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Review: Liga da Justiça

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28 de fev. de 2014

Review: The Americans, 02x01 – Comrades

THE AMERICANS -- Comrades -- Episode 1 (Airs Wednesday, February, 26, 10:00 PM e/p) -- Pictured: (L-R) Keidrich Sellati as Henry Jennings, Matthew Rhys as Philip Jennings -- CR: Craig Blankenhorn/FX

por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Em certo momento de “Comrades”, episódio de estreia da segunda temporada de The Americans, Elizabeth (Keri Russell), de volta depois de longas férias e recuperada do baleamento do finale passado, está no carro com o marido Phillip (Matthew Rhys) após mais uma noite cumprindo missões para a KGB. Em um momento de silêncio do roteiro, onde talvez as escolhas dos atores tenham sido essenciais para o resultado da cena, Russell estende a mão até a de Rhys, que está segurando a direção do carro, e puxa-a para sua perna, apertando-a. Não é um momento sensual, pelo menos não em uma visão primária, mas existe ali um elemento de “permissão”, uma doçura e uma ternura que são tão absolutamente raras em The Americans e, ao mesmo tempo, são o que fazem a série ser a obra-prima que é.

Esse é só um dos muitos momentos em que os detalhes, as atuações e as particularidades de cena adicionam brilhantismo ao roteiro do episódio, assinado pelo criador Joe Weisberg e do produtor executivo Joel Fields. The Americans, pode-se dizer, é uma grande sinfonia de paralelos e linhas que se esticam de um lado para o outro, e são as delicadezas e emoções passageiras que fazem o conjunto dessa orquestra funcionar. Nesse primeiro episódio, um cold open de mais de seis minutos, antes da abertura, nos refamiliariza com os dois protagonistas e com o universo climático da série. O trabalho de câmera do diretor Thomas Schlamme, que já havia assinado “Gregory” na primeira temporada, toma cuidado para não isolar seus personagens do mundo as suas voltas, porque entende que a narrativa de The Americans é muito dependente de contexto (e não machuca mostrar o quão impecável é a produção de época da FX).

A série é também um paradoxo constante, um conflito interminável, entre o particular e o político, o micro e o macrocosmos dessas pessoas que servem a ideais maiores que elas, mas são subjugadas pelas mais insignificantes emoções humanas. Uma das storylines dessa semana de estreia, por exemplo, foca na filha do casal principal, Paige (a vivaz Holly Taylor), que parece estar passando por um momento em que a confiança que tem com os pais está desmoronando. Isso já foi indicado sutilmente no primeiro ano, uma vez que a moça, no final das contas, está na fase da adolescência – mas aqui sai de cena o filho do casal Beeman, que representava essa “rebeldia” de maneira óbvia, e entra uma construção muito mais interessante, com Paige chegando perto de descobrir o grande segredo dos pais ao mesmo tempo em que passa por uma revelação pessoal (vê Elizabeth e Phillip fazendo sexo).

Essa capacidade de ser comum e extraordinária ao mesmo tempo é a própria fundação de The Americans. Ela está em cada uma das tramas e elaborações que a série criou e continua criando entre seus personagens, explorando cada vez mais a ambiguidade absurda que surge desse complicado “equilíbrio”. Por falar em equilíbrio, o que “Comrades” faz de mais certo (e não são poucas as virtudes candidatas para esse posto) é iniciar a segunda temporada colocando a família dos Jennings em risco, quando um outro casal de espiões é assassinado junto com os filhos. Se toda série tivesse plena consciência do quão importante é “sacudir” a própria fundação num início de segundo ano, teríamos um mundo televisivo bem mais confiável. Claro, aí talvez The Americans não fosse tão absolutamente notável quanto é.

Observações adicionais:

- Phillip é um ator muito convincente quando quer ser, com essa característica de saber parecer confiável, e a dupla camada da atuação de Matthew Rhys é incrível.

- Kari Russell não ter sido lembrada no Emmy é um crime. A construção que ela faz de Elizabeth é insinuantemente marcante: a linguagem corporal e a frieza da atuação, que são jogadas para o lado em momentos de afeição que despontam do rosto da atriz, da sua colocação verbal, criam uma performance completa a brilhante.

- O ponto do Agente Beeman é que, mesmo não sendo absurdamente inteligente, ele é muito persistente, e pensa muito mais sobre o que tem em mãos do que seus colegas. Poucos atores conseguiriam transmitir isso como Noah Emmerich.

- Annet Mahendru é uma gema de intensidade e instinto imagético. Ela é um sex symbol com alma por trás dos olhos suplicantes, e sua Nina é também uma preciosidade temática, elaborando um discuso anti-machista para The Americans, ao mesmo tempo que entra em linha com a mistura particular-político.

✮✮✮✮✮ (5/5)

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Próximo The Americans: 02x02 – Cardinal (05/03)

Review: Suburgatory, 03x05 – Blame It on the Rainstick

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

A partir dessa terceira temporada, ao invés de fazer uma cobertura detalhada de cada episódio de Suburgatory, O Anagrama vai trazer uma review por mês, de preferência de episódios marcantes para a continuidade da série, checando a quantas anda uma das nossas comédias preferidas.

Uma boa parte dos reviews de Suburgatory aqui n’O Anagrama, desde a segunda temporada até a estreia dessa terceira, tem sido focado no fato de que a série de Emily Kapnek é muito melhor quando foca seu olhar na relação entre pais/mães e filhos(as). “Blame It on the Rainstick”, pela primeira vez, trouxe a este que vos escreve a sensação de que essa análise é um pouco injusta com as virtudes da série. Desde o primeiro episódio da season three, lá mais de um mês atrás, os escritores de Suburgatory tem feito um trabalho hercúleo e interessantíssimo em pesar cada relacionamento construído entre seus personagens e avaliar todos os danos e rachaduras neles.

Esse é o verdadeiro olho da série, no final das contas, e “Blame It on the Rainstick” mostra com maior ênfase que está perfeitamente dentro das habilidades do grupo responsável por Suburgatory juntar todos esses relacionamentos em um só episódios, em tramas igualmente importantes e eficientes. Aqui, somos divididos em duas frentes: George, após buscar Noah em sua clínica de reabilitação para problemas de comportamento violento, descobre que a personalidade do amigo está irreconhecível; e Tessa decide matar a aula mais fútil da qual já ouviu falar (sobre técnicas de bronzeamento, ministrada por Dallas, é claro) e acaba encontrando uma banda itinerante num parque em Chatswin. Comandada por Caris (Mae Whitman, yes!!), o grupo musical aos poucos revela algo mais sombrio.

Para começar, o retorno de Alan Tudyk é muitíssimo bem-vindo. Um dos faros cômicos mais afinados da série desde sempre, o ator retrata um Noah mudado com presença de espírito e carcterização perfeita, fazendo o par dinâmico de sempre com o focado Jeremy Sisto. Melhor que a combinação de Sisto com Tudyk só a do protagonista com Jane Levy, porque mesmo com o aspecto da paternidade em segundo plano, as cenas que os dois dividem são as melhores do episódio. Levy tem especialmente um ótimo momento, e vem tendo no decorrer de toda a temporada, se divertindo com o blá-blá-blá hipster presunçoso de Tessa.

Essa tal presunção tão bem traduzida na performance da moça, inclusive, joga uma luz muito interessante sob a sátira de Suburgatory, um elemento que ficou como pano de fundo na segunda temporada. Aqui, com o retrato dos costumes fúteis de Chatswin de novo em primeiro plano, também toma o centro do palco o quanto Tessa é uma ativista um pouco hipócrita quando precisa ser. Há algo na elaboração intelectual-alternativa dela que a faz tão culpada de futilidade e egoísmo quanto aqueles estudantes que ela despreza. Com uma cena tensa e muitíssimo bem escrita entre ela e Lisa, “Blame It on the Rainstick” marca o momento em que a terceira temporada de Suburgatory se cansou de só sugerir isso.

