Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

30 de jun. de 2012

Sobre… – Dr. Jekyll e Mr. Hyde.

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por Caio Coletti
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Eu não sei conceber a vida senão como uma luta. Às vezes parece que minha mente trava constantemente uma batalha com a minha natureza, como se tudo o que eu mais quisesse ser fosse tudo o que contrariasse o próprio cerne da minha existência. Talvez entre aí o conceito da personalidade como uma construção, uma invenção, por vezes até uma arte. Quem sou eu quando fecho os olhos? De onde vieram esses pressupostos que passeiam pela minha cabeça, que cerceiam a minha liberdade (ou que a liberam quando acham que devem)?

Veja bem, não proponho viver a vida sem princípios. Aliás, a rigor, não proponho nada. Se digo que a própria forma como agimos externamente é uma contradição daquilo que verdadeiramente somos, deixo implícito que essa luta, esse embate, já basta, e que não devemos fazer nada que se oponha aquilo que achamos que somos. É petulante conceber o humano como dotado desse espírito rebelde (e, portanto, pensante) por natureza, alguns dirão, mas eu responderei: não quando a rebeldia e o pensamento voltam-se contra si mesmos.

A arte, quando não é uma reprodução, é um esforço em ser o contrário daquilo que já está feito. O Realismo quis ser o oposto do Romantismo, e a arte abstrata quis ser o oposto do classicismo. Então, de que forma construímos a nossa personalidade? Somos um espelho do que temos dentro de nós em que sentido? Uma reprodução exata, mas que, quando a mão esquerda se levanta de um lado, a direita se ergue do outro?

Queremos liberdade, não há dúvida. Então será que não queremos destruir tudo aquilo que temos por mais sagrado, algo que uma ferramenta tão poderosa como a nossa mente é capaz de nos convencer que não importa? Dr. Jekyll e Mr. Hyde. O médico e o monstro. Será que não “nos criamos” para sermos de um, o outro? Curando as nossas monstruosidades internas e externando as nossas inibições mais profundas. Dia após dia. Uma dualidade dentro da outra. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Porque, nesse mundo, é.

“Todos nós temos um lado de luz e um lado de escuridão; se falharmos em reconhecer o lado da escuridão, ele vai acabar nos grovenando” – Carl Jung

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28 de jun. de 2012

Depp, Burton e Bonham-Carter estão de volta em “Sombras da Noite”.

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por GuiAndroid
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Desde o blockbuster Alice no País das Maravilhas nos perguntávamos quando o trio composto por Johnny Depp, Helena Bonham Carter e seu marido Tim Burton voltariam às telas do cinema para nos maravilhar com seu show de cores e atuações dignas de premiações. Finalmente temos a resposta para essa pergunta, pois no dia 22 deste mês estreou o longa Sombras da Noite, que conta a ilustre participação do exótico e aclamado trio.

Sombras da Noite trata da história do casal Joshua e Naomi Collins, com o filho Barnabas (Johnny Depp), que partem de Liverpool, Inglaterra, em um navio com destino a América para começar uma nova vida. Vinte anos depois, Barnabas se torna um homem bem-sucedido e tem a cidade Collinsport, Maine, aos seus pés; porém ele comete um erro que mudará seu destino para sempre (no mais longo sentido que “para sempre” pode ter), ele parte o coração de Angelique Bouchard (Eva Green), uma bruxa que o lança uma maldição que o transforma em vampiro, sendo assim ela o enterra vivo onde Barnabas é aprisionado até 1972 quando seu túmulo é violado. Dois séculos depois Barnabas ao retornar a sua residência em Collinsport percebe que as coisas mudaram e segue-se então um choque de realidade bastante cômico, também ao reencontrar os remanescentes de sua família, Barnabas percebe que cada um deles possuem seus segredos. Elizabeth Collins Stoddard (Michelle Pfeiffer) contrata a Dra. Julia Hoffman (Helena Bonham Carter) para tratar dos “problemas” que a família Collins vem sofrendo.

Com um elenco bastante experiente e um contexto cinematográfico bastante em voga, Sombras da Noite vem para ser como um dos memoráveis filmes de 2012, resta saber se a recepção do público vai ser tão calorosa assim.

Destaque especial para o figurino impecável de uma das favoritas para o Oscar 2013, Colleen Atwood, que mistura elementos vitorianos e psicodélicos dos anos 70 nos looks vestidos pelos personagens do mais novo sombrio e cômico longa-metragem de Tim Burton.

Nota: Ontem a ilustre diretora e roteirista Nora Ephron faleceu aos 71 anos em Nova York, ela sofria de leucemia e não resistiu a uma pneumonia. Nora foi indicada ao oscar três vezes por melhor roteiro original em Silkwood - O Retrato de uma Coragem (1983), Harry e Sally - Feitos um Para o Outro (1989) e Sintonia de Amor (1993), e dirigiu dois filmes recentes que fizeram grande sucesso, A Feiticeira (2005) e Julie & Julia (2009). Uma perda inestimável para a indústria cinematográfica, que ela descanse em paz.

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In memoriam: Nora Ephron (1931-2012)

27 de jun. de 2012

Lana Del Rey é Jackie Kennedy e Marilyn Monroe em “National Anthem”.

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por Caio Coletti
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Foi lançado hoje (dia 27) o videoclipe oficial para o quinto single do Born to Die, álbum de estreia da americana Lana Del Rey. “National Anthem” é um curta-metragem de quase oito minutos em que Lana interpreta tanto a célebre primeira dama americana Jacqueline Kennedy quanto a lendária Marilyn Monroe. Na cena de abertura do clipe, Lana canta o famoso “Happy Birthday, Mr. President” que Monroe entoou para o presidente Kennedy, com quem supostamente teria um affair. Aqui, Kennedy é interpretado pelo rapper A$AP Rocky, sob o comando do diretor Anthony Mandler.

A canção conta com um dos trabalhos de composição melódica mais acertados de Del Rey, especialmente na passagem “red, white, blue’s in the skies/ summer’s in the air/ baby, heaven’s in your eyes”. Uma pena que a produção, por conta de Emile Haynie (Eminem, Kid Cudi, Gym Class Heroes), opte por uma abordagem hiperbólica que não favorece todas as boas ideias reunidas aqui.

Outro clipe de Lana que está na fila para ver a luz é “Summertime Sadness”, cujas filmagens reportadamente ocorreram entre Abril e Maio, e que foi anunciado como single dia 22 último e lançado na Alemanha, na Áustria e na Suiça.

26 de jun. de 2012

Adam Levine no ringue para “One More Night”, novo do Maroon 5.

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por Caio Coletti
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O Maroon 5 lançou hoje (dia 26) o clipe para o segundo single do Overexposed. “One More Night” conta com o vocalista Adam Levine na pele de um boxeador com problemas conjugais, e com rápidas participações dos outros integrantes da banda. A direção ficou com Peter Berg, conhecido por trabalhos como O Reino, Hancock e Battleship no cinema. A esposa de Levine em tela é a atriz Minka Kelly, a  “Autumn” (personagem que aparece no final do filme) de 500 Dias com Ela.

Escrita por Levine, Shellback, Max Martin e Savan Koetcha (os três últimos conhecidos por trabalhos com Britney Spears, P!nk, One Direction e Adam Lambert) e produzida por Shellback e Martin, a canção segue o sabor mais pop que caracteriza o Overexposed, mas carrega consigo a marca melódica de uma composição com a identidade do Maroon 5.

O Overexposed chega às lojas, oficialmente, hoje. O primeiro single, “Payphone”, vendeu mais de 2 milhões de downloads digitais apenas em solo americano.

25 de jun. de 2012

Você precisa conhecer: Dark Dark Dark.

