Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

28 de fev. de 2012

Em ano de filme mudo e preto e branco, o Oscar 2012 celebra a nostalgia.

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por Caio Coletti

Apesar de ser uma das maiores (senão a maior) cerimônia de premiação do planeta em qualquer área do entretenimento, o Oscar por vezes não é uma festa feita e pensada para um grande público. A noite da Academia pode até agradar os olhos e a fome de espetáculo dos novatos, mas a verdade é que é feita sob medida para quem realmente ama cinema, e poucas cerimônias demonstraram isso melhor, na história recente, do que o Oscar 2012. A começar pelo resgate de Billy Crystal como apresentador da noite (o comediante, anfitrião do prêmio da Academia pela nona vez, não pisava no palco do Oscar desde 2004), esse ano foi definido por duas palavras conforme os prêmios eram entregues e os gracejos da cerimônia eram apresentados no ex-Kodak Theatre: paixão e nostalgia.

oscar 2Crystal não é um apresentador de Oscar à la Hugh Jackman com seus convidados especiais e números acrobáticos, e também não faz o estilo abobalhado de Steve Martin e Alec Baldwin, que fizeram da cerimônia de 2010 algo bem mais divertido. Mas tanto Hugh quanto a louvável dupla supracitada precisam se curvar a experiência e as piadas do nova-iorquino. Zombeteiro na medida certa, econômico nos recursos de que desfrutou, sempre com uma boa risada na manga e cheio de classe quando precisou falar sério (um dos homenageados do sempre emocionante in memoriam era um amigo pessoal do comediante), Crystal protagonizou alguns dos momentos mais dignos da história recente do Oscar. Pra escolher só um grande momento do anfitrião da noite, melhor ficar com a passagem em que ele leu as mentes de alguns dos figurões da platéia (vídeo em inglês).

Para além do anfitrião, o show do Oscar 2012 foi um dos maiores triunfos de produção que a Academia conseguiu alcançar nos últimos anos. A saída das apresentações musicais dos indicados a Melhor Canção acabou sendo uma escolha acertadíssima quando se tem na manga interlúdios encantadores para apresentar os indicados de cada categoria (a parte das categorias musicais, aliás, com seu livro de partituras projetado, foi realmente deslumbrante), o Cirque de Soleil apresentando uma belíssima performance que casou perfeitamente com o tema da cerimônia e, claro, as peças mais interessantes da noite: pequenos vídeos de rostos conhecidos (e outros nem tanto) que fazem cinema, falando exatamente sobre fazer cinema. Foi o momento de realmente mergulhar num mundo que só estamos acostumados a ver do outro lado da tela. E talvez seja justamente essa a grande magia da noite do Oscar.

Quem levou?

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Você já sabia, e eu também, mas nada disso apaga a tremenda ousadia da Academia em premiar um filme em preto-e-branco, mudo e francês. O prêmio principal da noite não saía para nada fora do eixo EUA/UK desde 1988, quando Bertolucci e seu O Último Imperador foram coroados, e o filme de Michel Haznavicious, também coroado como melhor diretor, é a primeira história muda a levar o prêmio desde Asas, em 1929, ano da primeiríssima cerimônia de entrega da Academia. O Artista acabou levando para casa 5 prêmios: Melhor Filme, Melhor Ator (o carismático e eufórico Jean Dujardin, que até sapateou no palco em seu discurso de agradecimento), Melhor Diretor (Haznavicious), Melhor Figurino e Melhor Trilha-Sonora. Só não foi vencedor isolado da noite porque havia um Martin Scorsese no caminho.

“E, como esperado, o filme mudo e em preto e branco, levou o prêmio de melhor filme da noite e o de Melhor Figurino. A academia podia ter continuado com a sua tendência de dar seus prêmios de melhor figurino a filmes épicos, sendo assim, Anonymous (Anônimo) e Jane Eyre teriam tido chance de mostrarem como seus figurinos são realmentes dignos do prêmio, porém parece que a ideia de mostrar que a Era Jurássica e suas tecnologias adjacentes nos servem de inspiração e diversão deu mais certo do esperávamos.”
(GuiAndroid sobre a categoria de figurino)

Hugo é mais uma ousadia: adaptação de uma novela infanto-juvenil, o filme apresenta Scorsese lidando pela primeira vez com a tecnologia 3D, mas não foi dessa vez que um filme empregando a nova moda do cinema contemporâneo levou alguma coisa nas categorias principais. Ainda assim, a fábula do diretor ítalo-americano saiu com o mesmo número de prêmios de O Artista, afirmando sua primazia técnica com as estatuetas de Melhor Fotografia (terceira vitória da carreira de Robert Richardson, que já levou por O Aviador, também de Scorsese, e JFK, de Oliver Stone), Melhor Direção de Arte, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som e Melhores Efeitos Visuais. Entre os favoritos, só não sobrou muita coisa para Os Descendentes, que acabou se tornando a grande aposta de George Clooney para esse ano, já que a Academia esnobou seu brilhante Tudo Pelo Poder. O filme de Alexander Payne ficou só com Melhor Roteiro Adaptado.

O clube dos agraciados com apenas uma estatueta ainda teve o encantador Meia-Noite em Paris de Woody Allen, que surpreendentemente levou Melhor Roteiro Original, uma vez que a picuinha entre Allen e a Academia (o diretor-roteirista nunca compareceu a cerimônia, ainda que tenha 4 vitórias no currículo) nunca foi totalmente resolvida. Do suposto favoritismo de The Help restou o seu único prêmio incontestável, o de Melhor Atriz Coadjuvante para uma emocionada e adorável Octavia Spencer. Toda Forma de Amor também se contentou com o seu prêmio esperado: a lenda viva Christopher Plummer se tornou ator mais velho a ser premiado com o Oscar ao levar Melhor Ator Coadjuvante pelo papel do pai de Ewan McGregor.