Observações adicionais:

- “Ted Danson dating Whoopi Goldberg” “The heart… wants what it wants”

- Mae Whitman está incrível como uma hippie líder de um grupo de nômades musicais cantando “Moth’s Wings” do Passion Pit em uma tenda. A atriz não só está extremamente madura como passa segurança e carisma no personagem.

- “And where are they from?” “The whole wide world? Planet Earth?”

- “Can you hear it?” “Yeah” “Can you feel it?” “Eh”

- “Incorrect use of your mama”

- O episódio tem uma mensagem muito legal sobre amizade. Uma das coisas mais bacanas de Suburgatory é ter toda a digressão cínica e moral em meio a comédia, e no final voltar a valores muito fundamentais e acertadíssimos.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Suburgatory: 03x06 – About a Boy-Yoi-Yoing (05/03)
Próximo review: 03x10 – No, You Can’t Seat With Us (09/04)

26 de fev. de 2014

Review: Person of Interest, 03x15 – Last Call

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Person of Interest tem a melhor equipe de escritores da televisão aberta americana, ponto. Essa é a marca mais indelével que deixa o episódio dessa semana, primeiro depois do hiato por conta das Olimpíadas de Inverno. É aquela deliciosa sensação de perceber, porque já estamos acompanhando o funcionamento e a evolução dessa série por três temporadas, que nenhum passo é dado em falso e que esses roteiristas não tem medo de colocar vários pratos no ar de uma vez, sabendo muito bem que são capazes de juntá-los todos, e regojizando no barulho que eles todos vão fazer quando se espatifarem no chão, em meio ao caos organizado de uma season finale. Estamos a oito semanas desse momento, e Person ainda assim consegue ser entretenimento de primeira.

“Last Call”, para começar a conversa, realiza uma premissa que estava destinada a existir desde a própria concepção da série, mas mesmo assim nos deixa surpresos por não termos pensado nela antes: Finch disfarçado como um atendente do número de emergência, 911 (nosso 190). Como o responsável pelo roteiro, Dan Dietz (quarta colaboração, entre as anteriores os ótimos “2 Pi R” e “Trojan Horse”), faz questão de soletrar para o espectador, o trabalho de um atendente de emergência não é tão diferente daquele que Finch, Reese e Shaw realizam todos os dias (“At a desk, surrounded by monitors, helping people in danger. All you’re missing is the dog”). De fato, é ali que estão “os números que não chegam a nós”, como diz o personagem de Michael Emerson.

Se não bastasse isso, Person ainda monta uma trama engenhosa por cima dessa premissa, escalando e construindo um personagem da semana genuinamente cativante e ainda ensaiando os primeiros passos da introdução de um novo grande vilão para assombrar nossos heróis. O número da vez é Sandra Nicholson (Melissa Sagemiller, de Law & Order: SVU, em excelente atuação), atendente muito experiente que, um belo dia, recebe a ligação de um garoto que está tendo seu apartamento invadido por estranhos. Ele é sequestrado, e o responsável por isso liga no telefone pessoal de Sandra, fazendo uma série de exigências que incluem apagar um dia todo de ligações do banco de dados do sistema 911. Ao mesmo tempo, no Departamento de Homicídios, Fusco ajuda um policial novato com seu primeiro caso e percebe que ele pode estar ligado àquele no qual Finch e cia estão trabalhando.

Person já abusou do recurso de juntar duas subtramas em uma só resolução, é verdade. Chega ao ponto de que, quando a série joga essa carta, não é mais realmente surpreendente, e soa como um excesso de coincidência exorbitante. Mesmo assim, essas e outras reclamações em relação à condução das minúcias da série não fazem nenhuma frente a extraordinária ousadia e inteligência que a equipe de roteiristas demonstra ao trazer, a cada semana, uma nova perspectiva que se encaixa perfeitamente no tema e na filosofia de Person. Poucas séries, e talvez nenhuma outra hoje em dia, chegam num terceiro ano sabendo mexer no seu formato tão bem quanto essa, e essa é uma virtude que faz empalidecer quaisquer pequenas derrapadas que apareçam pelo caminho.

Observações adicionais:

- Muito legal também a série explorar o fato de que Fusco é muito respeitado dentro do departamento depois da prisão do chefão da HR. A relação de mentor com o novato Harrison (interpretado pelo também iniciante – mas promissor! – Gavin Stenhouse) é uma dinâmica cansada que os dois atores exploram muito bem para fazê-la interessante. É claro, existe pouquíssima coisa que Kevin Chapman, como ator, não consiga vender.

- O vilão que está falando com Sandra, e ao qual nos referimos aí no review como um futuro grande antagonista na série, tem os mesmos, senão mariores, recursos que Finch. O alcance da tecnologia, como sempre em Person, se estende para os dois lados.

- “Basically, Finch, he’s you. If you were evil”

- A forma como Harold lida com o capanga armado que aparece para encurralar Sandra perto do final é genuinamente badass. É bom ver que Michael Emerson ainda tem os nervos para uma atuação tensa como a exigida aqui. Ele ainda é supremamente bom.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Person of Interest: 03x16 – Ram (04/03)

25 de fev. de 2014

Review: Mom, 01x17 – Jail Jail and Japanese Porn

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Há quatro episódios do final de sua temporada de estreia e com números cada vez mais fortes na audiência, Mom aos poucos se mostra uma das sitcoms mais notáveis da programação da TV aberta americana. “Jail Jail and Japanese Porn” marca o retorno da série depois do hiato para as Olimpíadas de Inverno, e mostra que Chuck Lorre e companhia não perderam o trilho que leva a série ao caminho rápido para esse status. O centro do episódio está na covergência de duas tramas que são na verdade continuações de premissas apresentadas em momentos diferentes da temporada.

Da última vez que vimos Regina (Octavia Spencer), ela havia resolvido dar um jeito na sua vida ao ficar sóbria e se entregar para a polícia, confessando o roubo do dinheiro de seus clientes. Agora, ela enfrenta as consequencias dessa decisão: com o julgamento se aproximando, ela precisa que Christy ou Bonnie sirvam como sua “character witness”, uma testemunha que dá depoimento sobre o caráter da ré. A primeira escolha, é claro, é Christy, mas a personagem de Anna Faris tem outra preocupação na cabeça, na forma do relacionamento com David (Nick Zano), o bombeiro-filósofo-alcoólatra que conhecemos no último capítulo, e cuja convivência parece estar tomando cada vez mais do tempo da moça.

O mais legal dessa confluência de tramas, se tocando especialmente no final, é que elas abrem espaço para um tema muito contundente. Em suma, o episódio serve para mostrar que no episódio de Mom, o “amor” não é desculpa para fugir de suas resposabilidades, por mais que essa própria proposta seja muito sedutora para uma alcoólatra em recuperação. Essa é a primeira vez que vemos Christy se deixar levar por algo a ponto de deixar em segundo plano os deveres com a sua família, o trabalho e os amigos. Mesmo que a “droga” da vez seja a paixão (talvez mais o desejo, a infatuação), isso não a faz nem um pouco menos como uma viciada.

Observações adicionais:

- “Mom, she’s going to prison!” “Where she’ll eat for free”

- A cena de Bonnie sendo a character witness é tão genial que me faz querer Allison Janney em The Good Wife. E o breakdown emocional de Christy logo depois, na mesma posição, é igualmente brilhante da parte de Anna Faris.

