Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

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Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

30 de jun. de 2013

P!nk, o patrão e as crianças (e a Lily Allen) no clipe de “True Love”

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por Caio Coletti

Depois de três top 10 (incluindo o #1 “Just Give Me a Reason”) na Billboard com os singles do The Truth About Love, P!nk resolveu esfregar na nossa cara que vive o melhor momento de sua vida e de sua carreira no clipe de “True Love”. A faixa, além de uma boa aposta para single, ganhou clipe em que a moça contracena com o marido Carey Hart e a filha Willow.

Quer mais motivo pra ver “True Love”? A Lily Allen, que faz uma breve participação na música, aparece de forma igualmente rápida no clipe. Pra quem sente saudades da inglesa, que não lança nada desde 2009, é uma oportunidade de revê-la nos holofotes. Não que ela roube, é claro, o brilho absoluto de P!nk.

28 de jun. de 2013

Review: Wilfred, 03x03 – Suspicion/ 03x04 – Sincerity

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esses reviews contem spoilers!

A estratégia da FX com a terceira temporada de Wilfred ainda não está completamente clara. A exibição de dois episódios por semana pode indicar uma vontade de atrair espectadores novos para a trama, tanto quanto pode indicar quea emissora está queimando os episódios o mais rápido possível para anunciar um cancelamento. A série, que nunca teve uma audiência exatamente fabulosa, estreou a terceira temporada com números dentro da média esperada Mais cedo nesse ano a FX anunciou a renovação de Wilfred com uma temporada de treze episódios, portanto ao menos pelas próximas semanas os fãs podem ficar tranquilos.

Dito isso, “Suspicion” é obviamente um daqueles episódios com a premissa perfeita para criar um episódio relevante, histericamente engraçado e interessante de Wilfred. O conceito central aqui aparece, como sempre, no quote inicial: “A suspeita é uma arma pesada, e com seu peso impede mais do que protege”. Abrimos o episódio com o retorno de Kristen (Dorian Brown), irmã de Ryan que teve um bebê na temporada anterior e viu o pai do mesmo abandoná-la. Ela reluta em deixar o pequeno Joffrey aos cuidados de Ryan quando tem um encontro com o aparentemente perfeito Michael (Barry Watson). É claro, nosso protagonista não tem tanta fé na legitimidade do moço.

Aqui domina o conceito de Wilfred como uma espécie de anjo da guarda às avessas, conforme ele age como se estivesse com ciumes de Bear (o urso de pelúcia com quem “se casou” alguns episódios atrás) quando este encontra em Joffrey um companheiro – Wilfred nunca falha em fazer qualquer pessoa que tente descrever suas storylines parecer automaticamente retardado. O personagem de Jason Gann age como um espelho para o comportamento de Ryan, que parece suspeitar de Michael acima de tudo porque não quer que Lindsay deixe de “precisar” do irmão mais novo.

Em “Suspicion” temos também a primeira aparição (ainda que só em voz) do pai de Ryan, pintado como uma figura vilanesca nas duas temporadas anteriores da série. A conversa entre pai e filho por telefone é curiosa: no espírito do episódio, as suspeitas de Ryan em relação a figura paterna parecem menos fundadas do que poderiamos supor. Wilfred brinca com a noção de ter um protagonista que vê o mundo de maneira distorcida e fazer o espectador assumir o olhar desse protagonista. Se tudo isso for uma ilusão, uma paranóia maniaco-depressiva, nós ficaremos tão estupefatos quanto Ryan.

***** (4,5/5)

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Escrito pelo co-astro da série Jason Gann, “Sincerity” é uma abordagem muito mais sutil a uma premissa similar em estrutura ao episódio anterior. Claro, aqui também temos cenas hilárias com Wilfred e Ryan frequentando uma escola de adestramento, e Gann presenteia a si mesmo com vários bons momentos cômicos (a cena durante os créditos em que ele e Ryan discutem a premissa de Titanic é sensacional de uma forma tão apropriada para Wilfred). Ah, e temos a oportunidade de ouvir Elijah Wood afetando um sotaque australiano com a voz algumas oitavas acima do normal. I mean, não é qualquer série que pode proporcionar um momento como esse.

Wood está ótimo nesse conto em que Ryan reencontra uma paixão da escola (participação especial da estrela em ascenção Jenny Mollen) apenas para descobrir que ela se tornou o que Wilfred chama de “dog weirdo”: donos que mimam seus cachorros com roupas ridículas, carinho sufocante e vozes de bebê. Vendo a oportunidade de conseguir algo com a moça, Ryan diz que é o dono de Wilfred, e as mentiras vão escalando a partir daí. “Sincerity” seria um episódio fácil de matar, se Gann não o tivesse feito tão intrincado com a história passada da série.

É admirável que Wilfred, em seu quarto episódio da temporada, siga considerando os efeitos duradouros que acontecimentos passados tem em seus personagens. No final de “Sincerity”, Ryan admite para Wilfred que suas mentiras compulsivas para a garota que acabou de reencontrar são frutos do medo de revelar a ela seu verdadeiro eu. E que esse medo é consequencia do que aconteceu da última vez que o fez, com Amanda, que no finale da segunda temporada, o espectador deve se lembrar, foi arrastada para um hospício. Esse é um momento dramático gentilmente encenado, que faz bem para o contexto da série. Wilfred não é só “uma lição por semana”. É também uma história contínua que vale a pena assistir.

***** (5/5)

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Próximo Wilfred: 03x05 – Shame (11/07)

27 de jun. de 2013

O Franz Ferdinand ainda é o Franz Ferdinand no novo single “Love Illumination”

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por Caio Coletti

Silenciosos desde 2009, quando saiu o dançante e delicioso Tonight, os ingleses do Franz Ferdinand estão de volta, e ainda são distintamente eles mesmos, com o single “Love Illumination”, primeiro gostinho do novo álbum da banda, Right Thoughts Right Words Right Action. E o que seignifica o Franz ser o Franz? Acima de tudo, significa que uma audição basta para você sair cantando “Love Illumination” por uma semana.

Não é brincadeira. A banda de Alex Kapranos e cia tem habilidade única para compor ganchos pop em canções rock, e não há Vampire Weekend ou Two Door Cinema Club que tire deles a primazia nesse procedimento. O som ainda tem ecos da disco, mas está mais para os primeiros álbuns da banda do que para o hiperbólico (no bom sentido) Tonight. “Love Illumination” já é um dos melhores singles de 2013.

A Banda Uó melo-pop-dramática do clipe de “Cowboy”

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por Caio Coletti

A essa altura é difícil não conhecer os goianos da Banda Uó, mas muita gente ainda não entende a proposta do trio. “Cowboy”, novo clipe dos lindos, talvez deixe isso mais claro: a mistura dos sons brasileiros, letras que caminham no limiar entre paródia e homenagem, e influências visuais/musicais internacionais forma o cerne de Motel, álbum de estreia de onde o novo single foi pescado.

“Cowboy” é uma canção sertaneja que brinca com os clichês do gênero e com a noção de brega do público, como é de costume da Banda. O clipe insere o elemento internacional sem fugir do contexto brasileiro: dirigido e escrito por Mateus Carrilho, é uma homenagem ao casamento empoeirado no deserto de Kill Bill, de Quentin Tarantino, e a estética melo-pop-dramática do diretor. Com a diferença de que estamos, é claro, no Agreste brasileiro.

Top 05: Preciosidades escondidas em álbums de 2013 (edição #4)

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Uma estrela brasileira no Top 05 d’O Anagrama! Como proclama na deliciosa “Aquela dos 30”, Sandy entra de vez na idade adulta com Sim, um álbum maduro e bem delineado, que articula as influências MPB, sertanejas e pop da artista de maneira elegante, enquanto mostra a evolução clara de sua voz e de sua expressão compositiva. Ela lidera essa quarta edição do top 05 de músicas de álbuns de 2013 que não são singles, e ninguém entende o porquê.

