Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

30 de ago. de 2012

“Um ou Mais Graus de Separação”, um livro para todos os gostos.

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

São raros os projetos como Um ou Mais Graus de Separação, livro organizado por Izadora Pimenta, estudande do terceiro ano de Jornalismo na PUC-Campinas. Reunindo pequenos textos de mais de 28 “escritores de gaveta” entre amigos e conhecidos de amigos, Izadora apela para um lado que existe em todos nós: o de artistas pessoais, que talvez temam a exposição pública do que somos capazes de produzir. Não é fácil pendurar no varal, para escrutínio público, as feridas em carne viva que sangram na escrita de quem realmente se devota a ela.

E há bastante sangue, nesse sentido metafórico, nas histórias de Um ou Mais Graus de Separação. A melhor das seleções é de autoria da própria Izadora. A história intitulada “Tipo Chocolate 70% Cacau” (página 27) transpira verdade e transborda emoção. Trata-se de uma narrativa de detalhes e sutilezas cotidianas que tomam todo um novo significado na psique da personagem principal/narradora. E comove porque entende que é assim que percebemos o mundo de verdade.

Outro destaque é “Veludo”, de Julia Schmidt (página 15), que abre o livro, uma elegia à memória e ao tempo. “Vermelho”, de Mariana Rosa (página 31) e “Expectativa x Realidade”, de Marília Rocha Lopes (página 59), são crônicas urbanas daquelas pungentes e meio-amargas. “Ride”, de Ana Clara Matta (página 37), é a única seleção em inglês do livro, uma poesia sensivel e bem-sacada. “Expectativa”, de Ivan Perina (página 52), conquista pelo bom-humor contemporâneo e genuíno, e “Falta-me Falta”, de Carolina Ruedas (página 54) retrata um círculo vicioso que deve fazer parte da vida de todos nós.

Se o caro leitor teve sua curiosidade aguçada (saiba que, se não teve, precisa começar a treiná-la), dá pra ler Um ou Mais Graus de Separação em forma de ebook aqui. A seguir, entrevista com Izadora Pimenta, idealizadora e organizadora do projeto.

O Anagrama: Como surgiu a ideia para o livro?

Izadora: Sempre quis publicar um livro, mas nunca levei isso adiante. A ideia deste veio de surpresa, depois de muito observar o Vinícius, que trabalha comigo, publicar seus poemas diários no Facebook. No início, queria agregar os textos dele (coisa na qual estamos trabalhando) e talvez até alguns meus. Não vou saber exatamente quando foi que tive o insight do "Um ou Mais Graus de Separação", mas lembro que quando tive, comentei com alguns amigos e eles acharam legal. Daí a ideia foi caminhando sozinha.

O Anagrama: Foi difícil encontrar os colaboradores? Como aconteceu a seleção dos textos de cada escritor?

Izadora: Não foi muito difícil não. Convidei alguns amigos que eu já sabia que iriam topar e outros se interessaram a partir das minhas postagens nas redes sociais. Não houve um critério e nem uma restrição. Tive a sorte de receber 27 textos bem legais - o máximo que rolou foi uma edição básica em alguns.

O Anagrama: Quais são seus escritores preferidos, que você definiria como grandes influências para a sua escrita?

Izadora: Gosto muito do Nick Hornby. Gosto da maneira com a qual ele cria pessoas e situações de, também, de como ele empresta um pouco de si mesmo para cada um de seus personagens. "Um Grande Garoto" é um dos meus livros preferidos.

Além do Hornby, a mania de inserir muito de cultura pop aos textos vem da Meg Cabot com a série "O Diário da Princesa", que construiu minha pré-adolescência e é uma das minhas preferidas até hoje (Faz pouco tempo que saiu o último livro... li.. haha). A Mia Thermopolis é uma personagem digna de ser lida por qualquer menina de 12, 13 anos.

Machado de Assis talvez seria minha influência clássica. Há um pouco de "Dom Casmurro" nos meus personagens. E gosto também do George Orwell. "1984" é meu clichê favorito.

O Anagrama: Depois da publicação de Um ou Mais Graus de Separação, quais são seus projetos para o futuro?

Izadora: Tenho um projeto de outro livro colaborativo, mas em breve divulgarei mais detalhes dele por aí. Também vou diagramar o livro do Vinícius (que está em "Um ou Mais Graus de Separação" com "Dor nos Ombros").

Fora isso, acabei de deixar um site de música no qual escrevi por quase três anos para me dedicar a algumas outras coisas. Em breve começo a escrever uma vez por semana sobre música nacional em outro site, mas provavelmente também irei abrir o meu próprio até o final do ano, só que com uma abordagem bem diferente da que eu fazia.

Também espero me formar, casar e ter filhos (2, um menino e uma menina). haha

O Anagrama: De que forma você espera que seu livro afete ou inspire o leitor? Qual você definiria como o objetivo real do projeto?

Izadora: Acho que existem duas ideias principais no livro. A primeira é de que ninguém está tão distante de nada. Os autores não estão distantes entre si, o autor publicado por meio de um ebook não está distante de um autor de um best seller - todo mundo atinge as pessoas de alguma maneira. Nessa de escrever sobre música eu passei a acreditar na Internet como a melhor disseminadora de informações que nós podemos ter. Não ouvimos só as músicas que tocam na rádio: ouvimos o que vem até nós, seja lá de que maneira for. O livro estar disponibilizado da forma que foi é uma maneira de ele chegar aos outros.

A segunda ideia é a de que a maioria das pessoas que estão nele sempre quiseram estar nesse lugar. Ultrapassar as barreiras dos blogs e dos cadernos de anotação. Eu, ao menos, sempre quis. Os grandes autores estão por toda a parte. Se tivéssemos mais coletâneas literárias de novas apostas (a Granta em Português fez uma e foi bastante criticada, porque muita gente não concordou. Mas não existem outras para rebater, sabe?), todo mundo se sentiria mais motivado.

253898_455510097804249_1427929840_nIzadora e seus colaboradores posam para a Metrópole.

(Res)peito.

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por Talita Rodrigues
(Poeta de Parede)

Conjugo verbos equivocadamente o tempo todo. Meu arroz nunca dá certo, a cozinha me odeia e essa é mais uma das minha frustrações. Tenho 19 anos, ainda não tenho carteira de habilitação e todo mundo me pergunta o por quê. A verdade é que eu sou um desastre ambulante. Adoro livros de filosofia e, no momento, estou obcecada por Nietzsche. Faço drama 24 horas por dia e se você disser que minha letra é feia, eu vou chorar. Acho que isso de viver em excesso ainda vai me matar antes da hora. Sensibilidade é meu segundo nome. Faço poesia (eu tento) com tudo, minhas histórias são ultrarromânticas e eu não sei rimar. Aliás, eu escrevo sobre tudo que me acontece e já perdi a conta de quantos rascunhos eu tenho jogados por aí. Ah, se já te dei algum dos meus textos, considere-se importante; minhas palavras tiveram pouquíssimos destinatários até hoje. Gosto do movimento da caneta no papel e de ver as palavras tomando forma. Quando a inspiração me pega, sou capaz de acordar de madrugada para escrever (meu passatempo preferido, aliás). É tão natural para mim essa intensidade. Mesmo assim, eu me acho incompetente. Quando eu coloco o ponto final no término da folha, sobra a sensação de que poderia ter ficado melhor; sempre assim. Eu sou ciumenta, indelicada e revoltada na maior parte do tempo. Quando eu não estou pensando sobre a vida, eu penso no que poderia estar pensando; no mínimo confuso. Morro de medo da solidão e todas as noites, antes de dormir, eu peço pela felicidade de uma pessoa em especial.

E agora? Eu mereço seu respeito? Agora que você sabe quais são meus medos e minhas manias, você é capaz de me respeitar? Se a resposta for sim, admirável Leitor, talvez haja um equívoco.