Capítulo a parte, mesmo, merece Meryl Streep. Não se contentando em levar pra casa o terceiro prêmio de sua carreira ao vencer Melhor Atriz por A Dama de Ferro, a americana ainda destilou classe, deboche e humildade em um dos melhores e mais amáveis discursos da noite. Ela começou com um ligeiramente venenoso: “Eu tive essa impressão, quando chamaram meu nome, de ouvir metade da América dizer ‘ah não, porque ela de novo?’. Mas, sabe, que seja.”. Para contrariá-la só mesmo a ovação instantânea e barulhenta de toda a audiência (no teatro e, eu imagino, do outro lado da TV) e a confirmação de que, ao vê-la subindo no palco, vemos não apenas uma atriz que estoura todos os padrões de qualidade de atuação, mas uma das maiores artistas que tiveram a honra de receber aquela estatueta. E que alguém ouse contestá-la e suas 17 indicações ao prêmio maior do cinema. Ou duvidar que venham mais algumas por aí, aliás.

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“Meryl. Mamma Mia! Nós estavamos na Grécia. Nós dançamos. Eu era gay, e nós éramos felizes” (Colin Firth apresenta a indicada – e depois vencedora – Meryl Streep, fazendo referência a seus personagens em “Mamma Mia!”)

“Você é só dois anos mais velho que eu, onde esteve toda a minha vida?” (Christopher Plummer trava um diálogo com a estatueta do Oscar ao subir para receber o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante)

25 de fev. de 2012

Dos humanos.

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por Talita Rodrigues

Os Desconfiados

No mínimo, suspeito. Toda e qualquer atitude que ocorra sem motivo aparente é merecedor de investigação. Afinal, tudo que acontece no mundo tem um por quê; uma razão de ser. Esses são os desconfiados, procurando respostas em meio aos comportamentos que não podem entender. Quase tão intrigados quanto os questionadores, estes não podem lidar com o simples fato de acreditar. Colocar a mão no fogo por alguém é como assinar uma sentença de morte, sem volta. São os que pensam mil vezes antes de tomar uma decisão e analisam neuroticamente suas próprias palavras. São mestres na prática de "ficar com o pé atrás". Confiança é um assunto sério demais para eles. Levam tempo para confiar nos outros, mas qualquer passo em falso pode destruir tudo em questão de segundos. Nesse ponto, chegam até a parecer cruéis. Eles não esperam a perfeição, mas não toleram traições, sejam elas físicas ou mentais. Olham misteriosamente, penetram nos outros olhos, duvidam.

Às vezes, a desconfiança deles é confundida com solidão. Mas, não é proposital. Acontece que nem todos são capazes de esperar tanto tempo para serem dignos de confiança. E nessa jornada, os desconfiados acabam sendo deixados de lado e são vistos como pessimistas, infelizes.

Triste mesmo é que ninguém nunca parou para tentar compreender a causa de tamanha cautela. O que sucede é que os desconfiados de hoje foram os apaixonados, intensos e sonhadores de antes. Foram os que apostariam a vida pelo outro, os que acreditavam na verdade e que eram, muitas vezes, inconsequentes. Seguiam o coração e não pensavam nas consequências. Até o dia em que elas chegaram. Dor, ilusão e mais dor. Sem o chão no qual pisavam, os intensos perceberam que a vida não é justa e que as pessoas têm mais defeitos do que qualidades. E foi nesse dia, que eles se transformaram nos desconfiados. Aqueles que duvidam de tudo, até da própria sombra. Os que não se entregam, os que não se revelam. Vivem atrás de seus pensamentos, esperando que algo - ou alguém - possa valer um espaço dentro deles. Os desconfiados são apenas o resultado da decepção. São os fiéis soldados nessa luta. Na luta contra a injustiça.

Os Sinceros

Sinceridade demais é veneno. Chega a parecer grosseria e falta de educação. Sair por aí atacando as outras pessoas, ou discordando delas, simplesmente, para ser dizer diferente (do contra) não significa ser sincero. A sinceridade começa quando deixamos de mentir para nós mesmos e aceitamos nossa natureza, humana e torta.  E não quando nos rotulamos donos da opinião própria.

Sincero é o sorriso que se ganha no reencontro, o olhar que parece parar o tempo. Sincero é um abraço de saudade, uma lembrança dos velhos tempos e o desejo de mudar e acreditar novamente. Sincero é não ter interesse, é almejar a felicidade do outro mesmo que ela se encontre longe da nossa. Esse sentimento é tão espontâneo que, muitas vezes, nem o percebemos nas coisas mais simples do dia-a-dia.

Creio que conheci poucas pessoas que me presentearam com sentimentos sinceros. E eu gostaria de agradecê-las, mas algumas resolveram se ausentar da minha vida, pelo menos por enquanto. E pode até parecer negatividade, entretanto não consigo encontrar verdade nem em metade das palavras que ouço hoje. É pessimista, eu sei. E eu espero que minha visão possa mudar algum dia, sinceramente.

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Leiam o resto da série aqui –> Poeta de Parede

“There’s definitely, definitely, definitely no logic/ To human behaviour/ But yet so, yet so irresistible/ And me and my fear cannot” (Björk em “Human Behaviour”)

22 de fev. de 2012

Inconfessável

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por Caio Coletti

Nenhum deles esperava que aquela discussão simplesmente aparecesse do nada no meio do caminho que estavam seguindo a tanto tempo, com tanta naturalidade, juntos. Pouco havia que um não pudesse dizer para o outro, e o tempo se encarregara de desfazer as barreiras que naturalmente existiam entre dois seres humanos inseguros, como todos eram e são. Nenhum deles forçara nada. Tudo o que deveria ter acontecido, aconteceu no momento certo. E ainda assim, naquela noite, alguma fronteira invisível havia se quebrado, e agora os dois não podiam deixar de pensar que há muito tempo aquele vidro que os separava do indizível estava se trincando. Talvez fosse esse o último obstáculo a ser vencido, e talvez fosse por isso que, no final, todos os relacionamentos terminavam algum dia: porque essa última pedra no caminho era, afinal, intransponível.

Começou com um olhar de lado, uma resistência de frações de segundo ao entrelaçar de mãos que antes ocorria de forma tão natural, tão certa. Começou com uma palavra mais doce, um abraço mais apertado, um sorriso mais caloroso. Começou com os ciúmes. E de repente um começara a inventar desculpas para não gostar mais tanto daquela amiga que antes tinha como melhor confessora, só pelo fato do outro ter deixado escapar um olhar brilhante ou um “que saudades!” empolgado demais. E de repente o carro caía em silêncio todas as vezes que alguma estação de rádio se recusava a sintonizar no lugar certo. E de repente, um dia (hoje), quando os dois chegaram em casa, começou. E começou da forma certa, até.

