9 de ago. de 2010

Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010)

critica (nunk excl)iron man 1

322 milhões de dólares. 4380 salas. O lançamento em maior escala nas redes de cinema ianques da história. O quinto filme a quebrar mais rápido a marca dos 100 milhões de bilheteria. Tudo isso para uma seqüência que parecia improvável dois anos atrás, quando Homem de Ferro chegou aos cinemas chefiado por um diretor sem experiências em blockbusters (o mais perto que Jon Favreau havia chegado de grandes orçamentos tinha sido a aventura Zathura), trazendo um personagem não tão conhecido do público leigo em HQs e ainda arriscando ao escalar um astro problemático tentando se reerguer (Robert Downey, quem mais?) para o papel principal. Sem coadjuvantes de peso e batendo de frente com o mega-fenômeno O Cavaleiro das Trevas, porém, o filme de Tony Stark e compania surpreendeu comercial e criticamente, emplacando sua visão em tons mais leves do mundo dos super-heróis na cabeça de público e especialistas. Downey se tornou o nome do momento em Hollywood e a expectativa para a seqüência (e a continuação do universo Marvel nas telas, agora comandado pela própria editora transformada em estúdio) era tanta que não bastaria manter a fórmula para satisfazê-la. Favreau, que se mostrou inteligente o bastante para não pôr seu ego a frente do conjunto do filme na primeira investida, acertou de novo e deu a público tudo o que ele queria: mais, mais e mais.

Homem de Ferro 2 é, em todos os sentidos, maior que seu antecessor. Se os leitores lembrarem bem, não dá para negar que a primeira aventura do Cabeça-de-Lata era divertida e tinha Downey Jr na melhor forma em um papel para o qual tinha nascido. Tudo no lugar certo, mas nada que se destacasse em cores fortes o bastante para impressionar. Aqui a história é outra. O ator continua em seu auge artistico e comercial, entregando uma interpretação vívida e interessante de um carismático anti-herói impossível de se odiar. Stark é mesmo o papel perfeito para Downey, tão cínico e inconseqüente quanto sua persona fora das telas, e tal semelhança fica clara nas auto-paródias que o ator lança sem medo para o espectador. Sem receio de se expor, Downey faz um trabalho que conquista e admira. Mas aqui o fato é que ele não brilha sozinho.

Com Tony Stark tendo que lidar com as conseqüencias nem tão desastrosas de sua revelação, no final do filme anterior, sobre ser a identidade do Homem de Ferro, entram em cena personagens como Ivan Vanko (Mickey Rourke) e Justin Hammer (Sam Rockwell), os proverbiais vilões. O primeiro, um cientista russo que desenvolve uma armadura parecida com a de Stark, com adição de chicotes elétricos que são armas mortais, parte para a pancadaria na tentativa de vingar a morte do pai, ex-membro renegado da empresa do pai de Tony. É um vilão com muito mais vida e profundidade do que o apático Jeff Bridges representou no primeiro filme, e Rourke empresta a ele as artimanhas de ex-lutador de boxe, a inteligência arguta de ator experiente e a coesão de um trabalho feito com muita pesquisa. Ao seu lado, Rockwell faz o rival empresarial da vez, que se une a Vanko para sabotar a supremacia de Stark no campo das “máquinas de guerra”. Rockwell dá ao personagem a atuação instintiva e impetuosa que é sua marca, e seu estilo cai bem na persona de Justin Hammer, um futuro personagem fundamental para a história de Stark.

