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30 de jan. de 2014

Review: Mom, 01x15 – Fireballs and Bullet Holes

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Na semana passada, Mom atingiu um de seus pontos altos em termos de sutileza emocional ao colocar uma cena quietamente melancólica para marcar o reencontro de Christy com seu pai, personagem de Kevin Pollak. A moça, que nunca havia conhecido seu progenitor, ao ver uma foto de família pendurada nas paredes do escritório dele, não teve coragem de se abrir. “Fireballs and Bullet Holes” coloca essa escolha em perspectiva ao fazer de Alvin, o tal pai de Christy, uma parte integrante da roda de personagens de Mom. O que poderia ter soado como uma decisão simplesmente confortável ganha um pouco mais de pathos nas mãos dos roteiristas, mas o episódio não consegue evitar estar um degrau abaixo de seu antecessor.

Parte desse pathos vem do fato que Christy parece ser repetidamente rejeitada pelo pai que ela idealizou por mais de três décadas. Seja na cena inicial em que Alvin se recusa a fazer parte da vida da filha, seja em momentos subsequentes em que ele se mostra reservado de outras formas, essas pequenas rejeições são parte constituinte do personagem de Christy, e dão a Anna Faris a oportunidade única de desfilar talento. Especialmente nas primeiras cenas do episódio, a atriz brilha com aquele tipo de raiva prestes a explodir que marcou sua performance na série.

Muita da força de “Fireballs and Bullet Holes”, um episódio mais preocupado com narrativa (e sem subplots) que alguns dos anteriores, vem das performances, mas isso não é novidade para Mom. Mimi Kennedy está de volta como Marjorie, Allison Janney tem um momento de puro brilhantismo na cena em que confronta Alvin, Faris arquiva seu melhor episódio até agora, e Kevin Pollak entra bem no ritmo da série, fazendo o melhor que pode com o texto. “Fireballs and Bullet Holes” não toma as melhores decisões que poderia para o longo prazo da série, mas se sustenta razoavelmente bem apoiando-se no terreno construído por seus predecessores.

Observações adicionais:

- “What kind of a man abandons his newborn baby on Christmas Eve?” “Well, in my defense, God did that to Jesus”

- A piada recorrente do garçom se afastando da mesa de Bonnie é hilária.

✮✮✮ (3/5)

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Próximo Mom: 01x16 – Nietzsche and a Beer Run (03/02)

Chanel e Dior inovam misturando tênis e alta-costura

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por Isabela Bez

Grand Palais, Paris, 21 de Janeiro de 2014. Um gigantesco espaço circular abre-se diante da plateia dividida em fileiras enquanto a orquestra de Sebastian Tellier toca no encontro de duas escadas. No topo, Cara Delevingne está parada vestindo uma saia um pouco acima dos joelhos, uma jaqueta-bolero e, surpresa, tênis nos pés. A música aumenta e Cara, sorridente, desce as escadas saltitante, vai de encontro à plateia, gira em um movimento usual e retorna de onde veio. Todas as modelos repetem o mesmo ciclo de Cara, como se fosse algo natural a elas. Impossível não sorrir ao vê-las sorrirem.

É algo fresco, emocionante, original, moderno. Enquanto a maioria dos desfiles requer saltos agulha, carão e muita pose, Karl Lagerfeld quebrou os princípios não só pelo fato de colocar tênis feitos para se exercitar num desfile de alta-costura, mas também por transformar completamente o estado de espírito desse tipo de acontecimento fashion. Quer mais? Algumas modelos ainda usavam joelheiras e pochetes.

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A silhueta da mulher Chanel foi mantida bem simples. Segundo Karl, o corpete entre a saia e a jaqueta cropped era flexível para deixar a mulher ainda mais confortável. Após metade do desfile, alguns vestidos de tons escuros com franjas e plumas holográficas surgiram para alterar um pouco o mood romântico, mas longos tons pastel fecharam o desfile. Um deles, aliás, era vestido por Cara Delevingne. De noiva, a modelo encerrou o grande show de mãos dadas com uma criança e Karl Lagerfeld enquanto a plateia aplaudia. Fizeram história.

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No dia anterior, mais focado nas roupas do que no ambiente, Raf Simons também optou por misturar tênis com alta-costura. Pairando entre tons de preto e branco, seus tecidos com muitos recortes e sobreposição passavam longe de serem lisos. Além de longos, vestidos mullet e macacões também fizeram parte do desfile. O tênis, que era enfeitado com pequenas pedras, apareceu em somente cinco looks, ao contrário da Chanel, que disse não aos saltos.

Fora das passarelas, a moda de rua vem lentamente adaptando o tênis em looks do dia-a-dia. O movimento ainda não tomou força, mas promete: Alexa Chung, veterana em lançar tendências com repercussão mundial, adotou um par para chamar de seu duas semanas antes da semana de moda de Paris. Além dela, vários apaixonados por moda tentaram tiveram sucesso em criar looks de rua com tênis esportivos. Quando se trata de calçados arriscados fora da academia, é difícil saber se a tendência vai pegar, mas depois de aparecem no verão alta-costura de duas grifes icônicas, o que representa um lugar nunca antes tocado pela moda, é correto afirmar que a porta está aberta para possibilidades.

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Shakira e Rihanna sensualizam juntas no clipe de “Can’t Remember to Forget You”

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por Caio Coletti

Apesar do desempenho não tão impressionante nas paradas americanas, “Can’t Remember to Forget You” tem mais uma chance de emplacar a partir de hoje (31), com o lançamento do clipe que reúne Shakira e Rihanna para uma sessão de sensualidades sem precedentes na música pop.

Ambas conhecidas por seu sex appeal, as duas aparecem juntas em cena em breves momentos, gravando o restante do clipe em cenários separadas que seguem o estilo visual barroco mostrado na capa do single. Com uma música tão boa e um clipe tão basicamente hitável, só resta torcer para que “Can’t Remember to Forget You” decole.

Review: The Blacklist, 01x13 – The Cyprus Agency

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Life is full of lovely little ironies”. “The Cyprus Agency” é provavelmente o melhor episódio da primeira temporada de The Blacklist até o momento, e é surpreendente que o seja porque, em larga escala, é um episódio que se leva muito a sério. Essa 13ª entrada da série tem um tema, tem tramas e subtramas que conversam entre si e tem um tratamento visual e narrativo muito mais elegante do que estamos acostumados a ver na série de Red e cia. Ainda afastado do serviço do FBI, o protagonista de James Spader dá espaço para uma trama doméstica envolvendo Liz e Tom que realmente funciona, para uma excelente atuação de Parminder Nagra no melhor momento de Meera Malik como personagem até o momento, entre outras preciosidades.

Mais do que esses destaques a parte, no entanto, o que chama a atenção em “The Cyprus Agency” é a coerência do seu todo: na trama semanal, acompanhamos Liz e o FBI destrinchando uma agência de adoção que, segundo Red, rapta as crianças que entrega para outros casais; ao mesmo tempo, a personagem de Megan Boone passa pelos momentos decisivos do seu próprio processo de adoção, só para depois concluir que nem ela nem Tom estão realmente prontos para um filho; e por fim, a Agente Malik trabalha com Red na tentativa de identificar o verdadeiro agente infiltrado no FBI, uma vez que a moça se mostrou inocente (embora o final dessa trama não seja surpreendente, abre espaço para uma cena memorável entre James Spader e Jane Alexander).