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por Caio Coletti
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“Talvez a grande conquista do Dark Dark Dark seja como eles misturam sons e influências sem esforço. Eles compreendem uma unidade intuitiva e firme, especialmente quando os instrumentos rodopiam juntos em um turbilhão de outro mundo”. É assim que o Pitchfork Media, um dos sites de música alternativa mais respeitados do mundo, se referiu a essa banda de Minneapolis que explora melodias folk, sensibilidades pop e elementos de jazz e country desde 2006.

O Dark Dark Dark lançou seu álbum de estreia em 2008, o The Snow Magic, mas ganhou alguma notoriedade com o lançamento do segundo empreendimento de estúdio, intitulado Wild Go, em 2010. O single “Daydreaming” (vídeo abaixo) tocou em um dos episódios do American Idol de 2011, abrindo algumas portas para a banda formada atualmente por Nona Marie Invie (vocais, piano, acordeão), Marshall LaCunt (vocais, banjo, clarinete), Walt McClements (piano, acordeão, trompete, backing vocals), Mark Trecka (bateria) e Adam Wozniack (baixo).

O terceiro álbum dos americanos, batizado Who Needs Who, ganhou recentemente data marcada para lançamento (02 de Outubro próximo) e inclusive primeiro single, “Tell Me”, que pode ser ouvido no site oficial da banda.

Cyndi Lauper se arrisca na Broadway em “Kinky Boots”.

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por Caio Coletti
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Depois de Bono Vox, The Edge e Homem-Aranha na Broadway, agora é a vez da cantora e compositora Cyndi Lauper escrever a trilha-sonora de um musical nova-iorquino. Kinky Boots é baseado em um filme britânico de 2005 que retrata a parceria entre uma drag queen e um herdeiro de uma fábrica de sapatos para salvar o empreendimento da falência. A solução encontrada: transformar a fábrica em uma fornecedora de calçados para travestis.

O show, que só estreia na Broadway no ano que vem, deve ganhar ainda sessões de testes em Chicago, e não tem nenhum membro do elenco divulgado. O roteiro ficou por conta de Harvey Fierstein, e Jerry Mitchell fica com os créditos de direção e coreografia. O mesmo grupo foi responsável por trazer Hairspray para os palcos em 2002.

“Sex is In The Heel” é a primeira canção liberada para divulgar o musical, e conta com batida eletrônica que remete ao álbum Bring Ya to The Brink de 2006, com os vocais estourados de Cyndi.

24 de jun. de 2012

AV#7: As novidades que não podem passar em branco.

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Wynter Gordon é a americana de voz impressionante e 27 anos que estreou em 2011 com o álbum With The Music I Die, uma das obras mais infelizmente ignoradas do ano. “Still Getting Younger” é o quarto single de sabor dance absurdamente bem produzido que a cantora libera. O vídeo é uma brincadeira romântica de Wynter com seu parceiro de cena, tudo dirigido por Dan Eckman, que já comandou um episódio de Community. "Dirty Talk", "'Til Death" e "Buy My Love" são os singles anteriores.

Charli XCX é digna de nota desde as incríveis "Nuclear Seasons" e "Stay Away", do final do ano passado, e O Anagrama até noticiou quando a cantora liberou duas outras faixas, “Valentine” e “I’ll Never Know”, para download gratuito (os links você pode encontrar aqui). A bola da vez é “You’re The One”, que estará disponível oficialmente para download a partir de 29 de Julho – mas já dá para encontrá-la aqui – e parece ser a predecessora final para o aguardado álbum de estreia da cantora.

“Ray Bands” é a faixa escolhida pelo rapper, multiinstrumentista e compositor B.o.B. como terceiro single de seu segundo álbum, o Strange Clouds, lançado no último dia 01 de Maio.  A faixa, outra das que não possuem artista convidado (o anunciado próximo single, “Both of Us”, conta com vocais de Taylor Swift), lembra o trabalho de companheiros de gênero do calibre de Kanye West e Jamie Foxx. “Ray Bands” é brilhantemente produzida e possui um refrão pegajoso, bastante criativo melodicamente.

Álbum do momento:

Heartbreak on Hold (Alexandra Burke)

Vencedora da 5ª temporada do XFactor britânico, Alexandra Burke tem voz poderosa e é bem guiada, musicalmente, nesse segundo álbum de sua carreira. Uma tentatiba de emplacar sucesso internacional, Heartbreak on Hold segue rotas bastante previsíveis para um álbum pop e, ainda mais especificamente, um álbum dance. No entanto, as canções tem a credibilidade garantida por um grupo de produtores afinados e pela interpretação sempre intensa e conquistadora de Burke. Um dos óbvios destaques é a excelente faixa-título, que abre o álbum, e os singles "Elephant" e "Let it Go", que já ganharam clipes.

Notas de rodapé:

◘ Mais um vídeo acústico para a coleção de Paloma Faith: é a vez de "Agony".

◘ Depois de ganhar videoclipe estrelado por Helena Bonham Carter, a faixa “Out of The Game”, homônima do último álbum do britânico Rufus Wainwright, foi agraciada com uma versão alternativa em que a letra é montada por uma série de fotos. Tem também vídeo ao vivo para a faixa "Jericho".

"Celebrate" é a nova música do Mika (com participação do Pharrell Williams). O novo álbum The Origin of Love, ainda não tem data de estreia definida.

◘ Scotty McCreery (vencedor do American Idol de 2011) lançou clipe para "Water Tower Town", faixa do seu álbum de estreia, Clear as Day, homenageando sua cidade natal.

"Fix a Heart" e "Give Your Heart a Break" ganharam vídeos com performances ao vivo intimistas (de um especial da VEVO) de Demi Lovato.

22 de jun. de 2012

A literatura dramatúrgica: a transição da estética clássica para a contemporânea.

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por Luis Adriano Lima
(Literatura e Cinema)

Menos do que um ensaio analítico, esse texto é simplesmente uma divagação acerca da trajetória do teatro, gênero literário cujas bases se modificaram ao longo dos séculos e que hoje se apresenta sobre alicerces bastante diferentes daqueles determinados por Aristóteles em seu livro, A poética. Ainda que pareça não ter havido mudança significativa na essência do teatro – um texto cuja função é ser interpretado em palco –, decerto houve muitas transformações que fizeram com que tragédias como Electra, escrita por Sófocles, Eurípedes e, numa versão cômico-irônica, por Ésquilo (lembrando esse que é considerado um dos maiores nomes da comédia), se difiram notadamente quanto à sua estrutura de tragédias contemporâneas como Vestido de Noiva, escrito por Nelson Rodrigues em 1943.

O teatro clássico, no que tange à tragédia, define bem o foco de sua narração: os personagens são nobres, caracterizando a nobreza como a única classe social a ser representada nessa vertente da dramaturgia. As figuras centrais dessas produções são reis, rainhas, príncipes, princesas, enfim, nobres a cujas vidas se atribuem pompa e ponderação, além de inevitável associação com a sabedoria, sendo eles, afinal, que comandam um reinado todo, como é o caso de Egisto e Clitemnestra, pais de Electra, personagem que culpa a mãe e o padrasto pelo assassínio do pai, verdadeiro rei, função agora assumida pelo outro homem.

Outras regras também existem: compor a história de modo que ela seja passível de acontecer num único dia. Isso, evidentemente, se refere ao enredo e ao tempo disponível entre o primeiro e o último ato da peça, não tendo a ver com seu tempo de duração. Desse modo, vê-se um acontecimento tomando corpo no período chamado por Aristóteles de “uma revolução solar”, ou seja, no período de um dia, que é justamente a data específica na qual conheceremos o crescendo e o ápice do enredo, culminando na catarse, que é o momento posterior à identificação do espectador com os personagens. Quando pensamos na catarse, aliás, percebemos que se trata de um dos poucos elementos que persistiram e que ainda é visto como se via na Antiguidade Clássica.

