Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

27 de set. de 2010

Decifradores – Entrevista: Fábio Christofoli

variedades (nunc excl)entrevista fabioc

Uma das minhas primeiras descobertas nesse mundo fascinante da blogosfera, quando meu leque de assuntos ainda era limitado ao cinema e ao Filme-Pipoca, o blog do gaúcho Fábio Christofoli foi um dos primeiros que me chamou a atenção. Se como escritor vejo dificuldade em fugir de uma composição mais formal, como leitor o que me encanta é a dinâmica, a reflexão e a poesia surgida do acaso que marca mais essa geração de escritores virtuais. E, nesse sentido, como espaço mais do que pessoal, o Clube do Camaleão é um dos espaços mais completos e interessantes que se acha por aí. Isso porque seu autor não fica atrás, é claro.

De literatura a futebol, passando por cinema e música (meus momentos preferidos, é claro), o blog do Fabioc, como ele se identifica na blogosfera, é um espaço plural, agradável e surpreendente a cada novo post. E não deixa dúvidas de que seu autor, hoje um dos principais comentaristas do Anagrama e um dos mais valiosos amigos que fiz na blogosfera, é alguém que vale a pena conhecer. Deixemos ele falar, então.

Parte Um: As letras…

Uma palavra: Disciplina.

Um filme: “Na Natureza Selvagem” (Into The Wild, 2007).

Uma banda: The Strokes.                         Uma série de TV: House M.D.

Um ator: Denzel Washington.                Uma atriz: Fernanda Montenegro.

Um cantor: Tim Maia.                               Uma cantora: Julieta Venegas.

Uma citação: “A felicidade só é real quando compartilhada” (Emile Hirsch em Into The Wild).

Um blog: Lista 10.org

Dia ou noite? Dia.                          Inverno ou verão? Inverno.                     Acaso ou destino? Acaso.

Twitter ou Orkut? Twitter.        Orkut ou Blogger? Blogger.

Último filme que viu (gostou?): “A Origem” (Inception, 2010) – Fabuloso, uma obra-prima do cinema.

Tocando agora: Julieta Venegas – Despedida.

Parte Dois: O Anagrama…

Escrevo porque…

Porque acho que boas ideias não devem ficar presas ao pensamento. Elas devem ser eternizadas, seja em forma de papel ou em um arquivo de Internet. Nossas palavras de hoje são nosso legado de amanhã, a nossa visão atual do mundo. Eu adoro ler coisas que escrevi um ano atrás e perceber o quanto minha visão de mudou ou permaneceu a mesma, o pensamento não permite isso, pois ele se renova e muitas vezes deleta a ideia anterior. Nossa existência é evolutiva e a escrita permite um registro dessa evolução.

Também escrevo para exercitar minha mente, ampliar meus conhecimentos e interagir com o mundo.

Planeja antes de escrever ou deixa as coisas fluírem conforme escreve?

Depende do que vou escrever. Planejo se o texto é opinativo e envolve uma realidade que desconheço, por exemplo. Não gosto de ser ignorante, opinar sobre coisas que não tenho domínio. Mas existem coisas que sinto muita vontade de opinar, mesmo não tendo um grande conhecimento sobre o tema. Então planejo uma pesquisa e uso as informações para compor meu texto. Quando o texto é mais “poético” ou envolve emoção, prefiro deixar as coisas fluírem, pois seria um erro planejar textos assim.

Na Internet as pessoas mudam? Ela é capaz de mudar a vida das pessoas? Se sim, de que forma você mudou?

Não acho que as pessoas mudam, apenas são mais verdadeiras na Internet e revelam sua real identidade. Isso acontece porque a Internet oferece duas coisas muito tentadoras ao ser humano: privacidade e liberdade.

Através da privacidade, podemos ver um sujeito tímido tornar-se um líder com sucesso, capaz de cativar multidões ou um cidadão exemplar transformar-se em um monstro debaixo da proteção de um falso perfil. É o paraíso dos covardes. Isso revelou um lado extremamente selvagem do ser humano. Pessoas que xingam desconhecidos com uma ferocidade assustadora, que carregam uma inexplicável raiva do mundo. O pior é que esse comportamento está se popularizando e hoje os jovens estão cada vez mais agressivos e intolerantes com a opinião dos outros, até mesmo na vida real. Para comprovar isso basta ves o que acontece com as celebridades do Twitter, que são atacadas diariamente sem motivo, ou ler comentários de uma notícia em sites que permitem isso, como o Terra, por exemplo.