- Precisamos conversar – um disse.

- Eu sei – o outro respondeu.

E houve aquele momento de olhar demorado, em silêncio, meio terno e meio constrangido, porque ainda não haviam se acostumado a olhar um para o outro daquela forma, tanto tempo depois. Nunca foram capazes de se acostumar com a simples idéia de que se amavam. Mas, chance das chances, acontecera. E, agora, eles podiam reconhecer o sentimento de uma discussão que o orgulho de ambos não deixaria terminar esta noite, mas que também seria deixada em silêncio até quando não poderiam mais se manter tão longe, e simplesmente, sem palavra nenhuma, se olhariam de novo daquele jeito.

- Bom, eu acho que você percebeu que nos últimos dias... – um começou.

- Que nos últimos dias você tem me tratado como um estranho? – o outro não se abalou com a expressão de espanto que encarava agora com os olhos cravados. – Ou quase isso, vamos lá. E nós dois sabemos o porquê. Ora vamos, você vai começar uma discussão só porque eu...

- Vou – interromper o outro não era da sua natureza. Mas a calma da voz e do corpo não podia disfarçar a insegurança e a raiva dos olhos. – Pelo simples fato de que, naquela noite, como em algumas outras já, eu simplesmente não tive você comigo. E sabe qual é a constante entre todas essas noites?

Silêncio. Longo, e de repente um desviou o olhar do outro. Encarando os pratos de vidro em cima da pia da cozinha, os pés do sofá, as pernas da cadeira. Qualquer coisa, menos os olhos. Ambos sabiam a resposta para aquela pergunta que havia deixado no ar. Mas foi a voz que a abandonou aí que precisou dizê-la. O outro simplesmente engoliu em seco e fechou os olhos, apoiando-se na mesa de jantar com a cabeça baixa, numa daquelas poses de filme. A visão era bela, quase idílica. Mas não houve hesitação ou compaixão na resposta.

- Ela. Você esteve mais com ela do que comigo. E isso simplesmente não soa certo para mim.

Aquilo não soava como uma briga. Nenhum dos dois gostava de erguer a voz numa discussão, então tudo se mantinha naquela disputa de sussurros e arrependimentos, a distância quase insuportável entre os dois se tornando rapidamente em um abismo em que a indiferença e a frieza se agarravam na ponta do precipício, mas nunca deixavam as mãos escaparem. A tensão que se construía ali era muito mais substancial, muito mais climática, do que explícita. Não se podia detectar uma nuance de ódio em todo o aposento, mas a atmosfera era tão densa e fria que poderia ser cortada com uma faca, se um dos dois quisesse provar do seu gosto amargo.

- O que te aborrece tanto? Não é como se eu simplesmente a agarrasse – a suave ironia na fala fez o outro subir um tom a voz, mas não mais.

- É a única coisa que você não faz, na verdade. Não na minha frente, pelo menos.

- Ah, não! – uma exclamação, e uma calorosa, audível, e ainda assim estranhamente calma. – Não me venha questionar a minha fidelidade. Você sabe muito bem que eu jamais lhe imporia uma traição.

- Será que não?

- Eu já provei o bastante desse gosto para não querer dá-lo a mais ninguém. Você se lembra de como foi difícil para eu estabelecer um compromisso? Porque você acha que eu resisti tanto? Porque isso aqui precisa fazer sentido pra mim.

Mais silêncio. Simplesmente absorvendo o que tinha ouvido. Fazia sentido. Havia algo de sagrado na forma como o outro encarava o relacionamento como uma instituição que indicava compromisso. Algo até doentio, na verdade. Talvez por isso tivesse achado tão estranho ver a forma como o outro agia perto dela. E talvez estivesse exagerando. E talvez fosse aquela antiga falha, aquele ansioso e enterrado sentimento inconfessável que ele escondera por tanto tempo, de si mesmo. Talvez o tivesse disfarçado com frieza, com algum tipo de vingança de alguma forma, simplesmente porque custava a entender como tal sentimento poderia não ser legítimo.

Então, os olhos dos dois se conectaram de novo. Não havia mais raiva. Havia uma hesitante compreensão, um sentimento difícil de definir, que ainda não era reconciliação (é claro que não era), mas algo como a mútua aprovação de um momento pelo qual os dois estavam esperando há muito tempo, sem nem mesmo perceber. Fora como na primeira vez em que haviam se visto daquele jeito novo. De alguma forma, não era algo surpreendente. A bem da verdade, a única coisa surpreendente acerca de tudo aquilo era que estava ali o tempo todo, e nenhum dos dois vira. Ou fingira não ver, porque por enquanto era mais cômodo deixar escondido.

Alguns chamavam de “a hora certa”. Talvez não fosse bem assim. Talvez fosse simplesmente a hora em que a mudança se tornava insuportavelmente inevitável. E assim foi, com um deles inspirando, franzindo o cenho para não chorar, mordendo o lábio inferior por alguns segundos, e em seguida dizendo com a voz tão perfeita quanto estaria falha se ele deixasse transparecer:

- Eu... eu só queria ser a única pessoa na sua vida. Ou, pelo menos, a mais importante.

- Você não é. E nem eu sou a única pessoa na sua – o outro fechou os olhos ao ouvir aquela resposta, os lábios se contraindo com um pouco de raiva. Mas não seria justo mentir. É claro que não. – Não existe uma pessoa mais importante. O mundo é grande demais para isso. O que importa é que eu...

Silêncio. Nenhum dos dois nunca falaria aquelas duas palavras que faltaram um para o outro.

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“E chegou o dia em que o risco que havia em permanecer envolvido em um casulo se tornou mais doloroso que o risco que havia em se libertar” (Anaïs Naim)

21 de fev. de 2012

Uma estrela que se apagou no céu.

