostrar o quão verdadeiramente magnífica é a teia de acontecimentos e destinos que ele teceu.

Como cinema, Interestelar é um feito memorável mesmo que seja falho. A trilha-sonora de Hans Zimmer é espetacular (gostaria de lembrar que esse homem só tem um Oscar – só um!), e a fotografia do suíço Hoyte van Hoytema (Her) nos dá algumas das imagens mais sufocantemente belas que veremos em celuloide esse ano. Matthew McConaughey entrega uma performance que é superior em muitos sentidos ao que ele demonstrou em Clube de Compras Dallas, e só se iguala (talvez!) ao seu desempenho em True Detective – é um retrato sensível de um personagem afetuoso que tem uma bela história para contar, e é fora das características que definem sua persona pública. Jessica Chastain mostra porque é uma das atrizes que vai dominar Hollywood nos próximos anos, nos entregando uma Murphy memorável como o roteiro exige que ela seja. Anne Hathaway não parece estar tão conectada com o momentum do filme, mas tampouco o prejudica com o seu retrato firme da Dra. Brand.

Quando a encenação de Nolan descamba para o ultra-dramático, Anne é a que parece sair mais prejudicada, e talvez isso seja mais um erro de seu posicionamento como atriz no filme do que da narrativa em si. Principalmente porque, como narrativa, Interestelar não tinha outra saída a não ser explodir em extravagância emocional – e é justamente aí, onde talvez falhe um pouco como cinema, que o filme triunfa como ficção. Como contador de histórias que é, Nolan escolhe a cada articulação de seu labirinto narrativo ser um panorama muito completo da condição humana. Interestelar não pisa em ovos: retrata com fidelidade os egoísmos, as mentiras e as pequenezas de mente das quais somos capazes. No caminho, no entanto, é capaz de mostrar também que é através de todas essas fraquezas que somos capazes de amar de forma tão espetacular a ponto de lutar pela sobrevivência e pela chance de experimentar mais desse universo para o qual somos tão inaptos. Interestelar é sobre o mesquinho e o sublime do espírito humano. E, à exemplo de seus personagens, o filme não “entra docilmente nessa noite escura” – ele a ilumina.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Interestelar (Interstellar, EUA/Inglaterra, 2014)
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan
Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Mackenzie Foy, Casey Aflleck, Topher Grace, Michael Caine, Wes Bentley, Ellen Burstyn
169 minutos

16 de nov. de 2014

Person of Interest 4x07: Honor Among Thieves

"Honor Among Thieves" -- Shaw (Sarah Shahi, left) joins a team of international thieves in order to keep tabs on the latest POI, but an unexpected turn of events puts her in danger of being detected by Samaritan, on PERSON OF INTEREST, Tuesday, Nov. 11 (10:01-11:00 PM, ET/PT) on the CBS Television Network.  Photo: John Paul Filo/CBS  ©2014 CBS Broadcasting Inc. All Rights Reserved.

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Honor Among Thieves” é talvez o episódio mais fraco da quarta temporada de Person of Interest até o momento, e mesmo assim é impossível negar o controle de trama e o progresso que ele faz para a narrativa da temporada. É fácil notar como uma série está no seu momento de maior qualidade quando os episódios ruins ainda parecem necessários – fazer filler é fácil, evoluir a história da temporada enquanto conduz uma trama da semana mais fraca é bem mais difícil. Por mais apressado, errante e absurdo que seja, “Honor Among Thieves” ainda é uma peça fundamental para mover adiante a narrativa de Person, que tipicamente nunca admite ficar parada. Claro, o episódio também algumas virtudes a seu favor.

Pegando a dica do antecessor, “Pretenders” (review), essa sétima entrada da temporada acerta em cheio no humor que permeia os diálogos entre os protagonistas. É quase como se Person tivesse acordado para o fato de que, depois de quatro anos nos mostrando quem essas pessoas são, estamos familiarizados o bastante com eles para que algumas trocas de piadas os tornem ainda mais reais ao nosso ver – claro, não atrapalha se o episódio fica mais leve por causa disso. Shaw e Root são grandes fontes desse humor, especialmente na cena em que a primeira está se encontrando com Tomas (o bonitão Adrian Bellani, que esteve em Moneyball), o número da semana – o moço é um comerciante de vinhos durante o dia, mas líder de uma gangue internacional de ladrões durante a noite.