Através da liberdade oferecida pela Internet, nos movimentamos em diversos canais de informação e temos acesso a qualquer conteúdo. Isso é fantástico para quem sabe usar, mas terrível para quem não sabe. E a maioria não sabe. Tanto que estamos assistindo o nascimento de uma geração digital, extremamente dependente das possibilidades da Internet. É algo assustador, pois presencio rupturas inaceitáveis. Antigamente o pai ansiava ter um filho para ensinar algo para ele. Hoje o pai está ocupado demais e o filho aprende tudo no Google.  A cultura da sociedade mudou muito, estamos nos distanciando da nossa humanidade, tornando o nosso comportamento cada vez mais digital.

Eu tive a sorte de crescer em um mundo sem Internet, ao mesmo tempo em que vi seu surgimento. Claro que ela mudou minha vida, mas tenho consciência de que ela é apenas uma ferramenta que serve para facilitar as coisas. A nova geração não tem essa visão, pois já nasceu com a Internet inserida na sua vida.

Como você compara música nacional e internacional? Qual escuta mais é porquê?

Musicalmente falando, temos muita sorte de viver no Brasil. Aqui crescemos ouvindo artistas como Marisa Monte, Nando Reis, Paralamas do Sucesso, Caetano Veloso, Legião Urbana, Tim Maia e etc. Ao mesmo tempo temos fácil acesso a música internacional. Infelizmente, muitos brasileiros ignoram seus grandes músicos e adotam a ideia de que a qualidade musical só pode ser importada.

Não estou dizendo que a música internacional é ruim, só que a nossa tem um diferencial que não podemos comparar, pois são realidades e culturas distintas. Por isso defendo a música brasileira, que é singular, tem suas próprias características e é reconhecida pelo mundo. Não precisamos imitar os artistas internacionais para sermos bons e é isso que está acontecendo, basta ver a qualidade das bandas de rock da atualidade. Temos ótimas bandas, mas que valorizam a arte e não estão dispostas a pagar para estar nas rádios.

Atualmente escuto mais música internacional, mas sem descuidar as novidades nacionais. Vivo numa fase de pesquisa e ando fascinado pela música latina.

Escolha uma personalidade (de cinema, música, literatura…) que acha injustiçada e defenda-a!

Meu maior ídolo na música é o rapper, poeta e ator Tupac Shakur. Eu acho que ele é uma figura muito injustiçada tanto pela mídia, quanto por alguns críticos.

Ao morrer em 1996, Tupac nos deixou uma mensagem de paz, apesar da maioria de suas letras falarem sobre a violência. Na verdade, acredito que Tupac não promovia a violência, apenas a denunciava através de relatos extremamente crus e detalhistas. É verdade que às vezes ele exagerava, mas seu intuito era falar com as massas que não tinham voz. Ele trouxe a voz do bandido, da prostituta, do mendigo, da mãe solteira, do viciado em drogas, dos que sofrem com o preconceito. Vozes que a sociedade precisava ouvir, para perceber que as coisas não estavam bem. Ao trazes essas realidades, Tupac expôs várias falhas no sistema, deixando claro que a criminalidade nasce da desigualdade social. Ele lutou por mudanças, tentou uma comunicação e conseguiu cativar pessoas que aceitavam o seu destino de pobreza. Até hoje eu me arrepio quando escuto suas músicas. É impossível não se emocionar com “Keep Ya Head Up”, “Dear Mama”, “Better Dayz”, “Brenda’s Got a Baby”, “Me Against The World” ou “Changes”, por exemplo.

As letras falam de dor, de violência, de miséria, de sonhos, desejos e, acima de tudo, de esperança. É verdade que no final da vida ele arrumou problemas desnecessários e mudou o foco do seu trabalho, mas o cara sofreu um atentato e foi preso sem provas, qualquer um se sentiria perseguido.

Admiro ele não só pelas letras, mas pela emoção com que ele as interpretava. Falava de amor e ódio com a mesma intensidade, pois era movido a paixão. Gravou uma incrível quantidade de músicas em apenas um ano, tanto que muitos álbuns foram lançados após sua morte.

Morreu aos 25 anos e, mesmo tão jovem, conseguiu propagar sua voz pelo mundo e mudar muitas mentes esquecidas. Eternizou sua música espiritual, como ele mesmo definia. É triste ver que parte de sua luta foi má interpretada por alguns, incluindo admiradores. Seu discurso visava trazer paz às ruas, mas foi adotado e distorcido por rappers sem ideais e com a cabeça vazia como 50 Cent, que usaram o gangsta rap para enriquecer e esabanjar essa riqueza.

Como define sua forma de escrever, seu blog e a si mesmo?

Acredito que minha forma de escrever é indefinida, pois essa é a regra do meu blog. Admiro blogs que mantem um padrão, adoraria estabeleceu um só meu, mas não consigo. Antes eu odiava essa bagunça, mas hoje começo a encarar essa realidade sob um ponto de vista positivo. Minha escrita é sem rumo e isso é uma característica minha. Sou um cara que detesta fazer o mesmo caminho todos os dias, tento sempre descobrir novas ruas, mesmo que elas me façam caminhar mais. Sou curioso por natureza e ansioso por adquirir conhecimento. Meu blog reflete isso, reflete tudo o que penso e expõe minhas ansiedades. Se adotasse uma fórmula eu me sentiria limitado, pois fugiria do meu estilo de agir.