Edição #1
Edição #2
Edição #3

1ª posição – “Morada” (Sandy, Sim)

O dedilhar de violão logo no começo e a melodia dos versos não disfarçam a influência do sertanejo de raiz (o mesmo tipo que aparece nos bons momentos de Paula Fernandes), e Sandy mostra-se comprometida a manter a beleza singela desse tipo de música (“Como cortar pela raiz se já deu flor?/ Como inventar um adeus se já é amor?”), ao mesmo tempo que o violino que a acompanha e a estrutura de ponte-refrão-pós adicionam polimento pop a canção, uma das melhores do Sim.

Do mesmo álbum, atenção para: "Ponto Final", "Saudade"

2ª posição – “Kangaroo Court” (Capital Cities, In a Tidal Wave of Mystery)

Os moços espirituosos do Capital Cities estrearam em 2013 com menos barulho do que deveriam ter feito, mas isso não significa que as canções do In a Tidal Wave of Mystery são menos incríveis. “Kangaroo Court” é a mais dançante e provavelmente a mais viciante delas, com sua batida contagiante e sua melodia deliciosa nos versos e no refrão. Com um quê de Chad Valley mas um espírito mais dançante, é fácil de apaixonar por eles.

Do mesmo álbum, atenção para: "I Sold My Bed, But Not My Stereo", "Farrah Fawcett Hair"

3ª posição – “Ghost Town” (Bo Bruce, Before I Sleep)

Segunda colocada no The Voice UK de 2012, Bo Bruce mostrou a que veio com o álbum de estreia lançado nesse ano, Before I Sleep. Entre as baladas bem escritas e interpretadas pela voz inconfundível da moça, “Ghost Town” se destaca pelo instrumental atmosférico e pelo uso inteligente dos agudos de Bruce, menos explorados do que deveriam pelas outras canções do álbum.

Do mesmo álbum, atenção para: "Speed The Fire"

4ª posição – “The Object of My Affection” (Emmy Rossum, Sentimental Journey)

Atriz consagrada em um musical (O Fantasma da Ópera, que lhe rendeu indicação ao Globo de Ouro), era de se esperar a inclinação musical de Emmy Rossum. A voz de soprano da moça é uma força fundamental para Sentimental Journey, segundo álbum de Rossum, mas mesmo que outras canções a explorem melhor do que “The Object of My Affection”, essa faixa sintetiza bem a musicalidade teatral e deliciosa do disco.

Do mesmo álbum, atenção para: "I'm Looking Over a Four Leaf Clover", "These Foolish Things (Remind Me of You)"

5ª posição – “Monsters” (Lenka, Shadows)

Mezzo-lullaby mezzo-balada assustadora, “Monsters” se beneficia do ritmo ditado pelo baixo, em uma escala influenciada pela música new age de artistas como Enya e Lorena McKennitt, para discursas sobre “monstros embaixo da cama” e outros medos primitivos e relacioná-los com tribulações reais de qualquer ser humano. A voz de Lenka, encantadora como sempre nesse terceiro álbum que passou quase despercebido pelo público, ajuda.

Do mesmo álbum, atenção para: "The Top of Memory Lane"

Estreia: “Under The Dome”, nova adaptação televisiva de Stephen King

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

O legado de Lost na televisão americana tende a ser bastante subestimado graças aos inúmeros críticos da forma como J.J. Abrams e companhia lidaram com o miolo e o desenlace da história. Não se deve cair no erro de negar a influência absurda da série (e de seu sucesso) na lógica de produção e na percepção geral do espectador em relação à televisão, especialmente na forma crua e enredada de lidar com os personagens, que passam por arcos cinematográficos de revelaçao e transformação. Under The Dome, em muitos sentidos, é uma discípula de Lost, e seria ingenuidade esperar outra coisa com Brian K. Vaughan e Jack Bender envolvidos.

Vaughan atuou tanto como produtor executivo quanto como roteirista em Lost, e aqui leva créditos de developer e, ao menos nesse piloto, escritor principal. Bender, por sua vez, era o diretor mais frequente da série dos perdidos, e assina dois episódios de Under The Dome (esse piloto é dirigido por Niels Arden Oplev, da versão sueca de The Girl With The Dragon Tattoo). A linguagem cinematográfica e a forma quase literária de lidar com os personagens fazem essa estreia da série parecer com tudo, menos com televisão. E não era exatamente a grande característica distintiva de Lost? Enquanto Carlton Cuse, outro dos nomes chaves daquela série, tentou recriar o clima de mistério com Bates Motel e acabou com uma trama que funciona muito melhor quando concentrada na relação íntima entre seus dois protagonistas, Vaughan ganhou a aposta e se saiu com uma série que engrena em todos os níveis, e aparentemente muito bem.

No piloto de Under The Dome, conhecemos os muitos personagens que povoam o livro de mais de 1000 páginas de Stephen King e agora ganham vida na televisão (com um elenco excepcional): a impressão mais forte é talvez formada por Julia (Rachelle Lafrevre, a vampira ruiva de Crepúsculo, extremamente cativante), uma jornalista cujo marido desaparece após a redoma eletromagnética descer sobre a cidadezinha pequena da história; ela acolhe em sua casa Dale (Mike Vogel, direto de participação marcante em Bates), um homem de motivos escusos que estava partindo da cidade e foi impedido pelo acontecido; conhecemos também Junior (Alexander Koch, o menos convincente do elenco até agora), garoto em idade universitária obecado por Angie (Britt Robertson), que por sua vez é irmã do curioso adolescente Joe (um ótimo Colin Ford); Big Jim (Dean Norris), pai de Junior, é o homem político forte da cidade que está escondendo algum segredo dos cidadãos.

Uma variedade de outros coadjuvantes nos é apresentada, mas do breve resumo já deu para apreender que o que Stephen King coloca na mistura é a conexão universal que parece unir esse tipo de comunidade pequena. King é um conhecedor profundo da natureza humana, mérito que não lhe é atribuido com a frequencia que deveria, e os prospectos do que ele pode fazer tendo esses tipos de personagens presos na cidade sob a misteriosa redoma são definitivamente empolgantes. Embora o crédito seja de King, essa é outra característica que Under The Dome divide, ainda que colateralmente, com Lost. A série dos perdidos sempre foi muito mais sobre os personagens e as formas como eles agiam entre si do que sobre a própria mitologia (prioridade inversa a da primeira temporada de American Horror Story, por exemplo), mas isso não impede que a história maior por trás de Under The Dome seja fascinante. Ela só nunca é mais fascinante do que seus efeitos.

***** (4,5/5, pelo potencial)

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Próximo Under The Dome: 01x02 – Into The Fire (01/07)

26 de jun. de 2013

Review: A Disney domesticou a Pixar? As respostas de “Universidade Monstros”

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por Caio Coletti

Ninguém (ou quase ninguém) duvida que a fusão definitiva da Pixar com a Disney em 2006 foi um ótimo negócio para a empresa do Mickey Mouse. Desde então, os filmes da empresa do velho Walt voltaram às graças do público e da crítica e, sob o comando de John Lasseter, a Disney Animated Studios produziu alguns dos melhores longas de animação da última década, como Bolt, Detona Ralph e Enrolados. O problema é que o acordo pode não ter sido tão vantajoso para a Pixar, que deitou e rolou nos recursos gigantescos da Disney por um tempo (a era de ouro da Pixar veio aí, com Ratatouille, Wall-e e Up), mas aos poucos mostrou que as exigências corporativas de uma grande empresa podem ser difíceis de driblar.