Para começar, é bom deixar claro que falsidade não é respeito. O respeitar está completamente desvinculado do merecer. Independentemente do primeiro parágrafo desse texto, o respeito que há entre nós deve permanecer o mesmo. Conhecendo-me ou não, respeitar é fundamental. Você, é claro, tem todo o direito de achar tudo isso aqui um(a) -adicione o xingamento que desejar neste espaço- e eu posso, livremente, continuar produzindo. A crítica é sua, o texto é meu e a convivência continua a ser mantida. Ou deveria.

E isso tem me irritado um pouco (tá, grande novidade). A gente vive saindo por aí (inclusive nas redes sociais) cuspindo palavras por impulso e provocando outras pessoas por qualquer motivo medíocre que seja, sem perceber que alguém pode ter se ofendido, e sem demonstrar, respeitou aquele nosso momento de estupidez. Já aconteceu comigo, com alguns de vocês (ou todos) e assim será sempre.

Por isso, vamos tentar aceitar que os outros nunca serão do modo como desejamos -chorem, eu deixo-. Ninguém nunca fará as mesmas escolhas que nós um dia fizemos, e nem por isso devemos odiá-los. Você não precisa chegar no seu twitter e despejar indiretas em prestações de 140 caracteres só para se vingar. Você não precisa de frases de efeito para dizer que alguém é insuportável só porque não agiu como você esperava. Você não precisa ferir alguém para sobreviver, acredite. Porque, assim como você, o outro também tem sentimentos. Suas palavras também machucam e fazem chorar.

Mas acalme-se aí na cadeira, Leitor querido, não estou tentando promover a paz mundial, muito menos dizendo que devemos ser todos como a Madre Tereza de Calcutá (por favor né). O que eu quero dizer é que você pode não me suportar (às vezes, nem eu mesma me suporto), pode me chamar de hipócrita, esquisita, chata e tantos outros pseudo-adjetivos de sua preferência, você tem todos esses direitos. Mas guarde-os com você, é desse respeito que estou falando.

Por diversas vezes, já tive vontade de gritar, e calei. Tive vontade de brigar, e guardei. Tive raiva, e apesar de tudo, sorri. Posso não concordar com milhares de coisas do mundo aí fora, mas nada disso vai mudar a maneira como elas são. O respeito economiza, poupa energia celular e rejuvenesce. E eu aposto que ninguém aqui quer ficar com rugas, não é mesmo?

29 de ago. de 2012

Dois filmes, duas gerações, uma Diablo Cody: “Juno” e “Jovens Adultos”.

OSCARS/Diablo Cody com seu Oscar de Melhor Roteiro Original por Juno.

por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Diablo Cody não é a sua estrela de Hollywood padrão. Nascida Brook Busey no subúrbio de Chicago, em 1974, a moça foi parar em Minneapolis no final dos anos 1990, trabalhando como stripper e escrevendo para pequenos jornais da região. Mas foi com seu blog, o The Pussy Ranch (mais tarde tirado do ar) que ela conseguiu um contrato para escrever, aos 24 anos, a autobiografia de seus anos na cena underground. Candy Girl: A Year in The Life of an Unlikely Stripper foi a porta de entrada para Hollywood. E o primeiro resultado do trabalho dessa outsider no jogo foi Juno (Oscar de Melhor Roteiro Original). Depois, Garota Infernal. E, agora, Jovens Adultos.

A verdade é que poucas pessoas em Hollywood escrevem como Cody hoje em dia. A americana é uma artesã de personagens como não se via a tempos e, talvez, como nunca se viu antes. A honestidade com que trata suas crias, com quem clama ter “uma relação maternal”, é tão notável quanto a forma como sabe conduzir suas tramas. Atenhamo-nos, para o propósito desta análise, a Juno e Jovens Adultos, filmes complementares de maneiras que poucos espectadores devem suspeitar.

Juno é de uma sensibilidade absurda. Não que Jovens Adultos não o seja, que fique claro. Mas é importante destacar que, na história sobre as desventuras da adolescente grávida que dá nome ao filme (Ellen Page), tal sensibilidade se nos apresenta à flor da pele, calmamente borbulhando em dúvidas, emoções e complexidades, mesmo que a panela de pressão não realmente exploda em nenhum momento do filme. Essa é a grande sacada que Cody, como boa escritora, tirou da manga para representar a geração de sua personagem principal: ainda que seja uma bomba-relógio de incerteza, Juno lida com suas emoções de forma jamais apática, mas extraordinariamente serena.

Se é assim na adolescência, Jovens Adultos é com uma continuação que quer mostrar que a vida deixa todos nós quebrados de alguma forma. Só é nossa escolha a forma como lidamos com isso. Charlize Theron é Mavis Gary, escritora de livros infanto-juvenis divorciada que, ao receber um e-mail do ex-namorado de colégio Buddy Slade (Patrick Wilson) com uma foto do filho recém-nascido do mesmo, entra em crise e resolve ir atrás do amor perdido, retornando a sua cidade natal para isso. Jovens Adultos não é um filme esperançoso como Juno, mas não poderia ser. Há certa amargura nele que, talvez, complemente o açúcar depositado em sua contrapartida na forma de filme adolescente.

Tanto Theron quanto Page são peças fundamentais para a completa realização de seus respectivos filmes. E, não por acaso, ambas fazem um excelente trabalho. Page é uma metralhadora de diálogos rápidos, mas também um véu transparente de emoções que sabe trabalhar tanto a expressão facial quanto a lingugagem corporal para compor uma Juno única e inesquecível. Do outro lado do ringue, Theron se desprende de sua própria elegante persona para encarnar uma personagem que é toda baseada em falsas aparências, frieza e metodismo. E, em poucos minutos de tela, é impossível separar Charlize de Mavis Gary.

Em Juno e em Jovens Adultos, a câmera está nas mãos de Jason Reitman (direção) e Eric Steelberg (fotografia). A dupla trabalha em afinadíssima conexão com o roteiro de Cody, e é possível estabelecer paralelos, aqui: em ambos os filmes, a exploração de partes isoladas dos corpos dos atores em cenas chaves, registrando detalhes como elementos de cena, contribuí com a gradual e eficiente construção de personagem que é um trabalho há oito mãos entre roteiro, direção, fotografia e atuação. As coadjuvâncias ganham mais nota em Juno, que, devemos admitir, tem uma trama mais ramificada. Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, Allison Janney e J.K. Simmons são partes fundamentais (e absolutamente competentes) das engrenagens do filme.Young Adult, por sua vez, tem Patton Oswald em marcante atuação como o “companheiro de dores” de Mavis.

Juno é um filme sobre tentar acreditar na existência do amor de verdade, que pode durar pra vida toda. Jovens Adultos é um filme sobre amadurecer e tentar ver o mundo para além do próprio umbigo. Ambos são retratos pouco indulgentes, mas ao mesmo tempo muito afetuosos, da geração de seus protagonistas. E pode ser que nenhum deles tenha um final feliz perfeito, se você prestar bem atenção, mas essa é a natureza da escrita de Diablo Cody (e, eu ousaria dizer, o detalhe que mais a faz excepcional): ela ama e perdoa seus personagens, tal e qual uma mãe o faria, mas não precisa fazê-los perfeitos para isso.

Juno ***** (5/5) – Jovens Adultos **** (4/5)

Jason Reitman e Diablo Cody

Juno (EUA, 2007)
Direção: Jason Reitman.
Roteiro: Diablo Cody.
Elenco: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, Allison Janney, J.K. Simmons.
96 minutos.

Jovens Adultos (Young Adult, EUA, 2011)
Direção: Jason Reitman.
Roteiro: Diablo Cody.
Elenco: Charlize Theron, Patton Oswald, Patrick Wilson, Elizabeth Reaser.
94 minutos.

