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31 de mar. de 2014

Review: Duas visões sobre a segunda temporada de “House of Cards”, do Netflix

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ATENÇÃO: esses reviews contem spoilers!

A ousada e sombria segunda temporada de House of Cards

por Rubens Rodrigues

O último ano foi um divisor de águas para o Netflix, o serviço de streaming que está dominando a internet conseguiu rapidamente se igualar às emissoras ditas convencionais no quesito qualidade de produção. Com um ano repleto de estreias de conteúdo original, o ambicioso projeto deu tão certo que rendeu indicações aos maiores prêmios da TV para sua série pioneira, além de todo reconhecimento de público e crítica.

Depois de uma temporada inicial consistente, para o dizer o mínimo, “House of Cards” nos apresenta um segundo ano surpreendente, ainda mais intenso, com um protagonista cada vez mais ousado. Isso fica claro logo no primeiro episódio, intitulado “Chapter 14”, quando o roteirista e criador Beau Willimon define o tom sombrio que a série irá seguir a partir dali com uma sequência assombrosa.

A tragédia envolvendo uma das personagens mais relevantes aconteceu para esclarecer vários pontos. Não, este não é o tipo de série que o público deve se apegar aos personagens, e sim, você deve temer Frank Underwood – que ganha uma interpretação assustadora de Kevin Spacey. A decisão narrativa de matar uma personagem importante tão rapidamente é a prova definitiva de que os roteiristas sabem aonde querem chegar e não têm medo do caminho que o programa irá tomar para isso, mesmo que signifique divergir da fórmula adotada pelo show em seu ano anterior. O mesmo pode-se dizer de Francis, que compreende perfeitamente que está em um caminho sem volta, e por isso é capaz de destruir qualquer um que o ameace.

Há uma habilidade clara que a série tem de estabelecer novas diretrizes, e os episódios iniciais foram objetivos quanto a isso. O influente Raymond Tusk (Gerald McRaney) é o primeiro grande antagonista que pode representar uma pedra no sapato de Frank, um adversário a altura que nem de longe lembra o grupo de jornalistas abalados que a personagem de Kate Mara deixou. A força de Lucas (Sebastian Arcelus) e Janine (Constance Zimmer) se torna questionável, e isso é absolutamente compreensível. Por outro lado, temos a introdução da Deep Web e tudo de imprevisível que pode vir com ela, fortalecendo o lado mais fraco da corda.

Outro detalhe notável da segunda temporada é a decisão de humanizar os personagens, o que fica claro em vários momentos, desde as distrações noturnas de Frank e Claire ou a facilidade com que eles conseguem abalar o Presidente e a Primeira Dama, assim como a subtrama de Doug, interpretado pelo competente Michael Kelly. Contudo, nada ganha mais destaque que a trama do escândalo de violência sexual de Claire Underwood. Em uma atuação profunda, brilhante, e cheia de classe, Robin Wright cresce junto com sua personagem e ganha força para virar a mesa quantas vezes se fazer necessário. É espantoso como Claire deixa de ser um apoio para o marido quando necessário e se torna igual, por vezes se sobressaindo. Desdobramento justo para uma personagem que na primeira temporada gritava potencial contido.

É então que o programa deixa de ser um mero jogo político e se torna um enredo emblemático. Seja pelas referências históricas ou pelas denúncias atuais e sempre apropriadas como, por exemplo, sobre o programa de vigilância dos Estados Unidos (PRISM) ou pela trama genial envolvendo violência sexual. Junte isso a um time de diretores seguros do conceito que buscam e o resultado é um produto final relevante, que deve ser visto, revisto e discutido por quem quer entendê-lo em sua totalidade.

✮✮✮✮✮ (5/5)

House of Cards virou uma ópera política: e isso é muito, mas muito bom!

por Caio Coletti

Uma das grandes implicâncias (talvez não tão injustas) da crítica com a primeira temporada de House of Cards, lançada no ano passado, era que a pioneira série do Netflix muito frequentemente se contentava em ser “perfeitamente assistível” ao invés de mirar em algo mais, assim digamos, espetacular. A verdade é que, naqueles 13 primeiros episódios da saga de Frank Underwood nos corredores do poder em Washington, sobrava espaço para a série respirar – o que era bom, visto que isso deu à temporada um ritmo peculiar e a possibilidade de se aproximar da narrativa literária em oposição a televisiva; mas também era ruim, porque essa abundância de espaço também significava que muitas vezes faltava substância para preencher a produção meitculosamente bem feita da série.

Para essa segunda temporada, lançada inteiramente no último dia 14 de Fevereiro, House of Cards deixou para trás essa abordagem inspirada na literatura e foi buscar inspiração em outro tipo de arte: a ópera. O segundo ano da série comandada por Beau Willimon é um absoluto cresendo narrativo e de construção de personagens, estabelecendo uma atmosfera trágica, um tanto cruel, que acompanha muito bem o cinismo natural da premissa e do protagonista. Repleta de subtramas e “sub-dramas”, a temporada foca em personagens secundários por episódios inteiros (o nono, estrelado pelo Freddy de Reg E. Cathey, é particularmente memorável nesse sentido) e enche de jogos de poder a relação entre Frank e o presidente Walker (o ótimo Michael Gill, demonstrando lados da sua performance que não foram aproveitados na primeira temporada).

Em termos de ambientação e de polimento narrativo, essa mudança é absolutamente bem-vinda. O senso que temos da subida de Frank a partir do cargo de vice-presidente até o status em que o deixamos no finale da temporada (o review tem spoilers, mas não tanto assim) é muito mais claro do que aquele que tiramos da trajetória da primeira temporada. O zigue-zague político e as manipulações de House of Cards fazem muito mais sentido aqui do que nunca, especialmente com o foco em emoções como medo e raiva que esses 13 episódios aplicam – sutilmente, é claro. É aí que entra a performance central de Kevin Spacey, emprestando gravidade, postura de poder e uma astúcia não imediatamente óbvia para um dos grandes “vilões protagonistas” da televisão atual. Frank é uma figura lúgubre e magnética para se ter como personagem principal, e a série não quer absolvê-lo de seus pecados – quando muito, o faz ainda mais aterrorizante.

Alçar a Claire de Robin Wright a uma “segunda protagonista” foi outra escolha sábia dos developers, provavelmente movida pela vitória da atriz no Globo de Ouro. Não à toa, porque a ex-mulher de Sean Penn faz um trabalho supremamente enigmático com a personagem, indicando das maneiras mais delicadas que essa é uma mulher andando eternamente na corda bamba. House of Cards retrata Claire como um conflito ambulante, devorada pela ideia de realizar algo bom partindo de princípios tortos e mentiras políticas, que acaba sempre esmagada pela própria ambição, não conseguindo se livrar o sentimento de culpa de não ser a boa pessoa que quer acreditar que é. É a storyline estrelada por Claire que dá essa sensação de uma temporada mais “cheia” e, portanto, mais colorida no lado humano das coisas. Ocorre de maneira similar com as subtramas protagonizadas pelo acessor Doug Stamper (Michael Kelly, guardem esse nome para o Emmy do ano que vem), o repórter Lucas Goodwin (Sebastian Marcelus), e a congressista Jackie Sharpe (Molly Parker, também excelente)

O que não mudou de 2013 para cá é que existe uma liberdade fundamental no formato absolutamente único do Netflix, onde os escritores e diretores podem criar um produto final coeso nos seus objetivos, sem se preocupar com a recepção do público para cada direção de trama. Só por ser um todo que concorda consigo mesmo e trabalha numa mesma direção por suas 13 horas de duração, a segunda temporada de House of Cards já é melhor que boa parte das coisas na televisão americana. É o poder de uma série que pode aprender com seus erros, mas não precisa se curvar a cada vontade apontada por um medidor de audiência.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

Kevin Spacey and Robin Wright in season 2 of Netflix's "House of Cards." Photo credit: Nathaniel Bell for Netflix.

House of Cards está confirmada para uma terceira temporada!

30 de mar. de 2014

Review: Person of Interest, 03x18 – Allegiance

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Em meio a todas as divagações conceituais que rolam aqui no espaço de reviews de Person of Interest d’O Anagrama, as vezes este que vos fala é culpado de negligenciar outras qualidades que fazem da série uma das melhores no ar atualmente. “Alligiance”, por exemplo, esse 18º episódio da terceira temporada, é um triunfo essencialmente por causa de uma elaboração básica, mas que muita gente esquece de observar: ritmo. Em termos de produção audiovisual, ritmo tem a ver com edição, trilha-sonora, narrativa e com a cadência de fala dos atores. Um trabalho acertado na coordenação desses fatores deixa a experiência de assistir ao produto final muito mais instintiva e, consequentemente, abre espaço para que a reflexão do espectador acompanhe a que foi pretendida pelos escritores.