Universidade Monstros é mais um de uma série de filmes explorando marcas estabelecidas do passado da Pixar que soa obviamente feito por encomenda, mas se beneficia da habilidade narrativa dos profissionais da empresa para, ao mesmo tempo, tentar ser um bom longa. Não há aqui a mesma força propulsora e valor nostálgico de Toy Story 3, o mais bem sucedido dessa carreira de continuações da Pixar, mas há um pouco mais de propósito do que em Carros 2 (e, agora, Planes, um spin-off que nem na empresa está sendo produzido). Sabendo que a chave para fazer a mágica funcionar é se conectar com o público que era cativo do primeiro filme, os roteiristas Daniel Gerson e Robert L. Baird carregam a história para o período de vida que a maioria das crianças e pré-adolescentes de 2001 estão passando agora: a universidade.

A história é bem focada em Mike, que passou a infância toda esperando pela oportunidade de entrar para a Universidade Monstros, local onde são formados os “assustadores” (monstros que entram nos quartos de crianças humanas para assustá-las em troca da energia dos gritos). Quando finalmente chega lá, porém, Mike percebe que suas dificuldades estão só começando, e depois de ser expulso do curso pela diretora Hardscrabble, ele precisa competir nos Jogos de Susto com a equipe mais improvável de todas para garantir seu lugar. Os roteiristas incluem na mistura alguns novos personagens cativantes, várias boas piadas (“eu tenho um dedão extra, mas ele não está comigo”) e uma mensagem bonitinha sobre perseverança e não deixar os outros definir quem somos.

Universidade Monstros, se não fôssemos julgá-lo como filme da Pixar, seria um dos melhores filmes da Disney dos últimos 20 ou 30 anos. É uma buddy comedy deliciosa e muito bem escrita, uma prequel mais do que satisfatória e um ótimo pedaço de entretenimento. As referências sutis ao filme original garantem pontos extras a um filme que não exatamente precisa deles. No entanto, em relação ao que a Pixar pode e sabe fazer, Universidade Monstros é só uma vírgula pelo caminho. O verdadeiro potencial da empresa provavelmente vai aparecer no ousado Inside Out, passado na mente de uma criança e protagonizado por suas “emoções”. É o novo projeto de Pete Docter, diretor do Monstros S.A. original. Claro, a gente não se importa se tivermos Procurando Dory no mesmo ano. Nem um pouco, eu diria.

 **** (4/5)

MONSTERS UNIVERSITY

Universidade Monstros (Monsters University, EUA, 2013)
Direção: Dan Scanlon
Roteiro: Dan Scanlon, Daniel Gerson, Robert L. Baird
Elenco de vozes: Billy Crystal, John Goodman, Steve Buscemi, Helen Mirren, Alfred Molina, Nathan Fillion, John Krasinski
104 minutos

25 de jun. de 2013

Paramore aposta na animação no clipe de “Anklebiters”

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por Caio Coletti

“Fall in love with yourself”, repete Hayley Williams no pós-refrão de “Anklebiters”, novo single do agora trio Paramore. De alguma forma, isso parece mais fácil quando a frase vem acompanhada da arte de Jordan Bruner, que ilustra o clipe da nova canção de trabalho da banda, que lançou álbum auto-intitulado em Abril.

A nova-iorquina Bruner define-se como “diretora e animadora de mídia”, mas é mesmo ilustradora de primeira, como dá pra ver no site oficial da moça. Já o Paramore parece que pegou o gosto por fazer pop rock dos mais empolgantes e inovadores da atualidade.

24 de jun. de 2013

Review: Family Tree, 01x06 – Civil War

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

O coração de Family Tree está na forma como Christopher Guest é particularmente capaz de tirar sarcasmo e valor simbólico-emocional das mesmas situações. Veja “Civil War”, sexto episódio da primeira temporada do programa, que coloca Tom no meio de uma encenação de batalha de Guerra Civil (prática bem comum nos EUA) quando ele descobre que seu ancestral Harry Chadwick pode ter lutado para ambos os lados do conflito: quase metade do episódio se passa durante a encenação, e embora esta renda alguns dos melhores momentos cômicos de Family Tree, há certo carinho no tratamento de Guest desses personagens, patéticos de diversas formas, mas que no fim das contas estão, como nos lembra um monólogo de Tom, “remembering”.

“Civil War” também é, é claro, hilário. E não apenas nos momentos sensacionais da encenação de batalha (“Emancipate this, motherfucker!”), mas também em cenas pequenas, como o encontro fortuito de Tom com uma adorável americana, que sem dúvida trará um pouco de romance para os episódios finais da temporada. Enquanto o episódio anterior, “Welcome to America”, jogou com muito humor constrangedor para retratar o choque cultural entre Tom e seus parentes americanos (de forma mais eficiente do que “Country Life” fez com a parte rural da família), “Civil War” é uma daquelas preciosidades de Family Tree, de certa forma parecido com “The Austerity Games” na forma como mistura humor franco com a noção de que a memória é parte fundamental da nossa constituição.

Além disso tudo, temos nas periferias do episódio coadjuvantes idiossincráticos como Ed Bergley Jr, mostrando a que veio com a constante e teimosa paranóia de seu Al Chadwick, e Maria Blasucci, na pele da esposa obcecada por corujas (e indignada por ter que interpretar uma prostituta de recriação da batalha) de um dos parentes de Tom. Sem esquecer da velha preferida Nina Conti, que ultimamente tem sido confinada a uma cena por episódio (a promessa de Bea de acompanhar o irmão na América pode mudar isso, yay!) mas aproveita cada segundo para roubar a cena.

***** (5/5)

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Próximo Family Tree: 01x07 – Indians (30/06)

23 de jun. de 2013

Lorde, a voz de uma geração, e o clipe de “Tennis Court”

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por Caio Coletti

Lorde não está aqui para brincadeiras. Essa é a mensagem do minimalista e fierce clipe de “Tennis Court”. Sozinha, contra um fundo negro e iluminada de maneiras diferentes de acordo com a música, a neozelandesa de 16 anos (que O Anagrama apresentou para você aqui) não precisa de nada além da própria expressão – e o fato de que a única palavra que ela dubla da música ser um “yeah” fora de tom do meio do refrão – para ser desafiadora.

A letra, é claro, ajuda. Cada vez mais, Lorde parece ser a voz irônica, afiada e feroz de toda uma geração. “Ficando encantada com as pequenas coisas brilhantes que compro/ Mas eu sei que eu nunca vou pertencer a elas”. Compositora brilhante que é, ela cunha outra de suas frases simbólicas inesquecíveis (“we’re driving Cadillacs in our dreams”, alguém?): “Baby, be the class clown, I’ll be the beauty queen in tears”.

Curvem-se diante de Lorde, meros mortais.

Você precisa conhecer: Disclosure

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por Caio Coletti

Por baixo dos já icônicos desenhos aí em cima estão as (bem-apessoadas, deve-se dizer) faces dos irmãos Lawrence. Os britânicos Guy e Howard formam juntos o Disclosure, duo de música eletrônica responsável por um dos melhores lançamentos do gênero em 2013, o álbum de estreia intitulado Settle.

O vídeo de “F for You”, quinto pescado do álbum, marca a estreia do canal VEVO dos irmãos, evolução apropriada uma vez que "White Noise", parceria com AlunaGeorge, rendeu-lhes o #2 na parada britânica. O estilo é bastante influenciado por Moby e outros artistas eletrônicos que estão na ativa há algum tempo, mas os irmãos Howard implementam no som uma visão única e quase assustadora contemporânea: nada nas músicas do Disclosure soa datado.

Além de “F for You” e “White Noise”, o Disclosure também usou para promoção duas outras parcerias: com o novato britânico Sam Smith em “Latch” e com a adorável (e surpreendente) Eliza Doolittle em “You & Me”. A melhor investida do duo segue sendo, no entando, com o incrível clipe da incansável e viciante “When a Fire Starts to Burn”.

