Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

30 de dez. de 2013

Review: Um mundo em movimento com o fabuloso “Frances Ha”

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por Caio Coletti

Logo no início de Frances Ha, o roteiro do também diretor Noah Baumbach coloca a protagonista do título, interpretada pela atual namorada do cineasta Greta Gerwig, discutindo por algum motivo desconhecido um dos mais nefastos modismos da crítica de cinema moderna: o uso exagerado, e muitas vezes condescendente, do adjetivo “sincero”. Acidamente, a personagem – e, por extensão, o diretor-roteirista – comenta que, quando um filme é assim taxado pela crítica em geral, nas entrelinhas se lê que ele se apóia somente nisso, e que portanto, embora possa ser tocante e até marcante para alguns, carece de qualquer valor intelectual e artístico. Quando assistindo Frances Ha, considere isso como Baumbach dizendo “desafio aceito” logo no início de sua obra, porque este é um filme que é até fundamentalmente sincero. É também, no entanto, uma tremenda peça de cinema.

Tudo parte, circula em torno, e retorna eventualmente à história. Frances (Gerwig) é uma moça que está naquele ponto da vida, entre os 25 e 30 anos, em que não ter rumo ou perspectiva real nenhuma deixou de ser charmoso. Ela vive com a melhor amiga e “alma gêmea” Sophie (Mickey Sumner, um verdadeiro achado), tenta uma posição permanente na companhia de dança onde é substituta da talentosa Rachel (Grace Gummer, uma das filhas promissoras de Meryl Streep) e, conforme acompanhamos-na através de algum tempo nessa narrativa meio errante de Baumbach, perde tudo que parece ter algum sentido real nessa vida meio-adulta, meio-infantil. Em certo aspecto, Frances Ha é um gracioso retrato dos encontros e desencontros que a vida pode aplicar às pessoas, conforme a persongem-título se afasta e se reaproxima da melhor amiga, encontra outras pessoas variavelmente interessantes pelo caminho e até faz uma viagem-relâmpago para Paris.

A essa narrativa quase episódica, Baumbach empresta na execução um clima de nouvelle vague, sutilmente implantado através da fotografia em preto-e-branco, da encenação por vezes teatral, e da visão bastante cinética e relaxada dos personagens. A dupla de artistas classe média-alta com quem Frances passa um tempo, interpretados pelos ótimos Michael Esper e Adam Driver (esse último conhecido pelo papel em Girls), protagoniza uma das passagens mais paradoxalmente coloridas do filme, guiados por escolhas nada óbvias do roteiro e um par de cenas que realmente mostram o espírito estético de Frances Ha. Talvez por ser uma escolha que tenha tanto a ver com a história, o aspecto técnico do filme não salte aos olhos, mas deveria: é na fotografia de profundidade sempre aguçada de Sam Levy (Wendy & Lucy) que o mundo de Frances e daqueles a sua volta toma movimento absolutamente constante, e é aí que reside o coração do filme.

Justiça seja feita, movimento vive também na maravilhosa performance de Gerwig, que empresta milhares de minúcias a uma personagem largamente definida por elas, na sua confiança hesitante com subtons melancólicos de quebrar o coração, e especialmente na linguagem corporal que parece nunca cessar de dançar quando está em cena. O coração de Frances Ha está em contar uma história extremamente particular sem isolar seus personagens de um mundo que vibra e rodopia a cada segundo. Com sua cena final enormemente satisfatória, sua boa vontade inesgotável para com os personagens e sua técnica intrinseca à trama, o filme não é um “pequeno feito de cinema”, como alguns teriam a tentação de taxar. É uma obra-prima, e precisa urgentemente ser reconhecida como tal.

***** (5/5)

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Frances Ha (EUA, 2012)
Direção: Noah Baumbach
Roteiro: Noah Baumbach, Greta Gerwig
Elenco: Greta Gerwig, Mickey Sumner, Adam Driver, Michael Zegen, Grace Gummer
86 minutos

Uma nova Neon Hitch (de novo) no single “Some Like it Hot”

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por Caio Coletti

Neon Hitch, sem nem um álbum de estreia no currículo, já passou por mais encarnações e estilos do que uma boa parte de suas colegas do mundo pop. De gypsy-pop a hitmaker da farofa (“Fuck U Betta” ainda é inesquecível), passando por artista R&B misteriosa na fase do EP Happy Neon. Com 2014 chegando, a moça prepara o lançamento de uma nova mixtape, intitulada dessa vez #301toParadise.