A pessoa mais óbvia para se prezar em relação a isso em Person é, é claro, Michael Emerson. Desde os idos de Lost, e nessa jornada de três anos na série de Jonathan Nolan, o ator é um campeão em usar a dicção e a facilidade verbal na hora de entregar diálogos secos e essencialmente expositivos, fazendo com que os recônditos complicados das tramas de Person pareçam muito mais próximos do espectador do que realmente são. Isso mesmo quando os roteiristas insistem em repetir e mastigar informações de maneira ligeiramente irritante (eu não posso ser o único que percebe isso às vezes). Em “Allegiance”, no entanto, não só ele contribui para isso: Kevin Chapman, Jim Caviezel, Amy Acker e Sarah Shahi, em ordem de eficiência, passam por cima de tiradas cômicas que podiam soar mão-pesada, mas parecem absolutamente naturais nesses personagens.

Trata-se de um episódio divertido, um pouco uplifting, mas também com um ponto a fazer: a história de Maria Martinez (Nazneen Contractor, 24 Horas) e sua luta para superar corrupções corporativas para livrar seu amado iraquiano da deportação, que sem dúvida levaria também a sua morte, é uma reafirmação do sonho americano que não se deixa ser mesquinha ou maniqueista. Não é uma história de americanos vs. iraquianos comum, mas um tabuleiro de xadrez complexo entre grandes empresários (“this is about greed”) e operativos governamentais corruptos, que acaba fazendo um homem inocente de refém, e desperta a ira da mulher que o ama. Talves tudo um pouco melodramático, mas “Allegiance” segue a tendência de Person em conflitar interesses artificais (burocracia, capitalismo) com o valor da vida humana.

Paralelamente, a perseguição de Root ao grande vilão da temporada, o misterioso Greer, não só é interessante conceitualmente ao mostrar as limitações do poder da máquina, como o apresenta na forma de uma ameaça mais concreta. Ajuda, e muito, que o ator a encarnar essa ameaça seja John Nolan, e a história desse senhor de 76 anos é tão legal que vale a pena contar: tio dos irmãos Christopher e Jonathan, ele estreou na TV em 1968, emplacou alguns papéis recorrentes em séries britânicas e acabou caindo em ostracismo no ano de 1980. Quase três décadas depois, ele virou ator-amuleto dos projetos dos sobrinhos, ou você não se lembra do ganancioso Fredericks da trilogia Batman de Christopher?

O Nolan mais velho não é só uma curiosidade, mas principalmente um jogador valioso na história de Person, como mostra na brilhantemente atuada cena final frente a frente com Amy Acker. Nem todo mundo consegue encarar Root nos olhos e ainda sair por cima, afinal.

Observações adicionais:

- Para os fãs de House of Cards de plantão: esse episódio tem também o ótimo Michel Gill, o próprio presidente Walker da série do Netflix.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Person of Interest: 03x19 – Most Likely To… (01/04)

28 de mar. de 2014

Review: Mom, 01x20 – Clumsy Monkeys and a Tilted Uterus

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coleti

Uma das decisões mais bem pensadas dessa primeira temporada de Mom foi fazer Violet decidir colocar o seu bebê para adoção, e existe uma série de bons motivos para isso: primeiro, desde que a decisão foi tomada, a qualidade das piadas em torno dessa trama melhorou notavelmente, e isso não é só reflexo do time de escritores da série que aumentou após o holiday break, mas também do fato de que, quanto menos ordinária a situação, maior o potencial para o humor; segundo, e mais importante, fazer Violet escolher diferente de sua mãe e sua avó faz Mom deixar de ser uma série sobre padrões repetidos e se tornar uma série sobre aprender com os próprios erros.

Essa reverberação temática faz muito mais sentido para a série como um todo, se o espectador observar bem. Seja no fato de que Christy e Bonnie são alcoólatras em recuperação, seja no fato de que estão retomando contato depois de um tempo grande em que estiveram brigadas, seja em tramas menores como a do pai de Christy e a da personagem de Octavia Spencer, muito em Mom tem a ver com a capacidade extraordinária desses personagens de enfaixar e curar feridas para tentar encontrar caminhos melhores do que aqueles percorridos até agora por eles e por aqueles com quem conviveram. Essa é a maior riqueza da série, e quanto mais os escritores apostarem nisso, melhor.

“Clumsy Monkeys and a Tilted Uterus”, ao contrário do episódio da semana passada, se foca em uma única trama e, também ao contrário do episódio da semana passada, consegue ser engraçado e tocante ao mesmo tempo. Enquanto acompanhamos Violet procurando por um casal adequado para adotar seu bebê, e Luke apresentando resistência a decisão da namorada, não só esses dois personagens ganham uma vida muito intensa (Sadie Calvano, e eu tenho dito, está a altura de Anna Faris e Allison Janney), como Christy e Bonnie conseguem fazer o papel de cercar as margens dessa trama e criarem um arco só delas, tão delicado e sutil que nem parece coisa de Mom.

A duas semanas do final, mais uma vez a série de Chuck Lorre e cia prova que, com a inteligência que tem, conseguiu se tornar uma das cada vez mais raras sitcoms tradicionais que valem a pena serem vistas.

Observações adicionais:

- “We may be barren, but we’re really carin’”

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Mom: 01x21 – Broken Dreams and Blocked Arteries (31/03)

27 de mar. de 2014

Review: The Blacklist, 01x17 – Ivan

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Ivan” é o terceiro episódio escrito por J.R. Orci para The Blacklist. Emprestado direto da equipe de Fringe, o moço mais uma vez mostra um faro infalível para explorar as emoções dos personagens, especialmente aquelas ligadas ao passado ainda misterioroso dos mesmos. Suas contribuições anteriores (“Frederick Barnes” e “Anslo Garrick: Conclusion”) mostraram Red e Liz passando por momentos definidores de suas carreiras, e fazendo as grandes perguntas que o espectador esperou que eles fizessem desde a estreia. Com todas as melhoras que vieram nessa segunda metade da temporada, a relação entre os dois protagonistas, que em primeira instância ganhou o jogo para série, foi para escanteio (e não me entendam mal, isso gerou ótimos episódios como o da semana passada). Em “Ivan”, ela está de novo no centro do palco.

Tanto é assim que Megan Boone e James Spader tem duas de suas melhores cenas juntos em muito, muito tempo, e é muito gratificante observar de novo a incrível química que existe entre as atuações dos dois. Lá no primeiro review da série eu cheguei a dizer que “um testa o outro em maneiras explícitas e subliminares”, e essa afirmação ainda vale aqui, se somando a uma intimidade construída com o passar do tempo nessa temporada. Como é de seu costume, Orci usa um objeto inanimado (ou quase, uma caixa de música) para enriquecer a narrativa daquele momento emocional intenso dos personagens, e isso torna o que poderia ser uma exploração gratuita do drama em um momento sutilmente belo.

A tal tranformação emocional vem quando, através de suas investigações sobre o desparecimento de Jolene, a Agente Keen finalmente descobre que Tom, seu marido, está vivendo uma vida alternativa da qual ela não sabe. A descoberta dos detalhes é deixada para depois, mas o choque na atuação de Boone é muito real, e a dinâmica com Ryan Eggold (que melhorou 400% em cena desde que se sentiu livre para misturar o Tom “mau” e o Tom “bom”) é um aspecto interessantíssimo para se observar de perto aqui e nas próximas semanas.

Claro, essa é só a subtrama do episódio: o blacklister da vez é Ivan (o russo Mark Ivanir), um hacker que costuma agir apenas no território de Moscou, mas que assumiu responsabilidade por um ataque a um projeto supersecreto do governo americano. Quer dizer, isso é o que Red e o FBI acham, e não deixa de ser uma decepção e uma mudança do pulp para uma espécie de romance adolescente creepy quando o verdadeiro culpado vem a ser um garoto (Will Denton, de Kidnapped) que, apaixonado pela filha de um dos chefes do projeto, o rouba na esperança de fazê-la não se mudar de estado. Ah sim, e ele tem usado seu intelecto super desenvolvido para hackear o computador dela e tirar fotos com a webcam, além de monitorar seus SMS, e-mails e chamadas telefônicas.