Se analisar outra peça teatral, Hamlet, de Shakespeare, por exemplo, trata-se de uma obra moderna que já apresenta notáveis distinções, sobretudo em relação à duração do enredo, já que ele notadamente se estende por mais de um dia. Outra característica distinta certamente é o espaço, que é variado nas obras modernas, mas que se restringia a um único ambiente nas obras clássicas. Não à toa, vemos todo o desenvolvimento e desenlace de Electra acontecer em frente ao castelo, sem jamais vermos outros cenários que não aquele – ouvimos, por exemplo, o momento final, a consumação da vingança, que acontece dentro do castelo, mas jamais vemos o acontecimento em si, uma vez que o interior palaciano não faz parte do nosso campo de visão. Já o palácio de Elsinore, na Dinamarca, país no qual acontece a trama shakespeariana, nos é apresentado praticamente na totalidade, com os personagens transitando entre um e outro ambiente, nos sendo apresentado o pátio e sala reais, a plataforma de observação, a casa de Polônio e Ofélia e até mesmo os prados que cercam o castelo.

Notam-se, ao longo dos séculos, contrastes muito grandes entre as produções. Shakespeare dista, pelo menos, mil e quinhentos anos de Sófocles (Electra) e Aristófanes (Os pássaros), e à sua frente, dista praticamente quatrocentos anos de Oscar Wilde e sua Salomé (1893), escrita em francês no período em que o autor esteve preso por causa de suas práticas homossexuais. Não há, no entanto, diferenças significativas entre a produção do inglês e do irlandês, apesar do tempo que os separa – vemos neles a unidade temporal desfeita (suas tramas podem ou não acontecer em único dia), vemos a unidade espacial igualmente desfeita. A única não dissociação da arte clássica, por enquanto, é a representação da nobreza, já que ainda falamos de personagens reais, como o príncipe Hamlet, cujo pai foi assassinado pelo próprio irmão, que acabou herdando a coroa e que se tornou alvo da vingança de Hamlet, e como a princesa Salomé, que tanto queria um beijo do profeta Iokanaan que obrigou o rei a decapitá-lo a fim de enfim poder beijá-lo, já que ele tanto se recusou a tocar os lábios dela com os seus. As tragédias, tanto as gregas clássicas quanto as britânicas modernas, traziam paridades, sobretudo quanto ao objeto de sua representação, ou seja, os agentes da ação.

Falando de literatura dramatúrgica nacional e mais contemporânea ainda, abordando já o século XX, podemos citar três autores cujas obras mostram-se bastante opostas às prescrições aristotélicas acerca do tempo, ambiente, unidade de ação e agentes. Falamos de Vestido de noiva (1943), de Nelson Rodrigues, peça teatral na qual o autor, com bastante sucesso percorre caminhos tortuosos e a princípio confusos, mostrando a trajetória de Alaíde, personagem que sofreu um atropelamento e, na mesa de cirurgia, em delírios, relembra os problemas que teve com a irmã Lúcia, já que Pedro, seu noivo, fora antes namorado de Lúcia, e, também na mesa de cirurgia, tem delírios com Madame Clessy, uma prostituta que morou na casa onde sua família posteriormente residiu.

Se a personagem Alaíde é da classe média alta, como se vê ao longo da trama, e, justamente por isso, possa se dizer que há ainda uma relação com a nobreza, todos os outros elementos caminham em direções opostas, sobretudo a unidade de ação. Electra queria vingança e toda a trama gira em torno disso, o mesmo se pode dizer, grosso modo, sobre o desejo de vingança de Hamlet e o desejo de Salomé de beijar Iokanaan – já na obra rodrigueana, temos uma dimensão espaço-temporal múltipla que justifica inúmeras ações acontecendo, muitas vezes, ao mesmo tempo – ao longo do enredo, há inúmeras passagens na qual o palco se divide a fim de dar vida a três momentos: Alaíde e suas conversas obscuras com a irmã, Madame Clessy e seus ensinamentos sobre a arte de amar e, às vezes, a sala de cirurgia, na qual Alaíde eventualmente morrerá. A obra multifacetada de Nelson Rodrigues é surpreendente principalmente pela sua estética que divide a peça em várias ações – o delírio, a realidade, o sonho – além de vários tempos – presente e passado – e também vários ambientes – o hospital, a igreja, a própria casa, o bordel de Clessy.

Chico Buarque e Paulo Pontes compuseram em 1973 uma atualização de Medeia, de Eurípedes, tornando-a contemporânea e brasileira: a Medeia da obra grega se torna Joana na versão nacional e Jasão carrega o mesmo nome, mas agora é um cantor de música popular que ascende socialmente com a música “Gota d’Água”, que dá nome à peça de Buarque e Pontes. Assim como Rodrigues em Vestido de noiva, a obra é bastante multidimensional em relação à unidade de ação, mas seu grande diferencial em relação à obra do outro dramaturgo é justamente o fato de vermos personagens sitos em um conjunto habitacional, quase uma favela, sendo notadamente pobres e extremamente longe da concretude de nobreza em que vivem Salomé, Electra, Hamlet e Medeia, por exemplo, ou da alusão de nobreza vivida por Alaíde. Os personagens de Buarque e Pontes são tão banais e ordinários que sua linguagem não se difere daquela dita no dia-a-dia (ainda que, evidente, seja respeitada a estética literária da poesia, já que o teatro é versificado), suas ações não são diferentes das minhas ou provavelmente das suas: eles vão a bares, bebem com os amigos, conversam sobre trivialidades, envolvem-se em discussões bobas e seu linguajar, às vezes, não se mostra todo polido.

A literatura, como se vê, trata-se de sua própria e constante reinvenção: as obras clássicas são revistas por outras obras, que são contraditas posteriormente por outra estética literária, que, num ciclo, é rebatida ou retomada. No caso do teatro, vemos que o momento catártico se apresenta em todas as obras, mas os meios de chegar a esse ponto variam muito, justamente pelas novas adaptações que são feitas de acordo com o contexto histórico-social no qual vivem os autores e, também, de acordo com as suas intenções – não se pode dizer que a literatura de Chico Buarque e Paulo Pontes é menor por mostrar personagens ordinários, justamente porque essa intenção integra a pretensão estética dos autores. Não se pode dizer, tampouco, que se trata de uma evolução – nada nos garante que daqui a cem anos a dramaturgia retornará aos moldes clássicos e voltará a apresentar peças com uma unidade de ação, de tempo, de espaço e de tom (ou tragédia ou comédia).

Luis Adriano Lima escreve todo dia 23.

18 de jun. de 2012

Mesmo em clima de conto de fadas, Katy Perry está “Wide Awake”.

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por Gabryel Previtale
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Depois de vazar várias fotos e cenas, foi divulgado nesta segunda-feira (18) o clipe da música "Wide Awake" da cantora norte americana Katy Perry, que é um dos hits que a artista fez para seu documentário Katy Perry: Part of Me, que só vai chegar aos cinemas no dia 5 de Julho nos EUA. O clipe conta com numa mega produção em termos de cenários e os famosos efeitos especiais que sempre vemos a artista lançar mão em outros trabalhos.

Adotando um visual mais ''pesado'' (cabelos roxos e lábios negros), Katy passa o clipe em um labirinto que seria o sentimento que a cantora sempre descreve em estar perdida/presa , que apesar de negar, o video conta com críticas autobiográficas e até um pressuposto fim de relacionamento. porém sem nenhuma ligação com Russel Brand, segundo a artista. Além disso o clipe traz a presença de uma garota que acompanha os caminhos tortuosos da nossa diva, representando ela na infância e até um soco Katy dispara contra um príncipe encantado de caráter duvidoso. E é com esta produção que Katy conta seu conto de fadas, somando seus altos e baixos, com super bom gosto e revelando seus dois ultimos anos de carreira, uma separação nítida entre a felicidade e a tristeza com cenas figurativas.