“Some Like it Hot” é o primeiro single, seguindo ao menos uma traição do Happy Neon, a referência a Merilyn Monroe. Tirando isso, no entanto, o R&B do EP virou um pop sintetizado mid-tempo, com uma melodia grudenta e várias notas agudas para Neon demonstrar seu alcance vocal.

27 de dez. de 2013

Lea Michele revela mais uma faixa do “Louder”: a power ballad “Battlefield”

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por Caio Coletti

Depois de marcar o final do ano com o single “Cannonball”, que ainda não ganhou clipe, Lea Michele está trabalhando para aumentar as expectativas para a estreia do seu álbum de estreia, o Louder, marcado para 28 de Fevereiro. Nessa sexta-feira (27), a estrela de Glee revelou mais uma canção do trabalho, a ótima “Battlefield”.

Também composta por Sia Furler, dessa vez em parceria com o consagrado pianista de jazz Lawrence Holdings, a balada aposta no piano, nos corais e num refrão forte para mais uma vez colocar em destaque os vocais de Lea, aqui mais em seu ambiente com um arranjo fundamentalmente Broadway.

26 de dez. de 2013

Os 15 melhores (álbuns e singles) do semestre

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O segundo semestre de 2013 foi um tremendo passeio de montanha-russa para os fãs de música. Teve oferta mais do que farta em todos os gêneros, lançamentos com expectativa tão acumulada que jamais poderiam ser tão bons quanto todo mundo esperava e, depois de tantos altos e baixos, surpresas e decepções, estreias e “despedidas”, BOOM! Beyoncé chegou para mudar o jogo justamente quando ele precisava ser mudado. Com o lançamento de seu auto-intitulado quinto álbum de estúdio, a moça fez as estrelas do pop tomarem nota: daqui para a frente, música não deve mais ser só ouvida. Música precisa ser vista.

Porém, enquanto o mundo não segue o exemplo da diva, vamos definir que, para questões práticas dessa nossa lista de melhores do semestre, Beyoncé é out-concour. O visual album da moça merece um artigo próprio para ser destrinchado, e mais, seria injusto julgá-lo no mesmo patamar desses aqui listados, que não perdem seu mérito, de forma alguma, como excelentes peças de música. Que venham os quinze:

POP

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ARTPOP (Lady Gaga)

por iJunior

Um dos albuns mais comentados e divisores de opiniões que passaram por esse ano e um dos mais aguardados pelo mundo pop é definitivamente um daqueles de caráter bem pessoal, ao qual ou se ama ou se detesta, e que, em minha opinião, sendo amado ou detestado, deve ser admitido como uma das melhores obras pop do ano, senão da década.

O álbum vem a ser um tipo de The Fame, só que mostrando toda uma evolução artística e vocal de Lady Gaga, e diferentes dos dois albuns anteriores não carrega nenhum tipo de legado ou fase extremamente intensa e vívida em especial, como a grandiosa fase Monster ou a polêmica Born This Way. Mas também é diferente do primeiro album da artista por não possuir uma musicalidade tão próxima ou os famosos refrões repetitivos que tornaram a cantora tão famosa, e sim composições hiper bem trabalhadas com instrumentais carregados e superproduzidos que aparentam ostentar toda uma grandeza de um trabalho feito com muita dedicação.

O ARTPOP é um album de musicas potentes e especialmente feitas para a pista de dança (com exceção da melancólica e incrível “Dope” que se perde em meio às nostalgicas musicas dançantes que englobam o album em um todo) e ímpares, cada musica ali dentro possuem um caráter próprio e retira completamente qualquer sensação de homogeniedade como a que venho notando nos lançamentos dos albuns pop mais recentes, além de trazer diversos estilos musicais diferentes todos englobados no grande pop gerado pela artista. E falando em musica ímpar o maior exemplo disso é “Aura” que é,  na minha opinião, uma das musicas mais originais já feitas pela artista.  “Swine” é definitivamente uma das melhores produções eletrônicas do ano, por ser rica de uma forma que carrega uma identidade excêntrica e impressionante, eu diria até “teatral”, onde tanto o vocal quanto o instrumental fazem jus ao nome da musica de uma forma sinérgica e direta como nada da artista visto anteriormente, mas que ainda não abala um dos refrões mais geniais que tenho ouvido em “G.U.Y”, assim como cada faixa tem um lado especial para cada ouvinte e fica muito dificil listar quais são as mais indicadas.