As reviravoltas e reformulações de intenções na trama envolvendo Tomas são tantas que é mais do que justo o espectador se sentir à deriva. Reverter as expectativas quanto a um personagem que acabamos de conhecer é um truque que Person sempre usou muito bem, mas há tantas mudanças de situação aqui (Tomas e cia roubam o cofre de um hotel, com um vírus dentro; ele é traído pelos companheiros; o mandante do crime todo era um antigo parceiro que ele acreditava estar morto; não! ele só roubou o vírus pra vender pra outra pessoa; os operativos do Samaritan estão no encalço da situação) que o episódio não se dá a chance de desenvolver nenhuma o bastante para que a reviravolta realmente surpreenda. Talvez por isso Tomas entre e saia do episódio como um enigma, algo incomum em Person, e talvez daí a atuação previsível do galã Bellani – parece que o moço só está aqui para ser o interesse romântico de Shaw.

A parte boa de tudo isso é que Sarah Shahi está no topo do seu jogo. Lindíssima e carismática, ela segura as inconsistências do roteiro para fazer de Shaw uma personagem sólida através de toda a loucura pela qual o episódio passa. A atriz sabe como agir quando o script lhe exige sensualidade, e mantem a personalidade explosiva que é característica da personagem para que tudo não soe como a objetificação de uma das personagens femininas mais fortes e independentes da TV americana na atualidade. Shaw não é o tipo de mulher que precisa deixar de ser fierce para ser sexy, e “Honor Among Thieves” deve essa caracterização redentora ao talento de Sarah Shahi.

A relevância de todo o frisson em torno dos frasquinhos de vírus para o todo da série fica clara no final do episódio, quando o encontro de Shaw com um dos operativos de Samaritan ameaça custar mais caro do que o previsto para o anonimato do #TeamMachine. A subtrama envolvendo Root e Finch mais uma vez define o compasso moral do episódio e da série nesse momento de sua narrativa, arredondando um episódio que pode não ser televisão de primeira qualidade quando visto isoladamente, mas consegue ser um bom pedaço de Person of Interest para quem acompanha o contexto maior.

Observações adicionais:

  • - “Are you trying to make me kill you?”
  • - Shippando: Root/Shaw ♥

✰✰✰✰ (3,5/5)

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Próximo Person: 4x08 – Point of Origin (18/11)

15 de nov. de 2014

Review: “Starred Up” cria um astro, mas cria também algo mais raro – empatia

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por Caio Coletti

O “filme de prisão” é um daqueles sub-gêneros cinematográficos que evoluíram com o passar das décadas para abarcar uma série de regras mais ou menos rígidas. A obra que marcou para sempre o gênero foi Um Sonho de Liberdade, feito em 1994 por Frank Darabont, adaptando uma história do escritor de mistério Stephen King. Aquele é um grande filme, é impossível negar – o poder das passagens idealistas e da reflexão social que a trama faz torna Um Sonho de Liberdade uma experiência nova a cada vez que é assistido. Por todo bem que um bom filme faz, no entanto, é difícil não notar que sua popularidade é capaz de influenciar as (muitas) mentes pequenas de Hollywood a copiar a fórmula ao invés de criar algo novo. O grande trunfo de Starred Up, logo, é que ele não quer ser Um Sonho de Liberdade. De fato, ele não poderia ligar menos para as “regras” ditadas pelo filme de Darabont.

Para começar, esse não é um filme sobre cárcere vs liberdade. O diretor David Mackenzie, um dos mais talentosos de sua geração (a obra-prima Sentidos do Amor é testemunha), toma um tempo incomum em seu filme para observar o cotidiano dos personagens que o roteirista estreante Jonathan Asser criou. Na forma de sutis instrumentos de plot, passamos a conhecer intimamente a estrutura de poder da cadeia, as contradições, gírias e comportamentos típicos da vida lá dentro, até a organização das celas de cada prisioneiro. Starred Up quer nos familiarizar com tudo isso porque é essencialmente um testemunho de humanidade, não uma história redentora sobre abusos policiais e fugas mirabolantes.