Perry, que já declarou á MTV sobre o amor e carinho que sente por esta música, completa: “eu mostro a minha jornada, com todas as partes boas e ruins. Passei por coisas incríveis e também por momentos de muita tristeza". Vale ressaltar as apresentações da mesma canção, ao vivo, em festivais e prêmios de música que seguem a mesma linha de produção, como no MMVAs 2012, em que a cantora realiza a performance de "Wide Awake" sobreposta por grandes asas de borboletas.

Arte: O surrealismo de Giorgio de Chirico.

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por iJunior
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Giórgio de Chirico (também conhecido como Népoli)  é um artista grego, nascido em 1888 na cidade de Vólos. É considerado o percursor do Surrealismo e também fez parte de um movimento chamado Pintura metafílistica. Suas obras carregadas de misterio e muitos elementos diversos ou simplesmente um vazio, são chocantes e ao mesmo tempo tocantes. Obras do tipo que de primeira vista já marcam a vida de quem as vê. Com seus cenários quase sempre lembrando um crepúsculo, com sombras pesadas e ao mesmo tempo em um ambiente bem iluminado, algumas obras carregam também consigo uma certa solidão. As figuras utilizadas muitas vezes se repetem de tela-a-tela, e também possuem grande semelhança com suas esculturas. Com cores mais próximas do amarelo e marrom, De Chirico consegue manter sua identidade em todas as obras, que por mais carregadas de elementos, possuem um equilibrio ótimo, que agradará a quem ver. Uma das principais características deste artista é a ausencia de rostos, estes são sempre representados vazios, sem nenhuma expressão, o que nos deixa imaginar o que vier a cabeça no momento. Uma obra em que eu destaco se chama Armonia della Solitudine (Harmonia da Solidão), composta de grande quantidade de figuras geométricas e cores amadeiadas (como muitas de suas obras) e não possui nenhuma pessoa, apenas a solidão harmonizada da forma em que o artista quis representa-la. As suas obras estiveram no MASP em São Paulo ainda esse ano, e com certeza foi marcante pra qualquer um que pôde ver.

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iJunior escreve sobre arte todo dia 17.

15 de jun. de 2012

Você precisa conhecer: Delta Rae.

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Poucas surpresas musicais em 2012 foram tão boas quanto o Delta Rae. A banda do estado americano da Carolina do Norte ganhou fama cantando ao vivo pelo país com seu estilo bastante variado, canções pop que ganham roupagens rock ou versões a capella com fortes percussões. Há ecos de OneRepublic, algo de folk ,surf e R&B em algumas canções, mas o Delta Rae é basicamente uma banda de estilo indefinível, e isso é sempre algo muito bom.

A banda (formada de duas moças e quatro rapazes, na foto acima) está pronta para lançar o disco de estreia, intitulado Carry The Fire, nesse dia 19, e tem ganhado espaço em programas americanos de destaque, como o Tonight Show With Jay Leno, no qual farão uma aparição no dia 21.

A canção essencial para começar a conhecê-los é “Bottom of The River”. Além do clipe aí embaixo, o primeiro single da banda ganhou ainda vídeo ao vivo nos estúdios da Billboard, em performance incrível. Além do single, dá pra ouvir "Chain on Love", que não será incluída no álbum, já disponível para streaming no site da Rolling Stone.

Quem quiser download gratuito de “Bottom of The River” e de um álbum ao vivo pode encontrar no site oficial da banda.

Fashion Lingerie Show

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por Gabis Paganotto
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E quem disse que a roupa que não vemos não tem seus conceitos?

Muitas pessoas se enganam quando pensam que as underwears não tem seu estilo e portanto sua história.

Nem sempre as lingeries foram peças, digamos, “sensuais”. Na idade média e moderna elas eram utilizadas para modelagem do corpo das mulheres, eram desconfortáveis e muitas vezes complicadíssimas de se colocar, feitas basicamente de couro. Ou seja, NADA flexíveis.

A ideia de lingerie como uma coisa sexy surgiu lá pela década de 20, quando as grandes casas de cabaré surgiram, e também quando o cinema começou sua época de brilhantismo. Essas influências fizeram a imagem da lingerie como algo sexy. Era uma peça que deixava tudo que os homens queriam ver guardado, e que de certa forma dava um mistério as curvas da mulher.

Desde então a lingerie vem sendo explorada como um objeto sexy e que desperta o desejo de todos, homens e mulheres, em conhecer o que está por baixo daquilo. Hoje as peças são mais confortáveis, e se modelam ao corpo da mulher (e não ao contrário). Chamam a atenção pelas cores, e formas, e fazem a cabeça das mulheres.

Mas apesar de toda essa revolução a lingerie gerava diversos preconceitos. Antigamente, mulheres que utilizavam cores provocantes ou peças muito atrevidas eram consideradas desrespeitosas. Homens por exemplo não tinham o costume de comprar lingerie para suas mulheres.

Mesmo após a quebra de maior parte desses tabus, a lingerie é uma peça que deixa os homens encabulados, principalmente quando eles que tem que escolher uma para presentear suas mulheres.

Foi pensando nesse impasse (pelo qual ele mesmo passou) que em 1977 Roy Raymond criou uma pequena loja em Ohio chamada Vicotria’s Secret . O nome da marca foi uma homenagem à rainha Vitória e a ideia da loja era não expor as peças, como as lojas normais de lingerie faziam, mas sim expor fotos das peças na decoração da loja , deixando o ambiente mais unissex e portanto mais confortável para o público masculino. Deu certo: hoje, a Victoria’s Secret, que já foi vendida por 6 milhões de dólares pelo antigo dono, é uma marca que rende mais de 6 bilhões de dólares por ano, tem mais de mil produtos entre lojas e catálogos, e é a marca de lingeries mais famosa do mundo.

Além disso, a Victoria’s Secret transformou a lingerie num objeto glamoroso e desejado, ainda mais quando exposto no Vicotria’s Secret Fashion Show, um dos maiores eventos de moda do mundo . É, parece que as lingeries conquistaram da calçada da fama de Hollywood ( Victoria’s Secret é a primeira marca a ter uma estrelinha na calçada) até as mentes mais conservadoras.

Espero que tenham curtido, vejo vocês mês que vem... Secret Kisses.

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Gabis Paganotto escreve todo dia 15.

13 de jun. de 2012

Regina Spektor e suas travessuras em “Don’t Leave Me (Ne Me Quitte Pas)”.

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

“Don’t Leave Me (Ne Me Quitte Pas)”, é o segundo single do sexto álbum de estúdio da cantora, compositora e pianista russo-americana Regina Spektor. A canção ganhou clipe hoje (dia 13), com cenas de Regina se divertindo em enquadramentos inusitados de um apartamento vazio, para o desgosto de seu vizinho rabugento.

A canção é uma das não exatamente inéditas do What We Saw From The Cheap Seats, que inclui as primeiras gravações de estúdio de canções que a cantora já estreara ao vivo e regravações de repertório antigo. Essa “Don’t Leave Me” figurou num álbum de 2002, o Songs, antes do reconhecimento mundial chegar para Regina com o hit “Fidelity”, incluido no Begin to Hope de 2006.

O single anterior do álbum havia sido "All The Rowboats", e ainda um outro videoclipe, de uma faixa incluída na versão deluxe ("Call Them Brothers") foi lançado.

11 de jun. de 2012

Fiona Apple briga com a própria mente no bizarro “Every Single Night”

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por Caio Coletti

Quase três meses depois do lançamento do single (noticiado pelo Anagrama), “Every Single Night”, o retorno de Fiona Apple após um hiato de 7 anos desde o lançamento do terceiro álbum de estúdio, Extraordinary Machine, ganhou videoclipe hoje (11). No vídeo, a cantora americana, na ativa desde 1996, parece travar uma briga bizarra com a própria mente, aparecendo em takes noturnos ao lado de um polvo gigante (e em outros com uma versão menor deste sobre a cabeça), entre outras situações inusitadas.