O episódio é redigido por Lukas Reiter, que assinou “Wujing” e “Anslo Garrick, Part 2”. Embora ambos os episódios anteriores tenham sua graça, aqui o alvo de Reiter é outro, assim como o trabalho de Michael Watkins na direção cria um polimento muito mais elegante do que o observado nas colaborações anteriores do moço na série. “The Cyprus Agency” é o mais perto de um thriller de espionagem corporativa que The Blacklist vai conseguir fazem ser trair suas raízes pulp, e isso é ótimo. A grande setpiece de ação da semana, por exemplo, é uma lindamente filmada perseguição/tiroteio em uma clínica médica, e o vilão principal do episódio é interpretado por Campbell Scott (o pai de Peter Parker em O Espetacular Homem-Aranha), na pele de um personagem que não mostra suas verdadeiras cores até o monólogo perto do final.

No final das contas, “The Cyprus Agency” é tão consciente de suas próprias forças e fraquezas quanto qualquer bom episódio de The Blacklist, com a diferença que não deixa o pulp (e há muito dele aqui!) entrar na frente de uma visão clara e objetiva da história que quer contar. Ou seja, o The Blacklist dessa semana é o melhor de dois mundos.

Observações adicionais:

- Mais uma vez a trama da semana é baseada em processo de investigação mais sólido, porém o grande barato do episódio é ver como esse processo é dinamizado pela intercalação com as outras tramas. Há uma cena em especial, que corta incessantemente entre Liz, Ressler e Aram seguindo pistas e Meera tentando descobrir a identidade do agente infiltrado, que é uma obra-prima.

- No final é revelado que nem Red sabe exatamente o que aconteceu com “sua família” nessa misteriosa tragédia aludida a todo tempo na série, o que valida o blefe de The Blacklist em cima dess evento. Estamos tão no escuro quanto os personagens.

✮✮✮✮✮ (5/5)

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Próximo The Blacklist: 01x14 – The Katana (24/02)

29 de jan. de 2014

Paramore brinca de quebrar recordes no esperadíssimo clipe de “Ain’t It Fun”

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por Caio Coletti

Depois de muitos adiamentos, muitos rumores e muita espera por parte de todo mundo que ouviu o Paramore (e o álbum do trio é uma das audições essenciais de 2013), o clipe de “Ain’t it Fun”, uma das melhores faixas de todo o ano passado, saiu hoje (29). No vídeo, Hayley e cia tentam quebrar o recorde de maior número de recordes quebrados em um único vídeo. É, pois é.

Acontece que a coisa é muito divertida, assim como a música. Em meio a takes de Hayley cantando, vemos os integrantes da banda quebrando marcas como: maior número de estrelas dadas em 20 segundos usando botas; menor tempo para desenrolar uma múmia; entre muitos outros.

21 de jan. de 2014

Review: The Blacklist, 01x12 – The Alchemist

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“He isn’t vegan, is he?” Na semana passada, The Blacklist acenou para um futuro próximo potencialmente brilhante ao reconhecer as fraquezas da primeira metade de sua temporada de estréia e, em boa parte, consertá-las com o simples movimento de afastar Red do centro da atividade do FBI. Manter o personagem nas margens da trama, e principalmente agindo sozinho em seu próprio interesse, tendo como único contato com a agência governamental a Agente Keen, é uma decisão brilhante porque dá espaço para The Blacklist ser um thriller mais completo, ao invés de um show particular semanal de James Spader. “The Alchemist” pode não funcionar tão bem quando “The Good Samaritan”, mas dá a ideia de como é um episódio comum dessa nova The Blacklist.

Comecemos, como sempre, pelo vilão da vez: o blacklister da vez é interpretado por Ryan O’Nan, um astro em ascenção no cenário americano que tem quase uma dezena de filmes no forno e já apareceu em filmes como Comer Rezar Amar e O Homem de Gelo. Charmosamente creepy, O’Nan é ótima escolha para um papel que precisa marcar uma impressão forte com pouco tempo em tela. O The Alchemist é um criminoso contratado por outros criminosos quando estes querem sumir do mapa, e seu trabalho consiste em achar pessoas bastante parecidas com seus clientes e, através de tecnologias de alteração genética, torná-los igualmente semelhantes nos exames de DNA.

A própria descrição dos métodos do Alchemist é o bastante para trazer o episódio para o nivel certo de pulp, mesmo porque o restante da narrativa da semana não faz muito nesse sentido. O capítulo dessa semana carrega uma quantidade impressionante de plot, em várias frentes da série: no lado da vida doméstica da Agente Keen, nós descobrimos que o bebê que ela e Tom adotaram está para chegar, e Liz não planeja tirar licença maternidade, devido a importância do seu trabalho; enquanto a caçada pelo Alchemist rola, Red reuniu uma equipe para investigar as entranhas do FBI para achar o elemento infiltrado que facilitou a missão de Anslo Garrick; e, por fim, há algo sobre uma ex-namorada do agente Ressler que está prestes a se casar.

Na primeira subtrama citada aí em cima, nem tudo funciona exatamente como os escritores da série parecem querer, muito provavelmente graças a performance não muito complexa de Ryan Eggold. Talvez esse lado de The Blacklist funcionasse melhor se não houvesse todo esse mistério envolvendo os segredos que Tom supostamente esconde de Liz, a possibilidade do personagem não ser o que aparenta e, agora, uma mulher contratada por outra pessoa para seduzí-lo (?). O lado doméstico da protagonista poderia ser um respiro bem-vindo para a sempre carregada The Blacklist, mas parece que os roteiristas não acreditam no potencial dramático de ter uma agende do FBI tentando equilibrar trabalho e casamento.

A “nova The Blacklist”, como eu ando chamando, ainda não acerta exatamente tudo o que se propõe, mas continua entregando momentos sólidos quando James Spader está em cena, especialmente ao lado de Megan Boone. Competente nas tramas semanais, a série ganha o jogo porque tem um centro emocional e temático bastante forte correndo por baixo de todos os erros e acertos da superfície.

Observações adicionais:

- Vince Misiano dirige o episódio essa semana, retornando depois do bom trabalho em “The Stewmaker”, que foi um capítulo superior em muitos sentidos a esse. Mesmo assim, o moço arquiva um belo trabalho.

- “I hate sarcasm and I love puzzles”

- A tentativa de desenvolver o personagem de Ressler mais uma vez esbarra na pouca competência de Diego Klattenhoff, que não ajuda os roteiristas, já bastante sobrecarregados com muitas coisas para colocar no episódio.

- O FBI está definitivamente mais competente agora. Apesar de Liz ainda precisar da ajuda de Red para apontar nomes e caminhar com ela pelas pistas e para onde elas apontam, o resto do episódio é guiado por um trabalho sólido de investigação. A série está achando maneiras de manter a trama seguindo sem confiar em erros do agentes.

✮✮✮✮ (4/5)

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Próximo The Blacklist: 01x13 – The Cypress Agency (27/01)

Review: Mom, 01x14 – Leather Cribs and a Medieval Rack

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Às vezes, só às vezes, Mom é capaz de uma sutileza emocional e dramática que não pertence, absolutamente, a série que vemos 90% do tempo em tela. Um desses momentos foi o carro-chefe do melhor episódio da temporada de estreia até agora (o 01x11, “Cotton Candy and Blended Fish”), e outro deles aparece bem no final de “Leather Cribs and a Medieval Rack”. Esse é daqueles capítulos em que, apesar do total descomprometimento com a estrutura de uma narrativa convencional, Mom consegue construir piadas sólidas – especialmente na primeira metade – e ao mesmo tempo apresentar uma evolução no grande tema da série, o relacionamento quebrado entre Chrisy e Bonnie.

Depois de descobrirem pequenas mentiras que contaram uma para a outra, as duas resolvem que está na hora de serem honestas sobre tudo que esconderam desde sempre. Isso até Bonnie confessar que, ao contrário do que disse para Christy sua vida inteira, ela sabe quem é o pai da moça. Depois de uma bela cena que dá a Allison Janney a oportunidade de exercitar seu talento dramático (o resultado, como esperado, é bastante pungente), Christy resolve ir conhecer o pai, interpretado por Kevin Pollak (Meu Vizinho Mafioso 2). Exatamente no momento em que Mom poderia descambar para o dramão, Chuck Lorre e cia surpreendentemente escolhem escrever uma cena quieta, discreta, realista e até melancolicamente engraçada.