- “Yeah, the sex was great, Your Honor!”

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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 Próximo Mom: 01x18 – Sonograms and Tube Tops (03/03)

Coldplay em negativo no novo clipe, “Midnight”

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por Caio Coletti

Talvez o álbum mais frutífero da carreira do Coldplay, Mylo Xyloto é um ato difícil de se seguir. Tanto que os britânicos esperaram três longos anos para fazê-lo, e estão voltando bem de mansinho agora que decidiram revelar o próximo projeto: “Midnight” é o nome do novo single, que saiu direto com o clipe, mas nada de anúncios sobre o novo álbum, só a certeza de que o quarteto está aqui para surpreender.

O som está bem menos radiofônico e bem mais alternativo, e o visual do vídeo também, filmado todo em negativo com imagens enigmáticas. A canção é toda baseada em sintetizadores, uma batida bem discreta e a voz de Chris Martin, filtrada por muito autotune. É um Coldplay bem diferente do que estamos acostumados, mas ainda não dá pra dizer com certeza se isso é bom ou ruim.

Review: The Blacklist, 01x14 – Madeline Pratt

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

“Didn’t sleep a wink”. Apesar da nossa frase da semana garantir que nada mudou em The Blacklist nessas semanas que a série passou “de férias” graças a transmissão das Olimpíadas de Inverno, alguns aspector de “Madeline Pratt”, novo e 14º episódio da temporada, testemunham o contrário. Para começar, dois nomes novos são trazidos para a roda de escritores e diretores responsáveis por The Blacklist: o roteiro é de Jim Campolongo (White Collar), e a direção de Michael Zinberg (The Good Wife). Que diferença isso faz? A perspectiva de dois iniciantes no projeto chega nesse momento da temporada para trazer ares novos a uma série que estaria muito mais garantida jogando no seu próprio campo.

Isso não significa que “Madeline Pratt” seja um episódio ruim, mas sim que alguns momentos da narrativa não se desenvolvem do “lado certo do pulp”, uma característica que faz muita diferença para The Blacklist. A trama da semana tem uma premissa muito bacana: a personagem título (Jennifer Ehle, de A Gifted Man) é uma famosa benfeitora que, nas horas vagas, realiza atividades criminosas e se engraça com o próprio Red. Ela reaparece na vida do personagem de James Spader num momento em que necessita de ajuda para roubar uma rara estatueta oriental onde, reza a lenda, esconde-se uma lista com o nome de seis agentes soviéticos infiltrados em solo americano (eles permaneceram ativos depois do fim da Guerra Fria, porque é claro que permaneceram).

A guest star Ehle tem seus momentos de brilhantismo, mesmo que o roteiro não a dê material realmente concreto para trabalhar. Suas melhores cenas são fazendo frente a Spader, e até a Megan Boone, com quem ela desenvolve uma química mais interessante do que os próprios diálogos sugerem. Por outro lado, as sutis melhoras que a série vem fazendo na sua própria constituição nos últimos episódios não são deixadas para trás, especialmente a que dá conta de inferir alguma autoridade mais concreta ao time do FBI que era constantemente ridicularizado por Red. Embora o personagem esteja de volta (brevemente) aos headquarters da força-tarefa, e a premissa seja ridiculamente não-realista para uma história de investigação decente, o Agente Cooper de Harry Lennix ainda se mostra mais dotado de iniciativa, e até divide um par de cenas conflitantes com Red em que os dois negociam como iguais.

“Madeline Pratt” não é um grande episódio como “The Cyprus Agency” foi, mas isso já era esperado – não se pode exigir de uma série como The Blacklist que esteja no topo do seu jogo todas as semanas. Com suas estreias no roteiro e na direção, de certa forma o capítulo soa um pouco incomum, ao mesmo tempo em que atinge todas as notas certas da própria constituição da série.

Observações adicionais:

- A trama Liz/Tom mais uma vez funciona, porque não tenta cutucar nenhum mistério maior e se mostra um ponto de equilíbrio para a personagem de Megan Boone. Além disso, Ryan Eggold é realmente muito melhor em ser o bom marido do que ser um mistério a desvendar.

- “He is not judge, jury and executioner. It’s not the way it works”

- O monólogo em que Red conta a Madeline a história da sua família não é só uma oportunidade para James Spader mastigar cenários, mas especialmente uma para a série desfilar seu senso de mistério, jogando dúvidas sobre a veracidade do que Red está contando.

- Last, but not least: James Spader fazendo uma imitação de um homem gay para tirar Liz de sérios apuros é absolutamente impagável.

✮✮✮✮ (3,5/5)

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Próximo The Blacklist: 01x15 – The Judge (03/03)

24 de fev. de 2014

“Divergente”: tudo sobre a trilha e tudo sobre o filme!

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por Caio Coletti

Em Hollywood não tem essa do ano começar só depois do Carnaval: embora estréie só dia 18 de Abril, para abrir a temporada de adaptações literárias infanto-juvenis de cunho fantástico do ano, Divergente já está ganhando toneladas de promoção por aí, incluindo a obvrigatória trilha-sonora recheada de nomes famosos e canções exclusivas. Por isso, vamos dividir esse post em duas partes.

1) Sobre a trilha: O disco está marcado para sair dia 11 de Março, e tem uma das listas mais fantásticas dessa era de trilhas-sonoras super-estelares que estamos vivendo. Só da Ellie Goulding, a própria arroz de festa do gênero, são 4 canções (duas inéditas e duas pescadas do seu último álbum, o Halcyon).

Confere a lista completa aí embaixo, com links para ouvir as que já estão disponíveis, e mais o vídeo oficial de “Beating Heart”, uma das músicas da Srta. Goulding, com cenas do filme.

1. Find You – Zedd feat. Matthew Koma & Miriam Bryant (link)
2. Beating Heart – Ellie Goulding (abaixo)
3. Fight For You – Pia Mia feat. Chance The Rapper
4. Hanging On (I SEE MONSTAS Remix) – Ellie Goulding (link)
5. I Won’t Let You Go – Snow Patrol
6. Run Boy Run – Woodkid (link)
7. Backwards – Tame Impala & Kendrick Lamar
8. I Need You – M83 (link)
9. In Distress – A$AP Rocky feat. Gasaffelstein
10. Lost and Found (ODESZA Remix) – Pretty Lights
11. Stranger – Skrillex feat. KillaGraham
12. Dream Machines – Big Deal (link)
13. Dead in The Water – Ellie Goulding (link)

Deluxe Version:
14. I Love You – Woodkid (link)
15. Waiting Game – BANKS (link)
16. My Blood – Ellie Goulding (link)

Sobre o filme: Baseado na novela de Veronica Roth que gerou as continuações Insurgent e Allegient, Divergente é a história de um futuro distópico em que os seres humanos são separados em classes de acordo com suas características genéticas. Como não poderia deixar de ser, a protagonista Beatrice desafia esse sistema ao trocar de lados e se apaixonar por um homem de classe diferente.

O elenco é uma mistura muitíssimo bem pensada de talentos jovens e nomes grandes que chamarão a atenção para o filme: Shailene Woodley e Theo James são os pombinhos da vez, ela vindo direto de um ano excepcional e ele de uma carreira que está em ascenção desde 2010; Miles Teller, que recentemente foi anunciado como o novo Reed Richards (do Quarteto Fantástico), interpreta um dos vilões; Jai Courtney (Duro de Matar 5), Ansel Elgort (Carrie, A Culpa é das Estrelas) e Zoë Kravitz (Se Enlouquecer, Não se Apaixone) se juntam aos veteranos Kate Winslet, Ray Stevenson, Maggie Q e Ashley Judd para completar o casting.