21 de jun. de 2013

Review: O retorno de Wilfred (03x01 – Uncertainty/ 03x02 – Comfort)

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

“Você é tão são quanto qualquer outra pessoa”, diz o cachorro para o homem. Uma das coisas mais deliciosas em Wilfred (uma série que merece esse adjetivo muito mais frequentemente do que ele lhe é dado) é que seus roteiristas nunca parecem se cansar de jogar com a discussão, natural da trama, em relação a loucura e o que ela significa de verdade. “Uncertainty”, depois dos eventos do finale da segunda temporada, obviamente seria um episódio conectado a mitologia e ao “mistério” da verdadeira natureza de Wilfred (o personagem), mas é surpreende com quanta elegância e precisão a série o faz.

Para começar, relembramos que no final da última temporada, Ryan (Elijah Wood) encontrou um desenho feito por ele na infância que incluía, escondido atrás de uma árvore no cenário, a figura inconfundível de Wilfred (Jason Gann). Isso leva os dois protagonistas a conclusões distintas: Ryan se convence que Wilfred é puramente fruto de sua imaginação, enquanto o cachorro tenta convencê-lo que, na verdade, ele é um “ser mágico”. Quem acompanha a série desde o ínicio sabe que o developer David Zuckerman está mais preocupado com outro dilema: Wilfred funciona como um “anjo” ou como um “sabotador” para Ryan?

A forma com que a história da série está sendo contada, com seus episódios intitulados de maneira abstrata e suas epígrafes, nos leva a crer que esse é um processo de aprendizagem para o protagonista, e que Wilfred é só um tutor muito mal-educado. No entanto, Zuckerman e seus roteiristas fazem o cachorro cometer atrocidades e atos egoístas o bastante para que os que acreditam o contrário não fiquem sem evidências. Esse jogo de brincar com o público, de “jogar em duas frentes ao mesmo tempo”, era parte do que tornava Lost uma série tão compulsiva, e talvez a parte que a maioria das discípulas da série de J.J. Abrams tem esquecido.

Wilfred (a série) é extremamente interessante do ponto de vista narrativo e conceitual, tem em Ryan um protagonista absurdamente bem construído (e bem interpretado, graças a incansável consistência e carisma de Elijah Wood), mas não se esquece de ser uma das coisas mais engraçadas da televisão americana no processo. Jason Gann tem se mostrado um mestre da comédia no papel do “cachorro". Em “Uncertainty”, uma boa parte da trama envolve Gann interpretando uma versão almofadinha de Wilfred, um clone que sua dona ricaça dos tempos de filhote fez para eternizá-lo. Os efeitos disso não poderiam ser melhores para abrir uma temporada de televisão.

***** (4,5/5)

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“Comfort”, segundo episódio da temporada, que a FX resolveu exibir na mesma noite do de estréia, não tem uma trama exatamente conectada com “Uncertainty”, ainda que continue o processo de amarrar algumas pontas deixadas pelo finale do segundo ano da série. Ah, e temos uma oportunidade ainda mais sensacional para ver os talentos de Jason Gann brilharem: depois do retorno de Jenna (Fionna Gubelmann) e Drew (Chris Klein) da Lua de Mel, Ryan precisa explicar para Wilfred que eles não estavam “mortos e voltaram”, e que quando as pessoas morrem, elas não podem voltar. Essa realização, mais o fato de um “homem branco, magro e barbudo” libertar Wilfred do carro onde Ryan o deixou enquanto se encontrava com seu novo amigo (o carteiro), faz o cachorro virar um fanático religioso.

A estrutura narrativa de “Comfort” é bem familiar para aqueles que acompanham a série, e isso não é de nenhuma forma algo ruim. A lição de moral gradual e cristalina aqui não soa nem um pouco forçada, especialmente quando temos Gann fazendo graça com seu Wilfred hiper-religioso e (bold move, mr. Zuckerman!) batizando Ryan em uma privada. Esse balanço impede Wilfred de soar como uma série moralista, o que poderia acontecer mesmo que, fundamentalmente, ela não o seja. A indecisão quanto a índole de Wilfred (o personagem), a própria área cinza em que Ryan parece sempre trafegar e, mesmo que caricaturalmente, arrastar seus coadjuvantes. Tudo contribuí para que as “lições” do personagem-título soem como o coração no lugar que uma série com a cabeça desregulada precisa ter. E a dinâmica funciona as mil maravilhas.

“Comfort” lida também com a partida de Amanda, personagem de Allison Mack, que foi namorada de Ryan por alguns episódios e logo se mostrou tão ou ainda mais insana quanto ele. Presa e internada em um hospício (o que mostra quão longe no lado sombrio de sua trama Wilfred é capaz de ir), Amanda é um tópico que Ryan está evitando, e ele encontra no carteiro com quem faz amizade uma alma gêmea, que também não gosta de discutir o passado. A mensagem de Wilfred, claro, é que não podemos fugir dele, senão buscar conforto naqueles próximos a nós. “Comfort” mostra que Wilfred é uma série pronta pra colocar as coisas nos trilhos e explorar todo o potencial da trama mais improvável da televisão americana atualmente. E nós, é claro, assinamos embaixo.

***** (5/5)

Próximo Wilfred: 03x03 – Suspicion (27/06)

Review: Hannibal, SEASON FINALE – 01x13 – Savoureux

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por Andreas Lieber

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Acho que de todos os nomes escolhidos para os episódios de Hannibal nessa temporada, nenhum se adequou melhor do que o do season finale, “Savoureux”. Saboroso, em francês, é exatamente o que esse episódio foi. Após treze semanas de pura arte, uma das melhores estreias, se não a melhor, do ano, chega ao seu brilhante grand finale e, como já era de se esperar, foi um sublime terror psicológico a là The Silence of the Lambs e Hannibal (o filme). Desde alguns episódios atrás a série estava dando pistas sobre seu final e, sem dúvida nenhuma, Hannibal deixou de lado a ação e o gore para dar lugar aos jogos psicológicos, ao medo e ao desespero bem temperado (pun intended).

Hannibal apresentou ao longo de sua temporada um problema interessante: ao construir um personagem tão inteligente, cativante e bem construído como Hannibal Lecter, foi difícil para os telespectadores não se apaixonarem e torcerem por ele; mesmo com a série nos dando um lembrete contínuo de quem ele era, além de… bem, é o Hannibal, gente! No entanto, se isso pode ser chamado mesmo de um problema, ele veio com uma solução. Com um roteiro magnificamente escrito, fomos lembrados, episódio por episódio, a cada segundo, do tipo de monstro que Lecter realmente é.

Brincando, manipulando, se divertindo, Hannibal construiu sua primeira temporada ao redor de pessoas assombradas com problemas pessoais bem como com problemas mais abrangentes. Como Beverly disse em certo episódio: a vida de quem trabalha nessa área do FBI não é fácil, ou bonita. Entrelaçando ótimos roteiro e atuação à um glorioso conjunto de arte – fotografia, direção, locação… tudo –, Hannibal chega a seu finale com Will preso pela morte de Abigail, claramente obra de Hannibal, e personagens assombrados pela instabilidade de suas escolhas, como Jack e Alana (ótima atuação de Caroline Dhavernas).

No âmbito de personagens, as dúvidas que circulam acerca de Bedelia du Maurier sobem à níveis atronômicos nas cenas finais quando ela fala que os padrões de Hannibal começam a serem percebidos. Será que a personagem da maravilhosa Gillian Anderson (que não envelhece?) sabe muito mais do que diz? Para finalizar uma temporada incrível, mais referências no season finale, sendo a mais marcante a escolha da ópera “Vide Cor Meum”, aria especial do compositor Patrick Cassidy para o filme Hannibal. E, enquanto Will, mais afetado que nunca pela inflamação cerebral, encaixa o quebra-cabeça sobre Hannibal e vai preso, sua mente junta o cervo que ele via ao próprio Dr. Lecter em uma criatura digna do Fauno em Pan’s Labyrinth. O rumo da segunda temporada é um mistério completo e, pelo o que vimos até agora, será uma surpresa completa também. Rumores dizem que Sir Anthony Hopkins, David Tennat, Lee Pace e Kristin Chenoweth podem se juntar ao elenco da próxima vez que o virmos. Já imaginou? Até lá.