“Leather Cribs and a Medieaval Rack” mostra, acima de qualquer coisa, que Mom pode ter um longo futuro pela frente, se quiser. Amarrar as “quase-tramas” da semana ao tema abrangente da relação entre Christy e Bonnie, e até construir subtramas que lidem com a questão da maternidade/paternidade (nessa semana, vemos Violet e Luke tendo que lidar com um Roscoe desobediente e discutindo a criação do prório filho ainda não nascido), é um jeito perfeito de garantir que esses personagens continuem evoluindo, e que a série continue tendo espaço para, se quiser, mudar o jogo e renovar seu formato.

Observações adicionais:

- “You told me you were broke” “Emotionally!”

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Mom: 01x15 – Fireballs and Bullet Holes (27/01)

A arte de retocar imagens: a tão falada capa de Lena Dunham para a Vogue

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por Isabela Bez

A Vogue norte-americana é bem democrática. Enquanto grande parte das revistas de moda limita suas capas a supermodelos, Anna Wintour abre o espaço para mulheres reais também. Em 1998, Hillary Clinton já era a capa de dezembro, e nos últimos anos mulheres como Adele, Oprah e Kate Upton, que apesar de ser modelo é considerada um manequim comum, também entraram nesse time.

Agora é a vez de Lena Dunham. Estrela e criadora da série Girls, a americana que ficou mundialmente conhecida por sua personalidade descuidada e seu corpo cheinho ganhou a capa da Vogue de fevereiro depois de muitas especulações, mas não pense que o mundo da moda é tão acolhedor assim. Quando até mulheres que têm corpos considerados perfeitos viram vítimas do Photoshop, é um tanto óbvio que uma mulher fora desse padrão não tenha escapatória.

Com isso em mente, o site Jezebel ofereceu 10 mil dólares pelas fotos não retocadas de Lena. Segundo eles, após a Vogue usar Photoshop até em Gwyneth Paltrow, Kate Moss e Doutzen Kroes, a revista norte-americana não falharia em retocar o que não precisa ser retocado, mesmo quando se trata de uma mulher como Lena, que já deixou claro que se sente muito bem sobre seu corpo e não se importa em mostrá-lo ao mundo, obrigada (qualquer fã de Girls sabe muito bem disso).

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Duas horas depois, várias pessoas já haviam oferecido as fotos ao site e logo elas foram publicadas, mantendo sua origem em anonimato. Para choque de muitos, Annie Leibovitz, que fotografou o editorial inteiro, não abusou tanto do Photoshop assim. Ela escondeu as olheiras, afinou o queixo e o pescoço e até diminuiu o decote, mas não houve tentativas de deixar Lena Dunham mais apropriada para a Vogue, ou seja, mais magra. Ok, só um pouco mais alta.

Mas vamos ser honestos: quem é que gostaria de ser exposta com suas falhas e imperfeições ao mundo todo? Bom, há quem queira sim. Mulheres que foram fotografadas para Aerie, a linha de lingerie da American Eagle, concordaram em sair em suas campanhas sem retoque nenhum. Tudo era permitido, desde tatuagens e marcas de nascença até olheiras e celulite (não que elas tenham muita celulite).

A proposta da marca é de acabar com o Photoshop, já que a mulher real é bem mais sexy. “Elas ainda são modelos, elas ainda são lindas, mas se parecem um pouco mais com o resto de nós”, a especialista da marca Jenny Altman contou ao Good Morning America. “Nós queremos quebrar o molde. Queremos que as mulheres do mundo todo comecem a aceitar sua beleza natural”.

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05 álbuns que fazem 10 anos em 2014 (e merecem ser celebrados)

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Hot Fuss (The Killers)

por Amanda Prates

O Hot Fuss não é apenas um álbum que faz 10 anos em 2014, mas um DEBUT que completa sua primeira década neste novo ano – um clássico contemporâneo quase! Na época abraçado calorosamente por público e crítica, o disco já trazia um The Killers que propunha desafiar os conceitos pré-determinados da indústria musical, que, com seus sintetizadores e teclas, misturava pop, rock alternativo, new wave e dance rock, aturdindo os críticos que insistiam em defini-los. E como toda banda que aparece no meio do nada e faz o sucesso ruidoso que eles fizeram, foram alvos de comparações, principalmente com bandas dos anos 80, como The Cure, Duran Duran e New Order.

“Mr. Brightside”, “Smile Like You Mean It” e “All These Things That I've Done” são a marca do disco que não se fez clássico apenas pelos sintetizadores e teclas e o estilo de guitarras e a pegada alternativa mais do que acertada, mas pelo maior instrumento da banda: os vocais inigualáveis de Brandon Flowers. Com seus graves quase rasgados, Flowers consegue transmitir o sofrimento e a intensidade que pode haver numa canção.

Hot Fuss poderia ser o debut que caracterizaria o Killers como a “banda de um hit só”, mas Sam’s Town veio dois anos depois para provar o contrário e confirmar que um debut pode ser o início já primoroso de uma carreira primorosa, caso do Killers, uma banda com cara de 30 anos, mas com corpinho de 10.

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Breakaway (Kelly Clarkson)

por Caio Coletti

Era 2004, e o reino da música jovem estava completamente dominado por bandas de pop-rock formadas por homens (The Calling, 3 Doors Down, Three Days Grace, o auge da popularidade do Goo Goo Dolls), apelando para o público feminino e cantando baladas-rock românticas como “Wherever You Will Go”, “Iris” e “Here Without You”. Claro que Avril Lavigne já era um nome bem sólido no mundo da música, e o ano a veria lançar um segundo álbum que só a trouxe mais público, mas o que Avril fazia era algo muito mais próprio, diferente e em certa medida experimental do que os nomes citados ali em cima. É aí que entra Kelly Clarkson, e seu Breakaway.

Vinda da vitória no American Idol, Kelly já havia estreado com o country Thakful no ano anterior, mas foi esse segundo lançamento de estúdio que revelou quem ela seria para a indústria: uma voz feminina em um mundo masculino. O pop rock nervoso dos primeiros singles do álbum ("Since U Been Gone" e "Behind These Hazel Eyes") propunha injetar energia em uma fórmula que aos poucos estava se desgastando, além de trazer a sensibilidade feminina para o gênero. Breakaway é um álbum extremamente romântico, e extremamente machucado. Bom exemplo são a clássica "Because of You", um dos lamentos mais amargos da música moderna, e a agoniada "Addicted".

Um outro lado do álbum, porém, traz a tona a Kelly Clarkson que um dia escreveria hinos como “Stronger (What Doesn’t Kill You)”. Emprestando a cadência melódica de Prince (!) em um contexto mais rock, "Walk Away" – nossa preferida pessoal – coloca a cantora desafiando um homem a tomar uma atitude, enquanto a faixa-título, "Breakaway", co-escrita pela própria Avril Lavigne, continua um delicioso chamado a libertação mesmo dez anos depois. Música boa, como de praxe, costuma envelhecer muito bem.

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American Idiot (Green Day)

por Vanessa Dias

Simplesmente um dos maiores ícones do punk rock mundial. Assim pode ser definido American Idiot, o álbum de maior consagração do Green Day na última década. Coberto de críticas à sociedade, o governo e às guerras, o álbum não apresenta sequer uma faixa considerada “mediana”, e acabou se tornando de conhecimento obrigatório para os que se dizem amantes do punk rock. Pudera, desde seu lançamento, American Idiot ficou no Top 200 de álbuns do Rock and Roll Hall Of Fame.