Para resumir, o grande vilão de The Blacklist nessa semana é um stalker que ainda não saiu da high school. “Ivan” não é ruim porque tem uma subtrama inevitavelmente fascinante, e porque a série parece ter adquirido um senso de narrativa afiado desde sua estreia. Mesmo assim, o episódio poderia ser muito mais interessante do que é.

Observações adicionais:

- Um aspecto legal do começo da trama principal da semana é a questão levantada: por que diabos os EUA estão desenvolvendo “a equivalente digital de uma bomba nuclear”? The Blacklist é tão incansavelmente anti-intitucional que até a escolha de palavras diz algo.

- Ah sim, e em “Ivan” descobrimos que Red não paga impostos. Of course he doesn’t.

✮✮✮✮ (3,5/5)

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Próximo The Blacklist: 01x18 – Milton Bobbit (31/03)

A Banda UÓ voltou! Vem ouvir o novo single “Catraca”, com o Mr. Catra

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por Caio Coletti

Durante a última programação de verão da MTV Brasil, a Banda UÓ venceu o reality show Batalha de Quiosques, e ganhou como prêmio a oportunidade de gravar uma música com o funkeiro (e ícone nacional!) Mr. Catra. Para quem acompanha o cenário pop nacional, porém, o trio de Goiânia já é figurinha carimbada, e “Catraca”, o tal single, é mais um momento marcante para a carreira.

A produção eletrônica e o clima de festa, como os próprios membros definem num vídeo de making of liberado pela MTV, tem muito a ver com as músicas do álbum de estreia da banda, lançado no ano passado. A participação de Catra traz, é claro, a batida do funk para a canção, o que só a torna mais saborosa.

25 de mar. de 2014

Shakira coloca fogo no vestido de noiva para provar o amor intenso de “Empire”

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por Caio Coletti

Com o novo álbum, auto-intitulado, lançado oficialmente ontem (terça-feira, 25), Shakira aproveitou para lançar o segundo clipe retirado do disco. “Empire”, que já tinha ganho lyric video e passado com louvores na aprovação dos fãs, ganhou tratamento visual bastante clean e performance digna da intensidade da letra.

No refrão, Shakira compara a sensação de estar com seu parceiro com “os impérios do mundo se unindo” e “as estrelas fazendo amor com o universo”. Vestida alternadamente com trajes de noiva e com um vestido preto que a deixa bem livre para dançar para a câmera, Shakira encarna também nos olhos e na forma de se portar esse “fogo” que parece queimar eternamente em seu novo single.

Review: The Americans, 02x04 – A Little Night Music

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

No review da semana passada ficou claro que, na visão deste que vos fala, “The Walk-In” foi um passo em falso na caminhada geralmente impecável de The Americans. É preciso dizer, no entanto, que esses tropeços são de alguma forma comuns para uma série que inteligentemente, no começo do seu segundo ano, resolveu experimentar com novos escritores e diretores, na esperança de expandir a equipe capaz de fazê-la a melhor versão de si que pode ser. Acontece que, nesse processo, é inevitável que esses novos nomes tragam visões e climas diferentes para uma narrativa cujas expectativas já estavam sólidas na cabeça do público. Às vezes as escolhas não são as mais acertadass, e às vezes o resultado é “A Little Night Music”, quarto episódio do ano, e uma muitíssimo bem-vinda lufada de ar fresco no paradigma de The Americans.

Na verdade, o que parece é que o episódio dessa semana arquiva exatamente aquilo que “The Walk-In” tinha a boa intenção de fazer, mas aprende que não é preciso tirar a sutileza temática e emocional de The Americans para isso. O objetivo aqui é arejar a série de uma forma que torne a sua narrativa mais ágil, a sua quantidade de plot mais volumosa, e sua palheta mais colorida. De fato, a própria storyline da temporada pede por isso, abraçando uma quantidade maior de paralelos e posições ideologicas sobre os personagens e as situações em que eles se envolvem. O diretor Lodge Kerrigan (conhecido pelo filme Keane e pelas colaborações em The Killing) estreia na série com uma linguagem brilhantemente ágil, mas que respeita as profundidades e o ritmo do ótimo roteiro de Stephen Schiff (direto de Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme).

Essa combinação faz a trama se mover mais rápido do que estamos acostumados, principalmente porque as linhas paralelas de The Americans agora são múltiplas: Elizabeth e Phillip são contatados por ninguém menos do que Claudia (Margo Martindale is back, bitches!), que surpreendentemente os sugere que iniciem uma investigação sobre o responsável pela morte dos outros dois agentes soviéticos lá do primeiro episódio; ao mesmo tempo, a Rezidentura decide repatriar forçadamente um brilhante cientista judeu (e soviético) que buscou refúgio nos EUA – e manda o casal Jennings para a missão; também acompanhamos as consequencias da missão impulsiva do Agente Beeman, que executou um atirador a serviço dos soviétivos, e agora vê seu chefe, o Agente Gaad, tomando a queda por ele; por fim, dentro da própria Rezidentura se acirra uma disputa de poder entre Arkady e o novato Oleg, com ótimas atuações dos russos Lev Gorn e Costa Ronin.

O melhor de “A Little Night Music” é que, no meio de tudo isso, a série encontra espaço para mostrar cuidadosamente o quão semelhantes são esses dois mundos de lados opostos de uma guerra. As divisões tanto no FBI quanto na Rezidentura são muito mais disputas de ego, poder e influência, com um toque de burocracida, do que qualquer outra coisa. The Americans raramente ou nunca perde de vista sua natureza como uma história de ideologias se colidindo, mas também não tem medo de mostrar que os dois lados dessa disputa estão suscetíveis as mesmas hipocrisias.

Observações adicionais:

- A subtrama de Paige continua sendo desenvolvida de modo muito interessante, envolvendo questões de confiança e não se furtando de mostrar as contradições e dramas da adolescência, mas ao mesmo tempo conectando-os intrinsecamente ao retrato de uma liberdade “limitada” – garantida tanto pelos pais à garota quanto pela ideologia russa aos seus seguidores.

- O tema recorrente da força feminina continua no episódio: a entrada de Margo Martindale e suas cenas com Keri Russell ajudam muito nesse sentido, mostrando a diferença entre as duas mulheres e o papel fundamental que elas tem nessa história; Alison Wright continua fabulosa em absolutamente todas as suas cenas na pele de Martha; e Annet Mahendru tem a oportunidade de mostrar que sua Nina não está pronta para se subjugar frente ao poder de um superior homem.

- Por fim, mas não menos importante, o episódio retoma um aspecto constante em The Americans, mas que andava marginalizado nessa temporada: mostrar de que forma esses homens e mulheres com vidas duplas usam das relações afetivas para construir confiança com determinadas pessoas, tendo motivos puramente práticos em mente. Como sempre, Keri Russell é excelente em retratar as consequencias humanas desse processo ao mesmo tempo que mostra frieza impressionante.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo The Americans: 02x05 – The Deal (26/03)

24 de mar. de 2014

Review: Person of Interest, 03x17– Root Path

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Para o leitor contumaz dos reviews de Person of Interest aqui n’O Anagrama deve estar se tornando um pouco repetitivo ouvir sobre todas as virtudes da narrativa da série. Episódio atrás de episódio, Jonathan Nolan e o time de escritores tira truques da manga para fazer com que cada história da semana seja absolutamente fundamental num contexto maior, seja prático ou temático. O que há de mais empolgante nessa absolutamente fabulosa terceira temporada da série é que nada acontece por acaso ou é deixado sem consequencias – existe um olhar panorâmico que guia cada decisão de personagem e nos aponta para uma direção ao mesmo tempo surpreendente e apropriada para a premissa da série.

Vejam bem, Person of Interest poderia ser só uma ótima série sobre o mundo paranóico e os conflitos entre privacidade e segurança do mundo pós-11 de Setembro. Durante um bom tempo, foi isso que ela foi, e já era bastante eficiente nesse sentido. O diferencial desse terceiro ano está na dimensão moral e metafórica que a jornada desse mundo controlado pela máquina de Finch tomou: Person se tornou um épico urbano sobre o conflito entre livre arbítrio e destino determinista, entre a força de uma divindade (ainda que, no mundo cínico e frio da série, seja uma divindade tecnologica) e o imensurável valor de uma vida humana. De um thriller interessante com um ponto a fazer, Person se transformou em um dos campos de batalha morais mais fascinantes da televisão americana.