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por GuiAndroid

Ele se mudou e não sentiu nada, decidiu mudar toda a sua vida, sua rotina e seus hábitos, e ele ainda não sentiu nada. Largou seus amigos para trás e ignorou a falta deles, sobreviveu sem ninguém por vários meses, excluiu de si a necessidade de se ter amigos. Ele sofreu sozinho, ficou doente e pensou que iria morrer, mas ao mesmo tempo era como se ele não sentisse nada, além da dor da doença que o corroia por dentro como cupins em uma madeira velha. Ele não via necessidade em gritar, em chorar, ou sorrir, pois ele já não sentia mais nada. Ele perdeu seu cão, era como se uma extensão de sua alma houvesse desaparecido no infinito do universo, era como se uma estrela do seu céu se apagasse. Mas ele ainda tinha esperanças, porém elas diminuiam a cada dia; ele não demonstrava nada além de comodidade, sua vida desabava diante de seus olhos e ele nada fazia, não reagia, nem se quer chorava ou sorria, apenas se conformava. Não havia ação em suas mãos ou em suas palavras, não havia nenhuma emoção em seu rosto e se havia alguma era forjada para parecer real pois a indiferença incomodava as pessoas ao seu redor, então ele simplesmente fingia. Sem vida, sem amigos, sem amores, sem desejos, sem cão, sem dinheiro e sem hobbies.

Então ele se apegou àquele modo de vida, se apegou àquele sentimento ou seria nenhum sentimento? E seu pior pesadelo se consumou como um fato, ele já não vivia apenas existia. Um pedaço de carne a vagar pela superfície da Terra sem muitos objetivos ou ambições, condenado a apodrecer sem deixar nenhuma lembrança, nenhum marco. Ele era mais um fardo, indiferente, inerte, incapaz e insensível destinado a um futuro incerto e a um fim indiferente dos outros. Infelizmente era a essa a maneira como ele se sentia. Infelizmente é como eu me sinto.

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“No light, no light in your bright blue eyes/ I never knew daylight could be so violent/ A revelation in the light of day/ You can choose what stays what stays and what fades away” (Florence + The Machine em “No Light, No Light”)

17 de fev. de 2012

05 álbuns que completam 10 anos em 2012 (e que merecem ser celebrados)

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por Caio Coletti

Estamos há 12 anos no terceiro milênio (apesar de algumas pessoas ainda pensarem que este é o segundo, como eu pude constatar no meu Facebook no último dia 07), e em plena segunda década dos anos 2000, ainda tem gente que acha que não se produz nada de qualidade, artisticamente como um todo, hoje em dia. Ou, talvez mais certeiramente, nada que “sobreviva ao tempo” como algumas relíquias culturais de décadas atrás sobreviveram. Pois estamos aqui pra provar o contrário. Os cinco álbuns listados abaixo completam uma década de lançamento esse ano. E, além de sua influência ser sentida até hoje no mundo da música (o que prova sua importância histórica), eles continuam sendo peças brilhantes e fortes de música. Pièces de resistance, por assim dizer. Enfim, um pouco de nostalgia terceiro milênio para rebater a nostalgia crônica daqueles que não entraram nele ainda. Divirtam-se.

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5ª posição18 (Moby)

Ouvir Moby em um momento inspirado é uma experiência tão imersiva e tão completa que fica até difícil descrevê-la. 18, seu álbum mais downtempo e voltado para a música ambiente, é também um mergulho na música negra americana, em que o DJ brinca com batidas, cordas e teclados, ora emulando a disco dos anos 70, ora o dance dos anos 90, com pequenos toques de soul, tudo para complementar samples saídos diretos da década de 50, do gospel e da black music americana. O hit “We Are All Made of Stars”, ironicamente, é um peixe fora d’água aqui. Mas é também uma introdução lírica perfeita, um tanto irônica e um tanto reverente, a brincadeira contemplativa que Moby nos propõe nesse álbum talvez longo demais, mas indiscutivelmente brilhante.

As que marcaram: We Are All Made Of Stars - In This World

As que você precisa ouvir: In My Heart - Sunday (The Day Before My Brithday)

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4ª posiçãoCome Away With Me (Norah Jones)

Este álbum de estréia não é o melhor que Norah pode fazer, e isso foi provado com as coleções de inéditas que o sucederam, mas segue com o mérito de ter apresentado uma voz e uma sensibilidade musical únicas no cenário mainstream. Apesar de não ser todo jazz (nem todo folk, nem todo country, nem todo pop, e sim uma mistura de tudo isso), Come Away With Me é mais lembrado pelas sombras do gênero que pairam sobre ele, e o seu inacreditável sucesso na época do lançamento indiscutivelmente tomou parte no renascimento da soul music, do jazz e do blues que presenciamos nessa década. Não que isso realmente importe com a voz de Norah escorrendo pelas melodias de “Come Away With Me” e “The Nearness of You”, para citar as duas melhores.

As que marcaram: Don't Know Why - Come Away With Me

As que você precisa ouvir: Cold Cold Heart - The Nearness of You

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3ª posição – Let Go (Avril Lavigne)

Um dos nomes que mais marcaram a música nos anos 2000, Avril Lavigne estreou como a garota linda com jeito de moleque e letras revoltadinhas nesse Let Go. O impacto cultural do álbum é absolutamente inegável: além de se marcar como a voz de toda uma geração de adolescentes e pré-adolescentes, Avril também abriu as portas para o segmento do pop-rock voltado ao público jovem, que seria exaustivamente explorado pelos pupilos do Disney Channel. Sua qualidade tende a ser matéria de mais polêmica, mas uma polêmica não justificada: Let Go é um álbum pop-rock redondinho, que vai com facilidade das baladas acústicas aos sons mais pesados, tudo levado com doçura e astúcia pelos vocais de Avril, na época com 18 anos.

As que marcaram: Complicated - Sk8er Boy - I'm With You

As que você precisa ouvir: Tomorrow - Things I'll Never Say

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2ª posição – Songs About Jane (Maroon 5)

Pode não parecer, mas o Maroon 5 abriu muitas portas para o mundo da música nesse terceiro milênio, sem com isso deixar de ser absolutamente único com sua vibração urbana, seu groove funkeado e sua dualidade sexy/doce. Se não fosse o sucesso absurdo de Songs About Jane, não teríamos (ou ao menos não da forma como temos) OneRepublic, The Fray, The Script, Kris Allen e seus companheiros pop rock, rotulados em terras americanas como “adult contemporary”. Para além da influência e do sucesso, o primeiro álbum da banda continua sendo uma obra profundamente pessoal e tocante, ao mesmo tempo que recheada de apelo funk. E, claro, Adam Levine é uma das vozes mais flexíveis, certeiras e marcantes do século.