O estilo instintivo de coordenar a encenação, característico de Mackenzie, por vezes causa problemas na hora da edição – mas isso é questão de ter um editor de confiança que faça o trabalho com esmero. Em todos os outros sentidos, esse britânico de 48 anos comanda o filme com a ponta dos dedos, observando seus atores de forma muito natural e explorando o cenário extensivamente, trabalho que é inestimável na imersão do espectador. Nos sentimos acompanhando de verdade o protagonista Eric (Jack O’Connell, o guerreiro mais novo de 300: A Ascenção de um Império), recém-transferido de uma prisão juvenil para uma comum. Nesse novo cárcere ele encontra o pai, Neville (Ben Mendelsohn, O Homem da Máfia), e é colocado relutantemente em um grupo de terapia experimental, comandado por Oliver (o superlativo Rupert Friend, o príncipe de A Jovem Rainha Vitória).

O’Connell é definitivamente um nome para se observar nos próximos anos. Aos 24 anos, o moço esteve na adorada série britânica Skins, e está no caminho para o estrelato (é o protagonista de Invencível, próxima investida de Angelina Jolie na direção) – ele pode agradecer ao diretor Mackenzie por isso, porque seu Eric é certamente o papel que provou que o jovem espartano ruivo de 300 é uma força da natureza quando encontra o papel certo. O’Connell coloca a dose certa de displicência no personagem, ao mesmo tempo conseguindo transmitir, mesmo que por baixo de uma tonelada de violência, o quão vulnerável esse jovem protagonista verdadeiramente é. O personagem foi escrito para ter 19 anos, e O’Connell absolutamente nos convence que ele se localiza nessa idade de não se encontrar em meio aos conceitos e preconceitos que todas as fontes possíveis colocaram na sua cabeça por toda a adolescência. Eric não é um clichê, mas é humano, é deve grande parte dessa humanidade a quem o interpreta.

Starred Up não precisa de fogos de artifício e música orquestral para tocar seu espectador a ponto de fazê-lo questionar-se quanto à situação do sistema penitenciário na atualidade e o quanto ele realmente é capaz de reabilitar aqueles que são encarcerados. A história de humanização do filme não precisa ser piegas, e quando você para pra pensar, Starred Up é um filme extremamente sutil capaz de provocar emoções extremamente duradouras. Não dá saídas fáceis, não cava um túnel para escapar da situação que retratou durante toda a sua encenação – ousa nos manter atrás das grades com os protagonistas, para que vejamos, para o horror de qualquer espectador desavisado, o quão igualmente humanos somos.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Starred Up (Inglaterra, 2013)
Direção: David Mackenzie
Roteiro: Jonathan Asser
Elenco: Jack O’Connell, Ben Mendelsohn, Rupert Friend, Peter Ferdinando, Anthony Welsh
106 minutos

13 de nov. de 2014

Gotham 1x08: The Mask

GOTHAM: Detective James Gordon (Ben McKenzie) comes across a bizarre crime scene in the "The Mask" episode of GOTHAM airing Monday, Nov. 10 (8:00-9:00 PM ET/PT) on FOX. ©2014 Fox Broadcasting Co. Cr: Jessica Miglio/FOX

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Se o developer de Gotham, Bruno Heller, for tão inteligente quanto tem se mostrado nesse início de série, ele manterá o roteirista John Stephens por perto. O moço, que tem experiências prévias em Gossip Girl e The O.C, (não exatamente as credenciais que se esperaria para escrever essa série, vamos admitir), escreveu o melhor episódio da temporada até o momento, o ainda imbatível “The Balloonman” (review), e faz um trabalho quase igualmente incrível em “The Mask”, oitavo capítulo de Gotham. A entrada mais recente da série mostra que o entendimento profundo que Stephens demonstrou do funcionamento e cerne temático da narrativa e do equilíbrio entre histórias paralelas necessárias para fazer Gotham funcionar não foi sorte de iniciante. Até o momento, ele é o roteirista que melhor compreende a história que a série quer contar.

E isso é importante porque se reflete no quanto o espectador consegue localizar os personagens no momento em que eles se encontram narrativa e emocionalmente. “The Mask” tem uma clareza muito bem-vinda ao lidar com as consequências de um episódio tão marcante quanto o seu predecessor, “Penguin’s Umbrella” (review), e é fácil observar isso no protagonista da série. Depois de ser obrigado a enfrentar Falcone de frente após a farsa do assassinato de Oswald ser revelada, o Jim Gordon de Gotham se torna o cavaleiro branco que todos esperávamos que ele fosse. Digam adeus às sombras de culpa, e digam olá a um dilema novo e muito interessante: incorporando muito oportunamente as nuances que a atuação de Ben McKenzie deu ao personagem, Gotham se compromete com um Gordon cheio de fúria nos olhos, um veterano de guerra com o sangue de guerreiro necessário para se tornar o homem certo para limpar, de dentro do sistema, a polícia de Gotham.