“Rooth Path” (ou “/” – sim, uma barra) é mais um daqueles episódios que vira a premissa inicial da série de cabeça para baixo e junta todas as pontas soltas deixadas por ela numa gigantesca bola de neve com um sentido muito claro para exisitr em meio ao caos. O episódio coloca Root no centro do palco quando a máquina manda-a atrás do faxineiro Cyrus Wells (Yul Vasquez, de Treme) bem no momento em que tanto o time de terroristas Vigilance quanto a misteriosa organização Decima estão no encalço do moço. Como de costume, Person toma o seu tempo para nos inteirar da história toda e de suas implicações, e aproveita a oportunidade para esclarecer o propósito da organização comandada pelo sempre lacônico Greer.

A construção da “segunda máquina” vai ser a grande setpiece do final da temporada, e também, potencialmente, a grande virada de jogo para a introdução do quarto ano da série, que tem perspectivas muitíssimo interessantes se esse for o caso. Com o gosto de Person para mexer nas próprias regras, não é de se duvidar que, na próxima fall season, vejamos o que acontece quando “dois deuses vão à guerra” (na definição mais metafórica e grandiloquente possível, tirada direto de uma fala de Root nesse episódio). Tendo em vista a suprema habilidade com a qual a equipe de escritores lidou com a storyline dessa temporada, é de se esperar que um futuro assustadoramente grandioso está aguardando Person of Interest.

Observações adicionais:

- Amy Acker e Sarah Shahi são absolutos destaques nesse episódio, ambas em seus melhores momentos até hoje na série. A dona do papel de Root aproveita o espaço dado pelo roteiro e desmembra camadas da personagem há muito esquecidas, mostrando que ela não é imune à humanidade de seu próprio passado, e isso a faz vulnerável também aos males dos outros. Da mesma forma, Shahi confere uma determinação moral que não existia em Shaw antes da cena com os capangas de Vigilance nesse episódio (“how you do matters as much as what you do”).

✮✮✮✮✮ (5/5)

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23 de mar. de 2014

Por que “G.U.Y.” é o vídeo definidor da era ARTPOP de Lady Gaga?

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por Caio Coletti

Um anjo abatido que é resgatado por um culto dos mais estranhos, luxuosos e festivos, se torna a encarnação da deusa Vênus na Terra e se vinga de seus algozes, de forma sangrenta e megalomaniaca. Essa é uma boa sinopse de “G.U.Y.”, o curta-metragem mais bem trabalhado, absolutamente ridículo e absurdamente genial que a era ARTPOP vai produzir. Digo isso com alguma confiança porque acho difícil pagar minha língua quando, por tradição, a cada fase Gaga lança só uma grande peça conceitual em forma de clipe, para pegarmos a essência temática do álbum.

O problema é que raramente essa peça é aquela que a maioria do público acha que é. No The Fame foi “Poker Face” e toda a sua decadência luxuosa, regada a jogos e erotismos; no The Fame Monster foi “Alejandro”, sombrio e enfático nos perigos do desamor e da frieza que toma conta do coração daqueles obcecados pela celebridade; e no Born This Way foi “Judas”, cheio de fúria e senso de justiça, um ambiente desafiador que abraça os cantos escuros da própria personalidade em busca de completude.

Porque “G.U.Y.” é essa peça definidora para o ARTPOP, então? As formas de responder essa pergunta são várias. Primeiro, base de identificação visual da atual fase de Gaga está intensamente presente no vídeo, ao mesmo tempo grandiosa e clean, abusando do branco e do dourado. Segundo, “G.U.Y.” reflete muito o momento que Gaga está vivendo artisticamente, como deixou clara a polêmica performance no festival SXSW – a ideia de se libertar das amarras criativas do sistema de gravadoras estava presente lá no palco, na reveladora entrevista dada depois do show, e na lógica anti-sistema (ainda que quase autoritariamente conquistadora) do novo clipe.

Mais importante que esses dois aspectos, no entanto, é dizer que “G.U.Y.”, como uma afronta direta ao sentimento já verbalizado por Gaga de que o sistema da indústria musical a “matou” criativamente, é também muito astuto ao trabalhar dentro do sistema para dizer que é possível fugir dele. A narrativa da forma com que a personagem de Gaga conquista o mundo dos que a abateram é simbólica, porque ela usa o mesmo poder que eles um dia já tiveram para subverter todas as regras que eles um dia prezaram.

Isso não só resgata um aspecto lindo e há muito não-explorado de Gaga como artista (o fato de que ela é uma outsider que se infiltrou no sistema, e continuou fazendo as coisas do seu jeito, até intransigentemente), como também se conecta lindamente com as entrelinhas sobre relação de poder, masculino/feminino, submissivo/dominante, que estão presentes na letra, já genial por próprio mérito, de “G.U.Y.”. Esse é o melhor tipo de vídeo que Gaga pode produzir: aquele que só veio para acrescentar.

21 de mar. de 2014

Review: Mom, 01x19 – Toilet Wine and the Earl of Sandwich

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Toilet Wine and the Earl of Sandwich” é ao mesmo tempo um dos episódios mais narrativamente coesos de Mom e um de seus menos impetuosos em questão de plot. Desenhado como um capítulo para amarrar as pontas de uma trama e seguir desenrolando outra, o roteiro se divide em duas vertentes e aproveita para rascunhar uma situação potencialmente conflituosa que vai tomar conta dos últimos episódios da temporada.

No meu  último review, eu disse que muito da virtude de Mom vem do equilíbrio entre comédia e drama, e “Toilet Wine and the Earl of Sandwich” não é o episódio a melhor fazer esse malabarismo até agora. Para falar a verdade, as piadas estão entre as mais fracas da temporada, mas isso não é um problema tão grave principalmente porque Mom criou raizes sólidas para seus personagens, e consegue escapar com muita coisa pela pura força da identificação dos espectadores com eles.

Metade do episódio é dedicada à conclusão da storyline de Regina (a excelente Octavia Spencer), que se junta a Christy, Bonnie e Marjorie para finalmente dar entrada na prisão feminina onde foi condenada a pagar pelos seus crimes fiscais. Ao mesmo tempo que essa viagem acontece, Alvin (Kevin Pollak), o pai perdido de Christy que reapareceu em sua vida alguns episódios atrás, passa o dia conhecendo seus netos, o que não dá muito certo quando ele deixa escapar para Roscoe que Violet pretende dar seu bebê para adoção.

Tanto o momento de despedida de Regina quanto as interações de Alvin com os netos são cenas quietamente tocantes, em parte ajudadas pelas ótimas atuações nelas envolvidas. “Toilet Wine and the Earl of Sandwich” não é um episódio particularmente memorável de Mom, mas consegue um par de bons momentos e mantem a trama se movendo e se fechando para o finale, cada vez mais próximo, da temporada. Para o momento, é mais do que o bastante.

✮✮✮✮ (3,5/5)

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Próximo Mom: 01x20 – Clumsy Monkeys and a Tilted Uterus (24/03)

20 de mar. de 2014

Review: The Blacklist, 01x16 – Mako Tanida

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Qual é o cerne de The Blacklist? Por mais que a série mereça todos os elogios técnicos e conceituais que vem recebendo aqui nos nossos reviews semanais (e, a julgar pela indicação ao Globo de Ouro de James Spader, até em círculos críticos mais elevados), esse primeiro punhado de episódios da série tem lutado para encontrar o centro do que a faz uma peça de televisão com propósito de existir. O pulp é divertido, poucos espetáculos superam a interpretação de Spader, e existe um trabalho sólido de construção de narrativa que carregou a série até esse momento, mas é em “Mako Tanida” que a vocação temática de The Blacklist vem a tona. Ela se encaixa no que pode ser considerado um clichê da televisão americana: o conflito, e a eventual interligação, entre dois mundos.

Ser um clichê, no entanto, não é tão ruim quanto a primeira vista parece. Especialmente quando se trata dos fundamentos da narrativa, se encaixar no padrão é um bom começo para explorar as possibilidades particulares da sua premissa, e é isso que The Blacklist começa a fazer aqui. Existe uma riqueza de roteiro em “Mako Tanida” que é inédita na série, uma clareza impetuosa de ter “todas” as cartas na mesa e, por isso, ser capaz de jogar um jogo muito mais interessante. Algumas séries se dão bem na brincadeira de deixar ambíguas as relações e os caráteres dos personagens (The Good Wife é um exemplo perfeito), mas em The Blacklist isso não funciona porque a própria fundação da série consiste em sabermos quem são essas pessoas, e observarmos o quanto elas são parecidas – mesmo que tentem com tanto afinco não ser.