De uma forma geral o ARTPOP é um album para sentir, é para dançar e esquecer da vida, embora carregue toda uma intercalação de composições e ritmos, é ímpar trazendo um pop no qual cada faixa é rica por si só. Ao meu ver, não cabe a mim nem a ninguém  julga-lo. O ARTPOP é pra ouvir e vivê-lo, é uma expêriência musical de extrema importância para qualquer fã de musica pop amar ou odiar, como disse no início, e justamente por isso, cabe a cada um sentir e julgar se ele devia ou não estar aqui nessa lista.

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Swings Both Ways (Robbie Williams)

por Rodrigo Moura

Fãs de  Robbie Williams aguardam uma dobradinha de Swing When You're Winning há anos.  Agora que a temos, podemos desfrutar de um CD tão completo quanto o primeiro, mas com algumas projeções diferentes, o que mostra toda a versatilidade que ele tem, indo do puro pop britânico ao swing sem quedas na qualidade da setlist ou de seus duetos.

Seguindo a cronologia do álbum, temos “Shine my Shoes” e “Go Gentle”, que mais uma vez junto de Guy Chambers nos faz babar de formas diferentes: em “Go Gentle” por mostrar o quão apaixonado este rapaz é por sua pequena e adorável Teddy, e acredito que seja o sentimento de cada papai de primeira, segunda ou terceira viagem: "If you need me I'll be there/ When you want me I'll be there for you"; e em “Shine my Shoes” me faz lembrar o quanto esse rapaz pode ser displicente em suas letras, assim como foi em Strong e tantas outras, dizendo de forma sagaz aos que não o amam, mas não o deixam: "Come up and see me, I kind of like the abuse".

E aí começam as surpresas! “I Wa’na be Like You”, que sinceramente é tudo o que Olly Murs quer ser: um Robbie, visto que é um grande fã do cara e fez a abertura de toda a turnê Take the Crown. A música ficou incrível com os dois, só perde para a versão do filme Mogli por toda a magia da cena. “Swings Both Ways” é incontestavelmente a música mais divertida do CD e não só pela contribuição do Rufus Wainwright, que é uma lenda, mas por toda a brincadeira que acontece dentro da música com aquele finalzinho ambicioso em que Rufus afirma que "Robbie, you're a little bit gay"!

Temos aí “Dream a Little Dream”, que além de trazer de volta Lily Allen, nos mostra o quão conveniente foi essa parceria. Lily poderia gravar um CD de Swing que certamente seria um sucesso. Daí pulamos direto para “Soda Pop” em parceria com Michael Bublè. Vou passar essa pois não tenho frieza para comentários de um trabalho com esses dois na vanguarda. Então voltamos a sonhar com “Snowblind”, que pra mim é uma das grandes emoções do CD. Definitivamente a minha "Mr Bojangles" neste trabalho. Pra não me estender, pulo direto para “Minnie The Moocher”, que foi pra mim uma revelação na voz do Robbie. Todo aquele rasgado no início e estou ansiosíssimo pra vê-lo conduzir essa canção ao vivo no DVD, levando em consideração o grande entertainer que ele é.

Enfim, este CD, como o anterior no mesmo estilo, mescla entre suas faixas alegria e magia. Faz com que uma alma apaixonada por música possa encontrar a leveza do estilo, a paixão nas letras e o amor com entrega em cada verso cantado e em cada parceria. Como sempre digo: Só mesmo o Robbie pra me fazer sorrir e chorar num intervalo de 50 minutos e pelo mesmo motivo: amor!

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Prism (Katy Perry)

por Fernanda Martins

O ano de 2013 foi um ano de espera crucial para os fãs de Katy Perry. E eu me incluo nessa. E vamos começar do início, então? Ao contrário do que muitos falam, Katy se manteve, sim, bem firme em sua proposta no seu novo album. É possível ver o grande acervo de composição e criação que sua equipe, e principalmente ela, tiveram em PRISM. Aos que falam que ela se perdeu, eu digo: ela sabe exatamente o que quer – “Legendary Lovers” está aí para mostrar que a essência dessa "nova era" está presente e que ela é realmente capacitada como cantora, e mais do que isso, como compositora - todas as músicas desse novo album teve aquele dedinho da senhorita Kátia.