A direção ficou por conta de Neil Burger (O Ilusionista), o que é um excelente sinal, enquanto o roteiro caiu no colo de Evan Dougherty (Branca de Neve e o Caçador) e Vanessa Taylor (Um Divã para Dois). Divergente estreia no próximo dia 11 de Abril, e você pode conferir o trailer aí embaixo:

Review: A provocação afiada do excepcional “12 Anos de Escravidão”

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por Caio Coletti

Uma das coisas mais encantadoras sobre qualquer forma de arte é o quão ampla é a gama de cores e expressões que ela pode suportar. Independente de época e tendência, existe algo de infinitamente promissor em uma tela imaculada, uma folha em branco ou um filme virgem. Veja 12 Anos de Escravidão, por exemplo, um filme que absolutamente não pertence a era de cinema que estamos vivendo no momento, e é fácil perceber o quanto quaisquer modas e pressões comerciais podem ser derrotadas tão facilmente pelo simples ato de contar uma história. Contar bem, com os recursos certos e a linguagem adequada para transmitir a mensagem e a emoção ao espectador. É esse simples ato, o de saber a melhor forma de nos mostrar a que veio, que faz de 12 Anos de Escravidão excepcional.

Claro, o filme de Steve McQueen é também, como todos os grandes filmes são, uma feliz conjunção de talentos ímpares e ressonantes. A começar pelo próprio diretor, que depois de uma extensa carreira em curtas-metragens partiu para o cinemão com os polêmicos Fome e Shame. McQueen, um britânico de 45 anos, é dono de um estilo absolutamente particular, e também nada sutil: sua sensibilidade é decididamente masculinizada, com pendências no classiciscmo e, ao mesmo tempo, um olho para o detalhe e o ritmo que vem direto de Terrence Malick. O diretor não tinha encontrado a história certa para o seu cinema até 12 Anos de Escravidão.

Aqui, ele trabalha junto com fotografia e trilha-sonora (contribuição sensacional de Hans Zimmer) para criar um sentimento de submersão para o espectador, que entra na história e vive as argruras do roteiro de John Ridley (Três Reis). Retirada direto das memórias em primeira pessoa do seu protagonista, Solomon Northup, a trama acompanha-o desde sua vida como homem negro e livre na América pré-Guerra Civil. Após ser enganado por dois homens que diziam estar interessados no talento de Solomon como violinista, ele é sequestrado e vendido para a escravidão, deixando para trás a mulher e dois filhos. A odisseia de Northup para reconquistar a liberdade é uma jornada guiada com absoluto instinto e cuidado excepcionalmente acertado com a emoção.

O elenco é essencial para que esse arranjo resulte em uma sinfonia bem afinada. Chiwetel Ejiofor, que já é um grande ator há muito tempo (se você ainda não viu, corra assistir o thriller Endgame, de 2009, estrelado por ele e William Hurt), recebe o papel mais denso da sua carreira das mãos do diretor McQueen e o transforma em tela num observador fiel e confiável para o espectador. Sua performance precisa levar o filme nas costas, e toma essa responsabilidade de forma integral, dinamizando a emoção e nunca caindo na sacarose gratuita. Delicado e marcante, Ejiofor é a própria alma de 12 Anos de Escravidão. Lupita Nyong’o é o outro destaque óbvio, brilhando em uma mão cheia de cenas com uma atuação intensa e simbólica, que não vai sair tão logo da memória de quem assistir ao filme. Em pequenas participações que passeiam pela caricatura mas invariavelmente caem na materialidade como personagens, atores como Michael Fassbender, Sarah Paulson, Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Paul Giamatti e até o produtor do filme, Brad Pitt, reforçam um aspecto que pode passar despercebido, mas não deveria.

12 Anos não é só uma história bem contada e uma manipulação bem sucedida do espectador (a crítica e o público precisa, aliás, parar de levar tão a mal esse termo – é ótimo ser “manipulado” por um filme, e sinal de que ele foi muito bem pensado para tal). Essencialmente, o filme é uma condenação aguda e observadora da hipocrisia e da culpa universal que cerca o próprio ato da escravidão, pintando um retrato muito sensível não só dos negros, absolutos protagonistas da história de McQueen e Ridley, mas também dos antagonistas brancos. Isso não é dizer que 12 Anos de Escravidão tenta simpatizar com esses personagens, mas sim que é capaz de admitir que mesmo sendo capazes de tamanha desumanidade, eles são essencialmente (e revoltantemente) humanos. Essa simples concessão faz do filme uma peça muito mais provocante, e um “conto de aviso” muito mais urgente: 12 Anos não quer jogar o jogo da culpa ao mostrar os horrores da escravidão – quer simplesmente mostrar que somos capazes disso, se enterrarmos a cabeça suficientemente fundo na terra do nosso próprio egoísmo.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, EUA/Inglaterra, 2013)
Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley, baseado na autobiografia de Solomon Northup
Elenco: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong’o, Sarah Paulson, Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Quvenzhané Wallis, Paul Giamatti, Garret Dillahunt, Brad Pitt
134 minutos

21 de fev. de 2014

Foster The People e as guitarras de duas músicas vazadas do novo álbum

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por Caio Coletti

O single “Coming of Age” (que ganhou clipe no comecinho do mês, veja aqui) pode ter sido o primeiro gostinho do Supermodel, novo álbum do Foster The People marcado para sair dia 17 de Março, mas duas canções vazadas da tracklist mostram que ela também pode ser o peixe fora d’água no disco. Apesar de também ser levada pelas guitarras, “Coming of Age” não tem o peso a a melodia das outras duas.

“Pseudologia Fantastica”, que aparentemente será a segunda música de trabalho, e “A Begginer’s Guide to Destroying the Moon”, tem muito mais a ver com psicodélia noventista do que com a mistura de sintetizadores, ganhos pop e pegada rock do primeiro álbum (e do single). O que não significa, é claro, que elas sejam ruins, uma vez que o Foster tem toda a prerrogativa de passear por gêneros.

Você precisa conhecer: Owlle

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por Caio Coletti

Pra quem gosta de: Oh Land, Vanbot, Robyn, La Roux, The Sound of Arrows, M83
 

Uma parisiense cantando em inglês e fazendo synthpop não é algo que se vê todos os dias, mas essa não é a única peculiaridade da garota nascida com o nome de France, em 1986, na capital do país. Ela carregou o nome de batismo para o álbum de estreia, lançado oficialmente no último dia 20 de Janeiro, e aproveitou para fazer aquele que pode muito bem ser o melhor disco de 2014 até agora.

O France, lançado sob o pseudônimo de Owlle (uma brincadeira com “owl” – coruja em inglês – e o sufixo feminino “le” do francês), é uma coleção de canções grudentas e melodramáticas que resgatam o que há de melhor no gênero do synthpop/dream-pop: a capacidade de emergir o ouvinte em um clima todo peculiar.

O clipe aí em cima é o mais recente, e mostra a preocupação estética fora do comum da artista. Apaixonada por moda e sempre envolvida na produção de seus visuais, Owlle marcou o corte de cabelo geométrico e tingido de ruivo com seu público que cresce cada vez mais.