O blacklister da semana é o personagem título (Hoon Lee, conhecido dos fãs de Banshee), mas a história mesmo é sobre o Agente Ressler. Quando o criminoso japonês foge da prisão na qual a força-tarefa comandada pelo personagem de Diego Klattenhoff o havia colocado, ele começa a fazer visitas a cada um desses agentes para matá-los. A partir do momento que Audrey, a ex-esposa de Ressler, é morta em um conflito com o japonês, o agente do FBI é possuído por uma fúria de vingança inédita – e o episódio entra em uma série de cenas acertadíssimas. O subplot envolve a total revelação de Tom como um agente contratado por alguma força superior com o objetivo de vigiar Liz e, aparentemente, chegar até Reddington. A Jolene de Rachel Brosnahan e o Cowboy de Lance Reddick são as primeiras vítimas do novo “vilão”.

O lugar tomado no centro dos holofotes faz bem tanto para Klattenhoff quanto para Ryan Eggold, de quem este que vos fala nunca foi o maior fã. O intérprete do Agente Ressler agarra pela primeira vez a oportunidade de mostrar que o trabalho de pequenas doses nos episódios anteriores serviu para alguma coisa, e existe um pouco de profundidade emocional nos clihezões que definem o personagem. A ambiguidade moral faz bem para a performance do moço, e ele segura a tensão nos últimos momentos da trama com um trabalho sólido e acertado. Justamente o contrário acontece com Eggold, que parece se libertar das amarras das semanas anteriores e liberar seu lado iconoclasta, exalando fisicalidade e fechando com convicção o personagem de Tom.

Tudo isso acaba ao som de O Lago dos Cisnes, uma das escolhas estéticas mais espertas da série até agora, ao mesmo tempo bastante pulp e parte importante na construção da tensão e da atmosfera carregada do final. “Mako Tanida” é bem pensado, executado (direção e fotografia impecáveis), consegue divertir e ser denso ao mesmo tempo. Eu posso estar sendo precipitado, mas se for inteligente daqui para a frente, e costuma ser, The Blacklist pode finalmente ter se encontrado.

✮✮✮✮✮ (5/5)

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Próximo The Blacklist: 01x17 – Ivan (24/03)

19 de mar. de 2014

Hot, Kylie! “Sexercize”, o novo vídeo da australiana, é o ápice dos clipes sexy

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por Caio Coletti

Com álbum lançado oficialmente na última segunda-feira (17), Kylie Minogue resolveu apostar num segundo single para impulsionar as vendas do Kiss Me Once: ao contrário de “Into the Blue”, que trazia uma vibe pop retrô direto do Aphrodite, a nova “Sexercize” é mais ousada, emprestando elementos do dubstep para uma das canções-assinatura da Kylie sexy que aprendemos a amar lá com “Slow” e “2 Hearts”, entre outras.

Dirigido por um dos herdeiros cineastas de Francis Ford Coppola (Roman, filho do diretor de O Poderoso Chefão), “Sexercize” é quente e suado como era de se esperar do clipe de uma música que combina sexo e ginástica. A performance de Kylie é insinuante na medida certa, e a canção curtinha toma cuidado para não deixar a proposta cansar.

17 de mar. de 2014

Review: The Americans 02x03 – The Walk In

THE AMERICANS -- The Walk In -- Episode 3 (Airs Wednesday, March 12, 10:00 PM e/p) -- Pictured: (L-R) Keri Russell as Elizabeth Jennings, Matthew Rhys as Philip Jennings -- CR: Patrick Harbron/FX

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Nos seus melhores momentos, The Americans é como aquele tipo de livro que flui perfeitamente bem por inteiro, com uma narrativa bem construída e uma prosa interessante, mas que fica muito melhor a partir do momento em que você tem uma caneta em mãos para sublinhar algumas passagens. Esses trechos são partes de um todo admiravelmente bem azeitado, mas são também perfeitamente apreciáveis sozinhos, e o melhor é perceber que eles não seriam possíveis sem todo o trabalho de construção que veio antes e virá depois dele. “The Walk-In”, terceiro episódio do segundo ano da série da FX, tem uma falha fundamental nesse sentido: delega esse desenvolvimento para um segundo plano, em favor de resoluções de trama apressadas que fazem o grande clímax emocional brilhar sozinho em uma verdadeira bagunça de tons.

Isso não significa que o episódio seja propriamente ruim, só é excepcionalmente ordinário para os padrões que The Americans colocou para si mesma. Grande parte da culpa precisa ser creditada a dupla de roteiro-direção da semana: Stu Zichermann é o homem que escreveu Elektra, e Constantine Makris é um veterano da televisão que também dirigiu o ótimo drama australiano Um Caso de Amor nos anos 90. Enquanto o roteirista parece não entender muito bem o ritmo da série, estruturando o episódio como um thriller de espionagem que tem tudo, menos sutileza (o discurso revoltado-revolucionário do informante americano para a KGB antes de ser morto por Stan é o momento mais mão-pesada das duas temporadas de The Americans), o diretor confia cegamente em seus atores para conceder alguma dignidade a essas situações tão estranhas para o universo da série.

Claro, Makris encontra um apoio extraordinário nesse sentido, porque poucos elencos da televisão tem tanta consistência e noção de personagem quanto o de The Americans. Keri Russell – que vem fazendo uma temporada absolutamente extraordinária –, Matthew Rhys, Annet Mahendru e Noah Emmerich seguram o episódio com garras e dentes, e não deixam a trama geral da temporada sair dos trilhos com a pura força de suas atuações. A pouco aproveitada Susan Misner, intérprete da mulher do Agente Beeman, tem seu melhor momento da temporada em uma das cenas mais acertadas da primeira metade do episódio, que é francamente mais consistente que a segunda.

Dizer que “The Walk In” é um episódio apressado não é diminuir a capacidade que The Americans tem de desenrolar as tramas que eles mesmos tão brilhantemente jogam no ar – é dizer que a série já lidou com resoluções de maneira muito mais elegante, e muito mais centrada, do que aqui. Para uma produção tão excepcional quanto essa, se limitar a ser um thriller de espionagem comum é simplesmente trágico.

Observações adicionais:

- Um dos melhores aspectos do episódio são os flashbacks para 1966, mesmo que só porque Keri Russell e Matthew Rhys acertam tão fenomenalmente em seus retrados de Elizabeth e Phillip mais novos. Ela empresta à personagem um olhar diferente, recheado de insegurança e certa ingenuidade idealista, um contraste perfeito para o semblante duro e as prioridades diferentes da Elizabeth que conhecemos; e ele encontra o ponto perfeito de um Phillip que é essencialmente o mesmo homem com um verniz diferente.

- A trama de Paige e seu envolvimento cada vez maior com os segredos dos pais é a mais bem desenvolvida do episódio, apesar da cena quase escatológica de Phillip a repreendendo depois. Aguardem mais da personagem Kelly, da jovem Lizzy DeClement, porque no curto tempo em tela a atriz mostrou que há algo a mais na moça do que parece haver.

✮✮✮✮ (3,5/5)

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Próximo The Americans: 02x04 – A Little Night Music (19/03)

Sia lança a melhor power ballad em muito, muito tempo: vem ouvir “Chandelier”

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por Caio Coletti

“Chandelier” é o primeiro single solo de Sia Furler em quatro anos, e esse é provavelmente um daqueles poucos comebacks que, atualmente, merecem esse nome. Depois de passar esse tempo reinando como uma das compositoras mais requisitadas do mundo pop (“Diamonds”, “Pretty Hurts”, “Perfume”, “Cannonball”, “Into the Blue”), a moça escolheu uma canção matadora para dar um gostinho do seu sexto álbum de estúdio.

Apesar do projeto ainda não ter título nem data de lançamento definidos, já dá para ficar animado: com uma batida meio tropical nos versos, “Chandelier” é uma power ballad de primeira, que solta um refrão poderoso e faz uso perfeito da voz cheia de emoção de Sia.

A propósito, as comparações com “Titanium” são mal-pensadas, uma vez que o novo single tem muito mais cara de Rihanna do que de David Guetta. Ainda bem, no entanto, que é Sia.

11 de mar. de 2014

Várias versões de Lily Allen no divertido clipe de “Our Time”

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por Caio Coletti

Depois do anúncio, no dia de ontem (10), da capa e data de lançamento de Sheezus (que ficou para o próximo 5 de Maio), Lily Allen resolveu liberar hoje o terceiro videoclipe retirado do disco. “Our Time” é uma baladinha no melhor estilo das do It’s Not Me It’s You, lembrando “Who’d Have Known” e “I Could Say”.