O blog passou por várias mudanças ultimamente, além de um tempo quase parado. Como você define/justifica essa reinvenção? Como saber o momento certo para renovar?

Ter um blog é um desafio. Digo isso apoiado em uma vasta experiência, porque desde 2002 eu já tive quatro (eu acho). Antes de criar o Clube do Camaleão eu pensei muito, queria evitar as decepções anteriores. Lembrei que o que mais me frustrava era o fato de ter pouco retorno, já que eu fazia um blog esperando 100 comentários e isso nunca acontecia. Então decidi mudar minha meta. Criei um espaço para ser um depósito de pensamentos, onde eu não teria nenhuma pretensão. Deu certo. Hoje estou feliz com o que ele representa para mim. Mesmo assim o fator “leitores” ainda mexe comigo. Não nego que às vezes a falta de comentários me desmotiva e que os elogios estimulam mais posts. A grande diferença é que a enventual falta de público tem um efeito mais ameno, que pode ocasionar um período de afastamento, mas não a eliminação do blog.

Me reinvento sempre, buscando um aperfeiçoamento como blogueiro e como pessoa. Hoje sou mais maduro, abracei a ideia de que o blog antes de tudo deve me satisfazer. Não penso em agradar ninguém a não ser eu mesmo – é claro que aceito opiniões. Mudo quando sinto que algo não me agrada mais.

entrevista fabioc 2 entrevista fabioc 3

Livros que se tornam best-sellers muitas vezes são desqualificados por críticos pseudo-intelectuais, cujo maior prazer é desprezar o que agrada a maioria. Por sorte, tenho a mente aberta, o que me impede de adotar este pensamento limitado. É preciso entender que a quantidade de exemplares vendidos não determina a qualidade de um livro ou qualquer produto cultural.”

(Fabioc no post “A fórmula do sucesso – O Símbolo Perdido”)

22 de set. de 2010

Substantivos, por Caio Coletti

reflexão (nunk excruir) substantivos 3

Um eco…

Ecos. Momentos perdidos de um dia qualquer, quando as preocupações eram outras e o mundo girava mais devagar. Hoje, mesmo agora, como a caneta que voa pelo papel, ele corre. E minha mente protesta, meu corpo grita de dor enquanto tenta acompanhá-lo. Quando me dou conta de que não posso mais, afinal, o que me resta? O futuro não espera por quem desiste da corrida, e o presente que se renova a cada segundo me parece dolorosamente idêntico ao anterior. Resta-me o passado. Glorioso? Pouco provável. Dourado? Diante de meus olhos, talvez. Mas, inevitavelmente, passado. Um eco que não pode voltar a ser o que foi. Não agora, nem nunca. Não comigo, nem com ninguém. Só passado.

Um movimento…

Preciso me mover. E o que me move é a emoção. Não a emoção da adrenalina, o fato fisiológico, mas a emoção sutil e essencialmente humana que, aos poucos, constrói reinos inteiros feitos de poeira e ar. Impuros, frágeis, absurdamente falhos em projeção e execução, a todos os momentos suscetíveis a uma guerra, uma mudança, um distúrbio súbito de qualquer natureza que podem o trazer a baixo. Mas como um dia eles desmoronariam, se nunca chegassem a ser construídos? A derrocada é mero subproduto da glória, disso ninguém pode mais discordar. E é o movimento que leva a ambas. Movimento racional, emocional, físico e comportamental. Movimento por inteiro.

Um momento…

Em quantas frações nós, tão senhores do tempo, o fazemos? O quão presunçosos somos, nesse sentido? E o quanto conseguimos realmente compreender da duração de um segundo? É pouco, muito pouco, o que sabemos, e ainda assim contamos: os dias, os meses, as semanas, os anos, as horas, os minutos. As vidas. Contamos. E o quanto é contar, em meio a complexidade infinita de tudo o que nunca saberemos de nosso próprio ser, e mais ainda, de nosso próprio mundo? Nada.

Está feito, agora. Ninguém ousaria desfazê-lo, e não é isso que eu peço. Mas que ao menos comecemos a admitir que o nosso castelo é de papel, e nosso torno de algodão. Levemente repousados nele, como estamos, qualquer perturbação dessas inconstantes imaterialidades ao nosso redor pode nos derrubar. Tudo no instante ínfimo de um momento. Desses que provocam ecos que reverberam dolorosos na cabeça de quem ouve, e desses que incitam, enfim, o temido movimento.