A faixa título, hino eterno entre os fãs de Green Day, abre o álbum com uma crítica a toda alienação americana durante o governo do presidente Bush. Seguida pela intitulada “Jesus of Suburbia”, a faixa de 9 minutos que conta a história do personagem-tírtulo (ou Saint Jimmy, protagonista do álbum), que decide explorar a cidade (City of Damned) de uma juventude regada a drogas, bebidas e cigarros. Mas, ao decorrer da música, Saint Jimmy sofre um momento de reflexão sobre sua vida, e parte para buscar algo novo longe de Jingletown, sua cidade. Trata-se de uma faixa épica e essencial para a construção do álbum.

Na sequência do álbum está “Holiday”, mais uma faixa que permanece muito viva mesmo uma década depois. O refrão marcante com a temática Carpe Diem já seria o suficiente para ser um sucesso, mas a faixa ainda faz uma apologia contra a Guerra do Iraque, e isso fica claro em trechos como “Bombs away is your punishment / Pulverize the Eiffel towers / Who criticize your government”. O álbum segue contando através das faixas a história de St. Jimmy e fazendo criticas pesadas à guerra do Iraque e ao governo Bush – levanto aqui as faixas “St. Jimmy” e “Wake Me Up When September Ends”, que conta a história de um casal que se separou pela guerra após o garoto ser convocado para o exército.

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Love. Angel. Music. Baby. (Gwen Stefani)

por Caio Coletti

Desnecessário incorrer no quanto “Hollaback Girl” marcou uma geração da música pop. A canção co-escrita e co-produzida por Pharrell Williams não só foi um dos maiores hits de 2004, como consolidou uma das mais gloriosas épocas do hip hop dentro da música mainstream. O potencial-chiclete dos múltiplos ganchos e refrões da canção (nosso preferido, obviamente, é: “This shit is bananas/ B-a-n-a-n-a-s”) ainda são o principal atrativo, dez anos depois, do álbum de estreia da carreira solo de Gwen Stefani, até então conhecida como vocalista da criticada e adorada na mesma medida No Doubt. Com sua inspiração na cultura japonesa, mas os pés musicais bem cravados no pop americano, Love. Angel. Music. Baby. é um pequeno prodígio de sua época.

A referência óbvia são os primeiros anos de Madonna, quando a identidade melódica e harmônica da música pop ainda estava se formando das bases do R&B. Esse caminho seria ainda mais explorado por Stefani no segundo álbum, o ótimo The Sweet Escape, mas dicas dessa obsessão já aparecem em várias faixas do L.A.M.B., especialmente as gostosas baladas "Cool", "The Real Thing" e "Serious". Os múltiplos produtores, por outro lado, trazem um sabor bem diverso para o disco, mesmo dentro dos diferentes ramos de músicas dançantes voltadas para o hip hop: para cada "Bubble Pop Electric", temos uma "Rich Girl" para balanceá-la. Para cada Andre 3000, um Dr. Dre.

Há um caso para ser feito em relação a L.A.M.B. ser o melhor álbum pop do seu ano, e essa lista mostra que de fato não há muitos concorrentes no gênero (alguém notou que os nossos 5 estão predominantemente rockers esse ano?). Independente do título ou não, no entanto, é uma obra que precisa ser redescoberta o tempo todo para que não esqueçamos o quanto aquela moça do No Doubt é capaz de surpreender.

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Franz Ferdinand (Franz Ferdinand)

por Caio Coletti

A estética musical do Franz Ferdinand mudou bastante desde 2004, muito para o benefício do conceito da banda entre a crítica, inclusive. Um artista que confia demais na própria fórmula está fadado a um dia encontrar limitações nela. A sofisticação do Franz, no entanto, fez com que a energia do álbum de estreia, auto-intitulado, lançado no fatídico ano que analisamos aqui, nunca mais fosse repetida, e é difícil negar isso ao se ouvir o Franz Ferdinand hoje em dia. O estílo cinético e dramático da banda que ouvimos no Right Thoughts Right Words Right Action pode tê-lo feito um dos grandes álbuns de rock de 2013, mas a graça desse novo disco é bem diferente do charme cru do primeiro da discografia da banda.

Até os hits aqui são bem menos maquiados que a faixa mais sombria do novo Right Thoughts. Até hoje o maior sucesso da banda, “Take me Out” conta com uma guitarra punk que se sobrepõe ultrajantemente à melodia pop cheia de ganchos e brincadeiras que aprendemos a esperar de Kapranos e companhia. A história é mais ou menos a mesma com "This Fire", uma canção fundamentalmente grudenta envolta por sonoridade suja por todos os lados. Ao ver os clipes desses dois singles, inclusive, dá para notar que, apesar de já influenciada pelos mesmos movimentos artísticos que a cercam até hoje, a banda imbuía tudo com uma pincelada decadente e rústica, quase improvisada.

Todos os cacoetes e características que fizeram do Franz uma das bandas de rock com assinatura mais reconhecível do século XXI estão aqui: a teatralidade de "Auf Asche" salta aos olhos pela produção bem diversa, incluindo sintetizadores, batida eletrônica e até órgão no arsenal da banda. Existe um ar de tragédia decadente no ar, como sempre existe em tudo o que os escoceses fazem. A diferença que faz o Franz Ferdinand tão especial é que, aqui, essa é uma tragédia muito mais visceral.

20 de jan. de 2014

Estreia: “Looking” e o balanço entre a importância e a qualidade

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por Caio Coletti

Looking, a nova série da HBO, estreou ontem (19) logo após a exibição de “She Said OK”, terceiro episódio da nova temporada de Girls, hoje uma das marcas mais estabelecidas da emissora, em termos de crítica, prêmios e até audiência. As comparações não são só inevitáveis, como parecem ser encorajadas pelo canal, que vendeu Looking, mesmo que sutilmente, como uma versão para jovens gays da série de Lena Dunham. Então talvez tenha sido o mal da campanha publicitária mais do que qualquer outra coisa, mas nesse episódio de estreia, por mais forte que seja a sentença social que Looking queira marcar, a série ainda não se constrói em méritos próprios. Mesmo que tenha todo o potencial para fazê-lo nas próximas semanas.

O pedigree dos envolvidos ajuda: o estilo visual é a melhor arma da série para adquirir identidade própria, com o envolvimento do diretor Andrew Haigh (Weekend). Exatamente como fez em seu filme mais conhecido, esse editor transformado em diretor cria um estilo de observação único, posicionando as câmeras de maneira naturalista e nos deixando observar quase voyeuristicamente esses personagens. Mas há algo a mais além da excitação de “espiar” na direção do moço, e isso se manifesta no quanto Looking é capaz de humanizar seus personagens ao colocar nós, os espectadores, como “moscas na parede” entrando no mundo dessas pessoas. Há quem possa chamar de trapaça esse truque para realçar o realismo da trama, mas não deixa de ser um artifício muito eficiente.

O roteiro do estreante Michael Lannan é mais onde residem os problemas de Looking. Talvez seja exatamente essa a intenção, mas o fato é que esse episódio piloto reverbera vários dos temas e articulações pelas quais Girls já passou e ainda passa regularmente. São personagens na mesma faixa etária, lidando com problemas parecidos, com um senso de humor comum, e é realmente impressionante observar o ponto que a série quer fazer: independente da sexualidade, os seres humanos passam pelas mesmas ansiedades e pelas mesmas perturbações em cada parte da vida. O problema é que, a não ser por uma diminuída nos tons de soap-opera e um realce natural na sexualidade – uma coisa é quase consequencia da outra, que se diga –, Looking é uma repetição. Se vista por um certo ângulo, pode até ser considerado que a HBO subestimou os espectadores ao oferecer ao público gay uma série assim: “Gostam de Girls? Aposto que vão se identificar muito mais com esses personagens passando por problemas idênticos. Sabe porquê? Eles também são homens gays!”