As que marcaram: This Love - She Will Be LovedSunday Morning

As que você precisa ouvir: Shiver - Secret - Not Coming Home

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1ª posição – Fever (Kylie Minogue)

Eu não vou te pedir para esquecer o “na-na-na” de “Can’t Get You Out of My Head” porque sei que isso é um tanto quanto impossível, mas Fever, o álbum mais comentado, vendido e influente de Kylie Minogue até hoje, tem muito mais a oferecer. A australiana confeccionou aqui a peça que estabeleceu o electropop e o synthpop como a tendência dominante dos anos 2000, e o fez com a mesma elegância, graça, balanço e otimismo que são suas marcas registradas. É fácil perceber que se está ouvindo um álbum de Kylie quando a seleção de faixas abre, segue e fecha com hits natos feitos sob medida para a voz insinuante da cantora. Para uma artista cuja grande qualidade é a assinatura que deixa em tudo o que faz, Fever é o álbum mais Kylie… de Kylie.

As que marcaram: Can't Get You Out of My Head - Love At First Sight

As que você precisa ouvir: Love Affair - Burning Up

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“Why don’t you and I hold each other/ And fly to the moon and straight on to heaven?/’Cause without you they’re never going to let me in”
(Santana & Alex Band em “Why Don’t You And I”)

“When they stop and stare – don’t worry me/ ‘Cause I’m feeling for her what she’s feeling for me/ I can try to pretend, I can try to forget/ But it’s driving me mad, going out of my head”
(t.A.T.u. em “All The Things She Said”)

13 de fev. de 2012

Born To Die – E quem disse que um personagem não pode ser real?

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por Caio Coletti

Assim como em boa parte dos atos pop desde sempre, a grande questão que tem cercado Lana Del Rey desde sua ascensão ao estrelato com o vídeo caseiro de “Video Games” pode ser expressada em uma palavra: autenticidade. Do olhar vazio às melodias arrastadas (essas ainda realçadas pela interpretação sedada que parece ser a escolha primária da cantora), passando pelo nome falso e pelos lábios supostamente aumentados por cirurgia, Del Rey tem alimentado rumores quanto a validade de sua performance.  O fato de possuir um disco lançado em 2010 (um fracasso retumbante, mas um bom álbum) sob seu nome de batismo, Lizzy Grant, não ajuda. O que de fato surpreende este que vos fala, no entanto, é o seguinte: com Lady Gaga andando por aí e nos mostrando que, às vezes, um personagem é a expressão mais autêntica de um artista,  qual é o problema de aceitar Lana Del Rey como um teatro?

O pseudônimo condiz com a imagem: o primeiro nome é emprestado da diva do cinema da era de ouro Lana Turner, conhecida pelos papéis de femme fatale nos filmes noir; o sobrenome, por sua vez, faz referência ao modelo Del Rey da Ford, um sedan de luxo produzido entre as décadas de 80 e 90, no nascimento da cultura hip hop, e vendido na América Latina. O resultado dessa mistura é que o Born To Die é algo como o álbum que uma das personagens de Turner faria, se tivesse crescido em Nova York mergulhada na cultura das ruas e feito amigos porto-riquenhos em sua época de faculdade. Nem um pouco coincidência que essa seja justamente a história de vida de Grant, agora tornada em Lana Del Rey, e é justamente essa mescla de influências que faz do Born To Die um disco tão único.

As batidas do hip hop soam e ressoam em canções como “Off To The Races” e “Diet Mtn Dew”. A primeira é o épico do disco, com duração que estoura os 5 minutos e coloca Lana para declamar versos que poderiam ser um rap, se não estivessem colocados na entonação súplice e arrastada da cantora. A produção climática do refrão lembra os melhores momentos de Kanye West, enquanto Lana demonstra sua incrível flexibilidade vocal e interpretativa em uma série de usos perfeitos do registro agudo. “Diet Mtn Dew” é uma coleção de ganchos e refrões mezzo-hip-hop, mezzo-funk (o funk de James Brown e cia., que fique claro). Tanto Lana quanto a produção passeiam pelos três minutos e meio de canção: ela, nos oferecendo uma interpretação sexy em sua qualidade de Lolita; e a produção, estourando a criatividade em cima de um instrumental baseado em batida, baixo recortado e linha de piano.

A femme fatale de Lana aparece também em momentos mais melódicos, é claro. A faixa-título, que também é a de abertura, “Born To Die”, tem refrão e versos que hipnotizam o ouvinte e o colocam no clima do álbum sem precisar mostrar todas as cartas que este tem na manga. “Video Games”, por sua vez, não é canção que começou todo o hype sobre a figura de Del Rey por acaso. Com sua letra acima da média, a canção ganha ainda mais pontos com a produção criativa, que se aproveita da recém-revivida obsessão da música pop por harpas (culpa do Florence + The Machine) e acrescenta detalhes sutis que complementam a experiência do ouvinte, como a batida de fanfarra ao fundo no refrão.

“Million Dollar Man” é uma balada jazz solitária em meio a tantas influências no Born To Die, mas tem a produção ao seu lado para lhe dar um toque parecido com as outras canções do álbum, o arranjo de cordas com toques digitais soando quase estridente e ainda assim dando espaço para se ouvir uma linha de piano tradicionalíssima (e linda) sob a voz segura e fervilhante, aqui em interpretação audaciosa, de Lana. E, claro, há “Radio”. Há certa qualidade etérea nela, e em quase todas as melhores canções do Born To Die, que talvez seja o grande diferencial de Lana até o momento em sua carreira. Aqui, os vocais passados por filtros na produção servem a um bom propósito: a atmosfera sedada da canção é fácil de ser transportada para o ouvinte, que se vê navegando pela vida “doce como canela” que a cantora descreve com um pouco de espírito de vingança e um pouco de sedução pop, conseguindo um resultado genuinamente brilhante.