A música é baseada em piano e toques sutis de percussão, mas o que se destaca mesmo é a voz amadurecida de Apple, que gravou o primeiro álbum, Tidal, aos 19 anos. A nova obra de estúdio, The Idler Wheel, que segundo a cantora está em processo de gravação desde 2008, tem data marcada para ser revelada ao mundo: 19 de Junho próximo. A produção ficou por conta de Apple e de seu baterista Charley Drayton, da banda Divinyls.

Também é possivel ouvir, do álbum, a balada "Werewolf" e o banquete de percussões que é "Anything We Want".

Review: Iron Sky, heróis, vilões e o totalitarismo vendável.

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por Caio Coletti
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É fácil condenar Iron Sky como maniqueista. Afinal, essa co-produção entre Finlândia, Alemanha e Austrália resgata os temas do nazismo, da obsessão bélica americana e da propaganda eleitoral manipuladora. Você já viu tudo isso, e não faz muito tempo, em algum filme. E você está cansado dos tipos retratados: o vilão ambicioso que quer se tornar o Fuhrer, a presidente caricata que só se interessa pela reeleição, a heroína ingênua e o herói relutante. Mas calma, ainda não fuja desse filme. Como uma comédia, é natural que o roteiro brinque com estereótipos. Raros mesmo são a inteligência e o direcionamento de trama certeiro que se vêem aqui.

Michael Kalesniko (O Rei da Baixaria) é quem assina o script, mas talvez se deva a Johanna Sinisalo, escritora de ficção finlandesa creditada aqui como autora do “conceito original”, o trunfo de Iron Sky. A história que parte da premissa de que os nazistas escaparam no final da Segunda Guerra Mundial e até hoje se refugiam no lado escuro da Lua, onde planejam sua grande invasão. Os planos são adiantados quando o primeiro americano a pisar naquela região, James Washington (Christopher Kirby), é capturado e lhes apresenta novas tecnologias para colocar a grande nave de guerra construida nesse refúgio para funcionar. Voltam a Terra, então, dois dos nazis (Julia Dietze e Götz Otto), a principio para recolher mais recursos.

A primeira grande sacada do roteiro é torná-los, por acidente, o centro da campanha da atual presidente americana (Stephanie Paul) para a reeleição. Iron Sky pincela a noção de que a ideologia totalitarista é extremamente vendável e, de forma disfarçada, está no cerne de diversas democracias mundo afora. A ideia de “soberania” americana não é, afinal, para dizer o mínimo, ligeiramente parecida com a nazista? O incentivo absurdo ao nacionalismo que existe não só nos EUA, mas mais destacadamente lá (pela própria posição do país no cenário internacional), não soa como os hinos tocados nos megafones alemães? Em certo ponto do filme, a presidente simplesmente repete, em um discurso eleitoral, as palavras ditas a ela pela visitante lunar, aprendidas como uma forma de doutrinar as crianças desse refúgio totalitarista espacial.

A direção do desconhecido Timo Vuorensola é limpa e até elegante, contando com uma boa produção de efeitos especiais e fotografia que ganha alguns pontos pelos bons enquadramentos espaciais. O elenco se encaixa bem nas finas caricaturas que lhes são distribuídas, com destaque para a pequena participação de Udo Kier (Blade, Melancholia) como o Fuhrer que o personagem de Götz Otto quer depor e para a carismática Julia Dietze, em papel que, se não pode, ao menos deveria alçá-la ao estrelato.

Nessas finas ironias e cutucadas talvez nem mesmo sutis, Iron Sky termina escapando totalmente de qualquer acusação de maniqueismo, porque desenvolve sua trama de maneira tão inteligente para chegar a conclusão de que, numa guerra, o vilão é sempre aquele que dispara o gatilho. Caricatura por caricatura, os papéis são invertidos, e na Terra acabamos todos brigando por algo que nem mesmo vale tanto quanto o que os verdadeiros heróis do filme começam a conquistar, nos minutos finais, na Lua. Aqui está um filme que mexe brilhantemente na ferida americana (o memorável “agora eu sou uma presidente de tempos de guerra. todo presidente de guerra é reeleito”, o ataque a base lunar que é obviamente uma referência nem um pouco agradável – para os americanos – à bomba de Hiroshima, e ao fato de que eles não hesitariam em cometer tal erro mais uma vez), mas não deixa de apontar o dedo, na verdade, para todos nós.

*** (3,5/5)

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Iron Sky
(Finlândia/Alemanha/Austrália, 2012)
Direção: Timo Vuorensola.
Roteiro: Michael Kalesniko, Johanna Sinisalo.
Elenco: Julia Dietze, Peta Sergeant, Udo Kier, Stephanie Paul, Christopher Kirby, Götz Otto.
Duração: 93m

10 de jun. de 2012

Inverno gótico.

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por GuiAndroid
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Felizmente, o frio brasileiro realmente chegou e com o inverno batendo em nossa porta logo no próximo dia 21, junto com o frio, a tendência arrasadora deste inverno 2012 tem sido o estilo gótico, que meses atrás esteve na passarelas de várias fashion weeks ao redor do planeta. No SPFW tivemos Pedro Lourenço com seu look futurista e a tendência gótica se mostrando absoluta em praticamente todas as peças:

Em Paris tivemos a Givenchy com um pesado investimento em couro, veludo e inúmeras texturas que completam o look de estilo gótico:

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E como último exemplo, a eterna rockeira das passarelas, Versace, que volta com força total aproveitando a onda de volumes, veludos e muito, mas muito preto e como era de se esperar Donatella investe na polêmica religiosa utilizando crucifixos bordados em suas peças:

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Por fim fica claro que o estilo gótico veio para ficar, com sua maquiagem pesada e escura, focada nos olhos e nos lábios dando oportunidade para os batons em tons como preto, café, bordô e carmim sairem do fundo da sua maleta de maquiagem e voltarem a ativa. Cortes de cabelo retos, com franja e uniformes também são parte da tendência mas devem ser abordados com cuidado e de acordo com o seu formato de rosto.

O estilo gótico também está bastante presente entre as celebridades, este se demonstrou principalmente no baile do MET, que ocorre anualmente na cidade de Nova York e é organizado pela editora da VOGUE, Anna Wintour:

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Da esquerda: Lana Del Rey e seu look assinado por Joseph Altuzarra. Marion Cotillard vestida de Givenchy, com todo o seu charme e bom gosto a francesa conseguiu ficar entre as mais bem-vestidas da noite. E a atriz de Millenium, Rooney Mara também figura o quadro das bem-vestidas da noite do MET com um vestido também Givenchy.

Rendas, plumas, meias rasgadas, couro e veludo. Muito do que era considerado demodê na última década volta com força total e impulsionada pela tendência gótica que expande os horizontes de uma moda cíclica que prova que nenhuma peça de roupa jamais deve ser jogada fora. Como já dizia Coco Chanel, “A moda sai de moda, o estilo jamais”.

GuiAndroid escreve sobre moda no dia 11, e sobre TV e cinema no dia 27.

9 de jun. de 2012

AV #6: As novidades que não podem passar em branco.

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Já no terceiro single e sem data, título ou previsão para o novo álbum, a britânica Little Boots se esbalda num inferninho em “Headphones”. A canção tem a mesma pegada disco das investidas anteriores, "Every Night I Say a Prayer" e "Shake", e o mesmo potencial para ser hit. Porque isso não aconteceu ainda? Excelente pergunta. No clipe, a moça entra em uma cabine onde, ao colocar os headphones do título, você ganha uma performance de uma versão “mais glam” de você mesmo. Puro deleite.