É fácil imaginar como esse Gordon vai crescer para se tornar o comissário que apóia a existência de um vigilante mascarado como o Batman – e está cada vez mais fácil ver como o jovem Bruce Wayne da série vai se tornar essa figura emblemática para a trajetória da cidade. As poucas cenas estreladas por David Mazouz como Bruce e Sean Pertwee como Alfred movem a história adiante com um ímpeto muito característico de Gotham, mas que nunca havia sido aplicado a esse núcleo de personagens. Uma questão importante da formação do Batman é tocada, e ela se entrelaça tão elegantemente com o tema do episódio que é impossível não render aplausos ao trabalho do roteirista. Em um episódio sobre guerra, violência e ímpeto vingativo (sim, Gotham continua sendo extremamente dark para a TV aberta), é notável ver como a brutalidade faz parte da formação do herói de uma cidade repleta dela.

A trama da semana envolve um homem de negócios (Todd Stashwick, de The Originals) que seleciona seus novos contratados colocando-os dentro de um prédio de escritórios abandonado e dizendo que o último sobrevivente é o vencedor da disputa (Sim! Hunger Games no trabalho!). A câmera pra lá de elegante de Paul Edwards, um dos mais talentosos diretores de televisão dos EUA no momento, ajuda a dar pedigree a esse caso tão oportuno que nossos detetives estão investigando, enquanto todo o rico submundo de Gotham City desfila pela tela em uma procissão muito bem dosada pelo roteiro. “The Mask” é televisão de primeira categoria – pega uma Gotham descarrilhada pelo (necessário) caos do capítulo anterior e a coloca numa rota que é perfeita para a história que tem para contar.

Observações adicionais:

  • Uma das boas jogadas do episódio é estabelecer a noção de que todo o caos e a vilania que floresce em Gotham City depois dos eventos do piloto pode ter sido desencadeada pela morte de Thomas e Martha Wayne – representantes de uma esperança para a reabilitação de Gotham.
  • Já uma das suas pouquíssimas fraquezas é o recurso repetitivo do qual Gotham vem lançando mão na trama romântica entre Jim e Barbara. Aqui, vemos a moça mais uma vez deixar o marido, logo depois de dizer que é capaz de lidar com os problemas da profissão dele.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo Gotham: 1x09 – Harvey Dent (17/11)

12 de nov. de 2014

The Newsroom 3x01: Boston

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Aaron Sorkin é um escritor poderoso. O criador e autor (de todos os episódios) de The Newsroom conhece as estruturas da narrativa tão intrincadamente, as próprias entranhas daquilo que consideramos boa ficção, que é difícil não ficar, como espectador, se equilibrando na ponta dos dedos de um contador de histórias tão eficiente. A genialidade de The Newsroom é em grande parte a genialidade de Sorkin, e “Boston” é um épico de 52 minutos de televisão que testemunha mais uma vez o quanto o roteirista é capaz de nos surpreender e nos localizar no momento da trama. A epifania dos minutos finais é um choque para quem se viu envolvido pelos momentos que a precederam, um retorno saudoso ao mundo desses personagens e aos fascinantes mecanismos do trabalho que eles desempenham. “Boston” manipula o espectador com maestria, e ainda o faz por uma história que acerta bem as próprias pontas soltas.

Os planos para o casamento de Will e Mac estão progredindo enquanto todo mundo na ACN é pego de surpresa por uma emergência: o ataque terrorista à maratona de Boston, que chocou os americanos em Abril de 2013. Cautelosos graças ao trauma de Genoa, nossos protagonistas são os últimos a confirmar a explosão de duas bombas na linha de chegada do evento esportivo, mas o episódio trabalha bem ao explorar a decisão de fazer jornalismo bem fundamentado ao invés de correr atrás de reproduzir o noticiário dos concorrentes para não ficar para trás (“I don’t see anything wrong with being gun-shy because of Genoa”, crava a sempre essencial Mac).