A única falta do álbum parece ser a hiperbólica “National Anthem”, ambição demais para pouco envolvimento, que ainda desperdiça pelo menos uma grande ideia melódica (a ponte “Red, white, blue’s in the skies/ Summer’s in the air/ Baby, heaven’s in your eyes”). Há também as duas canções com a interferência de Rick Nowels, conhecido pelo trabalho com Dido e Colbie Caillat. “Dark Paradise” é a faixa que mais demonstra intenção da produção de carregar a música de Lana para as pistas de dança, e os sintetizadores e batidas electro não fazem tão mal a cantora. Já o objetivo de “Summertime Sadness” parece ser a de sintetizar musicalmente o restante do álbum. Aqui ouve-se batidas hip hop, arranjos de cordas, o registro mais agudo e o mais grave de Lana, a batida de fanfarra, a guitarra de faroeste. Talvez seja informação demais para uma música só.

Em Born To Die, vemos Lana como a femme fatale dos anos 50, a mulher perigosa que, ao mesmo tempo que era capaz de matar (literal e figurativamente) seu parceiro, era também devotada e dedicada ao amor, dotada de certa melancolia. Mas é possível enxergar a trajetória de Lizzy Grant também. É possível enxergar alguém lidando com a fama repentina, maquinando suas próprias influências de vida em forma de música. Criar uma personagem, afinal, não deixa de ser uma expressão da “atriz”. Lana Del Rey faz parte da tradição mais antiga, e ainda assim daquela que mais está em voga, da música pop: dramatizando a si mesma, estourando suas próprias qualidades e defeitos na forma de uma criação que é ao mesmo tempo música e personagem (e não me venham tentar dividí-los), ela se expressa tanto e tão bem quanto qualquer outro artista.

**** (4/5)

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PS: Por falar em gente (e talento) nova, eu postei esses dias no meu SoundCloud dois cover que minha amiga fez, um para uma música da Adele, que papou todos os prêmios do Grammy realizado no último domingo, e outri para uma canção do Pink Floyd. A aprovação foi geral. Talento é pra ser admirado. Cliquem ali em cima e apreciem o da Brenda também. ;D

“Come on take a walk on the wild side/ Let me kiss you hard in the pouring rain/ You like your girls insane/ So choose your last words/ This is the last time/ ‘Cause you and I/ We were born to die”

(Lana Del Rey em “Born To Die”)

11 de fev. de 2012

Fabio Christofoli #6 – Nossa paz violenta

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Pense no Brasil em 2012. Em menos de dois meses, já tivemos greves violentas, desabamento de prédios, conflito em Pinheirinhos, jovem espancado por ser gay, jovem espancado por defender mendigo. Também tivemos péssimos números sobre a educação e aumentos absurdos nos preço de alguns serviços (como o transporte público em MUITAS cidades). Sem falar no Wando (oi, eu era fã, tá?). É muita má notícia para menos de dois meses.

Deveríamos estar preocupados, nos questionando sobre o que está acontecendo. Por que tanto caos? Por que tanta coisa errada?  Porém, optamos pela falsa sensação de paz. 

Falo “nós” porque o brasileiro tem essa característica. É cultural. Claro que muitos lutam contra ela. E lutam bem. Há brasileiros indignados. Eu me considero indignado com isso tudo, tanto que faço um texto lembrando, mas é quase inevitável cair na falsa sensação de paz. É tentador demais.

O Rappa fala sobre a“paz que eu não quero seguir”. E é isso mesmo. Eu sei que ela existe, sei que entro nela às vezes, mas me nego a aceitá-la. Todos os dias tenho que lembrar a mim mesmo que essa paz é falsa, que é preciso questioná-la. O prédio desabando no Rio me faz pensar na qualificação dos profissionais de engenharia (e que algumas burocracias são realmente necessárias). A greve em Salvador afeta o Brasil mais do que o Brasil pensa que afeta (outras greves virão, anotem). Pinheirinhos é um crime que assistimos calados. Belo Monte é uma questão que não será resolvida com cliques em sites.

São muitos problemas e quase nenhuma solução efetiva. É óbvio que não penso que a sociedade deva abraçar todos os problemas. Só acho que devemos estar atentos a eles. O nosso erro está na nossa curta memória, no nosso senso de justiça fugaz. Até esboçamos um grito... E logo em seguida nos calamos. Esquecemos. E fazemos isso porque somos distraídos e, principalmente, porque somos emocionais. A emoção é a arma dos vilões. Eles sabem que a população tem coração, se emociona e grita por justiça, mas também sabem que ela não raciocina, não sabe como obter a justiça e nem se organiza pra isso. Eles abusam disso e transformam a nossa ignorância no principal ingrediente da sua fórmula infalível que gera o sofrimento.

E assim nasce essa violência que convivemos diariamente. Uma violência que nasce de uma paz que não existe. Uma paz que só embala nosso sono profundo.

Precisamos acordar.

Imagens de Willian na marcha do Fórum Social e após agressão correm nas redes sociaispinheirinho

“Procurando novas drogas de aluguel/ Neste vídeo coagido/ É pela paz que eu não quero seguir admitindo” (O Rappa em “Minha Alma”)

6 de fev. de 2012

Sobre… – Os ateus e a “superioridade” de uma crença sobre a outra.

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Grace Kelly, John Wayne, Alfred Hitchcock, Michael Moore, Martin Scorsese, Frank Sinatra, Bruce Springsteen, Jack Kerouac. Richard Gere, Steve Jobs, Oliver Stone, Tina Turner. Cat Stevens, A.R. Rahman, Mos Def. Querendo ou não, gostando ou não, o caro leitor vai ter que admitir que as personalidades listadas acima (entre atores e atrizes, cantores e diretores de cinema, escritores e pensadores) tiveram algum impacto na cultura mundial. Os nove primeiros são (ou foram) católicos. Os quatro seguintes praticam ou praticaram o budismo. E os três listados por último converteram-se ao islamismo em um certo ponto de suas vidas. Com um rol de praticantes de tal calibre, qualquer uma dessas religiões poderia usar essa lista como arma de persuasão em plena época de inclusão digital, mesmo sabendo que seria contar uma vantagem inexistente (já que as outras religiões possuem tantos praticantes célebres quanto). Mas não usa.