Depois de estourar com a ajuda de Gotye no smash-hit “Somebody That I Used to Know", Kimbra quer conquistar o mercado americano sozinha, e o primeiro passo é “Posse”, quarto single do álbum de estreia da moça, o Vows, que acabou de ganhar edição made in USA. A roupagem aqui é discreta e sofisticadamente mais pop, dando destaque a voz e interpretação sempre únicas e impecáveis da neo-zelandesa e a uma letra que tem tudo para estourar nas paradas atuais.

“Sovereign Light Café”, a ode a juventude inconsequente do Keane, ganhou videoclipe como o terceiro single do Strangeland, último álbum da banda. A canção é uma das mais vibrantes da coleção de inéditas dos irlandeses, levada por baixo rápido e teclados barulhentos. No clipe, o vocalista Tom Chaplin, com seu visual moderninho (ainda que engomado), aparece andando por uma cidade litorânea, cercado por atletas e artistas das mais variadas áreas.

Álbum do momento:

What We Saw from The Cheap Seats (Regina Spektor)

A cantora russo-americana não libera obra de estúdio desde 2009, quando saiu o Far, e o retorno egendrado aqui é pela metade: várias das canções incluidas no What We Saw From The Cheap Seats são gravações de estúdio de material que Regina já cantava ao vivo há anos a fio. Sobra um pouco de espaço, talvez por isso, para alguma boa experimentação musical ("Oh Marcello" pega emprestado do refrão do hit oitentista “Don’t Let Me Be Misunderstood”), mas trata-se de um conjunto de composições menos coeso do que a cantora costuma apresentar. No entanto, seu trabalho é tão único no cenário musical atual que ainda assim merece destaque. Especialmente "Firewood", "Open", "How" e "The Party".

Próximos lançamentos:

◘ 11/06 – Life in a Beautiful Light (Amy Macdonald) – Ouça: "Slow it Down".

◘ 16/06 – Jumping Trains (JoJo) – Ouça: "Jumping Trains".

◘ 18/06 – A Million Lights (Cheryl) – Ouça: "Call My Name".

◘ 19/06 – The Idler Wheel (Fiona Apple) – Ouça: "Every Single Night".

Notas de rodapé:

◘ Paloma Faith, cujo álbum Fall to Grace foi lançado no último dia 28, liberou belíssima versão acústica de “Black and Blue” com vídeo em preto e branco no YouTube.

◘ Christina Perri liberou no YouTube vídeo para a regravação acústica de “Distance”, música do seu álbum de estréia (do ano passado), em dueto com Jason Mraz.

◘ A escocesa Emeli Sandé, apesar do lindíssimo novo single "My Kind of Love", preferiu cantar "Next to Me" no Studio Q.

8 de jun. de 2012

Você precisa conhecer: Young Wonder.

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por Caio Coletti
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A Irlanda não é só U2, The Cranberries e Keane! Além dos bacaníssimos do Two Door Cinema Club, a terra dos leprechauns ainda guarda surpresas para quem garimpar suas profundezas musicais. O Young Wonder é uma delas. O duo de eletrônica está em algum lugar entre a estranha qualidade pegajosa de Skrillex e os vocais manipulados e batidas em loop de Ellie Goulding, com ainda uma dose extra de experimentação.

Parece complicado demais para você? Tente não ficar com “Orange” na cabeça por uma semana seguida.

A dupla ainda tem dois outros singles retirados do EP de estréia, auto-intitulado: "Tumbling Backwards", com seu clipe idílico na praia, e s balançante "Flesh", onde as influências do dubstep ficam bem mais claras, ainda que o Wonder as distorça para uma coisa bastante particular.

Surpreendentemente, a canção “Lucky One”, liberada há três dias no SoundCloud do duo, segue uma direção mais ambient, que remete à Postal Service, Lamb, Royksopp e até às canções de David Lynch no recente Crazy Clown Time.

6 de jun. de 2012

O Caso de Amor de Laurel e Hardy

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Eu não queria colocar nada pessoal aqui, mas acho meio difícil. Ray Bradbury foi apresentado a mim pelo meu pai através de um livro empoeirado de contos intitulado O Viajante do Tempo. A coleção de 23 histórias foi provavelmente o que me fez querer ser escritor, seja da forma que fosse. A forma como Bradbury lidava com as palavras é de um sabor artesanal, de uma magia idílica que eu não consegui ler em nenhum outro autor. Ele passeava por ficção científica, romance, terror, drama e comédia com a simples e perfeita prerrogativa de uma nostalgia e uma evocação quase poéticas.

Ainda que aos 91 anos, o mundo perdeu um dos maiores artistas da palavra que já passaram por aqui. Minha forma de homenageá-lo é transcrevendo “O Caso de Amor de Laurel e Hardy”. O meu conto preferido, do meu livro preferido, do meu escritor preferido. Eu não sei qual vai ser o impacto em vocês, mas eu não sei ler essa história sem me emocionar profundamente. É essa emoção, esse estilo único, essas palavras que transcendem qualquer outra descrição para elas, que vão continuar a viver.

O Caso de Amor de Laurel e Hardy

por Ray Bradbury
(In Memoriam: 1920-2012)

Ele a chamava de Stanley e ela o chamava de Ollie.

Isso foi o princípio, foi também o fim do que chamaremos de o caso de amor de Laurel e Hardy.

Ela tinha vinte e cinco anos e ele tinha trinta e dois quando se encontraram num desses coquetéis tediosos, onde todo mundo se pergunta o que foi fazer ali. Mas ninguém vai embora e no final acabam bebendo demais e mentindo, dizendo que foi uma grande festa.

Como acontece frequentemente em salas lotadas, eles não viram um ao outro; e, se houve alguma música romântica que servisse de fundo para sua colisão, ninguém a ouviu. Porque todos estavam falando com uma pessoa e olhando para alguma outra.

Eles ricocheteavam através da floresta humana, sem no entanto encontrarem sombras acolhedoras. Ele estava procurando um drinque; ela, fugindo de um estranho que lhe fazia propostas amorosas. E seus caminhos se cruzaram exatamente no centro da multidão estéril. Tentaram esquivar-se, desviando para a esquerda e para a direita algumas vezes, mas acabaram caindo na risada. Num impulso, ele agarrou sua gravata e abanou-a na direção dela, sacudindo os dedos. Imediatamente ela sorriu, levantando a mão para puxar os cabelos do alto da cabeça num coque desalinhado, piscando e fazendo um ar de quem tinha recebido uma pancada.

- Stan! – gritou ele, reconhecendo-a.

- Ollie! – exclamou ela. – Por onde você tem andado?

- Por que você não faz alguma coisa para me ajudar? – disse ele, com gestos largos.

Agarravam o braço um do outro, ainda rindo.

- Eu... – disse ela com um ar ainda mais radiante. – Eu... Eu sei o lugar exato, a uns três quilômetros daqui, onde em 1930 o Gordo e o Magro carregavam aquela caixa de piano para cima e para baixo daqueles cento e cinquenta degraus!

- Ótimo – gritou ele. – Vamos embora daqui!

Bateram a porta do carro dele e o motor roncou. Los Angeles passava velozmente por eles, iluminada pelo Sol do fim da tarde.

Freou o carro exatamente onde ela disse que estacionasse.

- É aqui!

- Eu não acredito – ele murmurou sem se mexer, somente olhando para o céu colorido de pôr-de-Sol. Abaixo da colina as luzes começavam a aparecer por toda Los Angeles. Ele fez um sinal com a cabeça e prosseguiu: – São esses aí os degraus?

- Todos os cento de cinquenta.

Ela saltou do conversível.

- Venha, Ollie!

- Muito bem – disse ele.

Caminharam até o sopé de outra colina e levantaram os olhos, contemplando os degraus íngremes que se erguiam contra o céu. Os olhos dele estavam ligeiramente mareados. Ela rapidamente fingiu não notar, mas segurou-lhe o cotovelo. A voz dela era maravilhosamente doce:

- Vá – disse ela. – Vá, continue.

E deu-lhe um terno empurrão.