5/5(*****)

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Hannibal retornará para a segunda temporada em 2014

19 de jun. de 2013

Mikky Ekko está pronto para a carreira solo! Ouça “Kids”, primeiro single do moço

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por Caio Coletti

Se “Stay” foi um single respeitável até para os padrões de Rihanna, alcançando a 3ª posição no Hot 100 da Billboard, imagine o impacto que a projeção da canção não fez para Mikky Ekko. Performer pouco conhecido da cena nova-iorquina com três EPs independentes lançados, o moço agora tem projeção internacional e a produção de Benny Blanco (Marron 5, Katy Perry) para a estreia em um álbum completo.

“Kids” é, portanto, o primeiro single dessa nova fase. De composição própria, a canção saiu bem parecida com o material de Ryan Tedder para o OneRepublic, especialmente o do último álbum com tendências mais pop. A voz do moço traz o diferencial para a coisa, e o refrão empolga. Ekko pretende lançar o álbum de estreia ainda esse ano.

Review: “O Grande Gatsby”, a luz verde do outro lado do sonho americano

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por Caio Coletti

Cinema é uma arte de impressão. Cada filme com suas duas horas de duração (ou mais, ou menos, mas em média isso) tem a oportunidade única de causar uma impressão no espectador, em um momento que nunca vai ser repetido não importa quantas vezes esse mesmo espectador reveja o filme. Garantidamente, um filme pode mudar a forma como você pensa e vê o mundo, e talvez até todos os grandes filmes, ainda que sutilmente, devam provocar esse tipo de auto-reflexão. O cinema ultrapassa o domínio da impressão pura, mas é nele que começa, e é nele que tem a liberdade de ser tudo aquilo que pode ou quer ser. Por esse motivo, mais simples do que pode parecer, O Grande Gatsby se destaca como uma das peças de cinema mais notáveis do ano até agora.

É uma falácia recorrente a crítica sempre que o bissexto Baz Luhrmann entrega um filme aos cinemas a de que o diretor australiano joga peso demais no aspecto visual da produção e de menos no desenvolvimento da história. Crítica injusta. Luhrmann sem dúvida nenhuma é um cineasta que articula suas criações se aproveitando o máximo possível do elemento visual, e até criou um estilo de mise-en-scene quase imediatamente identificável (o ocasional ritmo frenético quando a história lhe pede, o constante conflito entre o antigo e o contemporâneo, o peso teatral dado aos momentos verbais), o que não é um feito que muitos diretores alcançaram. Mas o ponto fundamental aqui é que a estruturação visual de Luhrmann funciona em função do roteiro, e não o contrário.

Ajuda, é claro, e fundamentalmente, que o diretor assine todos os seus scripts (sempre em parceria com Craig Pierce). Dessa forma, um talento pode funcionar de mãos dadas com o outro bem melhor do que se Luhrmann se colocasse a serviço de construir um mundo que não fosse, absoluta e inescapavelmente, seu. Em Gatsby, como em Moulin Rouge! (ou até de forma mais notável), tudo se completa e se encaixa: as festas luxuosas de Jay e a trilha sonora que brinca com o soul, o hip hop e o eletrônico; a ambientação na era de ouro da economia americana e as ações idiossincráticas dos personagens em tela; as atuações com tintas modernas e a exposição da incombatível hipocrisia do sonho americano. A fundação em que Luhrmann trabalha é extremamente sólida. O que o diretor faz é torná-la mais, usemos o seguinte termo, impressionante. E sua fotografia, direção de arte, trilha sonora, figurinos, encenação e estilo diretivo transpiram sobre a história para lhe emprestar sofisticação e despojo que, paradoxalmente, andam de mãos dadas.

Não deve mais ser novidade para ninguém, mas vamos lá: O Grande Gatsby acompanha a trajetória de Nick Carraway (Tobey Maguire), que retorna da Guerra odiando a Nova York de efeverscência cultural e festas regadas a bebida, desiste das aspirações de escritor e começa a trabalhar como vendedor de ações em Wall Street. Acontece que seu vizinho é Jay Gatsby (Leo DiCaprio), milionário misterioso que todos os fins de semana promove celebrações gigantescas, atraindo a cidade toda. Nick recebe um convite para uma dessas festas (ele é o único com um, o resto de Nova York simplesmente “aparece por lá”), e logo se vê fascinado pela nova vida metropolitana, e pelo próprio Gatsby.

No livro de Scott Fitzgerald e na mitologia do filme, Gatsby é quase como uma consciência extra que aparece sob formas diferentes para cada um que toma conhecimento dela. É bom, portanto, que Leo DiCaprio saiba investi-lo da dose certa de charme ao mesmo tempo em que o faz um sujeito mais ordinário do que se poderia pensar. No filme de Luhrmann, além desse todo-poderoso carisma, Gatsby é um homem que se agarra a cada esperança ou amor como um menino mimado e, ao mesmo tempo, um adulto obstinado e talvez admiravelmente ingênuo. E ainda mais além de tudo isso, o personagem é um símbolo do “outro lado do sonho americano”, da pureza de espírito que de muitas formas não se deixou endurecer, do desejo infantil inspirado de ter por perto aquilo e aqueles que ama. Leo o interpreta transbordando, acima de tudo, crença. Seja no que for. E Gatsby, o filme, exalta essa qualidade acima de qualquer outra.

Tobey Maguire e a incomparável Carey Mulligan também estão ótimos. Ele olha para Nick como o sempre astuto e sempre observador protagonista, cujos dons incluem o da escrita mas, principalmente, o de ver a verdade de cada pessoa que cruza seu caminho, Fitzgerald (e Luhrmann, agora) nos põe esse tipo de narrador porque quer nos mostrar que no final somos quem somos, e sempre iremos ser. Essa talvez seja a moral mais cruel de Gatsby, e Tobey a incorpora em sua atuação de forma habilidosa. Mulligan, por outro lado, é a epítome da delicadeza e da elegância o filme todo, mas também arquiva uma interpretação bastante intensa tanto na altivez quanto no arrependimento. A gama de emoções que sua personagem atravessa é cuidadosamente desenhada e realçada pela atriz. Isla Fisher e Elizabeth Debicki também merecem destaque no elenco coadjuvante.

O Grande Gatsby vem recebendo críticas mais ou menos na linha esperada: a grande queixa é de que o filme utilizaria de artifícios “baratos” e “previsíveis” para atingir o espectador. Não há nada de previsível em Gatsby. Trata-se de uma exposição do sonho americano, de sua crueldade e de seu poder alienador sobre o indivíduo, que “se esconde atrás do dinheiro” para fugir de uma situação que não lhe agrada. Trata-se de uma fábula moral sobre nunca se desviar da esperança, sobre perseverar e triunfar, mas em favor de seu espírito, e não para mudá-lo. Esse não é um filme vazio, ou raso. O fato de que Luhrmann o enfeita com suas firoulas visuais deslumbrantes não significa que o batimento de seu coração não seja o mais retumbante do ano até o momento.

***** (5/5)

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O Grande Gatsby (The Great Gatsby, Australia/EUA, 2013)
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann e Craig Pearce, baseados na novela de F. Scott Fitzgerald
Elenco: Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Isla Fisher, Elizabeth Dabicki
142 minutos

Cher está viva! E ainda é a rainha das pistas de dança com “Woman’s World”

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por Caio Coletti

Doze anos sem álbum novo e ainda não perdeu a majestade. Cher lançou oficialmente hoje (19) “Woman’s World”, faixa que já havia vazado desde o final do ano passado em versão demo. Finalizada, a canção é ainda mais contagiante com seu som contemporâneo e a voz poderosíssima da popstar de 67 anos. Mas acalmem-se, fãs de pop, porque ela ainda tem um ÁLBUM NOVO na manga!