É bom observar que não estou aqui para defender religião alguma ou mesmo para decifrar os motivos desse artifício não ser explorado pelas mesmas. Pode ser que não tenha nada a ver com a consciência de que a crença de uma pessoa não define e nem delimita o que ela é capaz de fazer pelo mundo, mas o fato é que os únicos que parecem querer desfrutar de tal “superioridade”, e os únicos que, ironicamente, parecem querer pregar a meio mundo a sua crença, são justamente aqueles que desprezam a própria noção de crença: os ateus. Entre no seu Facebook, caro leitor, e a depender do grupo de amigos que você possui, é fácil achar uma dessas imagens. Sim, é fácil também achar imagens religiosas fazendo referência a Deus, milagres e ao catolicismo, mas é parte da cultura católica acreditar e louvar a Deus. O argumento “Facebook não é Igreja” deixa de ser válido no momento que a  rede social é reconhecida como expressão da vida real da pessoa em questão. Se a pessoa crê em Deus e em louvá-lo dessa maneira, é o que ela vai fazer.

“E por quê os ateus não tem direito de expressar sua crença também, então?”.  A questão não é exatamente essa. A questão é como os ateus estão fazendo isso. Listas como a linkada acima são uma demonstração petulante de uma noção de superioridade preconceituosa: quer dizer que para ser uma pessoa interessante ou fazer algo relevante é preciso ser ateu? E há ainda a contradição que existe em tornar o ateísmo uma instituição. É o equivalente a realizar um movimento organizado e coletivo pela implantação da anarquia: a própria noção de anarquia reside no “cada um por si”, e não na organização por um interesse comum. Através de páginas que exaltam o ateísmo, este está lentamente se tranformando, de uma simples descrença declarada na existência de Deus ou de uma força que governe o universo, em uma “religião” tão devota quanto aquelas que eles criticam. Aos poucos, os ateus estão transformando a não existência de Deus na sua própria divindade.

Não quero ser mal-interpretado aqui. Não discrimino o ateísmo tanto quanto não discrimino nenhuma outra religião. Tenho minha crença, e ela não vem ao caso aqui. Apenas não me agrada ver um grupo de pessoas com uma mesma crença diminuir outro grupo de pessoas apenas por acreditar em algo diferente. Essa é a fundação básica de um preconceito que pode levar a consequências muito maiores, e, ao menos aos meus olhos, parece que por enquanto apenas um dos lados está praticando esse tipo de discriminação. E ainda, no caminho, caindo em contradição.

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PS: Alguns dias depois de ter finalizado esse texto, essa pérola apareceu na minha home do Facebook. Aparentemente, a mania de petulância dos ateus da rede social inspirou um “contra-ataque”. Ponto número 1: essa “guerrinha” de religiões é ridícula. Ponto número 2: a quantidade de estereótipos e generalizações de imagens e presunções como essa é absurda. E apelo único: caros praticantes de outras religiões, NÃO façam esse tipo de coisa. NÃO se considerem superiores a ninguém por sua crença. Essa é SUA crença, apenas. Querendo ou não, o preceito de inferiorizar alguém pela sua crença religiosa é, em uma definição feita para chocar mesmo, NAZISTA. E é uma lástima que algo assim tenha chegado ao espaço livre da internet.

“Tem gente que acha que religião é pra consertar o mundo. Não é. É pra te ajudar a suportá-lo como é. Na hora que se usa religião para consertar o mundo, é a hora que ela começa a cumprir o papel oposto do que deveria. A religião é uma ferramenta pessoal, e não coletiva.”

(Vini Cassares)

4 de fev. de 2012

Bebé Ribeiro #6 – Oh, Pixie!

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Saudações, companheiros e companheiras fashion! Depois de um período festivo intenso regado a comida, bebida, música alta, brilho, glamour e outras belezinhas estou aqui para o meu primeiríssimo artigo do ano apocalíptico de 2012, hahaha. Assim como no ano passado eu e os outros colunistas da semana de moda dissertamos sobre o estilo de alguma personalidade masculina, o desafio da vez será trabalhar com o estilo de alguma musa pop/indie do showbiz e quem escolheu sobre qual cada um iria falar foi o queridíssimo Caio Coletti (conhecem? eu só sei de nome, sabe).

E a escolha foi a lindinha, fofinha, meiguinha, delicinha, charmosinha e todos os outros diminutivos (que não deixam de ser tão valiosos quanto um aumentativo) possíveis: PIXIE LOTT! E a decisão não foi nem um pouco por acaso. Em uma das madrugadas do ano de 2011, comecei a contar para o Caio que TODA santa vez que ouvia as músicas da Pixie, imaginava uma história sobre uma garota perfeita de família conservadora e tradicional dos anos 60 que se apaixona por um dos jovens líderes revolucionários mais temidos e perseguidos da época. O Caio se a-p-a-i-x-o-n-o-u pelo enredo e topou em dirigir futuramente um musical que terá como pano de fundo essa história (digna de Broadway, não acham? hahaha). O nome do nosso espetáculo será “Victoria”, e sim, escolhemos esse título, pois esse é o verdadeiro nome de Pixie, sem contar que este traz a idéia de força, poder, batalha e personalidade, coisas que não faltam tanto na protagonista quanto na nossa musa inspiradora. Mas agora vamos parar de falar sobre musicais, porque o tema proposto é um pouquinho diferente.