Que ele não venha tarde demais!

substantivos 2 subtantivos 1

Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito que tens de dizê-las”

(Voltaire, filósofo iluminista francês)

13 de set. de 2010

Todo mundo que vale a pena conhecer – Três novos talentos do cenário musical

novidades musik (nunk excl)novos talentos 01

Adam Lambert – For Your Entertainment

Ok, alguns esclarecimentos a fazer aqui, só para começar. Sim, a capa reproduzida acima é muito provavelmente a mais infeliz que um artista pop conseguiu produzir na nossa década, quiçá em toda a história da música. E sim, o americano Adam Lambert, grande destaque da 8ª temporada do American Idol, é abertamente gay. Acontece que nem uma coisa, nem outra, apaga o incrível talento vocal desse indivíduo de 28 anos, nascido no coração dos Estados Unidos, influenciado por David Bowie e Queen para criar um pop-glam que toca fundo na percepção do público desde que Lady GaGa abriu as portas desse “novo” estilo para o mundo das grandes gravadoras. Inegável que, sem o sucesso que ela fez, ele não teria toda a oportunidade que está tendo para ser teatral, exagerado, performático e acrobático como demonstrou na apresentação do single “For Your Entertainment”, homônimo de seu álbum de estréia, no AMA desse ano.

Álbum esse que conta com convidados especialíssimos na composição para criar uma coleção de canções de estreia sólidas e convincentes, mas raramente espetaculares. Acontece que há muito pouco, além da voz, de Lambert nesse disco. Seu nome só aparece nos créditos de 4 das 14 faixas, e quase todas as canções assinadas por performers mais célebres acabam saindo com a cara e a personalidade deles, e não de Lambert. “Music Again” (assinada por Justin Hawkins) só precisa de um pouco mais de falsete para ser uma música do The Darkness. “Whataya Want From Me” leva a marca confessional e rocker de P!nk, e até a “Pick U Up” que Rivers Cuomo compôs em parceria com o próprio Lambert acaba soando como se o Weezer tivesse trocado de vocalista e resolvido adotar um instrumental pop. Lambert só mostra sua personalidade musical em “Strut” e na melódica “Sleepwalker”, mais uma tremenda composição de Ryan Tedder, o líder do One Republic e donos dos créditos de hits de Beyoncé, Kelly Clarkson e Rihanna, entre outras.

Não por acaso, aliás, uma das melhores canções do álbum é “Fever”, que leva a assinatura, veja só, da própria Lady GaGa. A aprovação dela, ele já ganhou, ao que parece. Para conquistar a minha, ao menos totalmente, vai precisar mostrar mais de si mesmo e menos de sua produção. Mas está definitivamente no caminho certo. E com certeza vale a pena ser ouvido.

*** (3/5)

novos talentos 02

Paloma Faith – Do You Want the Truth or Something Beautiful?

Você pode até nunca ter ouvido falar de Paloma Faith, e não é tão improvável que jamais tenha conhecido sua impressionante voz. Ao mesmo tempo, o rosto dessa britânica de 25 anos pode-lhe ser um pouco familiar. Acontece que, além de cantora e compositora, Paloma é também atriz. Seu papel mais notável até hoje foi ao lado de Heath Ledger e comandada por Terry Gilliam no recente O Imaginário do Doutor Parnassus, que chega às locadora ainda nesse mês, com quase dois anos de atraso. Performática e teatral como está na moda nas paradas musicais, Faith traz o verniz do profissionalismo inglês para seus temas, seu vocal e sua apresentação ao vivo, hoje uma das mais disputadas e interessantes de se conferir por aí.  Na Internet ela fazia dueto com o artista indie Josh Weller na divertida “It's Christmas (And I Hate You)”, composição agridoce dele que ganhou brilho com a voz dela.

Tomou banho de produção e encarou temas mais fortes, sempre com a veia mezzo bem-humorada mezzo romântica que Weller lhe ensinou, nesse espetacular Do You Want The Truth or Something Beautiful?, nome que pegou emprestado de uma das canções mais climáticas e interessantes de um disco cheio delas. Escolhida como o terceiro single do álbum, “Do You Want the Truth…” só perde o posto de melhor hit dessa obra de estreia porque “New York” vem lhe roubar o posto. Com clipe bem-produzido, performance vocal impressionante e o arranjo mais crescente e apoteótico do disco, a canção se destaca como um clássico contemporâneo, uma melodia para ser assoviada e sentida no fundo da alma. Mas não acaba por aí. Faith não se esqueceu de como ser divertida, e nos mostra isso em “Stone Cold Sober” e “Upside Down”, duas canções que podem render muitas comparações entre ela e artistas como Amy Winehouse e Duffy. Já que entramos no assunto, aliás, vale destacar: em comum, as três só tem o timbre, e isso fica claro na personalíssima “Play On”, uma pérola de climatização e drama. Uma vez atriz…

Paloma combina o que há de melhor em seus talentos musicais e dramáticos para incutir alma, personalidade, tragédia e humor na medida certa em cada faixa do seu álbum. Vai parecer meio irônico, para uma cantora que clama “don’t tell me romance is dead” em uma das faixas, mas há muito tempo que uma artista não me deixava tão completamente… apaixonado.