No clipe, a cantora aparece em vários visuais, andando por Londres em um táxi, a noite. Vamos-na morena, loira e até ruiva, vestida em uma fantasia de cachorro quente, enquanto curte a noite londrina. Repleto da ironia típica da cantora, “Our Time” é bastante divertido.

10 de mar. de 2014

Review: The Americans, 02x02 – Cardinal

THE AMERICANS -- The Cardinal -- Episode 2 (Airs Wednesday, March 5, 10:00 PM e/p) -- Pictured: (L-R) Matthew Rhys as Philip Jennings, Keri Russell as Elizabeth Jennings -- CR: Craig Blankenhorn/FX

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Na semana passada, The Americans entregou não só uma das melhores estreias de temporada do ano até o momento, como uma das melhore estreias de temporada que este que vos fala já viu. “Comrades” foi tão absolutamente brilhante, sutil, bem-pensado e acertado que as expectativas para a continuação da trama desse segundo ano da série do casal Jennings não poderiam ser mais altas. Portanto, é preciso entender que “Cardinal”, episódio dessa semana, tinha uma carga muito pesada para carregar antes mesmo de começar, e não é justo dizer que o capítulo decepciona. Há erros de ritmo e uma extrema multiplicidade de tramas que aparentemente vai ser o padrão nessa temporada, mas há também uma quantidade enorme de coisas, detalhes e elaborações temáticas importantes, que “Cardinal” acerta em cheio.

O primeiro desses pontos aparece permeando o episódio todo, confirmando que um dos temas da temporada vai ser tanto a oposição/simetria entre feminino e masculino quanto a força das mulheres no estado de guerra silencioso que The Americans retrata. É preciso aplaudir o diretor Daniel Sackheim (que assinou “Trust Me”, da temporada passada, e vários episódios de Lie to Me e Walking Dead) por capturar essa intenção no roteiro e dar às atrizes excepcionais que a série tem um tempo de tela privilegiado. Quando o diretor da Rezidentura está conversando com um segurança sobre o delator americano que acaba de entrar pela porta da embaixada (só uma das muitas tramas que “Cardinal” joga no ar para desenvolver nas próximas semanas), o foco da câmera está em Nina, recebendo a informação e elaborando cuidadosamente uma forma de lidar com ela no jogo duplo que está levando entre o Agente Beeman e a causa soviética.

Annet Mahendru é um absoluto enigma, como sempre, mas um incrivelmente fascinante. Talvez por isso sua interação com o novo funcionário da Rezidentura, Oleg Burov (o charmoso ator russo Costa Ronin), seja tão cativante de se assistir: com seu carisma meio gaiato, o personagem que aos poucos vai sendo explorado pela série parece olhar através das barreiras de Nina e ver aquilo que nem nós, espectadores, conseguimos completamente. Como nem só de Nina vive o lado feminino de The Americans, o episódio dedica um pedaço importante de sua duração a Elizabeth, dando a oportunidade para a sempre estupenda Keri Russell retratar as múltiplas facetas da personagem. Estóica quando corre ao socorro de uma outra agente comunista infiltrada nos EUA, paranóica e comoventemente humana ao perceber o quanto lhe assusta a possibilidade de ter Paige e Henry em perigo, Elizabeth é a essa altura uma das personagens mais sólidas da televisão americana.

Até a pobre Martha da sempre ótima Alison Wright (sério, ela merece mais elogios do que anda recebendo) ganha o seu momento de desafio feminista ao confrontar o “marido”, um sempre disfarçado Phillip, sobre a necessidade de ter uma arma para proteção pessoal. Ainda que fundamentalmente iludida, e uma figura empática de tão “usada”, Martha se agarra a uma dignidade essencialmente moderna para a mulher: “I don’t wanna be a victim”. Sem dúvida, nenhuma das moças de The Americans pode se qualificar como uma donzela em perigo.

Observações adicionais:

- Com a exploração temática aí em cima, não deu tempo de citar que a outra boa fatia do episódio lida com as consequencias do assassinato dos companheiros de Phillip e Elizabeth na semana passada. Phillip confronta o informante interpretado por John Carroll Lynch (Do No Harm) em uma cena tensa e emocional, e para chegar até lá a série ressucita um de seus aspectos mais legais: a espionagem a moda antiga, que traz uma urgência e uma diversão sempre muito bem-vindas para a trama.

- A reação de Matt Rhys e Keri Russell ao ver Stan chegando ao escritório deles é de ouro! O momento de hesitação e de receio em meio a essa crise paranóica, e depois a decisão de continuar com o ato, tudo em expressões. Daniel Sackheim os filma de longe e produz um momento brilhante.

- “I’m a feminist, Nina. I work only for Mother Russia”

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo The Americans: 02x03 – The Walk In (12/03)

9 de mar. de 2014

Review: Bates Motel, 02x01 – Gone But Not Forgotten

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A partir dessa segunda temporada, ao invés de fazer uma cobertura detalhada de cada episódio de Bates Motel, O Anagrama vai trazer uma review por mês, de preferência de episódios marcantes para a continuidade da série, checando a quantas anda um dos nossos suspenses preferidos.

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

A boa qualidade que se pode observar quando se escolhe as séries certas para assistir atualmente nos deixou mal-acostumado. A maioria dos grandes títulos da televisão americana (e também de outras partes do mundo)  chega à estreia com uma ideia completamente formada, uma noção sólida de quem são seus personagens e para onde eles estão indo. Claro que, a partir daí, tudo pode acontecer, e a resposta do público influencia muito nos rumos que as tramas propostas pelos roteiristas vão tomar, mas é fundamentalmente verdadeiro que pouquíssimas séries chegaram ao piloto nos últimos anos sem estarem “maduras” como ideias. Bates Motel é uma exceção.

Durante toda a sua primeira temporada, a série comadada por Carlton Cuse (Lost) e Kerry Ehrin (Parenthood) lutou para crescer e definir que partes de sua premissa queria destacar. Não se trata do caso clássico de série que quer ser tudo de uma vez e aos poucos vai aprendendo que não pode (Mom é um bom exemplo), mas sim de uma falta de foco fundamental, de uma consciência apenas fugidia do seu próprio centro e daquilo que funciona melhor em sua concepção. No caso de Bates, sempre foi óbvio que o compasso conceitual da série estava na relação entre seus dois protagonistas, Norma e Norman (Vera Farmiga e Freddie Highmore). Extremamente multifacetada e complexa, a relação entre esses dois personagens, mãe e filho, ampliava o escopo emocional e a elaboração climática da série cada vez que tomava o centro do palco.

“Gone But Not Forgotten”, a estreia da segunda temporada do programa, deixa claro já nos primeiros dois minutos que aprendeu com os desvios do passado. Trata-se de uma cena simples entre os dois protagonistas, lidando com as consequências do finale da temporada passada, quando Norman assassinou a professora, Miss Watson, depois de um baile de colégio desastroso. Bates tem uma verdadeira mina de ouro na maneira como Norma parece sentir algo de errado com o filho, e sua ligação com o crime, ao mesmo tempo que não quer acreditar nesse “sexto sentido”. Por outro lado, a série não deixa de olhar para o ângulo em que Norma se torna a condescendência permissiva que Norman precisa para, ele mesmo, entrar em processo de negação.

A partir dessa fundação é que o episódio de estreia da temporada constrói os primeiros vestígios da nova trama, e é incrível como tudo parece mais coeso quando Bates não está tentando se achar. As referências ao filme de Hitchcock parecem mais integradas com a trama, e menos um aceno proposital; a violência e sordidez da própria trama não é mal-representada no roteiro, que não cai na armadilha de fazer seus personagens se acostumarem com ela; o rascunho de trama sobre dois jovens lidando com as consequências de algo que fizeram é bastante interessante; e, em meio a tudo isso, a série não perde de vista o lado kitsch que, especialmente na performance de Vera Farmiga, ainda a fazem uma hora divertidíssima de televisão.

Bem-vindos de volta a Bates Motel, caros leitores. O serviço de quarto certamente melhorou bastante desde a última vez.

Observações adicionais:

- Para quem ficou de perguntando quem é o segundo jovem lidando com as consequencias de um ato: Bradley (Nicola Peltz) ganha um pouco mais de destaque, e a oportunidade de ser mais do que uma versão creepy de Regina George, ao buscar vingança pelo assassinato do pai. A atriz é competente o bastante para carregar a subtrama sozinha e costurar bem sua performance com a de Freddie Highmore.

- Momento Farmiga da semana: Norma dá um grande suspiro e passa do banco do passageiro para o do motorista de seu carro, depois de mais um dos surtos de Norman, tendo que ajeitar as penas de maneira cômica no processo.