A grande virtude da série até o momento são os personagens – e o elenco. O protagonista Patrick, a procura de um namorado, demora para crescer em tela, mas se mostra um caso de estudo fascinante com a sua relutância em sair da zona de conforto, algo que Jonathan Groff (Glee) traduz em uma performance imensamente carismática, evitando que ele se torne um personagem principal desprezível. Frankie J. Alvarez, por outro lado, emerge como um destaque rapidamente, na pele do lânguido Augustín, que está considerando se mudar para a casa do atual namorado. Trata-se de uma atuação sutilmente fascinante. O último do trio de protagonistas é Murray Bartlett, que talvez precise de mais tempo de tela para se destacar na pele de um personagem que parece ter passado do seu auge e não consegue aceitá-lo.

Nesses três protagonistas mora o verdadeiro potencial que Looking tem para se tornar uma ótima série. É verdade que a sombra temática preenchida por Girls é grande, e não é missão fácil contar a história de pessoas nessa faixa de idade apresentando alguma novidade. Minha aposta, no entanto, é que com todas as suas boas intenções, Looking é também sincera e competente o bastante para fazê-lo.

✮✮✮✮ (4/5)

Próximo Looking: 01x02 – Looking for Uncut (26/01)

19 de jan. de 2014

Você precisa conhecer: Kyla La Grange

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por Caio Coletti

Kyla La Grange é uma inglesinha de 27 anos, de descendência africana (o pai é de Zimbábue, a mãe da África do Sul), que se formou em Filosofia na universidade antes de aceitar que seu talento mesmo era para a música. Desde então, a moça tentou a sorte com alguns singles lançados online, mais notoriamente as ótimas “Been Better” e "Heavy Stone”.

Essa primeira frase da carreira, com toques de folk e tom sombrio, foi coroada pelo contrato com a Sony e pelo lançamento de “Vampire Smile”, provavelmente maior sucesso da moça até hoje. Todas essas canções, e mais algumas igualmente boas, estão reunidas no primeiro álbum de estúdio, intitulado Ashes, lançado dia 30 de Julho de 2012.

Mais recentemente, Kyla se livrou dos cabelos castanhos para encarnar um visual meio Kerli e deixar influencias do synthpop e da batida neo-R&B no seu som. O resultado é a climática, colorida e meio “sedada” “Cut Your Teeth”, que ganhou clipe ontem (19). Veja aí embaixo e decida qual das Kyla’s você prefere:

Yes, Kylie, yes! Vem ouvir o novo single da australiana, “Into The Blue”

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por Caio Coletti

2014 nem começou e já é um ano maravilhoso. Depois do buzz single “Skirt” (que nós d’O Anagrama destacamos aqui), Kylie Minogue está pronta para tomar o mundo pop de assalto com seu 12º álbum de estúdio, o primeiro sob a assinatura da Roc Nation, nova gravadora da moça que promete alavancar sua carreira nos EUA. “Into The Blue”, vazado uma semana antes do lançamento oficial, é o primeiro gostinho dessa mudança.

Mudança em termos, é claro. Kylie sempre foi Kylie, e sempre vai ser. O novo single tem a assinatura inconfundível da australiana, com os teclados doces misturados aos sintetizadores e uma melodia deliciosa levada com perícia absoluta pela voz muitas vezes subestimada da cantora. Em resumo, é a primeira delícia pop do ano.

Ouça “Into The Blue” aqui

18 de jan. de 2014

Previsões para o Oscar 2014: Melhor Ator Coadjuvante

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por Caio Coletti

Posando pela enésima vez para o amigo Terry Richardson, Jared Leto mostrou a forma física impressionante (não exatamente no bom sentido) durante as filmagens de Dallas Buyers Club. Magérrimo, com o corpo todo depilado – o que serviu como piada, de não muito bom gosto, no discurso do moço do Globo de Ouro –, Leto estava quase irreconhecível. No próximo dia 2 de Março, no entanto, ele provavelmente vai receber a melhor recompensa pelo sacrifício: a estátua dourada do Oscar.

Melhor Ator Coadjuvante
Aposte em:

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Jared Leto, por Dallas Buyers Club

Jared Leto é um caso a parte na indústria americana. Revelado aos 28 anos no neo-clássico Clube da Luta, o moço engatou vários projetos marcantes até 2006. Desde então, foram só outros três filmes bastante festejados pela crítica, nos quais a performance de Leto foi aclamada. Era questão de tempo até um desses projetos bissextos garantir ao moço uma indicação ao Oscar, mas ainda é uma surpresa que ele chegue ao auge da temporada de premiações como o favorito. Talvez seja hora de deixar o 30 Seconds to Mars de lado, Jared.

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Torcemos por:

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Bradley Cooper, por Trapaça

Está na hora de confessar uma coisa: eu não sou o maior fã de Bradley Cooper. Sabe aquele pé atrás que todo mundo tinha em relação a ele antes de O Lado Bom da Vida? Pois é, eu ainda tenho. Mesmo assim, o moço me impressionou em Trapaça, numa atuação que é pelo menos uma dezena de vezes mais acertada do que a que lhe garantiu a indicação anterior ao Oscar. Seu agente do FBI Richie é retratado com uma hesitação nervosa que acompanha a verborragia e o carisma que são marcas do ator, e a queda moral do moço no final do filme é muito mais forte porque Cooper o interpretou assim.

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E esqueceram de:

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Daniel Bruhl, por Rush

Na verdade esse é menos um esquecimento e mais uma maldosa exclusão. Bruhl, um ator alemão que a maioria dos espectadores provavelmente conhecem como o falso herói alemão de Bastardos Inglórios, esteve em todas as listas de melhores interpretações do ano por sua performance como o piloto de fórmula 1 Niki Lauda no ótimo Rush, de Ron Howard. Não só Bruhl supera em muito seu companheiro de cena Chris Hemsworth, como seu desempenho nervoso e compenetrado é um dos retratos mais estranhamente cativantes do cinema em 2013.

17 de jan. de 2014

Review: Suburgatory, 03x01 – No Me Gusta, Mami

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Suburgatory tem uma nova abertura. Entrando agora em seu terceiro ano, a série substituiu as cenas suburbanas estreladas por Jane Levy e Jeremy Sisto por uma versão animada, imitando marionetes, das mesmas. Irônico que, exatamente nessa estréia da terceira temporada, a série tenha diminuído um pouco o tom cartoonish que dominou a segunda. Talvez seja só efeito da assinatura de Emily Kapnek, criadora da série, no roteiro principal, visto que ela conhece esses personagens bem o bastante para acertar em cheio no drama inerente neles. “No Me Gusta, Mami” não é o episódio mais engraçado de Suburgatory, mas sem dúvida é um começo de temporada matador.

Começamos de onde terminamos na temporada passada, mas descobrimos que a mãe de Tessa, Alex, não conseguiu segurar a responsabilidade de ter a filha por perto por muito tempo. Suburgatory arranja um jeito elegante de tirar de Malin Akerman o peso de ser uma jogadora regular na trama, uma vez que a moça deve estar ocupada estrelando a boa Trophy Wife para a ABC. Assim, os padrões se repetem e Alex foge do comprometimento, fazendo Tessa voltar para a casa recém-comprada de George, e descobrir que o pai está planejando voltar para New York. Ao mesmo tempo, Sheila tenta lidar com a ausência de Ryan investindo sua energia em tornar a vizinhança perfeita para o mercado imobiliário, o que inclui caçar o cachorro que George achou na rua no final da temporada anterior.