28 de ago. de 2012

Estranho.

milkSean Penn como Harvey Milk, primeiro gay assumido a exercer cargo político nos EUA, em Milk.

por Fabio Christofoli
(Clube do CamaleãoSolteirar)

Sabe uma coisa que eu acho estranha?

Vivemos em um país sem um sistema de saúde decente (onde mesmo tendo um plano de saúde particular, você demora meses pra conseguir uma consulta). Nossa educação é precária e nossos professores ganham um salário miserável. Nas cidades, é comum nos depararmos com favelas, onde pessoas vivem em condições sub humanas. Assistimos dramas de pessoas passando fome e frio nas ruas. Nossas crianças estão viciadas em crack. Nossos jovens desistiram da revolução. Nossos adultos desistiram dos jovens. E nossos idosos foram esquecidos por todos. A violência urbana nos deixa impotentes, já que sofremos com a falta de segurança pública. Nosso salário não acompanha o preço das coisas. E os políticos olham tudo isso e ainda dão risada da nossa cara.

Com tantos problemas, com tantas coisas para se preocupar e para mudar, é INACREDITÁVEL que as pessoas percam tempo com a homofobia. É estranho perceber que as pessoas gastam energia e pensamentos criticando e julgando os gays, quando poderiam usar isso por causas mais nobres, mais importantes. É surreal constatar que os gays são tratados como criminosos, que são vítimas de manifestações violentas, só porque optaram por um jeito diferente de sentir prazer, de amar.

Isso é um problema sério. Essas pessoas estão interferindo da individualidade do outro. Estão definindo o que é certo ou errado, baseados em NADA. São pessoas que não devem nada para os inquisitores de séculos atrás, nem para os nazista de décadas atrás. Querem impor uma verdade, uma cultura. O pior de tudo: gastam o NOSSO tempo também. Porque quem acha a homofobia um absurdo gasta tempo lutando contra ela. Com tantos problemas para resolver, temos que procurar uma solução para a homofobia, quando ela nem deveria existir, porque é atrasada demais para esse mundo, para esse tempo.

Homofóbicos sentem medo de gays. Não deveriam. Os gays que eu conheço, são pessoas maravilhosas, com um coração imenso. Pessoas homofóbicas acham que ser gay é ser imoral. Outro erro. Imoral é julgar os outros, é ser preconceituoso, é ser violento com quem discorda de você. O maior erro, o maior pecado da humanidade, que deveria ser rechaçado pela sociedade chama-se intolerância.

Mas as pessoas preferem gastar seu tempo discutindo a intimidade alheia. Além de inútil, isso é estranho. Muito estranho.

Grupo cristão na edição de 2010 da Parada do Orgulho Gay de Chicago, Illinois (EUA), usando camisetas e expondo placas que pedem desculpas a comunidade gay pelo preconceito católico.

Fabio Christofoli escreve todo dia 29.

27 de ago. de 2012

Curiosidade do cinema: Dogma 95.

Sem título

por GuiAndroid
(TwitterTumblr)

Lars Von Trier pode ser considerado um dos mais excêntricos diretores cinematográficos das últimas décadas, por razão de suas criações como Melancolia, onde um planeta se aproxima da Terra para destruí-la, e Dançando no Escuro, onde a cantora Björk agoniza por um corredor em direção ao seu enforcamento, entre muitos outros. Lars se tornou conhecido por criar junto com o cineasta Thomas Vinterberg o Dogma 95, um conjunto de 10 regras para a criação de um filme. Naturalmente não se pode esperar que seja um dogma com requisitos comuns ou clichês, mas bem específicos e exóticos. São eles:

1. As filmagens devem ser feitas no local. Não podem ser usados acessórios ou cenografia (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).
 
2. O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa (a música não poderá ser utilizada a menos que ressoe no local onde se filma a cena).
 
3. A câmera deve ser usada na mão. São consentidos todos os movimentos – ou a imobilidade – devidos aos movimentos do corpo (o filme não deve ser feito onde a câmera está colocada; são as tomadas que devem desenvolver-se onde o filme tem lugar).
 
4. O filme deve ser em cores. Não se aceita nenhuma iluminação especial (se há muito pouca luz, a cena deve ser cortada, ou então, pode-se colocar uma única lâmpada sobre a câmera).
 
5. São proibidos os truques fotográficos e filtros.
 
6. O filme não deve conter nenhuma ação "superficial" (homicídios, armas, etc. não podem ocorrer).
 
7. São vetados os deslocamentos temporais ou geográficos (o filme ocorre na época atual).
 
8. São inaceitáveis os filmes de gênero.
 
9. O filme final deve ser transferido para cópia em 35 mm, padrão, com formato de tela 4:3. Originalmente, o regulamento exigia que o filme deveria ser filmado em 35 mm, mas a regra foi abrandada para permitir a realização de produções de baixo orçamento.
 
10. O nome do diretor não deve figurar nos créditos.

 

O Dogma possui uma lista de 77 filmes reconhecidos (até 2005) com o certificado de castidade que é dado a película de acordo com a prévia avaliação da entidade que o gerencia. O Dogma #1 se chama Festen e é de Vinterberg, o segundo é Idioterne de Lars Von Trier sendo seu único filme que segue as tais regras, ambos aclamadíssimos pela crítica. O último filme a ser classificado de acordo com os padrões do Dogma é o brasileiro Velório em Família, dirigido por Rosario Boyer.

GuiAndroid escreve todo dia 11 e 28.

50 anos sem Marilyn Monroe (e três de O Anagrama).

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por Gabis Paganotto
(TwitterTumblr)

Marilyn Monroe. O que lhe vem a cabeça quando esse nome lhe é dito?

Aposto que cabelos curtos e encaracolados, loiríssimos. Um corpo escultural, e raro hoje em dia.

E acima de tudo Channel Nº5. São essas as primeiras coisas que esse nome lhes remete.

E é sobre isso que vamos falar. Aliás, sobre isso não, sobre ELA, a mulher, o ícone da moda e do cinema, e, acima de tudo, a inspiração e orgulho da mulher moderna: Marilyn Monroe.

Esse mês comemora-se (se é que é possível comemorar uma perda tão precoce e lastimável para o mundo) 50 anos de sua morte. Mas tenho certeza que a pequena notável Norma Jeane – nome real de Marilyn – não é apenas lembrada nessa data. Seria impossível.

Norma Jeane nasceu dia 1 de Junho de 1926, e apenas mudou de nome quando decidiu definitivamente seguir na carreira artistica. A mudança de nome permitiu que a iconoclasta escondesse boa parte de seu passado difícil. Filha de mãe solteira, Marylin ficou órfã muito cedo,

pois sua mãe sofria de esquizofrenia, e logo foi parar em um orfanato onde seus primeiros instintos artísticos já apareceram. Mais tardem Jeane foi morar com parentes, e já adulta decidiu definitivamente seguir a carreira artística. Aí, adotou o nome que mais tarde se tornaria inesquecível: Marilyn Monroe.

Logo no inicio da carreira, pela beleza estonteante, conseguiu papéis não muito grandes em produções igualmente pequenas. Sua atuação não era lá muito elogiada pela critica – o que fez Marilyn tempos depois trabalhar duro sempre na área da atuação. Seu surgimento real como ícone se deu inicio após o ano de 1949, quando, por fazer um anúncio de cervejas – coisa raríssima para a época, uma mulher em uma propaganda volta para homens –, chamou a atenção de uma empresa que fazia calendários e foi chamada para ser fotografada nua (por Tom Kelley).