Isso mesmo, o sucessor de The Living Proof, de 2001 (!), já tem data pra sair: dia 24 de Setembro. Para alavancar “Woman’s World” e o álbum, intitulado Closer to The Truth, a lenda viva lançou lyric video todo trabalhado nas imagens de pin-ups, e performou o single no The Voice americano.

18 de jun. de 2013

Eliza Doolittle lança “Big When I Was Little”, primeiro single de seu novo projeto

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por Andreas Lieber

A moça Doolittle voltou com vídeo e single novo! Isso mesmo, depois de lançar seu excelente álbum de estreia, o Eliza Doolittle, em 2010, ela está de volta com o mesmo ritmo hipnotizante e voz marcante. “Big When I Was Little” é uma deliciosa balada cheia de elementos dos saudosos anos 90 que promete agradar aos fãs da britânica e garante conquistar muitos mais.

No clipe, todo colorido e feliz, Eliza anda por um apartamento e uma rua ao Sol com alguns amigos enquanto canta e se diverte. O clima nostálgico e descontraído dos cenários nos dá vontade de sair por aí cantando e visitar as lojas de discos em que ela vai enquanto canta  E já que a nostalgia para com a década está em voga, “Big When I Was Little” é o hino perfeito para a geração dos anos 90.

17 de jun. de 2013

“Essa geração foi pro Vinagre!”

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por Caio Coletti

17 de Junho de 2013 é um dia que a minha geração vai lembrar para sempre, mas principalmente um dia que esperamos que a história do Brasil nunca esqueça. 100 mil pessoas no Rio de Janeiro. Uma estimativa de 60 mil em São Paulo. E mais pelo menos duas mãos cheias de cidades ao redor do Brasil aderindo a uma manifestação comum que vai ganhar ainda mais adeptos nos próximos dias. Usa-se expressões como “o gigante acordou”, “o Brasil acordou”, “o Brasil vai parar”. Talvez simbólica como nunca na foto acima (do momento mais lindo de todas as manifestações, na humilde a opinião deste que vos escreve) está a verdade: estamos simplesmente tomando o que é nosso para tomar. Estamos só começando, mas agora me deixem dar uma pequena lição de moral a qualquer um que se ponha contra isso.

Essa é a geração que vocês chamam de acomodada. Essa é a geração que vocês chamam de bitolada, alienada e limitada pela própria "adoração pela tecnologia". Pois é, parece que amamos tanto a tecnologia que a usamos para organizar a maior rede de protestos inteligados da história, talvez precedida apenas pela Primavera Árabe (que, não por coincidência, também foi um movimento largamente baseado na organização virtual). Pois é, parece que entendemos o quando, o como e o porquê a nossa atenção deve se voltar para assuntos “importantes de verdade”. Pois é, parece que não somos um bando de hedonistas egoistas (para o inferno com a rima involuntária!). Pois é, parece que nos importamos com o nosso país.

Ouso dizer até que nos importamos mais que você, senhor balzaquiano que até ontem nos chamava exatamente de tudo isso que eu enumerei ali em cima, e agora reclama quando nós tomamos a rua e te impedimos de receber a dose diária de informação pré-digerida no Jornal Nacional. Agora somos “baderneiros”, “vândalos”, e nossa luta é ilegítima, não é? Pois que fique bem claro: nós não vamos te levar a sério, senhora dona de casa leitora da Veja, enquanto você não fizer o mesmo conosco. Sua hipocrisia nos causa repulsa, e mais, nos motiva. Lutamos em dobro porque sabemos que lutamos, de muitas formas, sozinhos.

Nós não vamos nos preocupar com vocês, pessoas de opinião inconsistente que se deixam levar pelo que a grande mídia lhes diz, que pagam o preço que o governo quiser enfiar pelas suas gargantas. Ao que tudo indica, temos coisas bem mais importantes a fazer. Temos que lutar contra repressão governamental e policial, temos que continuar divulgando em nosso meio de preferência, a internet, tudo aquilo que a televisão e os veículos impressos não divulgam. Há uma pureza incontestável nessa nossa forma (algumas vezes mais informal, outras nem tanto) de fazer jornalismo: nós não vamos perder dinheiro se irritarmos alguém poderoso.

Nós não estamos tentando destruir a democracia que vocês construíram. Pelo contrário, estamos lutando pelo direito de exercê-la. Se há algo capaz de causar as reações mais passionais e extremas na nossa geração, é a luta pelo nosso direito de expressão. Pela nossa liberdade de discurso. Tire isso de nós, tente calar-nos com balas de borracha e gás lacrimogêneo, e nós vamos começar a gritar realmente alto. Vocês, que chamavam a nossa “geração perdida” de “ovelhinhas amestradas”, saibam: somos leões. Ouça-nos rugir. Estamos lutando pela nossa dignidade mas, muito mais até, pela sua. Mesmo que muitos de vocês não mereçam esse esforço todo.

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“Botaram Mentos na Geração Coca-Cola”

Review: Family Tree, 01x05 – Welcome to America

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

“Welcome to America” inaugura a segunda metade da primeira temporada de Family Tree (planejada para oito episódios), e o título deixa claro em que direção a trama dessa quinta aventura de Tom e companhia empurra a série. Começamos o episódio com a chegada do protagonista ao LAX para visitar os primos americanos Al e Kitty Chadwick. Family Tree sendo Family Tree, obviamente essa é uma oportunidade para muitas tiradas cômicas baseadas em um sentimento geral de desconhecimento mútuo e noções pré-concebidas. E também o momento perfeito para introduzir novos personagens que refrescam a série.

Al e Kitty são exemplos perfeitos. Em seu trecho de quebra da quarta parede, Al revela que aprendeu com uma tribo de índios técnicas de sobrevivência que, acredita ele, serão necessárias muito em breve (Ed Begley Jr arranca risadas com o monólogo e a mudança de voz a cada termo indígena que pronuncia). Já a esposa Kitty, em uma conversa com Tom, é uma prendadíssima dona de casa que tem um negócio particular de desenvolver suplementos saborosos… feitos para uso anal. A atuação de Chris O’Dowd na cena é genuína, sarcástica e brilhante como sempre – o mesmo serve para o monólogo em que o protagonista nos revela seu trauma de infância com gatos.

A construção do personagem de Tom, aliás, que sempre tem sido um detalhe brilhante em Family Tree, ganha aqui mais algumas camadas. Já que estamos em tempo de volta de Arrested Development, talvez seja oportuno apontas as similaridades que existem entre Tom e o Michael Bluth de Jason Bateman, embora sejam personagens bastante diferentes em sua essência: assim como o Bluth mais responsável, Tom é capaz de se convencer a qualquer coisa em nome de dizer que está tudo bem. O desconforto que Christopher Guest (aliás, em sua primeira aparição como ator na série, hilária, nesse episódio! Yay!) cria em seus roteiros é diferente da comédia de AD, mas o princípio é bem parecido.

“Welcome to America” é possivelmente um dos mais engraçados episódios de Family Tree até agora, embora tenha a nota melancólica da conversa online entre Tom e Bea (bem, entre Tom e Monk, pelo menos), um indício de que a série não pretende deixar seus personagens para trás – ufa! E é também um dos mais significativos para a busca de Tom pela sua essência. A cada episódio que passa, pode ser que o nosso herói não esteja mais perto de saber quem é, mas definitivamente está de saber tudo aquilo que não é.