O único outro vídeo da moça até agora é também de uma das melhores canções do álbum, a absurdamente grudenta “Ticky Ticky”. Vem ouvir e não conseguir mais tirar a Owlle da cabeça (literalmente):

20 de fev. de 2014

Diamantes são os melhores amigos da faraó Katy Perry no clipe de “Dark Horse”

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por Caio Coletti

Existe uma linha fina entre não se levar a sério e se subestimar. Quando Katy Perry lançou o clipe engraçadinho na selva para “Roar”, o humor contribuiu para a mensagem uplifting da canção, e potencializou um primeiro single que foi absoluto smash hit. Depois do maravilhoso “Unconditionally”, no entanto, chegou a vez de “Dark Horse”, e dessa vez não era a hora de fazer piada.

A impressão que fica é que Katy tem enraizada em si a noção de que só consegue atingir seu público com uma marca específica de elaboração, e ela envolve as palhaçadinhas que impregnam o clipe de “Dark Horse”. Com um visual incrível que condiz com os temas do álbum e da letra, a participação de Juicy J e o clima de trap music, esse single poderia ser o momento de Katy se impôr como uma artista para ser respeitada.

Só não foi, infelizmente, porque ela não quis.

Kaiser Chiefs e uma longa jornada no clipe de “Coming Home”

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por Caio Coletti

Poucos dias atrás, a gente destacou o quando o Kaiser Chiefs é injustiçado em meio a seus companheiros de geração musical mais famosos (leia o post aqui). Pois hoje (20), os britânicos lançaram vídeo para o primeiro single do próximo álbum, Education Education Education & War, marcado para o dia 31 de Março. “Coming Home” foi a escolhida para música de trabalho.

No clipe, o vocalista Ricky Wilson aparece andando por uma estrada de terra, onde encontra as figuras mais improváveis – de cowboys trocando tiros a um homem tocando piano enquanto seus colegas bebem drinks ao seu redor. Tudo levado pelo carisma de Wilson, que no final se junta com seus companheiros de banda.

18 de fev. de 2014

Vem se maravilhar com a música brasileira no novo single do SILVA, “Janeiro”

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por Caio Coletti

De todos os (na maioria ótimos) novos artistas que preencher o cenário contemporâneo da música brasileira, brincando com conceitos do indie dentro do contexto da mpb, o capixaba SILVA – com tudo em maiúsculas mesmo – é talvez o mais notável. Depois do lançamento do seu lindíssimo álbum de estreia em 2012, o Claridão, e do dueto com Clarice Falcão na fofíssima “Eu Me Lembro”, o moço se prepara para uma segunda gravação de estúdio.

Os primeiros aperitivos para Vista Pro Mar são a capa aí em cima, lindamente idealizada, e o single “Janeiro”. Com uma vibe um pouco mais alegre do que as composições melancólicas do primeiro álbum, a canção abre espaço para uma melodia oitentista e até para uma surpreendente sessão instrumental perto do final, que inclui um saxofone gloriosamente brega (sério, é um elogio).

Review: Tenso e angustiante, “Capitão Phillips” é um filme mais humano do que pode parecer

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por Caio Coletti

Capitão Phillips é talvez a maior prova em 2013 de que em termos de cinema, teoria e prática estão absolutamente distantes. Um filme não existe senão em película, e não se constitui senão pelo trabalho combinado de um leque de artistas cujas visões completamente diversas daquela história, daquele processo, trazem elementos adicionais ao resultado final. Sem querer reduzir tudo isso a uma equação matemática, a verdade é que, no papel, Capitão Phillips não deveria funcionar: a história é um prato cheio para patriotismo americano exagerado, os termos técnicos da Marinha não constituem exatamente um atrativo para o público, e a tensão poderia ser abatida pelo fato de que todos já sabemos o desfecho dessa história (principalmente pelo filme ser baseado nas memórias publicadas de seu personagem-título). Capitão Phillips não deveria ser um dos melhores filmes do ano, mas é.

Talvez o grande responsável por isso seja Paul Greengrass. Novamente esquecido pelo Oscar no momento das indicações a Melhor Diretor, o britânico que pulou direto da televisão do seu país para os dois últimos filmes da trilogia Bourne original realiza aqui o tipo de trabalho que vem o qualificando como o homem por trás dos melhores thrillers de Hollywood. As marcas de Greengrass como autor estão todas presentes, da câmera levada na mão a observação aguda de detalhes da encenação, trabalhando a tensão em torno das situações do roteiro de forma genial. Como sempre, o trabalho de Christopher Rouse na edição é essencial nesse sentido, arrumando a profusão de imagens de Greengrass em um todo coerente. É no trabalho com os atores, no entanto, que o cineasta faz a diferença, contornando o roteiro redondo de Billy Ray com um realce muito bem-vindo na humanidade de seus protagonistas.

Embora a moral política não seja exatamente um fator direto nessa história de sobrevivência (e também de convivência), Ray e Greengrass fazem um bom trabalho no sentido de realizar um filme bastante neutro, que não vilaniza nenhum dos lados. Os sequestradores somalis que invadem o navio comandado por Phillips são dotados de características tão ou mais compreensíveis para a percepção do espectador quanto os americanos. Muse, o lider dos sequestradores, é um personagem muito bem articulado, e o estreante Barkhad Abdi, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, faz um trabalho excepcional em realçar todas as características que o fazem assim. Abdi entende as motivações e os sonhos de Muse, se guia pelo instinto em tela e protagoniza diálogos por vezes muito melancólicos com o Phillips de Tom Hanks. Sua atuação emana certo idealismo torto e orgulhoso que fazem do “vilão” de Capitão Phillips qualquer coisa, menos verdadeiramente vilanesco.

Embora em crédito por ter reconhecido esse belo trabalho de Abdi, a Academia fez mais um desserviço ao filme (e a si mesma) ao esquecer de indicar também Hanks. Trata-se da melhor atuação do americano em anos, e nos lembra enfaticamente de que poucos atores vivos podem se comparar a ele num momento realmente inspirado. O talento de Hanks é essencialmente a comunicação fácil com o público, é claro, o carisma e segurança que passa em tela. Mas Capitão Phillips, como todos os seus melhores momentos, faz emergir também um extraordinároi faro para o amálgama de emoções que injetam realismo a qualquer situação. O ator emerge sob o personagem de Phillips, sem medo de retratá-lo como um homem orgulhoso, ainda que de forma discreta, na tentativa de aumentar os paralelos entre ele e Muse. Os olhos vigilantes durante toda a duração do filme contribuem com a sinfonia de tensão de Greengrass e os momentos de explosão emocional são absurdamente bem orquestrados. As cenas finais sozinhas já seriam motivo o bastante para render a Hanks a sexta indicação ao Oscar.

Capitão Phillips, como thriller, é uma das peças mais enervantes dos últimos tempos, mas é ainda mais notável como drama. Uma sutil fábula sobre oportunidade, o choque de mundos diferentes e sobrevivência, a nova obra de Paul Greengrass confirma-o não só como um diretor com plena primazia técnica dos seus arredores, como também como um autor preocupado em fugir, absolutamente, do maniqueismo. Esse é um filme americano em que, quando os americanos triunfam, não é exatamente um final feliz. Um filme em que vidas não deixam de ser vidas por pertencerem a terroristas. E isso é o que o faz verdadeiramente notável.

✮✮✮✮✮ (5/5)

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Capitão Phillips (Captain Phillips, EUA, 2013)
Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Billy Ray, baseado no livro de Richard Phillips & Stephan Talty
Elenco: Tom Hanks, Catherine Keener, Barkhad Abdi
134 minutos

15 de fev. de 2014

Você precisa conhecer: Angel Haze

Angel Haze performing at the Villain during CMJ 2012.

por Caio Coletti

Raykeea Angel Wilson é o verdadeiro nome de Angel Haze, rapper nascida em Detroit e criada no Brooklyn de Nova York. Com uma carreira curta e já cheia de polêmicas, a moça talvez seja a versão feminina de Eminem para uma nova geração (tirando o machismo e a homofobia, é claro). A bem documentada briga com a colega rapper Azaelia Banks e o cover de “Cleaning Out My Closet”, performado em shows, no qual admite ter sido molestada quando criança, garantiram esse status.