Música e moda , assim como minha amiga Gabis disse, andam juntas e no caso de Pixie Lott andam eternamente de mãos dadas. Ao mesmo tempo em que a loirinha de sorriso contagiante ganhou o público com o OH OH OH OH de “Mama Do”, ela também trouxe muitas tendências que vieram pra ficar. Uma das principais características fashions que me chamam a atenção na Pixie é o famoso Hi-Low. A diva utiliza peças bem românticas e meiguinhas associadas com acessórios ou makes mais pesados, geralmente com uma pegada mais rockstar. E esse é o truque para quem quer montar looks descolados: fazer mixs. Vestidinhos leves com sapatos com tachas ou botas (só tome cuidado para não ficar parecendo uma Sailor Moon, nada contra o mangá, mas no cotidiano? não dá né). Pixie ama babados, saias de cintura alta, balonês e tule, mas ela sabe usá-los sem parecer uma Hello Kitty vestida de cupcake. Se a saia é toda bailarina, ela é de uma cor pesada, como preto.

tumblr_lxlnkrGNnh1qemo6uo1_500_largeA cantora se veste bem diferente das outras cantoras da sua idade. Não gosta nem um pouco da normalidade e a lista de peças e acessórios é extensa. Das diversas combinações feitas por Pixie, as que mais gosto são short com boyfriend blazer e oxford ou short com camiseta e bota. Uma das peças que a Pixie usou MUITO no início de sua carreira, mas que agora já não a vejo usando tanto são as hotpants, sou A-P-A-I-X-O-N-A-D-A por elas! Mas pelo amorrrrrrrrrrrr de Deus, você não é a mulher maravilha pra sair por aí desfilando com uma peça dessas, ainda mais se suas pernocas não estiverem em dia. Deixe as hotpants para nossas divas da música e se for usar algum dia, talvez nas aulas de dança ou então na praia, fazendo a linha Pin Up.

A parte dos acessórios da diva merece uma atenção à parte, porque para mim Pixie é uma das únicas que consegue montar produções inusitadas e sabe explorar muito bem colares, lenços, chapéus, óculos e principalmente os headbands. Desculpem-me os adoradores de Manu Gavassi, mas os headbands são uma das marcas registradas de Pixie e ela SABE usar. Desde os mais delicados, com aplicações de pérolas e outras pedrarias até os mais simples, a garota sempre arrasa! Tiaras e laços também fazem a cabeça da moça e pulseiras, anéis e colares divertidos também completam a produção.

Nas unhas, já me deparei diversas vezes com fotos aparecendo a mãozinha da cantora com esmaltes coloridos e um de cada cor em cada dedo. Não sou mais muito fã desse tipo de combinação, mas duas ou três cores da mesma "família" e intercaladas ficam mais apreciáveis. Já o make da cantora foca muito em seus olhos, sempre com sombras em tons escuros para deixar um ar mais rock'n roll e misterioso. Cílios postiços e até alguma maquiagem mais divertida, como estrelinhas desenhadas no rosto ou paetês para não deixar de lado o lado engraçadinho e cool da estrela.

Pixie tem muito ainda a colaborar com o mundo da moda, e com o mundo musical então, nem se fala. Espero que muitas roupitchas e apetrechos da fofa sejam tendências sempre e que ela venha cada vez mais talentosa, trazendo meiguice e a voz inconfundível em suas músicas que um dia embalarão um musical, e que musical!

Beijinhos.

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“Put the plug in the rocket, give me all your power/ When you turn it on I can go for hours/ Hit the switch, push the button, baby, then you’ll see/ We can have it all, baby, you and me”

(Pixie Lott em “Kiss The Stars”)

1 de fev. de 2012

GuiAndroid #6 – A Musa Ninfática de Frida Giannini: Florence Welch

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"E ao tentar ser ninfa ou musa, Florence Welch consegue ser as duas"

Florence Welch, este é o nome da mais recente voz do mundo indie/pop e é também o mais novo ícone de estilo. A cantora britânica ruiva de 25 anos é referência de estilo e boa música. Florence, ou Flô para os fãs, é adepta de um estilo próprio e puramente retrô, porém é errôneo dizer que Florence tem um estilo diferente daquele que ela mesma criou, pois a cantora faz uso de diferentes looks e combinações vintages com peças roqueiras ou fashionistas, criando assim uma miscelânea de estilos que se encaixam sempre perfeitamente em combinações monocromáticas e de caimento bem confortável, alcançando então a plena independência de vestuário. Nos looks de Florence é possível encontrar influências vintage dos anos 20 e a moda hippie e folk dos anos 80. É possível identificar também a variação de corte e comprimento de seus looks que variam entre saias pouco acima do joelho à saias longas até os pés. A cantora, que já é alta, então aparenta alcançar os 1,80m de altura.

E para mostrar que essa não é a tentativa de um fã querendo falar bem do estilo de uma de suas cantoras favoritas, Florence mostra seu poder através de uma coleção exclusiva da grife Gucci inspirada nela mesma, e não é apenas aos grandes estilistas que ela impressiona, pois as lentes dos tapetes vermelhos que ela costuma frequentar sempre se voltam para ela e por uma semana inteira nos blogs e demais sites de moda "o que a Florence vestiu dessa vez" é assunto para dar e vender. Mesmo dizendo não ter preferência por nenhuma grife ela já foi vista três vezes vestindo Givenchy e se apresentando com cada um dos vestidos Gucci inspirados nela.

Sem títuloPode-se dizer que Florence é uma artista que definitivamente não tem medo de vestir o que quiser e percebe-se que por mais que as escolhas dela não sejam as mais habituais é facilmente visível que ela jamais erra no que veste.

Apostando em looks clássicos, Florence se veste como a verdadeira diva que é, mostrando mais uma vez ao mundo que é possível não errar sem ter que apelar ao já batido e exaustivo pretinho básico. Inovação tanto na indústria da música, quanto artística, Florence Welch sempre enche nossos olhos com seus figurinos inovadores escolhidos a dedo e montados com precisão milimétrica. Florence faz de seu estilo, e de si mesma, uma influência simpática, única e inusitada, jamais vulgar, servindo de exemplo para todas as assassinas da moda que cruzam os red carpets várias vezes ao ano, demonstrando que o importante não é estar calçando Louboutins e vestindo Versace, mas ter estilo próprio.

Por fim, "a musa misteriosa" de Frida Giannini é soberana em seu reino de música indie e expande seus territórios para o mundo fashion com seu estilo encantador de ninfa shakesperiana a lá Sonhos De Uma Noite De Verão.

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“And the arms of the ocean are carrying me/ And all this devotion was rushing over me/ And the crushes of heaven, for a sinner like me/ But the arms of the ocean deliviered me”

(Florence + The Machine em “Never Let Me Go”)