- Uma das coisas que não mudaram: Norma ainda é a dona da série. A personagem é tão fascinante que carrega até uma trama aparentemente desconectada do tema da série para se tornar algo interessante. Nada paga a cena de Vera Farmiga despejando uma torrente de palavras raivosas na reunião do conselho da cidade de White Pine Bay – é engraçado, intenso e tocante, tudo ao mesmo tempo.

- Ah, sim, e Max Thierot está fazendo o mesmo bom trabalho que fazia na primeira temporada, com uma atuação bem-pensada e mais “gounded” do que qualquer outra coisa na série.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Bates Motel: 02x02 – Shadow of a Doubt (10/03)
Próximo review: 02x05 – The Escape Artist (31/03)

Phillip Phillips rumo ao segundo álbum: ouça o single “Raging Fire”!

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por Caio Coletti

Dois anos depois do lançamento do álbum de estreia que o coroou como um dos vencedores do American Idol mais rentáveis e populares dos últimos tempos, Phillip Phillips já está prestes a partir para a segunda gravação de estúdio da carreira. “Raging Fire” é um primeiro gostinho desse novo disco, ainda sem nome nem data de lançamento.

O single não foge muito do que aprendemos a esperar de Phillip, com violões, cordas e percussão produzindo um clima uplifting. A semelhança com “Home”, canção de coroação do moço e também seu maior hit até o momento, não passa despercebida, mas a letra de “Raging Fire” é ótima, e a performance vocal de Phillips é sempre cativante.

7 de mar. de 2014

Review: The Blacklist, 01x15 – The Judge

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Talvez uma das palavras que mais usamos aqui n’O Anagrama nesses reviews de The Blacklist seja “pulp”. Fazemos isso porque “pulp” é uma daquelas expressões inventadas para definir algo que, de qualquer outra forma, seria muito difícil de explicar, mas mesmo assim podemos tentar: no seu cerne, “pulp” é uma forma de samplear pequenos pedaços da cultura popular criada pelo showbusiness e extrapolá-los em uma demonstração clara de que os criadores daquilo sabem o quão ridícula essa escolha pode ser. Ao comprar essa prerrogativa, brincando com o espectador de “nós já sabemos que você já viu isso antes, mas sabemos também que você está se divertindo à beça”, os escritores de The Blacklist ganham espaço para, em cima desse ultraje todo, construir uma fundação sólida para a sua sére.

“The Judge”, 15ª entrada da temporada de estréia, mostra The Blacklist colhendo os louros plantados nessas semanas desde a estreia, se permitindo falar sério sobre justiça e desconfiança da autoridade, lançando sombras sobre personagens antes heróicos e arrumando o jogo para a storyline que culminará no season finale. De forma parecida com a de “The Stewmaker”, lá atrás nos primeiros episódios, esse nov capítulo mostra que a série não precisa passar o tempo todo zombando dos clichês do próprio gênero – o trabalho sutil dos roteiristas desse primeiro ano lhe deram a benção de um aparato ideológico bem definido que suporta tramas e explorações múltiplas.

A blacklister da semana é conhecida como The Judge, e ganha o rosto de Dianne Wiest, dona de dois Oscar (por Hannah e Suas Irmãs e Tiros na Broadway, ambos de Woody Allen). A atriz, conhecida por seus calorosos retratos de personagens matriarcais, ganha um presente da série na forma dessa vingadora com um senso de jutiça afiado e tendência a comportamento agressivo repentino. É uma performance muito mais tensa e instintiva do que estamos acostumados a vê-la entregar, e o resultado é uma vilã fascinante que só se apaga quando Red chega para confrontá-la, no final. James Spader, obviamente, domina a cena do diálogo entre os dois, desnudando a personalidade dessa mulher que encarcera e, se for o caso, mata os agentes do governo (promotores, policiais, advogados) que cometeram injustiças.

A coisa fica séria mesmo porque o próximo alvo da Judge é o próprio Agente Cooper, e descobrimos que na época em que o personagem de Harry Lennix era encarregado de assuntos referentes ao Afeganistão, um homem foi torturado até confessar uma traição que provavelmente não cometeu. Isso é oportunidade para Lennix entregar sua atuação mais segura até o momento na série, mesmo porque lhe é dado um material muito mais concreto (e “saboroso”, devido aos subtons de ambiguidade) para trabalhar. Com uma resolução extremamente satisfatória que não pinta a personagem de Dianne Wiest como vilã, mas também não se limita a julgar a atitude do agente Cooper, “The Judge” ainda arranja tempo para começar a construir a storyline que vai nos guiar para o confronto do season finale. Multi-tarefa e competente, The Blacklist já pode entrar para o FBI.

Observações adicionais:

- Sobre a subtrama envolvendo Tom e Jolene: no começo do episódio parece que a série estava transferindo a parte de mistério toda para a personagem de Rachel Broshanan. Tendo em vista que a moça é uma ótima atriz (alô, fãs de House of Cards, me apóiem aqui!), a escolha parecia acertadíssima. Isso até o final, quando parece que finalmente temos a confirmação de que o casamento de Tom e Liz é uma farsa e ele tem motivos alternativos.  Não só a trama é mão-pesada, a atuação de Ryan Eggold é lamentável.

- Por outro lado, somos apresentados a um “rastreador” interpretado por Lance Reddick, com um sotaque sulista e uma atuação tão absolutamente ridícula que é exatamente no ponto para a série. Esperamos que ele se torne um personagem regular.

- Temos um final ao som de “Jolene”. Como se nomear a personagem que vai tentar Tom com o nome da música de Dolly Parton não fosse bastante óbvio.

✮✮✮✮ (4/5)

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Próximo The Blacklist: 01x16 – Mako Tanida (17/03)

6 de mar. de 2014

Review: Person of Interest, 03x16 – RAM

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

A essa altura da terceira temporada de Person of Interest, só alguns episódios depois de um arco de história longo e absurdamente marcante para a trajetória da série, seria compreensível se os escritores escolhessem deixar as águas calmas até um par de episódios antes da season finale. No entanto, cá estamos no episódio 16, ainda a sete semanas do final da temporada, e “RAM” coloca em movimento a storyline que com certeza vai culminar em um confronto de todas as premissas e antagonistas apresentados até agora. É verdade que Person toma um episódio inteiro para chegar até lá, mas seria absolutamente equivocado chamar “RAM” de filler – pelo contrário, é uma bola de neve de revelações e conexões intercaladas com um importantíssimo caso da semana, sublinhando o quão tragica (quase operática) é a conexão entre nossos protagonistas.

O episódio começa com a série brincando com a própria abertura, retomando o texto que era declamado por Finch na primeira temporada e “rebobinando” para nos levar até 2010, um ano antes de Mr. Reese se juntar ao personagem de Michael Emerson no combate aos crimes “irrelevantes”. Naquela época, já depois da morte do amigo Nathan Ingram, o parceiro de Finch é Rick Dillinger (o britânico Neil Jackson, de Upstairs Downstairs). O moço tem senso de humor afiado, mas também uma inerente desconfiança da origem das informações passadas a ele pelo “chefe”. A relação entre Finch e Dillinger é parecida com aquela entre Finch e Reese no início da série, mas há algo no personagem de Jackson que lhe é emprestado pelo próprio ator, e o diferencia completamente de Jim Caviezel: a quieta astúcia de um “tubarão”, como ele se refere a si mesmo em certo ponto do episódio.

O caso da semana para a dupla aparece na forma de Daniel Casey (Joseph Mazzello, de The Pacific), um jovem hacker contratado pelo governo sob a prerrogativa de testar um sistema para indicar suas falhas, uma atividade comum para o moço. Ao se deparar com a máquina do próprio Finch e sentir algo errado no ar, Casey roubou um pedaço do código do sistema e fugiu, o que leva a CIA (nas figuras de Reese e Kara Stanton, lembram-se dela?) e os misteriosos agentes do Bond-vilão Greer a terem-no como alvo. Sem entrar em tantos detalhes, a mistura de Finch pré-2011 com o laptop que já haviamos visto como a causa dos mísseis que quase mataram Reese e Stanton na China rende um episódio em que muitas lacunas são explicadas.

Ao mesmo tempo, “RAM” é um interessante estudo de personagem para os nossos dois heróis. Vemos Reese ajudando Daniel a fingir a própria morte mesmo tendo ordens para executá-lo, percebendo que os seus superiores podem ser muito mais “traidores” do que aquele garoto que eles mandaram matar. E quanto a Finch, é mais fácil entender o quanto a vida desse homem foi dominada pelo medo desde o momento em que ele percebeu o que tinha criado. O personagem de Emerson é o retrato de um anjo caído, derrubado pelas consequências da divindade que ele mesmo criou, e que de repente se deu conta de que pode muito bem ser esmagado por ela. Eu também teria muito medo.