Há mais do que a polêmica quando se fala de Angel Haze, no entanto, ou ela não estaria aqui. Com um faro para batidas que se aproxima da sensibilidade pop de B.o.B. e as letras mais inteligentes da atual geração de rappers, Haze impressionou muito a crítica com seu EP de estreia, intitulado New York, em 2012.

Depois das colaborações com Rudimental ("Hell Could Freeze") e Skylar Grey ("Shit, Man!"), foi a vez da rapper lançar seu álbum de estreia. 30 de Dezembro viu a chegada de Dirty Gold, recebido entusiasticamente pelo público. O disco gerou dois singles: “Echelon (It’s My Way)” conta no clipe com a aparição de Brooke Candy, e “Battle Cry” ganha vocais de Sia no refrão. Veja os dois vídeos aí embaixo:

14 de fev. de 2014

Porque ninguém se lembra do Kaiser Chiefs? Tem novo álbum chegando!

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por Caio Coletti

De toda a geração de novas bandas que surgiram no começo da década passada (leia-se The Strokes, The Killers, Franz Ferdinand, Keane, etc), o Kaiser Chiefs é talvez a mais criminalmente subestimada. Com o primeiro álbum lançado em 2005, os britânicos nunca conseguiram repetir o sucesso, especialmente depois do segundo disco, Yours Truly Angry Mob, ter sido injustamente desconsiderado pela crítica. O último lançamento de estúdio, The Future is Medieval, não emplacou nenhum hit nos charts britânicos.

Talvez seja hora de mudar esse quadro, porque dia 31 de Março sai o quinto álbum da discografia dos moços, Education Education Education & War. Até agora, foram três (ótimas!) canções divulgadas do novo trabalho: as enérgicas “Misery Company” e “Bow & Arrows”, a primeira dona de um solo de guitarra arrasador, e a mais tradicional “Coming Home”, que deve servir como primeiro single.

12 de fev. de 2014

Betty Who ainda vai ser grande, e “Heartbreak Dream” é mais uma prova

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por Caio Coletti

Vocês não esqueceram da Betty Who, porque é fisicamente impossível que “Somebody Loves You” tenha saído da sua memória musical. A gente colocou a moça na nossa coluna Você precisa conhecer em Maio passado, e cravou-a como “a melhor novidade da música pop de 2013” (reveja aqui). Saiu ano, entrou ano, e Betty continua absolutamente sensacional, e pronta para lançar mais um EP.

“Heartbreak Dream” surpreendeu pela pegada com guitarras mais fortes e uma melodia mais contemporânea do que as gemas oitentistas do primeiro trabalho da moça, mas é o primeiro single do Slow Dancing EP, que está marcado para lançamento dia 08 de Abril. De igual, mesmo, só que a canção é uma viagem deliciosa.

Chet Faker vai lançar álbum de estreia, e já tem primeiro clipe!

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por Caio Coletti

Lembram do Chet Faker? O músico australiano foi destaque aqui n’O Anagrama, ao lado do conterrâneo e parceiro musical Flume, na coluna Você precisa conhecer (relembre aqui). Agora, mais de um ano depois, o moço está de volta com anúncio de lançamento de um álbum de estreia, intitulado Built on Glass, para 14 de Abril próximo.

O primeiro single do trabalho se chama “Talk is Cheap”, cujo clipe Faker postou em sua página do Facebook com a seguinte legenda: “Queridas pessoas pacientes, esse é para vocês”. No ótimo vídeo, o cantor aparece em close-up, enquanto uma animação em stop motion modifica o ambiente ao seu redor de um campo congelado para uma floresta tropical.

7 de fev. de 2014

Lily Allen e sua viagem lisérgica fofa no clipe de “Air Balloon”

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por Caio Coletti

Depois do escândalo que foi o lançamento da maravilhosa “Hard Out Here”, Lily Allen resolveu investir no seu lado romântico, mas sem deixar as excentricidades e as bizarrices visuais de lado. “Air Balloon”, lançado em áudio Dezembro passado, ganhou clipe com a cantora em uma viagem lisérgica no deserto, uma versão mais fofa e cínica de “Your Love is My Drug”, da Ke$ha.

A música em si é uma preciosidade, absolutamente grudenta, com a batida assinatura de Lily e sintetizadores sob medida para realçar o clima da composição. Cheia de ganchos e muito mais distintamente Lily do que “Hard Out Here”, talvez “Air Balloon” seja o empurrão que a cantora precisa para agilizar o processo do novo álbum.

Descobrindo livros: “Respiração Artificial”, de Ricardo Piglia

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por Amanda Prates

Livro: Respiração Artificial
Autor: Ricardo Piglia
Editora: Iluminuras

Eu poderia começar este review – ou talvez fundamentar quase todo ele – com breves observações ou alertas para os cuidados que se deve ter antes de se lançar à leitura de “Respiração Artificial”, mas eu poderia correr o risco de preterir o caráter de clássico argentino que o livro adquiriu sem nem perceber a infâmia que estaria cometendo. Ou eu poderia ainda apenas narrar as minhas peripécias enquanto leitora do livro que é pauta deste texto. Mas eu não os farei; ressalvas quanto à genialidade do autor não são poucas e se fazem mais úteis aqui.

Dá uma história? Se dá, começa há três anos. Em abril de 1976, quando é publicado meu primeiro livro, ele me manda uma carta”. É assim que começa “Repiração Artificial”, a obra, talvez, mais incomum que já me deparei nesses poucos anos enquanto leitora – e se você não está acostumado com a literatura argentina, vai pensar o mesmo. Piglia arquiteta o que chamaram de “nova ficção”, quando Borges quebrou a forma até então única de se fazer ficção, ao narrar a interrogação sobre o passado de um homem, reconstruir a agressiva biografia de um possível traidor e descrever um misterioso encontro entre Franz Kafka e Adolf Hitler num romance ficcional epistolar que se põe fora do lugar comum.

É um livro cheio de digressões, de grandes parênteses. Não possui um narrador único e cada personagem é independente dentro da história, e é este um dos maiores triunfos do autor, a bela construção de polifonia. É preciso estar atento aos detalhes; os personagens tomam a palavra sem aviso prévio, interrompem quem antes a detinha; as passagens de ambientes nem sempre são explícitas, e as chances de o leitor se confundir são um milhão em um milhão. Não é um livro fácil, mas talvez não tenha a intenção de o ser, já que parece ser mais um amontoado de pensamentos soltos, de alguém que não tinha uma base sólida e por isso se apegou a qualquer caminho.

“Respiração Artificial”, à primeira vista, pode parecer um romance que pelo menos te ofereça uma história linear para contar, mas não o faz. O que há é um emaranhado de histórias e estórias, completado com discussões sobre filosofia, vida, juventude, política, literatura, a ditadura e suas consequências. Dois homens discutem os rumos que a literatura argentina tomou no século XX, comparam Roberto Arlt a Jorge Luis Borges – e o quão profano isso pode ser! –, refletem sobre qual a forma mais apropriada de se referir a um ex-senador. E tudo soa como poesia.