Aceitou. Algum tempo depois era lançada por Hugh Hefner a primeira Playboy, e na primeira edição – graças a compra de uma das foto clicadas para o calendário – não poderia ser dada a ninguém além de nossa Marylin Monroe. E não preciso dizer mais nada, preciso? Nascia ali uma mulher ousada, a frente de seu tempo, que lançou o bordão “os diamantes são os melhores amigos da mulher” em Os homens preferem as loiras de Howard Hawks. Que eternizou o perfume Channel Nº5. Que utilizou pela primeira vez no mundo o biquine de duas partes - mesmo que a parte de baixo fosse até o umbigo –, um ultraje para a época. Marylin tem tudo a ver com moda, ela é a única mulher no mundo que caberia dentro de uma garrafa de coca dos anos 20, moldando-a perfeitamente.

Marylin exalava sexualidade, era a inspiração das mulheres que já não aceitavam mais a submissão, ou aquelas que queriam ser glamourosas. Embora Marylin não tenha ficado glamourosa e sim tenha nascido assim. Foi musa de todos os homens da época, entre eles, seu affair mais famoso, John Kennedy – que por confusões foi um dos maiores motivos da entrada de cabeça da diva na depressão – e o breve namoro com Frank Sinatra. Marylin é uma ERA, que nenhuma outra mulher através dos séculos conseguiu ou conseguirá ser. Brigitte Bardot, Elizabeth Taylor, nem aos pés de Marylin chegaram... Nenhuma uma outra mulher desse mundo terá a capacidade de tornar “Parabéns pra Você” sexy. Ou tornar uma cena, como a famosa cena das saias ao vento de Marilyn do filme O pecado mora ao lado, de Billy Wilder,eternizada no cinema mesmo que a critica não tenha aplaudido de pé sua performance.

Marylin é a mãe do estilo LadyLike (copiado por lindas mulheres como Dita Von Teese e Amy Winehouse), e é a personificação do Nunca fui santa, filme que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz.

Marylin é o exemplo das mulheres modernas, que só são modernas pelos passos gigantes que essa pequena notável deu. Mesmo que tenha sido por tão pouco tempo. Aos 36 anos Marylin foi encontrada morta ao lado de remédios.

Ela pode não ter sido a melhor atriz, a melhor humorista, ou a mulher mais forte do mundo. Mas Marylin com certeza foi a grande pequena mulher, menina dos olhos de gerações passadas a nossa e de absolutamente todas as gerações futuras.

Hoje, O Anagrama faz três anos. Desde 27 de Agosto de 2009, quando este que vos fala decidiu juntar cinema, música e ficção em um lugar só, muita coisa mudou por aqui. A moda entrou na roda através da primeira colunista do blog, a mesma Gabis Paganotto que falou tão bem da eterna Marilyn Monroe ali em cima. Política, opinião, literatura, fotografia, arte, internet e mais colunas foram agregadas ao nosso espaço, e após uma reformulação em Abril último, ganhamos posts mais informativos. O Anagrama passou a fazer jornalismo. E, nesse espírito, é cada vez mais feito para você, leitor.

Hoje, temos uma equipe de 16 pessoas, entre colunistas e colaboradores. É imprescindível agradecer a todos e a cada um deles por construir um site cada vez melhor para quem lê (site, sim, viramos oanagrama.com alguns dias atrás!). E que venham mais muitos anos por aí.

Obrigado a colunistas, colaboradores e leitores, MUITO OBRIGADO,
Caio Coletti

26 de ago. de 2012

Top 05 “beijei uma garota, mas você não precisa ver isso no meu clipe”.

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

O que não falta no mundo pop é música com temática gay. Só o Scissor Sisters bastaria para saciar o público todo, mas não: esse ano, tivemos pelo menos dois videoclipes absurdamente gays, vindos de Madonna ("Girl Gone Wild") e Little Boots ("Every Night I Say a Prayer"), isso para citar só dois exemplos mais gritantes. A questão aqui, no entanto, é: e as moças? Tirando o Elektra e o seu "Don't Do Boys", elas são notavelmente negligenciadas. O voyeurismo masculino (hétero) ama ver duas garotas juntas, e o lesbian chic é uma tendência um tanto quanto passada, mas elas também tem que ter voz!

Nem todas precisam gritar para o mundo como Katy Perry fez na brilhante "I Kissed a Girl", nem matar os namorados e fugir para o México como Lady Gaga e Beyoncé no sutil (só que não muito) "Telephone". Assim, segue aí embaixo 05 clipes pseudo-lésbicos para você, amiga aventureira (ou amigo de mente aberta! ou hétero voyeur!) se divertir:

1ª posição – “Me Against The Music” (Britney Spears feat. Madonna)

Eu não vou falar do beijo, eu não vou vou falar do beijo, eu não vou falar do beijo… Ok, vamos falar do beijo. Dez anos antes de ser passado na música pop (um passado muito talentoso e ainda produzindo boa música, mas passado), Madonna iniciou a até então semi-Lolita-semi-ingenue Britney Spears no mundo do lesbianismo pop. O resultado, além do beijo já mencionado no VMA 2003, foi “Me Against The Music”, lead single do quarto álbum da moça, In The Zone. E um dos melhores (e mais sexy) clipes pop da história.

2ª posição – “Sumertime Sadness” (Lana Del Rey)

Essa nossa segunda posição criou todo um novo subgênero: o “lesbian deprê”, como eu gosto de chamá-lo (outro lindo exemplo é "My Kind of Love", da escocesa Emeli Sandé). Com sua constante obsessão pela ligação entre o amor e a morte, Lana Del Rey, a revelação pop do ano, teve seu caso de amor feminino no vídeo co-protagonizado por Jaime King (você deve conhecê-la de Sin City), que serviu como quarto single promocional do Born to Die. Em se tratando de Lana, a história, é claro, termina em tragédia.

3ª posição – “Te Amo” (Rihanna)

Em 2010, quando o lesbian chic estava no auge de sua fama século XXI, Rihanna, esperta que é, fez de “Te Amo” um improvável e brilhante single. A canção escrita e produzida pelo duo Stargate, com o seu ritmo latino e seus sintetizadores suaves e marcantes, ganhou superlativo videoclipe dirigido por Anthony Mandler (“Roussian Roulette”), e co-estrelado pela supermodelo Laetitia Casta, que mais tarde interpretaria Brigitte Bardot na biografia Gainsbourg. O rala e rola da vez ganhou tons sado-masoquistas, é claro.

4ª posição – “All The Things She Said” (t.A.T.u.)

Decepção de toda uma geração: descobrir que as moças do t.A.T.u. não eram lésbicas de verdade, embora Yulia Volkova e Lena Katina nunca terem afirmado estarem em um relacionamento amoroso. Lena, inclusive, disse: “Nós não fingimos ser lésbicas – nós nunca dissemos que somos. Yulia teve um bebê e tem uma namorada, e nós sempre tivemos outros namorados. Temos uma ligação especial”. Mas ouse tentar tirar as imagens de “All The Things She Said”, primeiro single do grupo, de 2002, do inconsciente coletivo.

5ª posição – “Laura” (Bat For Lashes)

A britânica Natasha Khan, mais conhecida pelo nome artístico Bat For Lashes, é mais discreta que as suas companheiras de lista, mas não engana ninguém. Ainda que o clipe não tenha uma parceira para a moça, o refrão vai mais ou menos assim: “Você é o trem que explodiu meu coração/ Você é o brilho na escuridão/ Oh Laura, você é mais que uma superstar”. Só tais versos valem a presença na lista, mas ainda trata-se de uma belíssima balada, com um clipe teatralmente tocante. Então sem discussões.

Debate: Feminismo e exposição do corpo como forma de protesto.