***** (5/5)

novos talentos 03

B.o.B. – The Adventures of Bobby Ray

Vamos deixar uma coisa bem clara: normalmente, rap não faz parte do meu repertório. Não sinto o apelo dos versos gangsta de Snoop Dogg ou 50 Cent, muito menos das odes egoístas que às vezes me parecem dominar as investidas de Jay-Z. Acontece que, não tão frequentemente quanto eu gostaria, a Billboard sabe abrir as portas de nossa percepção e nos lembrar que, não importa o estilo de música, sempre haverão bons e maus representantes. E eis que “Nothin' on You” cruza meu caminho num dia desses, com seu refrão doce entoado por Bruno Mars e os versos atípicos de um tal B.o.B., a parte atrasada da chamada “classe ‘09” do rap, que nos trouxe também Kid Cudi e Asher Roth. Com o selo do veterano T.I. na produção, o rapper, cantor, multi-instrumentista e produtor Bobby Ray Simmons mostrou ao mundo uma versatilidade inesperada nesse The Adventures of Booby Ray e, de quebra, quebrou um pouco do meu próprio preconceito.

Acontece que B.o.B. não se furta dos maneirismos do estilo ao qual pertence, mas introduz alguns elementos próprios que denotam uma personalidade mais, digamos assim, tradicionalmente musical do que a maioria de seus companheiros. Verdade que, sozinho, ele encara apenas 4 das 12 faixas do seu disco de estréia, contando com a parceria de gente de estirpe para montar, aos poucos, um conjunto não extraordinário, mas ao menos agradável aos ouvidos. Para além de “Nothin’ on You”, temos a participação eficiente de Hayley Williams, aparentemente melhor aqui do que no próprio Paramore, na intensa e emocional “Airplanes”, dona de um refrão viciante, uma produção sofisticada e versos escritos com esmero. A abordagem mais tradicional do rap em “Bet I” agrada menos, mas não estraga a surpresa que é “Ghost in The Machine”, provavelmente a canção de rap mais verdadeiramente musical dos últimos tempos. O disco ainda reserva a quem tem paciência as divertidas “Magic” (ao lado de Rivers Cuomo, do Weezer) e “The Kids”, com Janelle Monàe, a mais recente mania da música americana.

Enfim, a gravação de estréia de B.o.B. é definitivamente promissora, demonstrando um artista completo, que sabe os limites de seu estilo e quando ultrapassá-los, que tem faro de produtor de primeira para o que pode colar nas paradas atuais e, por cima de tudo, ainda nos mostra que o rap pode, ainda, ser uma música que agrada aos ouvidos. Ah, como é bom ser surpreendido!

**** (4/5)

novos talentos 05novos talentos 04

As performers femininas estão fazendo isso há tempos - ‘abrindo o envelope’ da sexualidade – e no momento que um homem o faz, todo mundo pira. Estamos em 2009 – é tempo de correr riscos, ser um pouco mais corajoso, tempo de abrir os olhos das pessoas e, se isso as ofender, então talvez eu não seja para elas. Meu objetivo não é irritar as pessoas, e sim promover liberdade de expressão e liberdade artística”

(Adam Lambert, em entrevista a Rolling Stone)

Meu estilo vocal combina com o tema do meu álbum. É sobre a condição humana, a constante busca por amor e companhia. Eu atirei meu coração a muitos homens errados, em minha época, eu posso lhe dizer. Sou a rainha da tragédia. Melancolia informa tudo o que eu faço”

(Paloma Faith, em entrevista a Q)

8 de set. de 2010

JOGO RÁPIDO: “As Pedras de Fogo” + “O Solista”

critica (nunk excl)jogo rapido pedras de fogo 1

As Pedras de Fogo (Under The Mountain, Nova Zelândia, 2009)

Uma produção da 120 db Films…

Dirigido por Jonathan King…

Escrito por Matthew Grainger, Jonathan King, baseados na novela de Maurice Gee…

Estrelando Tom Cameron, Sophie McBride, Sam Neill, Matthew Chamberlain…

91 minutos

As Pedras de Fogo remete a tantos gêneros e referências ao mesmo tempo que fica difícil acreditar que a história adaptada e levada as telas pelo neozelandês Jonathan King, conhecido pelas obras de terror-B Ovelha Negra e O Tatuador, vem de uma novela original do semi-desconhecido Maurice Gee, parte de uma série literária que já foi levada a telinha da televisão em minissérie nos idos dos anos 1980. Agora, com a moda da fantasia juvenil, As Pedras de Fogo segue a cartilha do gênero no nosso século a risca, adicionando elementos do terror indiscutivelmente dominados por seu comandante, que faz uma boa parte das cenas de tensão soarem como mais uma “obra-prima” do thriller adolescente que já nos deu produtos do calibre de A Casa de Cera e afins. Se isso é bom ou ruim, cabe a você, leitor, decidir.