Esse “terceiro ato” de The Newsroom parece ser essencialmente sobre responsabilidade, e é intrigante ver como Sorkin trabalha ao colocar seus personagens em situações complicadas nas quais ela é exigida de maneira muito pontual. Sob a tutela da personagem da fabulosa Emily Mortimer, mais encantadora do que nunca, todos os integrantes da newsroom da ACN passam por momentos em que a ansiedade frente a uma nova história é confrontada com a cautela necessária que o trabalho deles impõe. O roteirista Sorkin olha o mundo do jornalismo contemporâneo com olhos que não são cínicos, mas talvez sejam sim acusadores: e é impossível não lhe dar razão quando a corrida frenética pela notícia produz casos como o retratado aqui, quando um jornal americano identificou dois homens inocentes como suspeitos do bombardeio na maratona.

Tudo escala inevitavelmente para a nervosa conclusão do episódio, quando Will, Mac, Charlie e cia encaram a situação mais preocupante desde o início da série: Neal pode estar com sérios problemas judiciais ao se envolver com uma fonte anônima que lhe enviou documentos confidenciais do governo (Yay! A advogada interpretada por Marcia Gay Harden vai voltar!); Reese encara o assustador prospecto de ter uma companhia tentando comprar a ACN num processo que Sloan chama de hostile takeover (pessoal da economia deve ter entendido melhor que eu, mas não soa muito amigável); e a queda de credibilidade pós-Genoa continua afetando a audiência da emissora, e o ego de Will.

Tudo explode em uma metáfora tirada de Eurípedes, citado, é claro, por Mac em uma conversa com Will. The Newsroom é muito inteligente ao nos vender a noção, durante todo o episódio, de que essa terceira e última temporada é sobre nossos protagonistas recuperando a confiança do público, para depois revelar o que estava bem embaixo dos nossos narizes: ainda há muitas pedras para serem jogadas neles nessa panela de pressão circense que se tornou a percepção do público em relação a mídia. Aaron Sorkin agora tem cinco episódios para nos mostrar como esses personagens perduram durante tal linchamento, e o que os espera no final dele – mas será que alguém duvida que o moço está mais do que preparado para a tarefa?

Observações adicionais:

  • É um momento de característica doçura da série ver Maggie (Allison Pill) tomando lugar frente às câmeras pela primeira vez. Como os outros personagens parecem notar, é como se a moça tivesse envelhecido (e amadurecido) uns bons dez anos em alguns episódios. E depois os críticos vem me dizer que Sorkin trabalha mal as personagens femininas.
  • A percepção do escritor quanto a mídia social evoluiu bastante da primeira temporada para cá. Talvez o contato com o mundo do jornalismo, no processo de pesquisa de casos recentes como os retratados pela série, tenha informado Sorkin da relevância desse ambiente virtual para o âmbito informacional no nosso século – mas as críticas que ele faz a esse ambiente também são muito pontuais, e devem ser ouvidas.
  • Sam Waterson e Jeff Daniels nunca mais deveriam deixar de contracenar. Alguém diga a esses dois pra escolheres projetos conjuntos depois do final da série, por favor.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo The Newsroom: 3x02 – Run (16/11)

9 de nov. de 2014

Red Band Society 1x06: Ergo Ergo

RED BAND SOCIETY: L-R: Leo (Charlie Rowe, L) and Kara (Zoe Levin, R) in the "Ergo, Ego" episode of RED BAND SOCIETY airing Wednesday, Nov. 5 (9:00-10:00 ET/ PT) on FOX. CR: Tina Rowden / FOX. © 2014 Fox Broadcasting Co.

Ao invés de fazer uma cobertura detalhada de cada episódio de Red Band Society, O Anagrama vai trazer uma review por mês, de preferência de episódios marcantes para a continuidade da série.

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Depois de um hiato de duas semanas, Red Band Society chega ao sexto episódio trazendo um ingrediente que nós nem havíamos percebido que a série precisava tanto: nervos à flor da pele. “Ergo Ergo”, muito provavelmente por obra da roteirista Jeannine Renshaw (Grey’s Anatomy), é o mais dramático, intenso e impactante capítulo da trama até agora, e isso não é de forma alguma algo ruim. Com os ânimos levantados, Red Band Society consegue acertar os pontos do seu humor – na maior parte do tempo, pelo menos –, e contar muito mais convincentemente o desenrolar das histórias de seus personagens. Até aqui, o clima de high school no ambiente hospitalar não tinha funcionado, mas bastou trazer uma escritora com experiência na área para descobrir que a saída para engajar o espectador não é se tornar mais realista ou discreto. Pelo contrário, Red Band é muito mais eficiente quando aumenta as emoções de seus personagens até o último volume.