Para completar a tríade de tramas inspiradas pela paternidade/maternidade, Dallas está convivendo com o desgosto de Dalia pela separação entre a mãe e George. Como de costume, Carly Chaikin é dona de algumas das melhores risadas do episódio com sua performance genialmente “sedada”. Em muitos sentidos “No Me Gusta, Mami” parece uma expedição de conserto após os desvios temáticos da segunda temporada, colocando o foco de volta nas relação mãe-e-filho e restituindo o status de George e Tessa como “peixes fora d’água” na comunidade de Chatswi”.

Por mais carismáticos que sejam personagens como Dalia, Dallas, Sheila e Fred, Suburgatory é essencialmente uma sátira aos modos de vida deles. Durante o segundo ano, com Tessa e George começando a se acostumar com as maneiras de Chatswin, a série perdeu um pouco dessa perspectiva, e agora está de volta: mais ácida, e ao mesmo tempo mais doce, do que nunca.

Observações adicionais:

- “L.O.L. Schulman”

- “Buckles Elizabeth Mastrantonio”

✮✮✮✮ (4/5)

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Próximo Suburgatory: 03x02 – Victor Ha (22/01)

Previsões para o Oscar 2014: Melhor Ator

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por Caio Coletti

O Globo de Ouro, o Critics Choice e mais meio mundo de prêmios de crítica confirmam: apesar dos discursos nada sensíveis sobre os papéis que interpretaram, Matthew McConaughey e Jared Leto devem coroar bons anos para suas carreiras com os primeiros Oscar nas mãos. Dallas Buyers Club, o filme de Jean-Marc Vallée (A Jovem Rainha Vitória) sobre a eclosão da crise da AIDS, ganhou mais amor da Academia do que do Globo de Ouro, arrancando até uma indicação a Melhor Filme.

Melhor Ator
Aposte em:

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Matthew McConaughey, por Dallas Buyers Club

2013 foi um ano mais que especial para Matthew McConaughey, e a Academia, historicamente, gosta de premiar anos “mais que especiais” na carreira de seus protegidos. Se no Oscar do ano passado as boas atuações do moço em Magic Mike e Mud não foram o bastante para os votantes, esse ano houve quem achasse que ele sairia com duas indicações. Apesar de sua performance em O Lobo de Wall Street não ser nominada, Matthew já pode arranjar um lugar na estante para seu Oscar pelo papel do soropositivo que se torna líder do tráfico de remédios em Dallas.

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Torcemos por:

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Leonardo DiCaprio, por The Wolf of Wall Street

Na verdade, Matthew só leva vantagem sobre Leo porque o número de prêmios acumulados pela performance é maior. Sem isso no caminho, 2014 sem dúvida seria o Oscar de Leonardo DiCaprio, que também teve um ano incrível, e que está na quarta indicação sem nunca ter vencido. Para ajudar, The Wolf of Wall Street tem a assinatura de Martin Scorsese, e vem sendo polemizado, estudado e aclamado por críticos do mundo todo. No papel do operador de mercado financeiro Jordan Belfort, o ator californiano que saiu da sombra do Titanic se afirma como uma força a ser respeitada.

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E esqueceram de:

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Casey Affleck, por Ain’t Them Bodies Saints

O irmão mais novo (e mais talentoso, em termos de atuação) de Ben Affleck pode ter marcado sua carreira para sempre no papel que lhe rendeu a primeira e única indicação ao Oscar, em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, mas isso não é motivo para ignorar uma performance tão sutil e sensível quanto a que ele entrega no drama à la Malick Ain’t Them Bodies Saints. Na pele do criminoso que escapa da cadeia e quer reencontrar com a esposa e a filha que nunca conheceu, Affleck brinca com sua persona sinistra mas acaba montando um retrato tocante do seu personagem.

Review: Não deixe de ver “Rush” só porque o Oscar te disse para não vê-lo

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por Caio Coletti

Apesar da boa recepção crítica, do buzz bem grande que sustentou por um tempo para a temporada de premiações, e das duas indicações ao Globo de Ouro, Rush passou em branco pelas nominações do Oscar, anunciadas ontem (16). Não dá para dizer que não é justo, embora Rush passe longe de ser um filme ruim, ou mesmo um filme mediano. Com a competição pelo prêmio da Academia acirrado como está, no entanto, é compreensível que essa produção menor de Ron Howard tenha ficado de fora da corrida (sem trocadilhos), abrindo espaço para momentos mais brilhantes de Woody Allen, David O. Russell e Martin Scorsese, entre outros. Isso tudo desde que não se deixe de saber que Rush é um filme que merece, e muito, ser assistido.

Howard é notadamente um crowd-pleaser que aos poucos aprimorou suas habilidades para transformar dramas acadêmicos como Uma Mente Brilhante (pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Diretor) e Frost/Nixon em sucessos também entre o público. Seja no campo emocional, intelectual ou físico, o diretor sabe como empolgar e envolver, tem uma noção bastante decente de narrativa e encenação, e encontra boas soluções de abordagem para os filmes que comanda. Dito isso, não há nenhuma novidade no seu trabalho em Rush, embora seja esse faro para manipular a percepção do público que faça as cenas de corrida do filme, seu próprio centro nervoso e dramátcio, momentos genuinamente excitantes e, quando preciso, agourentos e tensos.

A história acompanha a rivalidade entre o britânico James Hunt (Chris Hemsworth) e o austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl) nas pistas da Fórmula 1, especialmente na temporada de 1976, quando Lauda sofreu seu célebre e horrendo acidente. Como boa parte dos espectadores, eu acredito, vá entrar nessa história sem saber o final, existe um aspecto em Rush que é a expectativa e a incerteza, uma vez que o roteiro de Peter Morgan se estrutura literalmente como uma “corrida” entre esses dois homens vastamente diferentes. O escritor, que repete a parceria com Howard em Frost/Nixon, consegue equilibrar bastante seu filme entre Hunt e Lauda, embora não possa deixar de fazer o primeiro ligeiramente antipático. No papel, porém, a ideia é mostrar as falhas de ambos, e as formas como a competição entre eles os levou a serem melhores – na pista e fora dela.

Se há uma indicação ao Oscar que Rush deveria ter recebido, ela é para Daniel Brühl como Melhor Ator Coadjuvante. Por pura formalidade, aliás, porque o ator alemão conhecido pela participação em Bastardos Inglórios e pelo amado Adeus Lênin é tão protagonista quanto Hemsworth, se não mais. Compenetrado e ligeiramente impulsivo como é de seu feitio, Brühl empresta uma dignidade e uma arrogância a Lauda que, estranha e imprevisivelmente, o fazem uma espécie de “underdog” muito mais identificável do que o astro de cinema interpretado por Hemsworth. O Thor dos cinemas ainda não está preparado para segurar um papel dramático, mas é carismático o bastante para não comprometer o resultado final de Rush, um filme sobre rivalidade que, de maneira quase brilhante, é também um filme sobre o valor da convivência.

✮✮✮✮ (4/5)

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Rush: No Limite da Emoção (Rush, EUA/Alemanha/Inglaterra, 2013)
Direção: Ron Howard
Roteiro: Peter Morgan
Elenco: Chris Hemsworth, Daniel Brühl, Olivia Wilde, Alexandra Maria Lara
123 minutos

16 de jan. de 2014

Review: Person of Interest, 03x13 – 4C

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Nesse terceiro ano de sua trajetória, Person of Interest chegou em um ponto de desenvolvimento de personagens e narrativa, em um nível de qualidade de roteiro, no qual nenhum episódio existe por si só. São raríssimas as séries que alcançam esse pathos, e ainda mais raros os procedurals (o único outro exemplo que consigo pensar, aliás, é The Good Wife) que chegam nesse momento em que cada capítulo existe ao mesmo tempo para satisfazer o formato e desenvolver a história maior que a temporada, ou a série toda, pretende contar. Existe uma multiplicidade fundamental em “4C” que confirma o quanto Person não está pronta para “voltar a normalidade”.