Acontece que As Pedras de Fogo tem seus trunfos. Se a novela de Gee já não era terrivelmente original em sua época e o roteiro que a atualiza deixa coisa demais sem explicar, não dá para negar que os truques diretivos de King funcionam por boa parte do tempo, criando imagens intrigantes que mantêm o espectador ligado cena a cena, mesmo que o script não o ajude nesse sentido. A trama: gêmeos devastados pela morte da mãe (Tom Cameron e Sophie McBride em atuações sem nenhum sal) são acolhidos pelos tios em Auckland, a cidade dos vulcões neozelandesa, e lá acham o misterioso Mr. Jones (um afiado Sam Neill), que os entrega duas pedras de aparência comum que são a chave para derrotar a ameaça de uma família alienígena que quer destruir a humanidade (é, nada de novo aqui). Claro, o objetivo só pode ser alcançado se os dois trabalharem juntos. Enfim, dá para passar a noite.

Nota: 6,0

THE SOLOIST

O Solista (The Soloist, Inglaterra/EUA/França, 2009)

Uma produção da DreamWorks SKG…

Dirigido por Joe Wright…

Escrito por Susannah Grant, baseada no livro de Steve Lopez…

Estrelando Robert Downey Jr, Jamie Foxx, Catherine Keener, Tom Hollander…

117 minutos

Títulos podem ser enganadores. Sabendo-se da trama de O Solista, soa fácil decifrar o cabeçalho que o jornalista Steve Lopez deu ao seu livro sobre o morador de rua, paciente de esquizofrenia e músico genial Nathaniel Ayers, uma figura que ele encontrou nas ruas de Los Angeles quando buscava por assunto para sua coluna no LA Times. Ayers é o solista, o violoncelista brilhante que não pode estar perto de multidões mas sente a música como nenhum outro homem, certo? Talvez, só talvez. Em O Solista, o título e o papel principal não é de Ayers, interpretado com certo exagero por um histriônico Jamie Foxx, mas sim do Steve Lopez destruído, calculista e solitário que Robetr Downey Jr interpreta com notável sutileza. É na performance dele, sensível e brilhante, na forma como a vida de Ayers afeta a sua, que O Solista encontra sua força. Mesmo porque, além delas, é um filme com muitas fraquezas.

O jovem diretor britânico Joe Wright fez um trabalho de brilhantismo incontestável em Desejo e Reparação, o drama de época terrivelmente moderno que foi a grande figura do Globo de Ouro em 2008. Aqui, em sua primeira trama real e atual, ele mostra que suas habilidades não vão tão longe quanto se imaginava. Seu olhar permanece arguto para as peculiaridades do nosso mundo e para as relações entre os personagens, mas o bom gosto que reinava na construção dos set pieces de Desejo e Reparação se traduz em imagens cansativas e às vezes quase constrangedoras nesse O Solista. Isso porque ele ainda tem em mãos um belo roteiro, redigido pela talentosa Susannah Grant, indicada ao Oscar por Erin Brockovich, que define os personagens em linhas claras e reúne a narrativa de Lopez em uma história que termina, ao menos, comovente como deveria ser. Enfim, O Solista ganha a partida, mas não joga tão bem quanto poderia com o time que tem.

Nota: 7,5

jogo rapido pedras de fogo 3jogo rapido pedras de fogo 4

Talvez nossa amizade tenha ajudado o Sr. Ayers. Talvez não. Eu posso falar por mim mesmo, no entanto. Eu posso dizer que, testemmunhando a coragem do Sr. Ayers, sua humildade, sua fé no poder de sua arte, eu aprendi a dignidade de ser leal a algo em que você acredita. De se segurar a isso, sobre qualquer coisa. De acreditar, sem questionar, que isso o vai levar de volta para casa”

(Robert Downey Jr em “O Solista”)

6 de set. de 2010

Salt (Salt, 2010)

critica (nunk excl)salt 01

“Quem é Salt?”. A pergunta usada na promoção do thriller de espionagem de Philip Noyce pipoca na tela, na cara do espectador, sempre sem resposta, ao menos uma par de vezes durante os 100 minutos de Salt. E não falo algum tipo de legenda que apareça entrecortando as cenas, mas de um confrontamento ideológico dessa questão com a percepção de quem assiste. Com suas constantes reviravoltas e trama espertamente incompleta, Salt é diversão surpreendente, que não ofende a inteligência do espectador e, ao mesmo tempo, não se furta dos exageros quase necessários para criar uma heroína de ação que possa carregar o que pretende claramente ser uma franquia nas costas. Evelyn Salt não é James Bond de saias, mas não faria feio em uma missão ao lado de Ethan Hunt e, ao mesmo tempo, nos aparece com personalidade própria e indentificação o bastante para se tornar uma marca própria. Salt é a máquina de Hollywood a todo vapor, mas com as frenéticas engrenagens que a movem azeitadas por gente muito talentosa.