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por Luciana Lima
(Blog pessoal)

As ativistas alegam que ao mostrarem os seios estão dizendo aos homens que elas controlam a própria nudez, fato esse que gerou controvérsias e comentários de que isso seria apenas uma forma a mais de alimentar um mídia sexista. Entretanto, uma coisa é certa: o seio da mulher foi visto durante anos como símbolo de sexualidade, feminilidade e maternidade, tendo sido considerados por muitos até como algo sagrado. Elas estão pegando algo que sempre foi o ícone de mercantilização e exploração feminina e dando um outro sentido, de revolta e de emancipação.Até mesmo para a fundadora da principal revista feminista alemã Alice Schwarzer o movimento têm seu mérito: “O seio nu, que normalmente as transformaria em objeto, se tornou uma arma para elas. Elas o utilizam para chamar a atenção e enviar sua mensagem para os homens, o protesto delas contra a exposição das mulheres! Contra a prostituição! Contra o tráfico de mulheres! Eu acho isso uma coisa boa.”, escreveu Alice.

No Brasil, a cada 5 minutos uma mulher é espancada. A mídia faz de nós objetos que muitas vezes estão á bel-prazer dos homens, vide o comercial sexista da Nova Schin que causou burburinho nas redes sociais. O Estado ainda julga que sociedade tem direito de decidir sob a autonomia de nossos corpos, enfim, tudo isso compõe um quadro que nos mostra que a luta contra a mercantilização do corpo da mulher ainda está longe de acabar. Isso sem contar os eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas que estão se anunciando e que podem acabar se tornando um grande mercado de pessoas a céu aberto, o que reforçaria uma imagem das brasileiras, que no exterior é muitas vezes ligada á exploração e ao tráfico sexual.

O Neo-Feminismo, assim como o antigo feminismo, têm que ser usado como meio de discutir essa série de questões que muitas vezes se encontram abafadas pelo conservadorismo social e midiático. No mínimo, chamar a atenção pra nós mulheres e para os nossos problemas é um alvo que a Femen vêm acertando, e muito bem

CONTRAPONTO
por iJunior
(TwitterTumblr)

Que o feminismo existe todo mundo sabe, e que ele trouxe muito para diversas mulheres de todos os lugares do mundo também, ainda mais em dias atuais onde até homens têm se dedicado às causas feministas (podemos ver como exemplo que uma boa quantidade de homens participaram da Marcha das Vadias desse ano) mostrando o quanto elas merecem seu espaço igualitariamente. Porém, em minha opinião, em alguns casos o feminismo extrapola um pouco em diversas questões. Conseguir seus direitos, manisfestar-se ou protestar é um direito de todos (pelo menos uma forma de tentar conseguir algo) mas a forma mais racional sempre deveria ser levada como primeira opção. Mostrar os seios como no caso da Banda Pussy Riot é algo que, pra mim, foge de diversos conceitos de como conseguir o que quer. A exposição do corpo nunca deveria ser  forma de protesto, pois se alguém quer mostrar que pode ser mais do que uma sociedade preconceituosa e moralista diz ser pode usar de meios mais racionais e menos imorais para isso. Inteligência e serenidade sempre são grandes armas, é como comparar alguém que grita e destrói tudo para conseguir algo com a pessoa que ouve sentada, só esperando o momento certo pra conversar e expor o que pensa, por mais que saiba bem que será dificil lidar com quem ouve. Eu posso até estar usando conceitos morais para avaliar o caso, mas na nossa sociedade é quase impossível quebrar a moral bruscamente, é como ir da água pro vinho e achar que ninguém vai notar. Quando sabemos que o meio não nos ouvirá, devemos pensar em qual é a melhor forma de se comunicar com ele.

E vocês, leitores, o que acham sobre a exposição do corpo como forma de protesto? Dêem sua opinião, deixem um comentário! O Anagrama quer ouvir vocês.

Femen: A nova forma de fazer feminismo.

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por Luciana Lima
(Blog pessoal)

Criado em 2008 por três estudantes em Kiev na Ucrânia, o Femen é um grupo de ativistas feministas, que fazem parte de uma nova corrente denominada neo-feminismo. Essa corrente têm como principal característica a utilização do corpo da mulher como forma de protesto e luta contra, entre outras coisas, qualquer forma de patriarcado e exploração feminina. Sara Winter, 20 anos, é a primeira brasileira a fazer parte do movimento, que ganhou adeptas do mundo inteiro, e é a responsável por trazê-lo ao Brasil.

A Ucrânia, assim como o Brasil, possui altos índices de turismo sexual e os atos da Femen tiveram especial repercussão durante a Eurocopa, onde as mulheres eram um atrativo á parte do futebol. Assim como as brasileiras, as mulheres ucranianas têm a fama de serem bonitas, pobres e fáceis, com isso o processo de mercantilização do corpo da mulher que ocorre por lá é bastante análogo ao que vemos acontecer por aqui.

Sara Winter é uma jovem estudante de cinema, que até outrora morava em São Carlos com os pais e levava uma vida comum. Porém, em outubro do ano passado, conheceu por meio de noticiários da internet o Femen, e passou a trocar emails com as ativistas ucranianas. Em junho desse ano foi convidada para viajar até a Ucrânia e participar de alguns atos. Na estadia por lá aprendeu como organizar os protestos, tendo inclusive sido presa por duas vezes.

Após o retorno Sara montou a sede do movimento em São Paulo, e por dia recebe mais de 100 emails de interessadas em fazer parte do grupo. Hoje, ela e a outra integrante do movimento, Bruna Themis, 21, se desdobram entre entrevistas, divulgação e seleção de candidatas. O critério de seleção não exige nenhum padrão de beleza pré-estabelecido e consiste em três etapas no qual a futura ativista tem que provar que tem o peito aberto: 1°) ser entrevistada pessoalmente pelo grupo; 2°) postar uma foto com os seios à mostra em rede social na internet; 3°) realizar um protesto na rua sozinha (monoprotest) de topless.Para gerar receita e manter o movimento as duas criaram uma loja virtual para vender produtos com o logo do coletivo e pedir doações.

O primeiro ato da Femen no Brasil ocorreu na famosa Avenida Paulista, no domingo 29 de Julho. No dia, Winter e Bruna protestavam contra a decisão do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) que proibia a participação de médicos obstetras e a presença das doulas (“parteiras”) em partos residenciais. Elas estão planejando outro ato na quarta-feira, 15, em frente ao consulado da Rússia em defesa da liberdade das integrantes do Pussy Riot, grupo punk feminista que está sendo julgado por fazer um protesto dentro da principal Catedral Ortodoxa Russa, sua pena podendo chegar até 7 anos de prisão.

Luciana Lima escreve todo dia 26.

25 de ago. de 2012

AV #11: As novidades que não podem passar em branco.

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“Oh Love” é o primeiro single de ¡Uno!, álbum do Green Day que tem data de lançamento marcada para 25 de Setembro. O som característico da banda, articulado brilhantemente nessa canção com uma pitada de groove da música negra americana, é complementado por um ambiente sexy e fashion que poucos esperariam de Billie Joe e companhia. ¡Uno! é o primeiro de uma trilogia que a banda planeja completar até o começo de 2013. ¡Dos! está marcado para 13 de Novembro, e ¡Tré! para 15 de Janeiro.

“New Day”, que está disponível desde final de Junho, ganhou videoclipe (ainda que um tanto preguiçoso) para se configurar definitivamente como o primeiro single do próximo álbum da cantora, compositora, produtora e multiinstrumentista americana Alicia Keys. A quinta gravação de estúdio da moça chega três anos depois do belíssimo The Element of Freedom, e é intitulada Girl on Fire, ainda sem data de lançamento. Alicia diz: “Me sentia como um leão enjaulado antes de fazer esse álbum, e agora me libertei”.

Quase cinco meses depois de “Young Homie”, a canção original que praticamente carregou Chris Rene até a final do X Factor americano (vocalmente, era evidente que Rene não se apresentava como páreo para Melanie Amaro e Josh Kracjik), o californiano faz de “Trouble” seu segundo single. A canção, com tema mais leve e uma abordagem mais direta à boa voz de Rene, precede um álbum de inéditas do cantor e compositor, intitulado Strength, que ainda não tem data para lançamento.