Nessa semana, acompanhamos Reese deixando New York via avião, a caminho de Istanbul. Acontece que em seu vôo, não por acaso, está também Owen Matthews (Samm Levine, conhecido dos fãs da cult Freaks and Geeks), programador de um site de venda de narcóticos que, alegadamente, tem a missão de diminuir a violência relacionada ao tráfico de drogas (“cutting the middle-man”, como Owen esclarece). Que a máquina é a responsável por colocar o personagem de Jim Caviezel no avião fica claro desde o começo, mas além da ambientação claustrofóbica, a novidade de “4C” é que, dessa vez, a criação de Finch apontou para eles um número no qual os agentes do governo também estão de olho. Um número relevante.

O plot do episódio segue com a tendência da temporada de colocar uma luta de vontades  entre a máquina e os indivíduos, por vezes sugerindo que a consciência elevada dessa primeira pode saber mais sobre o que precisamos do que nós mesmos. Esse é também o momento em que Person resolve conciliar Reese com seus demônios vindos da morte de Carter e, portanto, também com as missões dele e de Finch. É preciso respeitar uma série de televisão aberta que esperou quatro longos episódios para fazer seu protagonista chegar a fase de aceitação do luto, e Jim Caviezel parece grato em fazer Reese respirar depois de uma série de episódios tão densos.

“4C” é também bastante bem-humorado, a começar pela performance divertida de Samm Levine como o guest star da vez (o episódio conta também com a adorável Sally Pressman, de Army Wives, que esperamos ver de novo daqui a uma temporada ou mais). As múltiplas ameaças a vida do personagem provem um momentum de narrativa bem considerável, provocando um verdadeiro pandemônio abafado dentro do avião em que Reese está. Com uma trama que reflete temas presentes na própria constituição intrinseca da série – tecnologia, controle e complexo de Deus – “4C” é um retorno a estrutura convencional da série que consegue o feito de não soar como tal. E é mais um triunfo para uma temporada de televisão fenomenal.

✮✮✮✮ (4/5)

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Próximo Person of Interest: 03x14 – Provenance (21/01)

15 de jan. de 2014

Review: The Blacklist, 01x11 – The Good Samaritan

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“The suspense is killing me!”. No começo de sua winter season, também conhecido como a segunda metade da primeira temporada, The Blacklist faz o que a crítica de televisão precisa começar a chamar de “episódio de consequencias” (aftermath episode, ou algo assim): depois do pandemônio das duas partes de “Anslo Garrick”, lá em Dezembro, a série precisa jogar com as peças fora de lugar e arranjar um jeito de arrumá-las para uma nova realidade que, ao mesmo tempo que respeite os fatos acontecidos recentemente com esses personagens, não se distancie muito da premissa original da série (porque, por mais que a NBC esteja disposta a arriscar, ela ainda é uma emissora aberta).

“The Good Samaritan” faz esse trabalho com uma certa dose de cinismo televisivo, mas consegue fazer com que tudo funcione pelo caminho. O bom trabalho de roteiro precisa ser creditado aos staff writers Brandon Margolis e Brandon Sonnier, em sua primeira aparição como escritores principais de um episódio. Esses dois membros da equipe do programa conhecem os personagens e reconhecem as mudanças pelas quais eles passaram nos últimos episódios, mas aima de tudo reconhecem também as mudanças pelas quais eles ainda precisam passar para aprimorar a série. Essa semana, temos uma Agente Keen mais dura e mais competente em seu trabalho, se encaixando melhor na indefnição moral de The Blacklist e dando a Megan Boone material sólido para trabalhar.

O blacklister da semana é um serial killer interpretado por Frank Whaley (Pulp Fiction), que parece escolher vítimas perpretadoras de abuso físico contra filhos ou conjuges e reproduzir neles os ferimentos que causaram nos entes queridos. Pode ser que Karl Hoffman, o Good Samaritan, não seja um vilão pulp no mesmo nível físico que Anslo Garrick foi, mas tanto a performance bizarramente creepy de Whaley quanto os métodos cruéis do assassino produzem exatamente o tipo de tom no qual The Blacklist precisa sempre se apoiar na trama semanal. Do outro lado do episódio, Red está desgarrado do FBI e procurando o responsável por financiar, executar e vazar informações que tornaram possíveis a missão de Garrick contra ele. Isso significa que James Spader, pós indicação ao Globo de Ouro, tem a oportunidade de se divertir e matar alguns figurantes.

Até o final de “The Good Samaritan”, The Blacklist está de volta ao normal, ou quase. A série aproveita a virada de trama para afastar Red dos headquarters do FBI, quando a preocupação do roteiro com o personagem parecia enclipsar os coadjuvantes de tal forma que eles não tinham espaço para respirar, que dirá ter alguma personalidade. Ao que parece, agora que trata exclusivamente com Liz, o personagem de James Spader não estará por perto para sombrear as performances de gente como Jane Alexander e Parminder Nagra, aqui mostrando suas forças. Mais uma vez, a série mostrou que conhece suas forças e fraquezas como poucas outras atualmente, e promete uma segunda fatia de temporada, no mínimo, extremamente divertida.

Observações adicionais:

- A primeira sequencia de Red é ao som de Johnny Cash, interrogando aqueles que participaram em seu sequestro. O episódio dessa semana é dirigido por Dan Lerner, de extenso currículo televisivo, e está mais bem polido visualmente do que o normal.

- “I do love strogonoff”

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo The Blacklist: 01x12 – The Alchemist

Pixie Lott ensina a ser sexy no clipe da emprestada (mas ótima) “Nasty”

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por Caio Coletti

Apesar do primeiro single promocional do Pixie Lott, vindouro terceiro álbum da loirinha inglesa, ter sido “Heart Cry”, todo mundo estava esperando mesmo é por “Nasty”. Desde que foi anunciado que Pixie havia emprestado uma canção descartada do musical Burlesque, várias comparações entre a voz da moça e a de Christina Aguilera pipocaram na internet. Como sempre, esse não é o ponto.

Do jeito que foi arranjada e cantada, “Nasty” parece feita sob medida para Pixie. O diálogo com o hip hop do começo do século XXI (entre 2000 e 2003, especialmente) vem desde o Young Foolish Happy, álbum anterior da moça, e o clipe confirma a ideia de que Pixie, agora aos 23 anos, quer mostrar ao público que cresceu – de uma maneira bem mais interessante do que as estrelas teen americanas costumam fazer.

14 de jan. de 2014

Review: Não só arte e pop se aproximam no mais recente álbum de Lady Gaga

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por Caio Coletti

Existe um ponto fundamental sobre Lady Gaga que parece ser definidor para a atitude de determinados públicos (ou integrantes dele, dependendo de como você quiser usar a palavra) em relação a ela: essa ítalo-americana de quase 28 anos está em constante busca por conexão. Seja na sua relação com os fãs, na forma como lida com suas aparições frente a imprensa ou na linguagem rebuscada que costuma usar para falar e promover seu próprio trabalho, Lady Gaga quer estreitar cada vez mais as barreiras entre os conceitos, quaisquer que sejam eles. “Separação” não é algo que parece lhe agradar, seja ela entre a estrela e seu público, a persona pública e a persona privada, a arte e o pop, a música e o visual, o artista e sua obra. Na mente de Gaga, isso tudo é uma coisa só, então talvez não seja correto chamá-la de “completa”, um adjetivo que muitos jornalistas usaram na falta de algum outro para definir o processo da moça. A questão não é que ela saiba fazer tudo junto, mas que ela não vê motivo para fazê-los separados.