E se toda essa confusão não for o bastante, o autor, no final, joga em suas mãos a panela quente da descoberta da relação entre Kafka e Hitler. O livro se propõe a responder à pergunta sobre o passado, mas o mínimo que ele faz é despejar densas doses de mais interrogações em sua cabeça. O romance se move por formas diferentes para no final se transformar numa grande metáfora desses tempos em que os homens demonstram precisar de um ar artificial para sobreviver. A leitura é densa, mas acredite: não custa muito para entender por que “Respiração Artificial” fora escolhido por cinquenta grandes escritores argentinos como um dos melhores romances da história da literatura daquele país.

✮✮✮✮ (4/5)

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Você precisa conhecer: Daughter + BOY

Daughter - Press Images - March 2012 - London

por Amanda Prates

Se você gosta de Birdy, provavelmente vai se surpreender ao ouvir o trio britânico recém-formado Daughter. E se eu citei Birdy, sim (!), porque é ela a primeira referência direta que você pode fazer (ou não!) quando Elena Tonra emite o primeiro verso da faixa de abertura do debut album.

A banda formada em 2010 em Londres lançou 03 EPs até debutar em 2013 com o If You Leave. A impressão que o trio passa, já na primeira faixa, é que o disco não foi feito para os charts, e jamais terá a intenção de o ser. O álbum é um catálogo de imagens da vida e da morte concentrado em canções com títulos de uma única palavra. Pensando nessa ideia de efemeridade, um caminho parece ser estabelecido: na gritante “Winter”, Tonra e seu amor afastam-se “como duas folhas de papel”, para que em “Shallows” ela promulgue o desejo de uma morte fantasmagórica.

“Smother”, o primeiro single, abriu as portas para o reconhecimento definitivo da banda em terras britânicas, debutando, inconsequentemente, em #4 em um chart indie do Reino Unido. O disco foi positivamente recebido pela crítica especializada, que descreveu o som do trio como “totalmente hipnótico” e “mais envolvente do que muitas ofertas do mesmo nível”.

Apesar do público essencialmente britânico, o trio teve canções em trilhas de séries americanas, como Teen Wolf (num episódio da terceira temporada). Um remix de “Home” também esteve presente no soundtrack do drama How I Live Now, estrelado pela nova queridinha do cinema, Saoirse Ronan.

O trio se constitui como o corpo de seu próprio trabalho: enquanto as guitarras de Igor Haefeli são o sangue que corre através das canções, a bateria de Remi Aguilella é o coração, sobre o qual Elena Tonra descobre sua verdadeira alma.

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Não muito distante do Daughter em termos de sonoridade, o duo BOY é uma deliciosa surpresa folk pop. Formada em 2007 pela sueca Valeska Steiner e pela alemã Sonja Glass depois de se conhecerem num curso de pop music em 2005, a dupla lançou no final de 2011 o álbum de estreia intitulado Mutual Friends, após assinarem contrato com a Grönland Records. Desde então, esse é o único trabalho de estúdio lançado pelas moças, que ainda preferem investir nos singles do primeiro disco.

O primeiro single, “Little Numbers”, não é a faixa mais forte do disco, mas deu conta do recado: atingiu um #4 num chart no Japão. O último lançado até então, “This is the Beginning” é a responsável por apresentar para o ouvinte a essência dançante do disco.

Mutual Friends é um álbum com canções pensadas e trabalhadas com moderação, equilíbrio e cuidado para ser um registro essencialmente alegre (salvo algumas pouquíssimas exceções, como “Boris”, que adquire uma atmosfera mais sombria), e os vocais de Steiner dão todo o charme e personalidade dos quais o disco precisa.

O duo, que inicialmente tocava somente em concertos exclusivos, pode não ter feito o mais revolucionários dos trabalhos na indústria musical, mas é o empreendimento de estreia que gruda fácil na cabeça de quem o ouvir. O som das moças é do tipo que só fica melhor e melhor a cada escuta.

6 de fev. de 2014

Review: Person of Interest, 03x14 – Provenance

"Provenance" -- Reese (Jim Caviezel, right) rejoins Finch (Michael Emerson, left) in New York, but when the team receives the number of a highly skilled antiquities thief, a surprising turn of events finds them planning a heist which could land them all in jail, on PERSON OF INTEREST, Tuesday, Feb. 4 (10:01 – 11:00 PM ET/PT) on the CBS Television Network.  Photo: Giovanni Rufino/WBEI © 2013 WBEI. All rights reserved.

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Provenance” é o primeiro episódio puramente número-da-semana que Person produz desde “The Perfect Mark”, seis capítulos e três meses atrás. É um testamento ao quanto essas histórias mais integradas com a grande trama da série fizeram bem a sua constituição que, agora “de volta aos negócios”, Person seja uma narrativa muito mais instigante, com personagens muito melhor definidos e a mesmíssima capacidade de surpreender a cada novo ângulo que joga sob sua premissa. Ajuda, é claro, que o time de roteiristas da série consiga emprestar carisma e uma história realmente interessante ao número da vez, embrulhando um episódio bastante divertido em um verniz de boas escolhas narrativas.

O episódio é assinado por Sean Hennen, na sexta colaboração com a série, e foca em Kelli Lin (Elaine Tan, conhecida na Inglaterra pela novela EastEnders), uma ladra de arte que usa como disfarce um negócio de planejamento de eventos. O roteiro tem a delicadeza de não abrir todo o jogo nos primeiros 10 minutos, deixando o espectador acreditar que Kelli age sozinha até descobrir que todos os seus crimes são ordenados por uma gangue que tem sua filha pequena sob custódia. A boa atuação de Tan ajuda a vender a história, mesmo que o episódio dessa semana seja uma imensa salada de etnias e não tenha medo de ser pulp (uma gangue tcheca! uma ladra chinesa! um agente da Interpol francês!). Durante o episódio, a história de Kelli ganha pathos, e desemboca em uma resolução muito satisfatória emocionalmente.

Claro, isso tudo é uma bem engendrada distração para a verdadeira razão de existir do episódio, que consiste basicamente em fazer a equipe de Finch, Reese, Shaw e Fusco se unir novamente. Ao descobrirem as motivações de Kelli, nossos protagonistas precisam completar o último trabalho que ela havia prometido à tal gangue tcheca, que inclui roubar a Bíblia de Guttenberg das instalações de uma empresa de segurança. É claro que Person lida com esse ângulo tecnológico com maestria, mas o diretor Jeffrey Hunt (também no seu 6º crédito em Person) não deixa escapar a brincadeira de gênero que o episódio faz com esses personagens. O planejamento e a execução do roubo são levados por trabalho de câmera ágil, tiradas espertas do roteiro e uma trilha sonora dinâmica, no melhor estilo dos filmes do gênero.

Bem-humorado, cheio de senso de história e brilhantemente executado, “Provenance” é um dos melhores e mais divertidos episódios número-da-semana de Person em tempos. Resgata informações e relações entre esses personagens que são saborosas de assistir (destaque para a discreta rivalidade entre Reese e Shaw, sempre um deleite para Sarah Shahi e Jim Caviezel), e não se esquece de tudo o que aconteceu a eles nos últimos episódios. Mantendo-se assim, a terceira temporada de Person pode muito bem ser a melhor peça de televisão do ano.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Person of Interest: 03x15 – Last Call (18/02)

5 de fev. de 2014

Review: Mom, 01x16 – Nietzsche and a Beer Run

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Nietzsche and a Beer Run”, no papel, tem tudo para ser um péssimo episódio de Mom. Como um fantasma do passado, a premissa desse episódio coloca novamente Christy com um interesse romântico, com o dilema do sexo falando alto e um guest star que não exatamente inspira a boas expectativas (Nick Zano, de 2 Broke Girls). Lembrar de alguns episódios do início da temporada em que Christy se envolvia romanticamente com o personagem de Justin Long também não ajudava – não foram momentos ruins, mas desde então Mom provou que pode ser muito melhor. A beleza das expectativas, no entanto, é que elas podem muito bem serem quebradas, e “Nietzsche and a Beer Run” é tão contundente para a série quanto os episódios anteriores, sobre o pai de Christy, foram.