A equação do filme se fecha com o Coronel James Rhodes, agora intepretado por Don Cheadle, que substituiu o igualmente talentoso Terrence Howard. Antes melhor amigo do herói, agora Rhodes tem lá suas rusgas com o protagonista, ao ponto de roubar-lhe uma das armaduras projetadas para o Homem de Ferro e entregá-la ao exército americano, que andava mesmo louco para colocar a mão na tecnologia. Nem o talento de Cheadle consegue contornar o tom irritante do personagem, mas é sempre interessante assistir um ator competente lutando contra um roteiro que de fato não o favorece. Cheadle merece crédito, mas não tanto quanto poderia. Em meio a intriga, Tony ainda se vê entre Pepper Potts (Gwyneth Paltrow), promovida a diretora da empresa Stark pelo patrão, e Natalie Rushman (Scarlett Johansson), sua nova (e extremamente “interessante”) secretária. Já que não é segredo para ninguém, Rushman revela ser na verdade Natasha Romanoff, a Viúva Negra, espiã que aqui aparece a serviço de Nick Fury (Samuel L. Jackson) e da S.H.I.E.L.D., futura reunidora do super-grupo Vingadores.

A narrativa acerta, aliás, ao não deixar a sub-trama de evolução da mitologia Marvel se interpor sobre o conflito do personagem. Tony é, aqui mais ainda do que no primeiro, o centro do holofote da trama, e mostra-se uma persona muito mais complexa e interessante do que pode fazer nas estruturas rígidas do “filme de apresentação”. Com escritor bom é assim: familiaridade nunca é desculpa para preguiça, e sempre oportunidade para aprofundamento. Substituindo um time de quatro roteiristas, Justin Theroux (Trovão Tropical) faz um trabalho exemplar, conduzindo toda a trama com fluidez e naturalidade, mexendo fácil com a adenalina e o ritmo da narrativa e ainda abrindo espaço para o senso de humor maravilhoso de Tony e seus coadjuvantes. É a condução ideal para a direção de personagem e franquia, tudo colocado em perfeita coesão por Favreau, um diretor que mostra instinto, visceralidade e ímpeto, realizando uma direção muito menos presa a estigmas e muito mais empolgante do que teve a oportunidade de fazer no primeiro.

Homem de Ferro 2 é, sim, muito maior que seu antecessor. Mas isso não significa que seja melhor. Como diria uma escola de samba carioca, “apenas diferente”. Ou nem tanto. O que importa, no finas das contas e da pipoca, é entretenimento de verdade. Emocionante, empolgante, bonito, viciante, instigante e competente. Como, aliás, poucas vezes se vê na Hollywood do século XXI.

Nota:  8,0

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Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, EUA, 2010)

Uma produção da Marvel Studios/Paramount Pictures…

Dirigido por Jon Favreau…

Escrito por Justin Theroux…

Estrelando Robert Downey Jr, Don Cheadle, Scarlett Johansson, Gwyneth Paltrow, Sam Rockwell, Mickey Rourke, Samuel L. Jackson, Clark Gregg, Jon Favreau…

124 minutos

2 comentários:

Anônimo disse...

Caio adorei a sua crítica rapaz. Eu assisti o Homem de Ferro 2 na semana de lançamento, e confesso que eu ameii*----* Até mais do que primeiro, o Downey é o ator mais perfeito pra esse papel sem dúvidas e até roubou minha preferência que antes era do Denzel Washington rs. Enfim, essa é minha opinião. Bjos doces e sucesso pra vc ;**

Fabio Christofoli disse...

Se vc soubesse como me arrependo de não ter ido ao cinema ver este filme... Fui deixando, deixando, deixando, até que um dia ele saiu de cartaz. Agora estou esperando sair em DVD. O elenco é maravilhoso e o primeiro filme me surpreendeu muito, não esperava nada dele...
O que acho legal do primeiro é que não é só um filme de super-herói, é uma clara crítica ao mercado de armas dos EUA. É muita coragem fazer este tipo de crítica, principalmente em um país com uma cultura e uma economia tão apegada a este mercado.

Estou ansioso para ver! Também acho que o Downey nasceu para este papel, dei muitas risadas com ele e ao mesmo tempo vi um herói nascendo. Aliar humor e heroísmo não é tarefa fácil...