Dentro desse acervo de músicas da "nova era" - sem contar “Legendary Lovers”, já citada acima, podemos colocar na lista: “This Moment”, “It Takes Two” (minha preferida, diga-se de passagem), “Choose Your Battles”, “Dark Horse” (e ainda acho que ela deve apostar numa pegada mais "nigga" como esta), “Walking on Air” (me lembrou um pouco a batida dos anos 80) e “Double Rainbow”. Além do mais, podemos dizer que ela, como uma artista que tem a sua marca registrada, não deixou passar algumas de suas "manias" (lindas) de escrever músicas mais lentas e de uma sinceridade ímpar como “By the Grace of God” - a qual poderíamos ligar com “Lost” (do primeiro album como Katy Perry, One of the Boys) e com “Not Like the Movies” (da era Teenage Dream).

Katy Perry teve, ao meu ver, uma jogada muita importante em suas mãos: conquistar aqueles que não foram agradados pela era Teenage Dream e manter seus fãs de carteirinha ainda mais ao seu lado. Ela como ótima estrategista (no melhor sentido da palavra), deu a medida certa naquilo que se pode chamar de "nova era" e ponderou as músicas deixando, como sempre, seu carimbo em mais um álbum.

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ROCK

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Right Thoughts Right Words Right Action (Franz Ferdinand)

por Caio Coletti

Poucas bandas de rock surgidas no século XXI tem uma marca e uma base de fãs tão forte quanto a do Franz Ferdinand. O The Killers talvez tenha algo parecido, e o Two Door Cinema Club pode estar começando a construir a sua, mas os quatro rapazes de Glasgow, na Escócia, são provavelmente os únicos que podem se dar ao luxo da passar quatro anos em absoluto silêncio e, logo em seguida, voltar com uma coleção de inéditas tão celebrada quanto Right Thoughts Right Words Right Action, quarto álbum de estúdio da banda. O intervalo entre o estruturalmente ousado Tonight: Franz Ferdinand e esse novo álbum, no entanto, foi provavelmente a melhos decisão que Alex Kapranos e companhia tomaram, tanto artística quanto mercadologicamente.

Para começar, a distância permitiu ao Franz uma perspectiva mais clara do que os fazia ser uma das bandas de rock com assinatura mais distintiva da atualidade, e resgatar dos dois primeiros álbuns vários elementos que construíram a identidade. O lead single “Right Action”, mostra isso com clareza e um som mais orgânico e direto do que qualquer coisa do Tonight, e a excelente “Love Illumination” está aqui para provar que ninguém compõe ganchos pop para canções de rock tão bem quanto Kapranos. A melodramática “Goodbye Lovers & Friends”, que fecha o álbum, mostra que o compositor/frontman da banda também não perdeu a tendência ao teatral, nem a língua ferina nos versos. Da mesma forma, a esquizofrênica e ótima “Stand on The Horizon” vem para comunicar que a banda não perdeu a vontade de inovar.

Há quem possa dizer que Right Thoughts Right Words Right Action é um álbum que se sustenta pura e simplesmente por estilo, e não por substância, e talvez ele realmente seja. É na agilidade e na elaboração genial dos instrumentais, passando pelas batidas de disco e os timbres de guitarra mais bem colocados que qualquer coisa que o Two Door jamais fez, que o disco mostra sua alma e seu propósito. Um aspecto extremamente novo que a maioria dos críticos não notou, no entanto, é que essa tendência que o Franz abraça é a radicalização de uma música que diz muito mais nos sons do que nas palavras. Ou talvez Alex Kapranos só saiba que consegue se safar com qualquer coisa através de uma melodia suficientemente bem escrita.

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SOUL/JAZZ/HIP HOP/R&B

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The Electric Lady (Janelle Monae)

por Marlon Rosa

Verdade seja dita, Janelle Monáe é minha menina dos olhos. Vejam bem, eu não estou me colocando aqui como um fã; muito pelo contrário, pra mim Janelle passa longe do tipo de cantora que eu ouço repetidamente, incansavelmente e trivialmente. Se eu estou no shuffle e alguma música dela toca de repente, é como se eu passasse de um simples bebedor de vinho comum para um Sommelier estudado e com anos de experiência: dá vontade de ficar ali, só cheirando, balançando e experimentado cada dose.

Em The Eletric Lady, segundo álbum de Monáe, ela encontra uma forma de mostrar um pouco mais de si através do hip-hop, soul, funk dos anos 70, gospel e rock, além de ainda fazer referência a Phillip K. Dick, escritor de ficção científica. O álbum mostra duas aspirações de Janelle: de um lado ela busca por liberdade e loucura como acontece por exemplo em “Q.U.E.E.N.” e “Dance Apocalyptic”; do outro, temos o emocional, ligado mais intrinsecamente a solidão. "It's Code" e "Can't Live Without Your Love" são bons exemplos disso. Janelle Monáe trouxe para o cenário musical de 2013 um álbum sem medo de experimentações e julgamentos, algo que só a pretensão de Monáe conseguiria fazer.