***** (4,5/5)

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Próximo Family Tree: 01x06 – Civil War (23 de Junho)

Nova faixa: Haarlo – “Red Light”

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por Caio Coletti

O duo australiano Haarlo lançou hoje para stream a segunda faixa do EP de estreia, Dreamlands, que está marcado para 11 de Julho. A estratégia é liberar uma faixa por semana até o lançamento, procurando aumentar o séquito de fãs da banda “destinada a planar alto no mundo da música”, segundo o site australiano Tone Deaf.

“Red Light”, a faixa da semana, tem o mesmo baixo onipresente de “Dreamlands”, faixa-título liberada semana passada , a melodia fluída que é característica das composições do duo e sintetizador acompanhando a canção toda. O neosoul softpop do Haarlo continua funcionando perfeitamente.

+ Haarlo

14 de jun. de 2013

Review: Hannibal, 01x12 – Relevés

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por Andreas Lieber

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Ah oui, voltamos para o começo com um relevé! Com uma definição um pouco mais difícil essa semana, o nome do episódio vem de um prato que permeava as refeições principais na culinária francesa antiga. Assim como uma entrée, um relevé é algo servido antes do, ou de algum dos, pratos principais em um grande almoço ou jantar. Servindo para a mesma finalidade em Hannibal, o décimo segundo episódio e penúltimo da temporada, “Relevés”, tem como função reintroduzir o plot geral dessa parte da história e nos preparar para o grand finale! Ou, como diriam em Hannibal, para o tão aguardado plat principal.

Quando Georgia, a moça que sofria de Síndrome de Cotard e nos foi apresentada no 01x10, é vítima de uma armadilha que resulta em sua morte dentro da própria cápsula de oxigênio onde se encontrava em recuperação, Will começa a juntar dois casos que até então achavam-se separados. Formulando a hipótese de que Georgia não se matou e que também não assassinou o Dr. Chilton, ele expõe a grande trama obscura: o copycat do Chesapeake Ripper havia matado o neurologista e tentado incriminar Georgia… ou pior, o próprio Will. Com Jack relegando tal teoria ao absurdo e se concentrando, novamente, em Abigail Hobbs e no livro que Freddie Lounds está a escrever sobre sua vida, as coisas saem um pouco do controle.

Will, que acredita estar melhor quando sua febre passa, leva Abigail para sua antiga casa em Minnesota e acaba por descobrir toda a verdade sobre a garota: que ela havia realmente matado o moço Nick Boyle e servia de isca para as garotas que seu pai matava. Enquanto isso, temos o primeiro contato da Dra. Du Marier com alguém além do Dr. Lecter ao vermos uma visita de Jack para interrogá-la sobre Hannibal. E como é engraçado ouví-lo dizer: “Not that I think Dr. Lecter is dangerous”, mesmo suspeitando que ele sabia mais do que alegava… sobre tudo.

Em um episódio extremamente importante para o contexto e rumo que a história está tomando na primeira temporada, “Relevés” nos entrega a morte de mais uma personagem: Abigail. No final, ao fugir de um Will não muito são, ela cai nas garras do Dr. Lecter, que confessa ter ligado para seu pai e no fim desculpa-se por não conseguir protegê-la. Com um Jack sem saber para que lado atirar, acreditando que Abigal é também uma assassina, mas inclinado a pensar, por sugestão de Hannibal, que Will é o assassino copycat, temos um prelúdio de season finale com todas as suas peças se encaixando.

Mais uma vez, o episódio atingiu o ápice da boa fotografia, com atenção para cenas como a morte da jovem Georgia que, ao pentear os cabelos com um pente de plástico, criou energia de atrito e foi engolida por chamas em uma cena brilhantemente horrível. Atenção também para Will vendo o fantasma da moça pegar fogo e se transformar no cervo gigante em seus sonhos e na cena, tavelz a mais “heartbreaking” da série, quando Abigail percebe que irá morrer. Estamos todos ansiosos pela semana que vem e o season finale que, espera-se, seja digno de Hannibal.

4/5(****)

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Próximo Hannibal: 01x12 – Savoureux (20/06)

Da fábrica de clipes de Alicia Keys: Toda urbana e linda em “Tears Always Win”

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por Caio Coletti

Depois dos dois clipes na mesma semana do mês passado (que destacamos aqui), Alicia Keys não dá tempo para os fãs respirarem e já lança o quinto single do Girl on Fire. “Tears Always Win” é uma baladinha R&B com batida contagiante e linha de piano jazzística, além da interpretação sempre impecável e impressionante da diva.

O vídeo lançado hoje (14) mostra a moça num ambiente urbano (achamos que é Las Vegas, mas who knows?), trabalhando em dobro como cantora de barzinho e vedete em um show de entretenimento. Lindíssima como sempre tanto no look retrô quanto no contemporâneo, Alicia mostra porque é uma das grandes do R&B e do soul modernos.

Bruno Mars quer te deixar viciado no clipe de “Treasure”

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por Caio Coletti

O clima anos 70, Jackson Five e era disco da Motown domina o clipe de “Treasure” lançado hoje (14), terceiro retirado do Unorthodox Jukebox, álbum de Bruno Mars lançado em Dezembro passado. A faixa, que já está subindo nos charts do iTunes, deve dar ao cantor mais um hit, depois de “Locked Out of Heaven” e “When I Was Your Man” cravarem o #1 no Hot 100 da Billboard.

No vídeo, Bruno e seus companheiros de banda se apresentam em um cenário de programa dos anos 70, com refletores, bola de discoteca e até viagens psicodélicas em neon. O clima retrô e “coreografado” dos shows do moço, sempre deliciosos, se transportam para vídeo pela primeira vez, e o resultado é um prazer culpado de primeira.

13 de jun. de 2013

Review: A definição mais pura de arte com Marina Abramovic: The Artist is Present

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por Caio Coletti

Lady Gaga foi visitar o Musem of Modern Art de Nova York em 2010 para presenciar a retrospectiva de Marina Abramovic retratada nesse documentário The Artist is Present. Embora o corte dos diretores Matthew Akers e Jeff Dupre deixe esse momento de fora (provavelmente porque Gaga escolheu não “se sentar com Marina”, antecipando o frisson que isso iria causar), a presença da cantora, compositora, instrumentista e – porque não? – artista pop de performance na exposição mostra a importância e a profundidade do trabalho de Marina, seu método, na arte contemporânea. E mostra também que o conceito de personalidade e construção própria como forma de arte, a utilização do corpo como instrumento para ela, vem há muito tempo procurando ser aceito.

E o ponto que The Artist is Present mais ativamente tenta e consegue provar é que, em muitos sentidos, há uma pureza na arte de performance em que o desafio conceitual, a confrontação com o desconfortável, se mistura pura e simplesmente com a vulnerabilidade da presença. A peça central do documentário, e seus momentos mais tocantes e fortes, acontecem no retrato dos três meses da retrospectiva, em que Marina performou uma nova peça: durante as seis horas de abertura do museu, por três meses seguidos, a artista sérvia esteve sentada imóvel em uma cadeira, enquanto uma fila de pessoas se formava para a oportunidade de sentar-se a frente dela e encará-la nos olhos. A carreira de Abramovic fala por si quando o filme resolve contá-la (e sua história com o artista Ulay, de quem foi parceira por vários anos, é obviamente tocante), mas é no imediato, bem ao estilo de Marina, que o documentário encontra sua força.

Formado diretor de fotografia, Matthew Akers retrata esses momentos de forma poderosa através de sua própria arte, em incomodamente longos e reveladores close-ups tanto de Marina quanto, principalmente, de quem se senta a frente dela. E voice-overs explicam o efeito que essa peça tem nas pessoas, como se fosse necessária qualquer explicação além da força magnética da artista e da indecifrável transformação que a performance causa ao seu redor: conforme o tempo passa, a imobilidade da artista passa a “incomodar” a noção fugidia de tempo que temos no mundo atual. Como num quadro de Dali, os relógios derretem e os segundos se esparramam nos olhos cansados mas sempre intensos da artista. E ali, encarando o tempo como um peso sobre os ombros de outro ser humano, nossas defesas caem (a do público, a do espectador, a de todo mundo), e a conexão realizada com o olhar é mais significativa do que muitas seladas com infinitas palavras.