Ele começou a subir, contando, e a cada número que dizia num murmúrio sua voz assumia um decibel extra de alegria. Quando alcançou o quinquagésimo sétimo, já se transformara num menino que brincava de um jogo maravilhoso, ao mesmo tempo novo e antigo. Perdera-se no tempo e não poderia dizer se estava carregando o piano para cima ou se este é que o perseguia colina abaixo.

- Pare aí! – ele a ouviu dizer muito longe. – Bem aí!

Ele ficou imóvel, balançando-se sobre o degrau de número cinquenta e oito e sorrindo espantado, como se fantasmas o estivessem acompanhando. Virou-se para ela.

- Tudo bem – disse a moça. – Agora venha para baixo.

Começou a descer, sentindo o rosto afogueado e uma dor peculiar de felicidade no peito. Ele podia ouvir o piano seguindo-o.

- Pare aí mesmo!

Ela segurava uma câmera, e ao vê-la, instintivamente ele levou a mão direita à gravata, para fazê-la rodopiar com o ar da noite.

- Agora eu! – ela gritou, e correu para lhe dar a câmera.

Ele desceu e ficou olhando para cima: lá estava ela, imitando os ombros encolhidos e o rosto perplexo e desesperançado de um Stan espantado com a vida, mas ainda amando viver. Ele disparou o obturador com vontade de ficar ali o resto da vida.

Ela foi descendo devagar, olhando para o rosto dele.

- Você está chorando – a moça exclamou.

Colocou os polegares sob os olhos dele para afastar as lágrimas.

Conferiu o resultado.

- É isso – disse –, lágrimas de verdade.

Ele a observou e viu que os olhos dela também estavam quase tão marejados quanto os seus.

- Veja só, você já foi nos meter noutra encrenca – ele disse.

- Oh, Ollie – ela disse.

- Oh, Stan – ele disse.

Ele a beijou suavemente. E acrescentou:

- Será que nós vamos ficar juntos para sempre?

- Para sempre – ela disse.

E foi assim que começou aquele longo caso de amor.

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É claro que eles tinham nomes verdadeiros. Mas isso não importa, porque sempre acharam que a melhor coisa seria chamarem um ao outro de Laurel e Hardy. Pelo simples fato de que ela pesava sete quilos a menos do que deveria e ele estava sempre tentando fazê-la ganhar peso; e ele tinha dez quilos a mais e ela também estava sempre tentando que ele emagrecesse. Mas os esforços eram inúteis e se transformaram na melhor das brincadeiras, que no final se resumira ao seguinte:

- Você é Stan, sem dúvida alguma, e eu sou Ollie, vamos encarar a verdade. E, meu Deus, minha cara jovem, vamos aproveitar essa encrenca, essa bela encrenca em que nos metemos enquanto durar!

E, enquanto durou, e durou bastante, foi uma dessas coisas perfeitas, uma loucura da qual eles nunca se livrariam até o fim da vida.

A partir daqueles momentos crepusculares na escadaria, seus dias sempre foram longos, despreocupados e repletos daquele riso maravilhoso que acompanha o início e o dia-a-dia de qualquer grande caso amoroso. Somente quando paravam de rir para se beijarem, e apenas interrompiam os longos beijos para rirem daquela coisa estranha e milagrosa que era se encontrarem completamente nus no meio de uma cama tão grande como a vida e tão linda como a manhã.

Sentado ali, no meio de toda aquela brancura tépida, ele fechou os olhos, sacudiu a cabeça e declarou pomposamente:

- Eu não tenho nada a dizer!

- Sim, você tem! – gritou ela. – Diga!

Ele disse e eles rolaram da borda da Terra.

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O primeiro ano deles foi um mito, uma fábula que seria exageradamente aumentada ao ser lembrada, trinta anos mais tarde. Iam com frequência ao cinema assistir a filmes novos ou velhos, mas principalmente aos do Gordo e Magro. Sabiam de cor todas as melhores cenas e gostavam de repetir as falas, gritando enquanto à meia-noite andavam de carro pelas ruas de Los Angeles. Ele a mimava, tratando a infância dela em Hollywood como se fosse algo de muito especial, e ela também o mimava, fazendo de conta que o menino que ele tinha sido – andando de patins em frente aos estúdios – ainda vivia no presente.

Ela provou isso certa noite. Num ímpeto, perguntou onde ele, em seus patins, colidira com o comediante W.C. Fields. Onde pedira a Fields um autógrafo e este devolvera-lhe o livro com uma exclamação:

- Eis aí, seu pequeno filho da puta!

- Me leve lá – ela disse.

Às dez da noite, desceram do carro na frente do estúdio da Paramount; e ele, apontando para o chão, perto do portão, contou:

- Ele estava aqui.

Ela então o abraçou e o beijou, dizendo com carinho:

- Onde foi que você tirou aquela foto com Marlene Dietrich?

Ele atravessou a rua e andou com ela uns vinte metros.

- Marlene estava aqui – disse –, iluminada pelo Sol do poente.

E ela o beijou novamente, enquanto a Lua, surgindo como num passe de mágica, iluminava toda a rua em frente ao estúdio. Ela deixou que toda a sua alma fluísse para ele, como se fosse uma cascata; ele recebeu seu fluxo, devolveu-o e ficou feliz.

- Agora – disse ela, num murmúrio –, onde você viu Fred Astaire em 35, e Roland Colman em 37, e Jean Harlow em 36?

Até a meia-noite ele a levou a esses três lugares diferentes, e em cada um deles ela o beijou como se aquele momento não tivesse nunca um fim.

Foi assim no primeiro ano. E durante aquele ano, pelo menos uma vez por mês eles voltaram àquela escadaria íngreme do piano e festejaram com coquetéis de champanhe. Até descobrirem uma coisa surpreendente:

- Eu acho que são as nossas bocas – disse ele. – Eu nem sabia que tinha uma boca até encontrar você. A sua boca é a coisa mais extraordinária do mundo, e me faz sentir como se a minha também fosse extraordinária. Você foi realmente beijada antes de me encontrar?

- Nunca!

- Nem eu. E pensar que vivi tanto sem conhecer bocas.

- Minha querida boca – disse ela –, fique quieta e me beije.

Entretanto, no fim daquele ano eles descobriram uma coisa muito mais extraordinária. Ele trabalhava para uma agência de publicidade e era obrigado a passar os dias num só lugar. Ela, por sua vez, trabalhava para uma agência de viagens e em breve precisaria viajar com frequência. Os dois ficaram espantados por não terem percebido isso antes. Mas agora, quando a explosão do Vesúvio já acontecera e a poeira começava a assentar, uma noite eles se sentaram e olharam um para o outro; e ela disse, com voz fraca:

- Adeus...

- O quê? – ele perguntou.

- Estou vendo a hora do adeus se aproximar – disse ela.

Ele olhou para o rosto dela e viu que ela não estava triste como Stan nos filmes, apenas triste como ela mesma.

- Eu me sinto como num final de romance de Heminghway – disse ela –, quando duas pessoas caminham juntas, no final da tarde, dizendo como seria bom se aquilo pudesse continuar para sempre, mas sabendo que não é possível.

- Stan – ele retrucou. – Isso não é nenhum romance de Heminghway e não pode ser o fim do mundo. Você não vai me deixar nunca.

Entretanto, sua frase parecia mais uma pergunta do que uma afirmação. Ela fez um movimento suave e ele, piscando, perguntou:

- O que é que você está fazendo?

- Bobo – ela disse –, estou me ajoelhando no chão e pedindo a sua mão. Case-se comigo, Ollie. Venha comigo para a França. Eu tenho um novo emprego em Paris. Não, não dia mais nada. Fique quieto. Ninguém precisa saber que vou sustentá-lo durante o ano, para que você possa escrever o grande romance americano...

- Mas... – disse ele.