A força do episódio como peça dramática é inegável. A roteirista Renshaw pega a história exatamente de onde a deixamos no 1x05 e conduz cada um dos nossos protagonistas por um trilho diferente: o triângulo amoroso entre Jordi, Emma e Leo ganha cores vivas e hormônios exaltados, dando oportunidade ao incrível trio de jovens atores que os interpretam, responsáveis por envolver o espectador nessa trama romântica que escapa do convencional, mas sabe como jogar com as pitadas certas de clichê; a história de Kara, por outro lado, é reescrita para lhe dar um novo interesse romântico na pele de Hunter (Daren Kagasoff, de The Secret Life of the American Teenager) – o moço é um rebelde sem causa e, por si mesmo, não representa nenhum grande feito de construção de personagem, mas é interessante a reação que ele provoca em Kara e como ele cataliza na moça desenvolvimentos emocionais que eram necessários a sua trajetória.

Oscilando entre uma storyline principal e outra, Dash mostra que pode ser um valioso Coringa na mão da roteirista certa. Não só o rapper Astro tem carisma de sobra para emprestar para o personagem, como o script parece entender a maturidade que ele representa para seus amigos e o insight realista que ele traz para a história. É mais ou menos o mesmo processo com a personagem de Octavia Spencer, absolutamente imperativa como Nurse Jackson – o domínio dramático e corporal da atriz sobre a personagem segura Red Band Society bem firme ao chão, mesmo com todo o novelão melodramático que se desenrola pelo episódio. Se credibilidade não é o forte da série da FOX, esses dois personagens parecem estar aqui para nos mostrar que os roteiristas não perderam o mundo real de vista.

É excitante observar a forma que Red Band evolui como narrativa. O hiato serviu para a série respirar e olhar para si mesma com mais cuidado, sem dúvida ajustando os futuros scripts (por enquanto, temos até o nono episódio garantido pela emissora, mas qualquer coisa além disso é incerta) para caber nessa série ao mesmo tempo mais e menos contida que vimos em “Ergo Ergo”. Mais contida porque sabe quando mexer com o emocional do espectador de forma direta, explorando menos e retratando mais a situação de saúde dos personagens; e menos contida porque não tem medo de mostrar o drama e a ansiedade que estão envolvidos em cada relação humana definida pelo roteiro. A identificação do público com os personagens foi elevada à enésima potência, e esse feito foi alcançado de forma bem simples: Red Band Society decidiu parar de contar sua história, e começou a contar uma história.

Observações adicionais:

  • Sobre o humor, já que não coube no review: a série está fadada a sempre pisar em ovos quando se trata das piadas, mas é notável a melhora de “Ergo Ergo” até nesse sentido. Em geral, os personagens de Red Band são melhores quando zombam de si mesmos do que quando zombam dos outros – mas isso não é meio que uma regra do mundo como um todo?
  • Mandy Moore! Awww!

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo Red Band Society: 1x07 – Know Thyself (12/11)
Próximo review: 1x09 – How Did We Get There? (26/11)

7 de nov. de 2014

Você precisa conhecer: As viagens musicais da sueca Marlene

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por Caio Coletti

Pop sueco não é mais novidade para ninguém, eu espero. Pelo menos duas dicas recentes d’O Anagrama (aqui e aqui) fazem parte da avalanche de artistas daquela parte da Europa que está tomando de assalto o mundo indie – e, mesmo que mais lentamente, também as paradas pop. Agora é a vez de mais uma artista de lá, e talvez seja a mais incrível até o momento: a Marlene é da capital da Suécia, Estocolmo, e faz um som um pouco diferente de suas colegas de synthpop, tradição mais que arraigada por lá. Com elementos francos de R&B, dream-pop e outras influências que aparecem salpicadas pelas canções, a moça consegue criar uma sonoridade única e imperdível.

Aparecendo desde o começo do ano passado com o single de estreia “Bon Voyage” (abaixo), Marlene não nega as influências norte-americanas na composição do seu estilo. A moça contou em entrevista para o Jajaja Music que, durante a infância, era fã do Hanson e das Spice Girls – e que ainda acha “Genie in a Bottle”, da Christina Aguilera, genial. Ao mesmo tempo, como uma boa garota sueca, ela cresceu sob a influência dos primeiros discos da Robyn, ícone musical contemporâneo do país. A mistura dá em músicas que por vezes ressoam as melodias do R&B noventistas, por vezes mergulham fundo no synthpop e nos gêneros mais herméticos pelos quais os suecos ficaram conhecidos. Colocamos “Stay Awake” aí embaixo também, para efeitos de comparação.