Álbum do momento:

The Midsummer Station (Owl City)

“Ela é uma loira explosiva, conectada para detonar. Eu sou James Bond, vivendo para morrer algum outro dia”. Nem eu, nem você, nem ninguém, esperava ouvir algo assim saindo da voz notavelmente grudenta de Adam Young, conhecido sob o pseudônimo de Owl City (lembra de "Fireflies"?). Mas é o que ele canta em "Bombshell Blonde", faixa-bônus do quarto álbum de estúdio do City, intitulado The Midsummer Station, lançado no último dia 17. Ele está mais pop e mais antêmico (sim, isso é surpreendentemente possível) nessa nova aventura de estúdio, trabalhando com o duo de produção StarGate (“Only Girl (In The World)”) na gigantesca e ótima  "Shooting Star", adiciona guitarras a sua receita musical – vide "Dementia", duo com Mark Hoppus do Blink 182 – e se arrisca até numa baladinha piano-e-voz (ou quase isso), tendo como resultado a linda "Silhouette".

Próximos lançamentos:

◘ 04 de Setembro – Motel (Banda UÓ) – Ouça: "Faz UÓ".

Notas de rodapé:

◘ Nelly Furtado liberou mais uma canção do seu vindouro álbum de estúdio, The Spirit Indestructible, marcado para 18 de Setembro: "Parking Lot".

◘ Emeli Sandé liberou versão de estúdio para sua rendição de "Imagine" de John Lennon, que a escocesa performou no encerramento das Olimpíadas de Londres.

◘ A série de performances acústicas de John Mayer das músicas de seu último álbum, Born and Raised, continua: depois dos singles "Queen of California" e "Shadow Days" teve também "Speak For Me" e agora é a vez de "Something Like Olivia".

◘ O Maroon 5 foi ao programa de David Letterman, e a performance já está completa no canal do YouTube da banda. Teve as novas "Payphone" e "One More Night", que fizeram companhia para os hits clássicos da banda: "This Love", "Sunday Morning", "She Will Be Loved", "Harder to Breathe", "Makes Me Wonder", "If I Never See Your Face Again”, "Misery" e "Moves Like Jagger".

24 de ago. de 2012

Ex-integrante da banda Fresno lança CD solo.

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por Gabryel Previtale
(TwitterTumblr)

Rodrigo Tavares, ou “Esteban”, como é conhecido no seu projeto solo, é ex-baixista da banda de rock gaúcha Fresno e recentemente lançou seu disco chamado ¡ADIÓS, ESTEBAN!. Embora ele tenha produzido as faixas do disco desde 2007, o trabalho se desenvolveu até agora, ocorrendo muitas mudanças nas faixas, nos arranjos e etc. Apesar de muita espera dos fãs para o álbum, diferente do comum, todas as faixas já eram conhecidas (por demo, obviamente), mas o cd em si não contém nenhuma novidade se não os arranjos finais das canções, que por si só já eram de conhecimento de todos os que acompanharam o projeto. A tiragem de pré-venda foi esgotada nas primeiras horas e juntamente com o lançamento do disco também foi confirmada uma turnê de divulgação que contém cidades como São Paulo, Rio de janeiro, Porto Alegre, Vitória e outras.

Tavares que já tinha uma banda alternativa chamada Abril, e se desvencilhou da mesma para dar foco ao seu projeto, que já realizou inúmeros shows pelo Brasil, muito deles no Hangar, em São Paulo, a partir de 2010.

O álbum no geral é muito bom, repleto de letras românticas ou de desamor, como o autor do trabalho mesmo disse: “...as canções fazem parte de um momento da minha vida que passei e quero contar..”. Ao contrário do que muitos pensam, as músicas não seguem a linha rock como as da banda Fresno, muito pelo contrário, tem até um toque de bossa nova em “Muito Além do Sofá", que por sinal foi uma das músicas mais diferentes de Esteban e está encaixada no enredo do novo CD, que contém até um poema declamado por Caroline (amiga do cantor). O teclado é com certeza a arma secreta, está presente na maioria das músicas, marcada por “Canal 12”, onde o teclado se une com a voz de Rodrigo, e acaba resultando em uma ótima faixa. Em suma, as canções estão linearmente na condição mais “deprê”, não tem nenhuma bem animada, e há presença de saxofone até para compor arranjos para dar um ar mais de “jazz e blues”. Destaque para a guitarra em “Sinto Muito Blues", que possui também uma das melhores letras de todo o CD, porém o vocal deixou a desejar, as demos (ou os lives) ficaram mais potentes em questão de voz, ao contrario de “Muda", em que Tavares consegue levar a música em um tom muito bom e firme na voz. A faixa “(Eu Sei) Você Esqueceu” traz consigo muitas influências do artista e traz também o acordeom, que é uma referência gaúcha e consegue alcançar uma sequência harmônica muito boa. Rodrigo comentou que música pop ele já fazia na Fresno, e que neste trabalho solo ele queria algo sincero e criar um conceito romântico que havia vivido, por isso escolheu a dedo quais faixas se encaixavam melhor.

O cantor já está trabalhando no segundo disco e disse que dessa vez não irá vazar nenhuma demo, e quer surpreender os fãs com um cd totalmente “fresco”.

O disco pode ser baixado no próprio site do Esteban, onde tem também a agenda da turnê de lançamento e a possibilidade de comprar o álbum.

B.o.B e Nicki Minaj vão te deixar louco (literalmente) em “Out of My Mind”.

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

“Out of My Mind”, quarto single pescado do Strange Clouds, segundo álbum de estúdio de B.o.B., ganhou clipe. A parceria com Nicki Minaj é a nova tentativa do rapper americano de cravar algo tão marcante quanto “Airplanes” (que a convidada especial cita, espertamente, em seu verso) para a nova aventura de estúdio. O mais perto que chegou disso, até agora, foi o modesto sucesso de "Both of Us", com participação de Taylor Swift.

O vídeo, divulgado ontem (dia 23), coloca o rapper como paciente de um manicômio, hora preso por uma camisa de força, ora amarrado a uma cadeira de rodas, ora usando uma máscara à la Hannibal Lecter. Minaj aparece como uma doutura que se mostra tão pouco equilibrada quanto o seu paciente, lhe “presenteando” com uma lap dance ao estilo “Super Bass”. O clipe é dirigido por Benny Boom, que trabalhou com Nicki em "Beez in The Trap".

A canção, por sua vez, tem produção de Dr. Luke (envolvido também em “Both of Us” e em boa parte do disco do rapper) e Billboard (não a revista, o cara que co-escreveu “Cannibal", da Ke$ha).

23 de ago. de 2012

Sobre… – Arte pop e o “elemento de crime”.

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

No Tumblr que usou por um curto período de tempo (este, para quem não conhece), Lady Gaga postou certa vez uma foto encabeçando a seguinte citação, presumidamente de autoria própria: “Na moda, você sabe que foi bem-sucedido quando há um elemento de inesperado. No pop, você sabe que foi bem-sucedido quando há um elemento de crime”. Trata-se de uma premissa interessante para se pensar, especialmente vinda de quem mais compreende, hoje em dia, a essência da arte pop.

Não é preciso radicalizar, para começo de conversa. Quando uma obra pop vem ao mundo, está destinada a superexposição midiática e social, e há muito mais coisas que a nossa sociedade qualifica como “crime” do que parece, a primeira vista. Sexo, por exemplo. Não é brincadeira. Mesmo 20 anos depois do Erotica, falar abertamente de sexo e, especialmente, com insinuações sadomasoquistas, ainda é um tabu. Ou há algum outro motivo (não-musical) para "S&M" existir?