Observações adicionais:

- Annie Parisse é ótima como Kara Stanton, de uma maneira que o seu papel em The Following nunca a permitiu ser. A performance continua suave e absurdamente eficiente, emanando um poder feminino que existe em todas as personagens mulheres de Person.

- “I believe the word you’re looking for is ‘rad’”

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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Próximo Person of Interest: 03x17 – Entanglement (18/03)

5 de mar. de 2014

Review: Mom, 01x18 – Sonograms and Tube Tops

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por Caio Coletti

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Existe um motivo sólido (embora não seja uma justificativa válida, são coisas diferentes) para a imensa maioria das comédias televisivas americanas focarem em personagens de classe média ou alta – Hollywood é muito medrosa. A ideia de abordar problemas de famílias e protagonistas menos favorecidos socio-economicamente sob uma perspectiva cômica arrepia os cabelos dos executivos de Los Angeles, que temem ser acusados de fazer graça às custas das classes inferiores a deles. As duas corajosas exceções a essa regra, não à toa, são também as duas sitcoms mais adoráveis da atualidade: Raising Hope e Mom. E ambas escapam da armadilha que os chefões de Hollywood tanto temem do mesmo jeito.

Foquemos na nossa série em questão, e é fácil perceber o quanto Mom se apóia em situações criadas diretamente a partir da falta de recursos da sua família principal e, ao mesmo tempo, o quanto essas premissas se estendem para compreender que esses personagens não são exclusivamente definidos por sua condição social. É nessa dualidade que mora o trunfo de Mom, assimi como em uma outra, entre humor e drama. Seria fácil acusar a série de Chuck Lorre de zombar de seus protagonistas se ela não os fizesse sentir na pele as consequencias dramáticas do ambiente ao seu redor – do alcoolismo de Christy ao seu reencontro com o pai, e agora a gravidez de Violet, Mom faz questão de ser bastante realista (sério!), e ganha muitas prerrogativas com isso.

Dito isso, “Sonograms and Tube Tops” não está no meu top 5 de episódios de Mom nessa temporada que vai se aproximando do final, simplesmente porque o foco na trama da gravidez de Violet nunca foi o aspecto mais forte da série. Sadie Calvano tem feito um trabalho ótimo que merece mais espaço, e pessoalmente eu espero que, em tramas futuras que não tenham a ver com essa gravidez, a atriz brilhe tanto quanto Anna Faris e Allison Janney. O episódio dessa semana a retrata em estado de negação conforme o momento de dar a luz vai chegando, e aplica uma bem-pensada reviravolta ao fazê-la decidir dar o bebê para adoção.

Essa escolha de roteiro abre espaço para um conflito muito mais interessante, com Christy admitindo que via o futuro neto como uma forma de redimir os erros que cometeu com os filhos, e em seguida admitindo que na verdade Violet é a sua chance de fazê-lo (o que gera uma cena extremamente doce e tocante entre Faris e Calvano). Além disso, porém, esse caminho abre espaço para Mom se livrar do assunto no finale da temporada, que com certeza será focado no nascimento do bebê, e ainda dar significado para uma trama que nunca funcionou muito bem. Manobra acertadíssima, senhor Lorre.

Observações adicionais:

- “Speak quickly, I’m bored”

- “Excel?” “At what?”

- “I really wanna drink right now” “Shut up, you got pudding”

- “I told them I don’t want my kid being raised by religious fanatics. I want it raised by homossexuals!”

✮✮✮✮ (4/5)

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Próximo Mom: 01x19 – Toilet Wine and the Earl of Sandwich (17/03)

Você precisa conhecer: James Durbin

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por Caio Coletti

Nem todo pupilo do American Idol consegue ser uma Kelly Clarkson (ou um Adam Lambert, para citar alguém bem-sucedido que não foi o vencedor de sua edição). Classificado na quarta posição da 10ª temporada do programa, em 2011, James William Durbin se destacou nos shows ao vivo do programa ao trazer uma abordagem carismática e vocalmente surpreendente a canções de rock.

Um dos grandes momentos do moço no Idol veio no Top 7, onde fez uma performance arrepiante de “Uprising”, um dos grandes hits do Muse. Veja aí embaixo:

Depois do final do programa – e da famosa tour que todos os anos reúne os 10 melhores de cada temporada, e atrai multidões nos EUA – Dubin se concentrou na produção do primeiro álbum, que saiu ainda em 2011. Memories of a Beautiful Disaster não vendeu brilhantemente, mas ficou dentro das expectativas para um artista que nem chegou no top 3 do Idol.

O som desse primeiro álbum é bem mais pesado em termos de paredes de guitarras e levadas de bateria, do que o material novo. Ouça um dos singles antigos, “Stand Up”, e o novo, “Paracute”, aí embaixo.

O segundo disco de estúdio de Durbin sai no próximo dia 8 de Abril, e será intitulado Celebrate.

3 de mar. de 2014

Oscar 2014: Adeus, ABC, quem manda agora é a mídia social

1620795_852649968083400_315305735_nJennifer Lawrence, Channing Tatum, Meryl Streep, Julia Roberts, Ellen Degeneres, Kevin Spacey, Brad Pitt, Bradley Cooper, Lupita Nyong’o, Angelina Jolie – 9 Oscar e 18 Globos de Ouro em uma só foto

por Caio Coletti

2014, século XXI, smartphones, mídia social e era de Acquarius: o acontecimento mais comentado da entrega do Oscar da noite passada (02) foi uma selfie. Postada por Ellen Degeneres, apresentadora da premiação, em sua conta no Twitter, a foto que reúne-a com vários dos astros e indicados da noite foi tão retweetada que derrubou o sistema do site por um tempo. Ellen quebrou o recorde que antes pertencia a Barack Obama como a foto mais repostada da rede social – no momento em que este que vos fala desenhava essas linhas, eram mais de 2 milhões e 600 mil retweets.

A performance de Ellen na premiação foi suave, esperta e sem controvérsas como o esperado, brincando com familiaridade com os indicados, a duração do show e os apresentadores. O lado de apresnetadora de daytime show ficou evidente, mas nesse clima a cerimônia foi se desenrolando com bastante naturalidade, um bônus para uma premiação que sempre parece um pouco planejada demais – em completa oposição ao caos do Globo de Ouro ou do VMA, por exemplo.

Também nas mídias sociais repercutiu a injustiça perpetuada da noite: mesmo depois de toda a comoção online clamando pela entrega do prêmio para Leonardo DiCaprio por sua performance em O Lobo de Wall Street, a estatueta de Melhor Ator foi mesmo para Matthew McConaughey por Clube de Compras Dallas. Mesmo a escolha não tendo sido inesperada, uma vez que McConaughey veio ganhando todos os prêmios anteriores da temporada pela mesma atuação, a internet não se furtou de suas piadinhas quando DiCaprio, indicado já pela quinta vez, perdeu novamente.

1508532_584524344970553_1583635000_nImagem que circulou no Facebook na noite de ontem

Por falar em premiações esperadas (ou melhor, previsíveis), nenhuma das categorias principais apresentou qualquer surpresa em 2014. A Academia preferiu confirmar tendências ditadas pela temporada de prêmios que a antecedeu, e o resultado foi um show que não pôde evitar de ser morno, mesmo com uma das melhores produções dos últimos anos do Oscar. Segue a lista com os principais vencedores, e o melhor discurso da noite (do próprio McConaughey, inclusive):

Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão (review)
Melhor Atriz: Cate Blanchett, Blue Jasmine
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, 12 Anos de Escravidão
Melhor Ator: Matthew McConaughey, Clube de Compras Dallas
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, Clube de Compras Dallas
Melhor Diretor: Alfonso Cuarón, Gravidade (review)
Melhor Roteiro Adaptado: 12 Anos de Escravidão, por John Ridley
Melhor Roteiro Original: Her, por Spike Jonze (review)
Melhor Fotografia: Gravidade, por Emmanuel Lubezki
Melhor Trilha-Sonora: Gravidade, por Steven Price
Melhor Figurino: O Grande Gatsby, por Catherine Martin (review)

E agora nós vamos terminar o artigo com uma foto de Meryl Streep comendo pizza, porque essa é a própria definição da awesomeness do Oscar. Até o ano que vem.

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