Polêmico como foi, e como tudo que ela faz por definição é, ARTPOP pouco mais é do que alguns passos a mais nessa direção, mas isso não significa que ele deva ser tido em pouca estima. Pelo contrário, significa até que muito trabalho foi posto na idealização de cada detalhe desse empreendimento, e que esse trabalho precisa ser respeitado. No mini-review do álbum postado recentemente na nossa lista de 15 melhores álbuns e singles do semestre, o colaborador d’O Anagrama Ilson Junior frisou que o ARTPOP é “uma experiência musical de extrema importância para qualquer fã de música pop”, e poucas vezes o termo megalomaníaco “experiência musical” foi usado com tanta justiça. Embora não nos mesmos níveis que o Beyoncé, obviamente, o disco de Gaga é extremamente sinestésico, e nos coloca naquela posição familiar de atrelar estímulos visuais relacionados a promoção do álbum com a música e as atitudes da cantora nos últimos tempos.

A intenção da mente que a criou é tão importante para a música e a estética quanto a forma do seu resultado final, e é possível contemplar essas intenções se prestarmos atenção em alguns detalhes: no encarte do álbum, por exemplo, a própria Lady Gaga aparece nua, porém em poses estatuescas que remetem a capa, essa uma escultura do célebre e polêmico artista moderno Jeff Koons. Em certo trecho de “Applause”, o primeiro single, ela canta: “One second I’m a Koons/ then suddenly the Koons is me” (“Num segundo sou um Kooons/ então de repente o Koons sou eu”), provocando a ambiguidade entre a identidade do artista e da obra, e principalmente indicando para o caminho de pensamento em que, de certa forma, todos nós nos fazemos arte. Desde o Born This Way a cantora é fascinada por esse conceito da personalidade como construção artística, mas com ARTPOP, essa antropo-arte-morfização está completa (se me perdoarem o termo inventado). Gaga é a artista e a arte, e diz que também podemos ser. De certa forma, já somos.

Mais instâncias de Gaga apagando linhas entre conceitos tidos como opostos podem ser encontrados na fabulosa “G.U.Y.”, uma da muitas canções com teor sexual no começo do álbum. Com sua letra sobre poder e dominação invertendo preceitos sociais (“I don’t need to be on top/ To know I’m worth it” – “Não preciso estar por cima/ Para saber que valho a pena”, “Let me be the girl under you that makes you cry” – “Deixe eu ser a garota embaixo de você que te faz chorar”), a cantora usa a sexualidade como uma plataforma para borrar as fronteiras entre masculino e feminino e suas diversas ramificações na sociedade contemporânea. Nessa pequena canção pop com um refrão genialmente simples e uma produção que se integra a alguns dos principais hits do ano (“I Love It” vem a mente), Gaga constrói uma das mais brilhantes declarações sociais em forma de música dos últimos anos.

É justamente nesse poder de colocar o que bem entender dentro de suas músicas que a cantora se apóia, e deixa bem claro na faixa-título, “ARTPOP”. Com seus sintetizadores sequenciais emprestados direto do dream pop, a crescente de cordas que acompanha a canção, o flitro de voz onipresente e a fluidez melódica de sempre, Gaga realiza um culto a tudo aquilo que “pode significar qualquer coisa” (“could mean anything”). Como o ponto de transição entre a primeira metade do álbum e a segunda, a canção é também ligeiramente perturbadora com sua adoração meio dopada ao aspecto Cavalo de Tróia da música pop. É a primeira de muitas sutis relações de amor e ódio que a cantora explora na segunda fatia do disco, incluindo a com o mundo fashion – a inóqua, irônica e cruel “Donatella” versus a gostosinha, upbeat e utópica “Fashion!” – e com os narcóticos – “Mary Jane Holland” e seu jovial show-off drogado versus “Dope” e sua amarga realização de oportunidades desperdiçadas.

Lá no começo do ARTPOP, na cosmopolita e experimental “Aura” com seu dedilhar de violão e seu dubstep estranhamente melódico nos versos, Gaga primeiro mata sua criação anterior – “I killed my former and left her in the trunk on Highway 10” (“Eu matei minha ex e a deixei no porta-malas na Highway 10”) – e depois incita: “Do you wanna see me naked, lover?/ Do you wanna peek underneath the cover?/ Do you wanna see the girl who lives behind the aura?” (“Você quer me ver nua, amante?/ Você quer espiar embaixo da cobertura?/ Você quer ver a garota por trás da aura?”). Em muitos aspectos, é examente isso, uma viagem pela “garota que vive atrás da aura” da celebridade, que o ARTPOP nos entrega. Muito sobre essa pessoa tem a ver com amor, sexualidade e libido, sim, e poucos álbuns são mais carregados nesse assunto do que o ARTPOP, mas uma parte ainda maior dele tem a ver com uma artista que está em constante procura. O “aplauso” que Gaga busca é aquele reconhecendo, mesmo que sem saber, o sucesso de seu empreendimento focado em fazer mais próximos aqueles conceitos que, por algum motivo, nos acostumados a ver separados. E é impossível negar que essa incansável expedição sempre a leva para lugares extremamente interessantes.

✮✮✮✮ (4/5)

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ARTPOP
Lançamento: 11 de Novembro de 2013
Produção: Lady Gaga, Paul “DJ White Shadow” Blair, Zedd, Madeon, Nick Monson, Rick Rubin, Giorgio Tuinfort, Dino Zisis, Infected Mushroom, will.i.am. David Guetta
Duração: 59m04s

Review: Mom, 01x13 – Hot Soup and Shingles

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Quando Mom começou, lá em Setembro passado, embora eu tenha gostado das linhas gerais do que Chuck Lorre tentava construir aqui, eu mesmo não poderia prever que estaria tão feliz com o retorno da série depois do holiday break. Até mais, que estaria aqui admitindo que senti falta dela durante essas semanas. Acontece que a série tem aos poucos se tornado uma das sitcoms mais eficientes, interessantes, engraçadas e bem desenvolvidas no ar atualmente. Não é fácil usar um formato que, apesar da recente popularidade, ainda é predominantemente analógico, e criar uma história que mereça ser contada dentro dele.

Mom é um retrato muito bacana das trivialidades da vida classe média-baixa americana, analisando como essas condições afetam os personagens e construindo para eles um mundo todo particular que fala muito alto em termos temáticos. No episódio de hoje, “Hot Soup and Shingles”, descobrimos que a necessidade de sobrevivência fez Christy se tornar uma pessoa que não aceita ajuda mesmo quando precisa. Essa premissa gera algumas boas piadas físicas quando a moça sofre lesões no tornozelo e no pulso, mas insiste em fazer tudo sozinha mesmo assim.

Uma das poucas concessões que ela faz, convenientemente, é chamar Baxter para vedar um buraco no telhado que está causando goteiras. A chegada do personagem do ótimo Matt Jones é desculpa para juntá-lo em cena com Luke, pai do filho de Violet, outro personagem (e ator) que estava merecendo mais espaço. As cenas entre os dois são ótimas porque brincam com uma química diferente da existente entre Anna Faris e Allison Janney, e também porque mostra que Mom está comprometida com seu tema de maternidade/paternidade nos dois lados da moeda.

A série aproveitou o retorno da holiday break para diversificar sua equipe de escritores (Hayley Mortison, estreante, é creditada junto com Chuck Lorre aqui) e se preparar para as temporadas longas que provavelmente tem pela frente. É um sinal maravilhoso que o primeiro passo em direção a isso tenha sido voltar a questão do jogo de ressentimentos e culpas entre Christy e Bonnie. Pungente e adorável, Mom é uma pequena preciosidade a ser descoberta no rol de comédias da televisão americana.

Observações adicionais:

- “I called the landlord over and over. Each time his English got worse”

- “Maybe you should get laid” “I did”

- “It’s a miracle you’re not driving a wheelchair with your tongue!”

- “Stop tucking me, I’m not a taco”

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Mom: 01x14 – Leather Cribs and a Medieval Rack (20/01)