- Você tem uma máquina de escrever portátil, uma resma de papel e eu. Diga uma coisa, Ollie, você vem comigo? Que diabo, nem precisa casar comigo, viveremos em pecado. Mas venha comigo, sim?

- E ficar olhando o fracasso chegar e nos destruir dentro de um ano?

- Será que você tem tanto medo disso, Ollie? Será que não acredita em mim ou em você? Meu Deus, porque será que os homens são tão covardes? Diabos, porque tem a pele tão fina e teme se apoiar na mulher como se ela fosse uma escadinha de parede? Escute, eu tenho uma tarefa a cumprir e você vai comigo. Eu não posso deixar você aqui, você rolaria escada abaixo. Mas, se eu precisar fazer isso, eu farei. Eu quero ter tudo agora, não amanhã. Isso inclui você, Paris e meu trabalho. Você vai precisar de tempo para escrever o seu romance, mas vai conseguir. Agora, ou você vai escrevê-lo aqui, sentindo pena de si mesmo, ou vamos viver num desses apartamentos que tem água fria e muitos andares para subir, longe daqui, no Quartier Latin. É a única vez que eu estou lhe propondo isso, Ollie. Nunca pedi ninguém em casamento antes. E nunca mais farei isso, porque meus joelhos já estão doendo. E então?

- Nós já falamos alguma vez sobre isso? – perguntou ele.

- Pelo menos uma dúzia de vezes durante o ano passado, mas você nunca quis escutar. Não tinha jeito.

- Não. Eu estava apaixonado e sem jeito.

- Você tem agora um minuto para se decidir. Sessenta segundos.

Ela olhava para o relógio de pulso.

- Levante-se-daí! – disse ele embaraçado.

- Se eu fizer isso, será para abrir a porta e desaparecer para sempre – ela comunicou. – Faltam quarenta e nove segundos, Ollie.

- Stan! – suplicou ele.

- Trinta – disse ela, com os olhos no relógio. – Vinte. Já levantei um joelho do chão. Dez. Estou começando a levantar o outro. Cinco. Um.

E ela se levantou.

- A troco do quê, tudo isso?

- Ouça – disse ela –, estou caminhando em direção à porta. Não sei, talvez eu tenha pensado nisso mais do que eu mesma podia perceber. Nós somos pessoas extraordinárias, Ollie, e não acho que ninguém parecido conosco vai aparecer de novo no mundo, pelo menos para nós dois. Ou então estou mentindo para mim mesmo, e provavelmente estou. Mas eu preciso ir embora e você tem a liberdade de vir comigo, embora não esteja podendo encarar o fato, ou sei lá o quê. E agora... – Ela estendeu a mão. – Estou com a mão na maçaneta e...

- E... – ele disse, num murmúrio.

- Estou chorando – ela falou.

Ele começou a se levantar, mas ela sacudiu a cabeça.

- Não, não faça isso. Se você me tocar eu vou ceder, que diabo! Eu tenho que ir embora. Porém, uma vez por ano será o dia da indulgência, ou do perdão, ou seja lá do que for que você quiser chamá-lo. Uma vez por ano eu vou aparecer lá naquela escadaria, mas sem o piano, na mesma hora, como naquela noite em que nos encontramos. E se você estiver lá, eu vou sequestrá-lo, ou você me sequestrará, mas por favor não leve nenhum extrato bancário para me mostrar, nem fale nisso.

- Stan – disse ele.

- Ah, meu Deus! – gemeu ela.

- O quê?

- Essa porta está tão pesada. Não consigo abri-la. – Ela soluçava. – Veja. Está se abrindo. Veja. – E ela soluçava mais forte. – Já fui embora.

A porta fechou-se.

- Stan!

Ele correu e agarrou a maçaneta. Estava molhada. Levantou os dedos até a boca, provando o gosto de sal, e escancarou a porta.

O hall já estava vazio. O as deslocado pelo corpo dela voltou para encontrá-lo. Houve uma ameaça de trovão quando as duas metades de ar se encontraram. Com uma promessa de chuva.

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Por três anos ele voltou para a escadaria do piano no dia 4 de Outubro, mas ela nunca apareceu. Depois, nos dois anos seguintes, ele esqueceu. Contudo, no outubro do sexto ano ele se lembrou de novo e voltou na hora do poente; correu até a metade da escada porque vira algo lá em cima. Era uma garrafa de champanhe com uma fita, e um bilhete dizia:

“Ollie, querido Ollie. Data lembrada. Mas em Paris. As bocas não são as mesmas, mas felizes no casamento. Amor. Stan.”

Depois isso, ele nunca mais foi lá em Outubro. O som daquele piano despencando escada abaixo poderia agarrá-lo e arrastá-lo para Deus sabe onde.

E esse foi o fim, ou quase, do caso de amor de Laurel e Hardy.

Pois houve um encontro final, devido a um acaso feliz.

Quinze anos depois, viajando pela França, ele caminhava com a mulher e as duas filhas pelos Champs-Elysées, num final de tarde, quando viu uma bela mulher vindo na direção contrária. Ela estava acompanhada por um homem mais velho, muito distinto, e por um menino muito bonito de uns doze anos, cabelo escuro, obviamente filho do casal.

Ao cruzarem seus caminhos ambos imediatamente abriram um amplo sorriso.

Ele girou a gravata para ela.

Ela puxou o cabelo para cima, para ele.

E não pararam. Continuaram a andar. Mas ele a ouviu gritar, no Champs-Elysées, e foram as últimas palavras que ouviria dela:

- Veja só a encrenca em que você nos meteu!

E então ela o chamou pelo antigo nome, o apelido que ele tivera nos anos em que haviam se amado.

Porém, ela desapareceu. As filhas e a mulher olharam para ele e então uma das meninas perguntou:

- Aquela senhora chamou você de Ollie?

- Que senhora? – perguntou ele.

- Papai – disse a outra filha, inclinando-se para olhá-lo. – Você está chorando!

- Não.

- Está, sim. Não é, mamãe?

- O pai de vocês – disse a mãe –, e vocês sabem disso, chora até olhando para catálogos de telefone.

- Não – disse ele –, só para cento e cinquenta degraus e um piano. Lembrem que eu tenho que mostrar isso para vocês, meninas, algum dia.

Continuaram a caminhar, mas ele se voltou para olhar para trás, pela última vez. A mulher que estava com o filho e o marido dela também se virou no mesmo momento. Talvez ele tivesse visto a boca da mulher mover os lábios, dizendo: “Até logo, Ollie”. Ou talvez fosse imaginação. Mas ele sentiu que seus próprios lábios de moviam, silenciosamente: “Até logo, Stan”.

E assim eles continuaram andando em direções opostas pelo Champs-Elysées à luz daquele Sol poente de outubro.

5 de jun. de 2012

O Fun. vai para a Guerra Civil Americana em “Some Nights”.

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por Caio Coletti
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Semana agitada para os rapazes do Fun., a banda que estourou com o single "We Are Young" no começo do ano. A nova música de trabalho é “Some Nights”, que acaba de ganhar clipe super-produzido com os novaiorquinos cantando em meio a uma história ambientada na Guerra Civil Americana. O vídeo explora bem a imagem cool da banda e o rosto estranhamente cinematográfico do vocalista de voz supersônica, Nate Ruess.

Ainda em processo de divulgação do primeiro single, a banda esteve no MTV Movie Awards abrindo a cerimônia ao lado de Janelle Monàe (o vídeo não está disponível no YouTube, e segue bloqueado para os brasileiros no site da emissora) e compareceu ainda ao Jimmy Kimmel Live, onde cantou "We Are Young" e "One Foot", que vem sendo aventado como potencial terceira canção de trabalho do álbum.

“We Are Young” esteve no topo da Hot 100 da Billboard por seis semanas seguidas. tendo sido impulsionada pelo cover da série Glee e pela aparição no SuperBowl.