Comparada vocalmente com ícones americanos como Brandy e Rihanna, a cantora tem mesmo um timbre bem único entre suas companheiras de momento musical. Com quebras de tom lindíssimas quando entra no registro agudo, e uma facilidade tremenda na hora de interpretar as letras agridoces que formam seu repertório até agora, Marlene é uma das vozes mais agradáveis de se ouvir da nova geração de cantoras suecas. Há uma qualidade calorosa nela que falta à lírica Frida Sundemo ou à rouca Beatrice Eli – não desmerecendo essas duas ótimas artistas, mas é bacana sublinhar como Marlene se diferencia delas.

Os refrões mais levados pelo sintetizador são empolgantes, especialmente em “Indian Summer” (abaixo), que ganhou também o clipe mais luxuriante de todos, e batizou o EP de estreia da moça, que saiu ainda esse ano. Planos para um álbum? Ela diz que ainda não, mas se precisasse prever como seria uma coleção de canções com a marca especial de Marlene, ela cravaria: “Muito R&B sueco melancólico, sons lindos e sonhadores, e letras sobre minha experiência de vida”.

Pra quem gosta de: Beatrice Eli, FKA Twigs, Tove Lo, Frida Sundemo

Siga-a: TwitterFacebook

Outras músicas: "Love You Anyway" (with Ji Nilsson) - "Lavender Fields"

6 de nov. de 2014

Gotham 1x07: Penguin’s Umbrella

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

É flagrante para qualquer espectador de Gotham que o roubador de cenas da série é Oswald Cobblepot, o Pinguim, interpretado pelo jovem e talentosíssimo Robin Lord Taylor, mas não se trata só da personalidade explosiva e do ator bem-escalado. Desde o primeiro episódio, o destino e as intenções de Oswald são a peça-chave que move a narrativa de Gotham, e é inteligente da parte do time do escritores, especialmente do developer Bruno Heller, que seja assim. O Pinguim é o personagem perfeito para manter o espectador em constante expectativa: imprevisível, violento, inescrupuloso, escorregadio e cheio de artimanhas. Ele não só está presente em cada grande pico dramático de Gotham como provém a bem-vinda figura de uma intenção humana, uma direção singularizada, para a trama de mafiosos que é o coração da série. Se não fosse por ele, Gotham perderia muito do seu ímpeto narrativo, e “Penguin’s Umbrella” deixa bem claro que essa é uma trama que sobrevive à base de ímpeto narrativo.

Em plena sétima semana no ar, Gotham já nos entrega um episódio de resolução de conflitos, amarrando a conclusão – meio anticlimática, diga-se de passagem – da fuga de Gordon após os acontecimentos do final de “Spirit of the Goat” (review) com um novo cliffhanger que abre a perspectiva do espectador para todos os acontecimentos da série até o momento. De uma representação do caos de uma cidade dominada pela imoralidade, e um tomo sobre como esse domínio é capaz de se infiltrar até em quem tem a coragem de repelí-lo, Gotham se torna o produto doentio de uma mente criminosa. E pode parecer que com isso a série perde profundidade, mas não é bem assim: de alguma forma, essa nova visão da trama coloca em perspectiva também o papel dos “heróis” de Gotham City, e do quanto eles são diferentes do futuro vigilante da metrópole, o Batman.

O Jim Gordon de Ben McKenzie, agora livre do segredo de não ter assassinado Oswald Cobblepot como os contatos da máfia com a política de Gotham haviam ordenado, tem espaço para ser ainda mais o personagem que conhecemos nas outras mil encarnações do Homem-Morcego. O ator ainda tem que se acostumar um pouco a esse novo lado do personagem (ou talvez ele só seja melhor em fazer um Gordon torturado pela culpa?), mas ver Gordon desafiar o estabelecimento de poder na metrópole é excitante para um espectador que gosta de perceber os sub-tons políticos de uma história como essa. Será que o inimigo, como proclama Don Falcone, é mesmo a anarquia? A galeria de vilões do Batman parece nos dizer que sim, e o Pinguim da série não está muito atrás nesse sentido. A impressão que fica é que Oswald Cobblepot é um daqueles homens que só “gostam de ver o circo pegar fogo”.