A começar por Kurt Wimmer, um dos mais subestimados e talentosos roteiristas americanos, o homem que escreveu e dirigiu o brilhante Equilibrium, foi ignorado por isso, e depois da mancada com Ultravioleta, acabou uma figura secundária na indústria. Aqui, ele compõe uma trama engenhosa e inteligente, apoiada em uma premissa intrigante, que não se furta dos clichês de seu gênero mas os perpetua com o verniz bem cuidado de personagens desenvolvidos com esmero e diálogos rápidos, rasteiros e inteligentes. Há uma ressalva, contudo: na visão de Wimmer, no seu script original, Salt era Edwin Salt, o agente da CIA acusado de ser um infiltrado russo prestes a assassinar seu próprio presidente. Foi só com a entrada de Jolie e de Randall Wallace (Coração Valente, Pearl Harbor), chamado para as adaptações necessárias, que surgiu a Evelyn Salt que carrega o filme nas costas e mantem a unidade da rede de intrigas de Wimmer. Fica difícil imaginar a figura do espião sisudo (ou mesmo de Tom Cruise, considerado para o papel) cumprindo essa missão. Mas talvez isso seja culpa da própria Jolie.

Não, a atriz que vemos aqui não é a mesma da atuação superlativa em A Troca, mas também não é a estrela prezada apenas por seus atributos físicos de Tom Raider. De alguma forma, vigiada pela câmera experiente de Noyce, Jolie encontrou a linha tênue entre os dois extremos, trazendo para a personagem a convicção, a crença, o carisma de que ela precisa para convencer e envolver o público. O filme é todo dela, de sua presença e, como sempre, de sua forma estonteante. Mas, aqui, nem a ala feminina vai reclamar. Como Salt, Jolie reúne o melhor de dois mundos: continua linda, mas sabe como poucas protagonizar uma história complicada e inconstante. Mesmo o sempre competente Liev Schreiber, recentemente a encarnação do Dentes de Sabre em Wolverine, lhe rouba a cena, apesar da presença marcante. Chiwetel Ejiofor (2012), então, se limita a pano de fundo e peão em um xadrez de puro entretenimento.

É aí que entra Philip Noyce. Australiano, experiente de quase 30 títulos no currículo, ele traz o faro de diretor que já adaptou duas histórias protagonizadas pelo clássico espião americano (Jack Ryan, em Perigo Real e Imediato e Jogos Patróticos) para o começo de uma franquia que surge promissora para quem gosta de filmes de ação. Noyce realiza perseguições empolgantes e cenas de luta viscerais, equilibrando uma câmera trepidante com o senso de espaço e movimento de quem entende da coisa. E, não só isso, traz também a delicadeza de quem já fez o sensível Geração Roubada para as sequencias dedicadas a desenvolver o personagem de Salt, trabalhando ao lado do diretor de fotografia Robert Elswit em um tratamento esteticamente estonteante do passado frio, quase aterrorizante, de sua personagem. Enfim, mostra que experiência tem, sim, seu valor, desde que usada da forma certa.

Salt começa e termina enchendo a cabeça do espectador de dúvidas, mas fecha seu arco temático no sentido que provém ao espectador ao menos uma resposta clara para a pergunta no começo desse texto. Quer saber quem diabos é Salt? Veja o filme. Mas eu posso adiantar que vai ser um nome que você ainda vai ouvir muito nos próximos anos.

Nota: 7,0

salt 03salt 02

Salt (Salt, EUA, 2010)

Uma produção da Columbia Pictures…

Dirigido por Philip Noyce…

Escrito por Kurt Wimmer, Randall Wallace (não-creditado)…

Estrelando Angelina Jolie, Liev Schreiber, Chiwetel Ejiofor, Hunt Block, Olek Kupra…

100 minutos

3 de set. de 2010

Por um mundo mais musical!

variedades (nunc excl) blunt 1

Esses dias estava notando: vivemos sem pensar. O tempo tiquetaqueia a nossa volta, sóis e mais sóis nascem e se põem enquanto nós, aqui tão pequenos, nesse mundo que insiste em continuar girando contra todas as probabilidades, apenas cumprimos com nossas obrigações. Ou talvez eu esteja sendo duro demais. Admito que sentimos, ainda. Mas o fazemos de uma forma apagada, nos apoiando em símbolos que surgem do nada e voltam para ele na mesma velocidade com que apareceram a nossa frente. Nos encantamos tanto com as possibilidades práticas da nossa vida, nos preocupamos tanto em nos comportar da “forma adequada” o tempo todo, que perdemos a prática em sermos sinceros, conosco mesmo e com os outros, sejam eles amigos ou não. De uma hora para outra, deixamos de ser sensíveis, calorosos e, pelo andar da carruagem, muito em breve deixaremos de ser, na definição original da palavra, humanos.