A grande chave é que a equipe de roteiristas não se deixa repetir. O personagem de Zano tem características, e serve a propósitos, completamente diferentes do que o de Long. Se aquele arco servia para mostrar a importância que Christy dava a sua família e a trajetória que pretende seguir agora que se recuperou, essa nova premissa veio para sublinhar o quanto a protagonista da série se agarra a sua sobriedade (mas também o quão fácil é tentá-la a sair dela). Zano é o bombeiro David, que Christy conhece no restaurante. Embora os dois se conectem quase instantaneamente, tendo uma primeira noite selvagem, Christy percebe que David tem problemas com álcool e drogas, e sente que, se continuar vendo-o, as chances de desistir da sobriedade são grandes demais.

Durante o restante do episódio, Mom joga o jogo do julgar/não julgar, conviver/não conviver que tantas vezes está no centro de suas histórias. Esse coração permissivo e ao mesmo tempo rígido da série vem direto da dupla de protagonistas e de suas performances, e talvez por isso quando a trama faz bom proveito dessa dicotomia, as coisas funcionem tão bem. Tudo se resolve em um pequeno momento dramático entre Bonnie e Christy, e “Nietzsche and a Beer Run” mostra que Mom pode ser romântica sem fugir daquilo que a faz, fundamentalmente, diferente de tudo na televisão hoje em dia.

Observações adicionais:

- Os primeiros segmentos, passados no restaurante, fazem o melhor uso de French Stewart desde “Corned Beef and Handcuffs”. Esperamos que a série ressucite a trama do envolvimento dele com Bonnie logo!

- “Oh, hey. Hello. I’m not stealing lobster”

- “Waitress by day, detective by night!”

- Colocando Bonnie ganhando dinheiro como uma life-coach e tomando uma postura descrente em relação à filosofia (o personagem de Zano, além de bombeiro, tem um diploma no assunto – e nenhuma televisão em casa), Mom arquiva o que pode ser seu episódio mais cínico até o momento.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Mom: 01x17 (24/02)

4 de fev. de 2014

Review: Por que, num ano cheio de ficções científicas, “Ela” é a melhor de todas?

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por Caio Coletti

Um dos grandes, senão o grande chavão da ficção científica moderna, é aquele que usa os elementos “extra-realistas” do gênero para exaltar o espírito humano. Em várias histórias, quando ameaçados por elementos fora do nosso mundo habitual – ou mesmo criado por nossos vícios e defeitos –, a humanidade precisa voltar a constituição mais pura de sua alma, aos sentimentos de afeição e união, para perseverar. Nós existimos contra todas as possibilidades, é o que nos diz a ficção científica, e só isso já é prova de que somos verdadeiramente excepcionais. Ela, novo filme de Spike Jonze, indicado a 5 Oscar, não quer negar que sejamos, mas ao contrário da maioria de seus companheiros de gênero, exalta a humanidade exatamente naqueles pontos em que somos mais falhos.

Para começar, como indica a tagline abaixo do título no poster, essa é uma história de amor. Sem rodeios, Ela é um filme extremamente doloroso em seu retrato de todas as fases que compreendem um relacionamento romântico, e de certa forma é também uma narrativa cíclica: Theodore (Joaquin Phoenix) é um recém-divorciado que se apaixona pelo novo sistema de operações que adquire. No futuro de Ela, todo mundo anda com um ponto no ouvido e comanda funções simples como checar e-mails e ler as notícias do dia por controle de voz. A novidade do modelo mais recente comprado por Theo é que o sistema tem uma personalidade própria, uma inteligência artificial que ganha o nome de Samantha (e a voz de Scarlett Johansson, na sua melhor atuação em anos – sim).

Humano e máquina engajam em um relacionamento, e Ela ganha pontos ao retratar um mundo em que nem todas as pessoas que cercam Theo acham isso estranho. Na verdade, o filme dá dicas de que o caso do personagem de Phoenix não é o único nesse universo criado nos mínimos detalhes por Jonze, num trabalho de roteiro excepcional. O script é sem dúvidas a obra-prima do responsável por Quero Ser John Malkovich e Onde Vivem os Monstros, combinando simplicidade e um meticuloso equilíbrio entre sarcasmo social e verdade emocional. Em última instância, Ela, assim como a sociedade que retrata, é incapaz de julgar o relacionamento entre Theo e Samantha, e talvez por isso desenhe nele um arco tão familiar para as histórias românticas. Não que o filme jogue com clichês, mas existe nessa ficção científica algo de muito realista, também, sobre o relacionamento humano.

A elaboração técnica é impecável. O design de produção (indicado ao Oscar) e a fotografia genial de Hoyte Van Hoytema (Deixe Ela Entrar) ajudam a construir um universo para Ela que é absurdamente amplo. Discretamente lírico e sensorial, sem exageros impressionistas, o filme consegue uma proeza que poucos feitos cinematográficos alcançam hoje em dia: tudo na direção só acrescenta camadas e temas a um filme que já é muito rico deles no papel. O trabalho de Hoytema nas câmeras dá à discussão de humanidade e sentimento uma profundidade muito maior, e ao mesmo tempo deixa a história respirar quando o filme precisa apenas observar Joaquin Phoenix e sua impressionante gama de emoções passear pela tela. Assim como o ator acrescenta delicadeza a um personagem difícil, e comanda o filme com autoridade, a fotografia e o universo ao redor dele ajudam a contornar e colorir essa performance de forma absolutamente deslumbrante.

Como toda grande ficção científica, toda grande história de amor, e toda grande obra-prima, este filme carrega consigo uma convicção muito grande, que é tratada em tela com tanta sutileza quanto assertividade. Para Jonze, talvez o grande ponto seja que a maior parte de nossa dimensão não é física, e sim emocional. Ela é uma celebração da humanidade como a espécie que está sempre em busca de quebrar uma barreira, superar algo, viver depois do sobreviver. Mas não se furta de mostrar que nem sempre poderemos fazer isso junto de quem amamos.

✮✮✮✮✮ (5/5)

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Ela (Her, EUA, 2013)
Direção e roteiro: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Rooney Mara, Scarlett Johansson, Chris Pratt
126 minutos

3 de fev. de 2014

Kiss me Once: capa e data do novo álbum da Kylie + clipe do single “Into The Blue”

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por Caio Coletti

O 12º álbum de estúdio da diva australiana Kylie Minogue, muito provavelmente o mais antecipado de toda a sua carreira, já tem data de lançamento, capa e título! Kiss me Once vai chegar às lojas no dia 17 de Março próximo, e a cantora revelou a capa aí em cima no seu Facebook, horas antes de lançar o clipe de “Into The Blue”, primeiro single que já tinhamos ouvido um tempinho atrás.

No vídeo, Kylie aparece dividindo a cena com o ator francês Clément Sibony, que alguns podem reconhecer de um papel coadjuvante em O Turista. Filmado metade em preto-e-branco, metade em colorido e dirigido pelo colaborador habitual da moça, Dawn Shadforth (“Can’t Get You Out of My Head”, “2 Hearts”), o clipe é, como tudo o que Kylie faz, distintamente dela.