O “elemento de crime” consiste em nada mais do que sutilmente explorar o que o âmbito social considera (aberta ou implicitamente) como ilícito. Não é preciso, sempre, atirar a trangressão na cara do público, embora isso também funcione muito bem, obrigado – que o diga a própria Gaga e seu brilhantemente polêmico "Alejandro", que lida com religião e homossexualidade em 8 minutos fabulosos. E não venham me dizer que não há elemento de crime nenhum aí: falar sem amarras de religião ainda é garantia de comprar briga com aqueles que querem que os princípios da sua sejam a lei universal, e a cultura de massa, por incrível que pareça, ainda não absorveu a homossexualidade (a “música gay” continua sendo, mesmo que cada vez menos, um nicho restrito e pouco pensado no mainstream).

Mas por quê toda essa discussão, afinal? Explico: este que vos fala foi recentemente ao cinema assistir Katy Perry: Part of Me, o filme que documenta a carreira da cantora e compositora americana e registra shows de sua turnê, California Dreams Tour. Vamos a alguns fatos: eu não sou o maior fã de Katy Perry que você vai encontrar por aí, e eu saí da sessão de Part of Me respeitando muito mais a moça como artista do que quando entrei.

Para começar, ela compõe. E não compõe mal. Em depoimento no filme, a própria Adele reconhece os feitos compositivos de Katy, e de fato é raro o faro que a cantora tem para refrões grudentos e potenciais hits, sem perder a pegada Alanis Morissette que, segundo a própria Katy conta, foi a inspiração inicial para sua carreira musical. Além de compor, apesar das críticas, a americana sabe cantar. Não brilhantemente, mas só lhe falta voz, mesmo, quando é para cantar “Firework”. Mas são poucas as vozes que não faltam quando o assunto é essa canção.

Por fim, o “elemento de crime” aparece algumas vezes no decorrer de Part of Me. Especialmente durante  "Who Am I Living For?" (o link é para a música, uma vez que a performance do filme não está disponível no YouTube), vestida de preto e amarrada a cordas manipuladas por seus dançarinos. Katy insinua o bondage, técnica do universo do sado-masoquismo, ao mesmo tempo em que casa a performance com a letra. “Eu posso sentir uma fênix dentro de mim enquanto marcho sozinha ao som de outra batida”, ela canta, introduzindo mais conflito e tabu ao se mostrar presa pelas expectativas da sociedade, amarrada no jogo sádico da indústria.

E, claro, há "I Kissed a Girl", definitivamente uma das melhores canções pop do nosso século até agora. Katy entra numa vibe Madonna na performance, se arrastando e jogando cabelo pelo palco, enquanto canta que “beijou uma garota e gostou”. Para uma garota católica que gravou um álbum de gospel, há elemento de crime maior que esse? Considere-se, ao menos uma vez, cara Katy, extremamente bem-sucedida.

21 de ago. de 2012

A importância dos vídeos para o mundo da moda.

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por Isabela Bez
(TwitterTumblr)

Pense nas maiores marcas internacionais de hoje. Prada, Gucci, Burberry, Dolce & Gabbana… Os desfiles, principalmente os de alta-costura, são criados para encantar o público, desde o mínimo detalhe de um vestido até os passos perfeitos das modelos.

Ainda assim, o público não consegue capturar a mesma emoção de quem está lá acompanhando tudo ao vivo. Mas, nos vídeos-campanha, é possível que todos tenham a mesma visão e emoção.

Com a modelo certa, o look certo, a trilha sonora certa e o diretor certo, algumas marcas conseguem fazer vídeos de uma certa coleção virarem icônicos.

Mas não pense que é só alta-costura. Os vídeos mais exuberantes do mundo da moda são para perfumes.

Junte Dior, Daphne Groeneveld, Saint Tropez e o ritmo dançante de “I Love You, Ono”. Pronto. Com mais de dez milhões de visualizações, você terá um dos vídeos mais bacanas de agora. Quanto maior a modelo, maior a marca e mais divertido o vídeo, melhor.

Voltando para as roupas, mas com a mesma fórmula (marca grande + modelo grande + ritmo legal + diversão), uma campanha da Juicy Couture quentíssima com nada menos que Karlie Kloss, uma das maiores modelos atuais.

Graças à nossa tecnologia, as marcas conseguem atingir um público maior, com suas modelos ícones e roupas de matar. A moda se tornou mais divertida e ainda mais visual.

Algumas marcas como a Prada resolveram lançar um vídeo a cada nova coleção. E, com um público diferente e mais maduro, a campanha destaca as roupas, com menos ação e modelos menos conhecidas. O que não deixa de ser magnífico.

As marcas estão aderindo a essa nova mania cada vez mais, e os vídeos viraram passarelas decoradas de acordo com o mundo de cada grife, junto com os carões das incríveis modelos.

Isabela Bez escreve dia 06 e dia 21.

20 de ago. de 2012

(Review) O Cavaleiro das Trevas Ressurge para o fim do melhor Batman do cinema.

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Batman Begins é o filme responsável pelos heróis do cinema não serem mais tão heróis quanto um dia já foram. O filme de Christopher Nolan chegou aos cinemas em 2005 com a missão simples de resgatar o status de um dos super-heróis mais populares do cinema anos o bastante depois do desastre Batman & Robin de Joel Schumacher, mas saiu deles tendo revolucionado a forma como o público e, portanto, Hollywood (que nada faz além de seguir a demanda de sua audiência), encaravam os justiceiros mascarados.

O Bruce Wayne de Christian Bale, em atuação definidora do personagem, não é apenas um bilionário atormentado pela lembrança do assassinato de seus pais. Ele sente prazer em ouvir os ossos quebrando. Ele faz do próprio medo uma arma para causar medo. No contexto da polícia absurdamente suja que Nolan montou em sua Gotham, Batman é tão fora-da-lei quanto àqueles que ele caça.

O Cavaleiro das Trevas, de 2008, é o filme que melhor e mais brilhantemente define isso. Rigorosamente, a marca que a sequencia de Nolan deixa, com todos os jogos psicóticos do Coringa sobrenatural de Heath Ledger, é que Batman não é nem mesmo um herói. Ou será que é? Quatro anos depois de sermos deixados no monólogo arrepiante do final do melhor filme de 2008 (ouse discordar), O Cavaleiro das Trevas Ressurge parece querer nos mostrar que da imperfeição, da conturbação, pode também surgir um herói.

No contexto de uma trilogia, então, Begins é sobre o medo, Cavaleiro é sobre o caos, e esse Ressurge é sobre esperança. E sobre como ela pode vir de qualquer lugar. O roteiro dos irmãos Jonathan e Christopher Nolan é absolutamente magistral na missão de articular essa mensagem com os outros numerosos elementos que inclui em sua trama. O simulacro da Revolução Francesa que toma conta de certa parte da narrativa, quando o vilão da vez, Bane (Tom Hardy), alcança parte de seus objetivos, a tocante relação entre Bruce e Alfred (Michael Caine, acima de quaisquer adjetivos), a sutil jornada de Selina Kyle (Anne Hathaway, em surpreendente equilibrio de acidez e doçura), tudo é ajustado em um roteiro que segue a tradição de Nolan: não tem medo da complexidade, mas não se perde em meio a ela nem sente a necessidade de mastigá-la para seu espectador.

Claro, o diretor só mexe em vespeiros como esse porque sabe que tem o controle narrativo, atrás das câmeras, para fazer o espectador sair ileso e impressionado de seu filme. Ele fez um filme de trás para frente (literalmente) em Amnésia, performou um truque de mágica em forma de cinema em O Grande Truque, e satisfatoriamente nos levou para dentro e para fora de multiplos sonhos dentro de outros sonhos em A Origem. Está mais do que na hora de reconhecer Nolan como um gênio contemporâneo da narrativa cinematográfica. Não existe, hoje, contador de histórias mais destemido, dedicado e habilidoso do que ele no mundo do cinema.