Deve ser por isso que me agarro tanto as formas de arte. Aos meus olhos, há muito mais verdade, beleza e sinceridade na reflexão que o homem faz do seu mundo, traduzido em diferentes formas de expressão, do que nesse próprio lugarzinho distorcido em que continuamos a caminhar. E nos últimos tempos tem me tocado muito a forma como a música, a arte dos acordes e melodias, mas também a morada de pequenas poesias reflexivas, se tornou uma espécie de refúgio de pura sinceridade, para o qual recorremos quando estamos cheios do mundo de falsidades e máscaras que criamos para nós mesmos. Se o cinema é meu oxigênio, a música recentemente se abriu para mim como um mundo onde posso dizer, ou melhor, ouvir, tudo o que seria chamado de “fraqueza” na vida diária. E, quando decibéis soam mais humanos que seres de carne e osso, alguma coisa está indo muito errado.

Caso para análise: o britânico James Blunt, cantor que surgiu em 2004, emplacando o álbum Back to Bedlam e o hit-eterno “You’re Beautiful” nas paradas de sucesso e na sensibilidade romântica de meio mundo. Dados biográficos básicos: Blunt foi soldado e serviu no campo de batalha da Europa Oriental, defendendo as cores britânicas nas regiões de Kosovo e Ioguslávia, no final do século passado. Voltando com muitas histórias para contar e a bagagem das aulas de piano e violino de infância, mais as lições de guitarra de um amigo na época do colégio, lançou-se na estrada e foi descoberto por Linda Perry (sim, a mesma da finada 4-Non-Blondes, hoje produtora gabaritada e compositora de várias das melhores baladas de Christina Aguilera), que o acolheu em seu recém-criado selo e bancou a gravação de Bedlam.

É, eu sei que Blunt foi chamado de brega. E sei o quanto seus detratores tem argumentos fortes o bastante para convencer muita gente. Não me passa desapercebido o simplismo e a pieguice da letra de “You’re Beautiful”, mas ouvir o restante de sua produção até hoje e passar absolutamente incólume é um atestado definitivo que você, ouvinte, não viveu o bastante. “Cry”, ainda nesse primeiro álbum, fala de uma amizade tão forte que consegue misturar tristeza e carinho em uma mesmo momento, em uma relação mútua que deveria ser, no mínimo, bela. Muito mais bela que vários tipos de “amor” que são apregoados por aí. E quando mesmo que nossas amizades deixaram de ser chamadas de “amores”? Porque, hoje, é tão difícil se tornar próximo o bastante de alguém ao ponto de poder dizer “chore no meu ombro, sou um amigo” (cry on my shoulder, I’m a friend)? Alguém ainda tem a coragem de dizer isso na vida real? E, se não, porque? Porque se tornou tão brega amar, seja condicional ou incondicionalmente? Tão constrangedor?

No disco seguinte, o menos massacrado All The Lost Souls, “Same Mistake”, maior hit do britânico até hoje, foi novamente chamada de brega. Não é, ou ao menos não mais do que é incômoda. Porque? Porque fala de admitir os próprios erros, de consertar o próprio passado, de saber das próprias falhas e de não ter medo de ser vulnerável. Não somos todos? Quando pedir por uma segunda chance em uma música se tornou tão incômodo que suscita críticas tão descabidas? Não entro em discussões musicais, porque não é minha intenção aqui. Falo de temas. De letras. De poesia. De verdade. De assumir-se humano por inteiro, de saber que vamos cair e errar muitas vezes ao longo do caminho, de ter a capacidade de retirar a promessa do perdão do mundo fantasioso da canção, e trazê-la para a realidade. Talvez devêssemos fazer como nos musicais. Quando nos faltassem palavras, talvez devêssemos cantar. Ou simplesmente dizer o que diríamos se estivéssemos cantando.

Quem sabe, assim, a vida seria muito mais fácil, e o mundo, muito mais humano. Trazendo de volta, no processo, a credibilidade da produção musical como espelho fiel do comportamento, e não do ideal, de todos nós. E aí, sim, caberia a nós julgar o que é brega e o que não é.

blunt 2blunt 3

… There is no place I cannot go/ My mind is muddy but my heart is heavy/ Does it show?/ I lose the track that loses me/ So here I go…

I’m not calling for a second chance/ I’m screaming at the top of my voice/ Give me reason, but don’t give me chance/ ‘Cause I’ll just make the same mistake again…”

(James Blunt em “Same Mistake”)