Gotham City é um lugar muito complexo para homens de princípios inabaláveis como Gordon e aqueles que ele arrasta junto a si – e talvez por isso o tal final anticlimático seja até apropriado. Para que a série tivesse para onde fugir com a sua narrativa, tendo se conduzido tão rapidamente a uma conclusão, o roteirista Heller se viu obrigado a retornar à estaca zero com seus personagens, o que não deixa de ser uma falha grave de desenvolvimento de trama. Acontece que, tematicamente, poucas séries são tão contundentes quanto Gotham no retrato das ambiguidades morais da corrupção e da justiça, e digo mais: arquiva esse feito impressionante em um mundo decididamente quadrinesco, com personagens um tanto quanto maniqueístas. É na forma como construiu seu mundo que Gotham triunfa, e é bem na ponta do guarda-chuva do Pinguim (que, apropriadamente, nomeia o episódio) que esse mundo se equilibra.

✰✰✰✰ (4/5)

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Próximo Gotham: 1x08 – The Mask (10/11)

3 de nov. de 2014

Person of Interest 4x06: Pretenders

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Uma das infinitas coisas em que Person of Interest sempre foi excelente (e o leitor pode até reclamar que esses reviews são uma enumeração infindável dessas virtudes, mas eu não posso evitar) é a formação de uma rede de personagens e relações que cria um panorama envolvente e complexo da situação em que a trama se encontra, e empresta um senso de propósito para cada episódio. O bem-amarrado episódio “Pretenders” é o melhor exemplo desse procedimento no quarto ano até agora, deixando o espectador respirar com uma trama da semana “leve” e ao mesmo tempo nos apresentando um panorama geral das posições em que se encontram as peças do jogo maior que Person nunca para de jogar. E sabe o que é mais notável em tudo isso? A unidade da série e da equipe principal de roteiristas e developers é tão grande que “Pretenders” pode até ser assinado por uma estreante na série, e continua sendo parte essencial da jornada dela.

Ashley Gable vem de experiências em The Mentalist e Vegas, e empresta ao episódio um senso de humor que parece entender quem são esses personagens e de que forma eles podem brincar entre si mesmo em meio a uma situação sempre muito tensa. Acompanhamos o número da semana, Walter Dang (Erik Jensen, que esteve em The Walking Dead e The Americans no último ano), um pacato funcionário de escritório que se passa por policial nas horas vagas, tentando desvendar o suspeitíssimo suicídio do irmão de uma colega de trabalho. A parte mais legal da trama envolvendo Walter é quando o moço tem contato prolongado com o #TeamMachine – a roterista Gable e o ator emprestam ao personagem uma inocência e uma visão romântica do trabalho de nossos heróis. Numa Person cada vez mais ambígua, é bacana ver um pouco de idealismo, justamente para entender o que mantem Reese, Finch, Shaw e Fusco na ativa.

O personagem de Michael Emerson, inclusive, é removido dessa trama da semana quando sua identidade secreta (um professor universitário) é obrigado a comparecer em um congresso no qual ainda deve apresentar uma tese para “500 amargos acadêmicos”. O tempo que Person passa com ele é surpreendente, mas a química entre Emerson e Jessica Hecht (Breaking Bad) ajuda a segurar às pontas até o finalzinho do episódio, quando a trama paralela mostra a que veio. As consequencias das aventuras de Finch e a criação de um potencial (e complicado) novo interesse romântico acrescentam a uma sensação que domina completamente os últimos instantes de “Pretenders”: ao final do episódio, o espectador parece saber exatamente onde está na trama de Person, e isso não é nada menos que empolgante.

Esse sexto episódio arma uma potencialmente épica guerra de gangues (e pode acreditar, Person não vai nos decepcionar nesse sentido) e traz de volta o lado “devorador de cenários” de Enrico Colantoni, o intérprete de Elias; reafirma filosoficamente a missão do nosso grupo de vigilantes não-mascarados, numa perspectiva totalmente nova trazida pelo olhar fresco da roteirista Gable; nos atualiza na lenta e bem-preparada ascensão daquela tão falada “batalha entre dois deuses”, que vem rolando por baixo dos panos desde a estreia da temporada; e no meio do caminho ainda acha tempo para ser um dos episódios mais divertidos de Person em tempos. Isso que é multitasking.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo Person of Interest: 4x07 – Honor Among Thieves (11/11)