Numa outra dimensão, porém, o que The Artist is Present enquadra em suas imagens é um processo de “auto-retrato”, como descreve o curador do MoMA, Klaus Biesenbach, em certo momento do filme. A diferença é que o “auto-retrato” de Marina, como despida de defesas e atuações pela câmera de Akers e Dupre, é pintado através de outros. Ela se dispõe, ali, sentada imóvel, como um instrumento e um reflexo de cada um que senta-se a sua frente. Eternamente disponível, incomodamente vulnerável. O famoso discurso, aplicado a diversos artistas, de uma infância vivida com pouca atenção fraternal e a “necessidade de ser amado pelo público”, encontra em Marina o canal perfeito. Para ser amada, ela ama, e não é só Akers o responsável pelo efeito último do filme: é fácil se apaixonar por Marina Abramovic. Apaixonar-se por ela, de alguma forma, é apaixonar-se por si mesmo.

***** (5/5)

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Marina Abramovic: The Artist is Present (EUA, 2012)
Direção: Matthew Akers, Jeff Dupre
Elenco: Marina Abramovic, Ulay, Klaus Biesenbach
106 minutos

Três minutos de Kylie sendo linda no vídeo promocional de “Skirt”

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por Caio Coletti

Duas semanas depois de liberar “Skirt”, no dia do aniversário da diva, a Roc Nation vai revelando aos poucos como vai ser a nova fase de Kylie Minogue. O lyric video/clipe promocional do single saiu hoje (13) contando com a letra da música sobre snapshots de um photoshoot de Kylie com Will Davidson.

“Em 25 anos eu não fiz nada parecido com isso! Tudo foi de última hora num piscar de olhos. Eu amo como os disparos de Will tem certa atrocidade. Ele deixa isso tão real, sem transformações”, disse Kylie. Quanto ao novo álbum, ela confirmou que tem a intenção de experimentar com novos estilos de dance pop. “Espere o inesperado!”, frisou.

Kylie's Skirt on Nowness.com.

12 de jun. de 2013

Estamos na fila: Diana, com Naomi Watts

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por Caio Coletti

Alô alô Academia! Vocês indicaram Naomi Watts para o Oscar um ano mais cedo do que deveriam! Agora vai quase ficar feio quando ela subir ao palco da cerimônia de 2014 para receber o prêmio de Melhor Atriz por Diana. E a gente não diz isso só (?) porque se trata da cinebiografia de uma das mulheres mais populares e amadas do planeta: dizemos isso porque está mesmo na hora de Watts ter seu Oscar na prateleira, e a Academia não é de deixar passar oportunidades como essa.

O foco do roteiro de Stephen Jeffreys (O Libertino) são os dois últimos anos de vida da Princesa de Gales, seu envolvimento com o Dr. Hasnat Khan (Naveen Andrews, de Lost) e sua eventual morte. A direção ficou por conta de Oliver Hirschbiegel, que amargou péssima estreia hollywoodiana com Invasores, optou pela discrição com Five Minutes of Heaven e agora quer provar que veio para ficar.

Diana está marcado para estrear no dia 30 de Agosto no Brasil.

11 de jun. de 2013

Skylar Grey tenta a sorte do piano pop com o clipe de “Wear Me Out”

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por Caio Coletti

O vídeo mais visto do crescente currículo de Skylar Grey até hoje é "C'Mon Let me Ride", parceira com Eminem que é também a canção mais atípica da moça. O single escolhido para acumular expectativas para o lançamento (enfim!) do primeiro álbum, Don’t Look Down, foi o sombrio "Final Warning", que ganhou clipe a altura mas não passou de meio milhão de visualizações no Youtube. Com a data de lançamento chegando (09 de Julho), a moça aposta em “Wear me Out” para aumentar um pouco a expectativa.

Se aproximando do trabalho de cantoras como Sara Bareilles nessa nova canção, Skylar mantem-se fiel ao espírito perturbado de seu retrato dos relacionamentos amorosos, e entrega um single e um clipe marcados pelas sombras, mas inevitavelmente grudentos. No vídeo, ela e um namorado aparecem em sutis momentos agridoces em um acampamento.

10 de jun. de 2013

Você precisa conhecer: Haarlo

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por Caio Coletti

“Eu não pude acreditar que o mundo não tinha descoberto Stacey Gardiner ainda. Eu soube quando eu a ouvi pela primeira vez cantando que eu tinha que escrever com ela”. O autor da frase (e dono da sorte grande de ter a encantadora Stacey como vocalista) é Jono Steer, produtor e co-compositor das faixas do Haarlo, duo baseado na Austrália que o junta com a neo-zelandesa Stacey para fazer neosoul com um toque de eletrônico indie.

O Haarlo deve sua estreia a outro duo que teve sua discreta ascensão em 2013: o MS MR colocou a primeira música de Steer e Gardiner numa edição de sua esperada mixtape de “achados indie”, a Track Addict. A produção minimalista do moço entrega batidas deliciosas e sintetizadores delicados, mas é o vocal quietamente borbulhante de Stacey que faz o Haarlo ser algo de (muito) especial.

“Dreamlands”, segunda música do duo, foi lançada ontem (10), como primeiro passo para o lançamento do EP igualmente intitulado, marcado para 11 de Julho.

Review: Family Tree, 01x04 – Country Life

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

É hora de amarrar pontas soltas para Family Tree. Antes de abrir novas possibilidades na busca de Tom pela família, Christopher Guest e companhia retomam um caminho que ficou aberto em “Treading The Boards”, semana retrasada: a intriga entre o bisavô de Tom, Harry Chadwick, e seu parceiro de ato teatral, Leo Balducci, que teve um caso com a esposa do amigo. Ao conseguir encontrar uma parte da família que vive em uma fazenda, Tom vai até lá com toda a família (e Luba, a esposa do pai) conchecer os Chadwick do interior. “Country Life” tira quase toda sua graça nas estranhas personalidades ali encontradas e, principalmente, da interação desencontrada entre elas e os personagens regulares da série.

A revelação no final de que os Chadwick ruivos da fazenda não são exatamente Chadwick, e sim filhos da esposa de Harry com Leo Balducci é o ápice de uma sempre descentrada convivência, mesmo que por apenas algumas horas, entre as duas vertentes da família. Keith, por exemplo, descobre que o patriarca dos “Chadwick ruivos” divide com ele a fascinação por uma sitcom antiga, mas logo começa a discordar dele em questões mais importantes. Michael McKean está ótimo aqui, enquanto Keith aos poucos se transforma de uma ideia abstrata para um personagem de verdade.

Tom, por sua vez, não parece bater humores com o trabalhador da fazenda com quem fez o primeiro contato, e Bea e Luba discutem festas típicas com a mulher da casa. “Country Life” é um pouco como um episódio de transição, que ainda tem os pequenos deleites de sempre de Family Tree, mas deixa para lá, um pouco, os momentos em que a nostalgia fala mais alto (como, por exemplo, Tom conversando com os boxeadores aposentados na semana passada, no excelente “The Austerity Games”).

“Country Life” arranca várias boas risadas, vide a subtrama envolvendo Pete masturbando uma alpaca (?!), e certamente desenvolve bastante a trama dos personagens e da série a longo prazo (Tom falando sobre o encontro fortuito com a ex-mulher é particularmente agridoce). Não é um episódio a altura dos anteriores simplesmente porque abre espaço para outros episódios ainda melhores que aqueles.

**** (3,5/5)

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Próximo Family Tree: 01x05 – Welcome to America (16/06)