O Cavaleiro das Trevas Ressurge é inteligente o bastante para deixar gancho para uma continuação que pode, na verdade, nem mesmo ser interpretado assim. Um ciclo se fecha quando sobem os créditos, e é possível sentir o cheiro de uma história que foi finalizada sem deixar nenhuma ponta solta. E uma história que não passou incólume. Nolan trouxe para o gênero dos filmes de super-heróis não só a libertação de amarras e limites, como também a quebra do estigma de que eles precisam ser inócuos. O Batman de Nolan não vai te deixar sair dele do mesmo jeito que você entrou, e não é só um bom filme sobre um justiceiro de capa e máscara. Vai te tocar, te fazer pensar e talvez até te fazer perceber algumas coisas que você não percebia no mundo ao seu redor. É cinema de primeira linha.

***** (5/5)

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA/UK, 2012)
Direção: Christopher Nolan.
Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan.
Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine.
165 minutos.

In Memoriam: Tony Scott (21/06/1944-19/08/2012)

19 de ago. de 2012

A Geração Beat.

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por Andreas Lieber
(Tumblr)

Decidi estrear esta coluna com um dos movimentos literários modernos mais expressivos e com o qual todos nós já nos identificamos pelo menos uma vez na vida: a geração Beat. Quem nunca sentiu uma grande aversão pela enorme pressão que a sociedade exerce sobre nossos ombros e quis arrumar uma mochila e cair no mundo? Os Beatles com certeza sim e até nomearam sua banda em decorrência do movimento. Janis Joplin, Bob Dylan e Pink Floyd também encontraram inspiração nessa onda de antimaterialismo e, mais recentemente, vários cantores usam temáticas beat em suas músicas, como a adorável “I’ll Hold My Breath”, de Ellie Goulding (igualmente adorável). Na Literatura, que é o que mais nos interessa, ele alcançou um status de frenesi social e revolucionou a maneira de escrever, encontrando nas figuras de Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William S. Burroughs, Neal Cassady e Gregory Corso seus principais representantes.

“Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela
    loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
    em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo
    contato celestial com o dínamo estrelado da
    maquinaria da noite (...)”

Assim começa “Howl” (Uivo, no português), poema de Allen Ginsberg (na foto) que faz parte de seu livro Howl and other poems (Uivo e outros poemas), que é considerado uma das obras mais significativas da geração Beat. Tendo início em meados dos anos 1950 e encontrando seu ápice nos 1960, quando eclodiu no movimento Hippie, essa trend cultural encontra suas raízes em uma corrente bem mais antiga, o Existencialismo de Sartre, com sua visão de contracultura.

Tendo começado oficialmente, na Literatura, em 1944, o termo beat surgiu de John Clellon Holmes – autor do manifesto This is the Beat Generation, publicado no The New York Times em 1952 –, introduzido para o grupo de intelectuais por Herbert Huncke e rebatizado por Jack Kerouac, denotava antes o submundo dos vigaristas, toxico-dependentes e marginais. Para Kerouac, no entanto, esse termo conotava uma transcendência espiritual e uma ideia de realização, de encontro.

Vivendo em uma sociedade americana pós-guerra extremamente positivista e consumista, esses artistas encontraram no pessimismo, na liberdade de expressão e no engajamento político, um escape para os seus ideários e uma forma de contestação social. Em 1958, em artigo para o San Francisco Chronicle, o jornalista Herb Caen lançou a palavra beatnik (junção de beat com Sputnik, satélite russo). Controversa até hoje, tal expressão foi utilizada para se referir aos participantes da geração Beat de forma pejorativa e estereotipá-los como antiamericanos.

Influenciados por esse contexto social e por suas visões próprias de mundo, baseadas no nomadismo, drogas, álcool, sexo e liberdade de expressão, esses escritores têm em comum certas características na escrita, como por exemplo, a intensidade literária, a não preocupação com o fluxo da narração, a escrita caótica e uma linguagem informal. Dentro dessa corrente temos alguns livros que fizeram história:

On the Road, de Jack Kerouac retrata a viagem de carro de dois amigos, Sal Paradise e Dean Moriarty, pelo território americano. Repleto do ideal de liberdade, o livro é um verdadeiro grito interno do autor, que o escreveu apenas em três semanas ajudado pelo café e por anfetaminas. Dono de uma narração alucinante e frenética, ele transforma uma simples roadtrip em uma busca pela liberdade espiritual e corporal de suas personagens, acabando por transformar a nós, leitores, também. Em 2012, o livro foi adaptado ao cinema com roteiro de Jose Rivera e direção do brasileiro Walter Salles (na foto, os protagonistas).

Naked Lunch (Almoço Nu, no português), de William S. Burroughs é talvez um dos livros mais complicados de serem explicados. Usando uma narrativa completamente não linear, o autor nos transporta para várias situações vividas por Willian Lee, seu alter ego. Começando com a personagem fugindo da polícia nos Estados Unidos, de repente somos levados para o México, depois para certo tipo de limbo islâmico, passando por pontos de venda de heroína e estadas em hospitais. Ao longo da história, percebe-se que mais do que uma narração fragmentada, o livro esmiúça a vida da personagem de uma forma perturbada e arrebatadora, totalmente agonizante e crua, contendo, também, princípios confessionais. Foi adaptado ao cinema em 1991 com roteiro e direção de David Cronenberg, recebendo o infeliz título de Mistérios e Paixões no Brasil.

Into the Wild (Na Natureza Selvagem, no português), de Jon Krakauer é um exemplo de literatura não ficcional mais recente - publicado em 1996 -, que contem características do movimento Beat. O livro narra a história verídica de Christopher McCandles, um jovem que após graduar-se, doou todo o seu dinheiro para a caridade e jogou-se em uma viagem rumo ao Alasca. Baseado em um diário encontrado junto ao corpo do viajante, em 1992, Krakauer pode reproduzir a história de sua peregrinação e os encontros com pessoas, das mais diversas, ao longo caminho (que passa até pelo México). Influenciado por ideais beat e por autores como Jack London e Henry David Thoreau, McCandles desprezava o materialismo da sociedade americana e sonhava em viver em reclusão, optando a utilizar o nome de Alexander Supertramp em seus registros e seguindo viagem sem dar nenhuma satisfação à família. Em 2007, a história foi adaptada e dirigida por Sean Penn para o cinema, com Emile Hirsch no papel principal.

Autorretrato de Christopher McCandles em frente ao onibus abandonado que serviu de base no Alasca (Magic Bus 142, Alaska)

Howl, de Allen Ginsberg é um poema considerado como pilar de sustentação da geração Beat. Com um forte teor confessional, Ginsberg cria um poema extenso e ritmado, retratando uma sociedade fechada e excludente de minorias. Utilizando-se de forte apelo à obscenidade e a subjetividade de imagens, ele narra um universo de marginais e pessoas que se arrastaram para labirintos intermináveis. Em 2010, partes da história do autor e cenas do poema ganharam vida na adaptação cinematográfica dirigida e escrita por Rob Epstein e Jeffrey Friedman, cabendo a James Franco a interpretação do conturbado autor.

Atualmente, o caldeirão efervescente que foi a geração Beat já esfriou e se difundiu por outras culturas, embora ainda possam ser encontradas pequenas comunidades fechadas. A ideia de liberdade, de transcendência espiritual e contestação sociopolítica que caracteriza o movimento beat simbolizam muito mais do que apenas a publicação de alguns livros; ela modificou todo o pensamento de uma geração e vive até hoje na cultura punk rock, nas reivindicações estudantis, no movimento homossexual e na liberdade feminina. O beat ainda influencia todas as formas de arte, principalmente a Literatura, e incita o pensamento crítico.

Hal Chase, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William S. Burroughs, Morningside Heights, New York City, 1944 - 1945

Andreas Lieber escreve todo dia 20.