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The Marshall Mathers LP 2 (Eminem)

por Caio Coletti

Nem todo grande artista precisa ser uma ótima pessoa. Embora haja evidências tanto contra quanto a favor dele, tudo indica que conviver com o rapper Marshall Bruce Mathers III, que atende pelo nome de Eminem, seja um verdadeiro inferno. Seus versos minóginos e homofóbicos resvalam, quando não caem de cabeça, no ofensivo, e uma boa parte de seu atual status comercial, vamos ser sinceros, veio da reciclagem e eterna réplica e tréplica das polêmicas que causou com suas letras. Com vinte anos de carreira nas costas, já quadragenário, porém, o moço ganhou tanto o direito de ser auto-referencial quanto a prerrogativa de enfrentar os demônios que ele mesmo construiu. Parte do prazer de The Marshall Mathers LP 2 tem a ver com essa consciência kármica que a ofensa volta para assombrar o ofendido, mas não bastaria esse descarrego de energia se Eminem não fosse tão inegavelmente talentoso quanto é.

Ninguém, e eu repito, ninguém no grande mercado do hip hop hoje em dia tem o mesmo senso de ritmo lírico, a mesma ligação quase orgânica com a batida, a mesma intensidade de interpretação e cadência, a mesma forma quase poética de lidar com as palavras sem escapar demais da linguagem do seu gênero. “It’s not hip hop, it’s pop”, dispara o próprio Eminem na impactante e triunfal “Rap God”, emulando os críticos puristas que clamam que a popularidade o fez desvirtuar a música das raízes do rap. Impossível negar que o moço faz hoje uma mistura bem ramificada, que passa pelo rock de garagem setentista a tendências de música trap e o que há de mais novo em termo de eletrônica. É um som sempre extremo e violento, mas que carrega consigo a sutileza de quem o orquestrou – mérito também ao produtor do álbum, o afamado Rick Rubin (Adele, Lana Del Rey, Kanye West, Lady Gaga, Black Sabbath).

Acima de qualquer coisa, The Marshall Mathers LP 2 é sobre consequencias, sobre envelhecimento e, especialmente, sobre culpa. É impressionante o remorso que transparece através de “Legacy”, “Asshole” (com Skylar Grey) e “The Monster” (quarta parceria com Rihanna), para citar exemplos mais palpáveis. “Bad Guy” abre o álbum contando a história fantasiosa do homem que matou Eminem, soando como uma continuação espiritual para “Stan” e lidando com questões que o rapper nunca tocou antes. “Headlights”, parceria com Nate Ruess lá perto do final do álbum, vê Eminem se desculpando para sua mãe, e dizendo que se sente mal quando ouve a violenta “Cleanin’ Out My Closet”. As desculpas de um  homem responsável por sua própria ruína não deveriam emocionar, principalmente quando a faixa de fechamento, “Evil Twin”, garante que o Eminem real e aquele que dispara absurdos preconceituosos nos versos é o mesmo.

Como arte e como personagem, The Marshall Mathers LP 2 e seu criador são extremamente fortes, quase uma fábula para prevenir contra as consequencias dos nossos atos no futuro. Que o próprio Eminem tenha se tornado essa espécie de cautionary tale, no entanto, não é nem um pouco belo. É pura e simplesmente triste.

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INDIE/ALTERNATIVO/FOLK

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Tales of Us (Goldfrapp)

por Caio Coletti

A fama do Goldfrapp de ser uma verdadeia caixinha de surpresas não veio à toa. Do álbum de estreia, em 2000, até esse Tales of Us, lançado no último Setembro, o duo britânico nunca lançou dois títulos de estúdio com sonoridade parecida. Sexto título da discografia, esse novo álbum segue na direção oposta do anterior, o sublime Head First de 2010, e é surpreendente como isso não significa que ele não seja igualmente bem pensado e executado. O que três anos atrás éra pura nostalgia disco com pitadas de dream pop e extravagância visual com referências aos anos 80, em 2013 virou um amálgama de folk, sintetizadores espaciais e evocação folclórica.

Tales of Us é uma jóia que brilha para o ouvinte de anos atrás, como se tivesse passado por uma máquina do tempo e sobrevivido como uma lembrança de coisas perdidas, angústias passadas e saudades de então que viraram meros brilhos de sentimentos hoje. Mestres da orquestração que são, Allison e Will Gregory colorem essa elaboração temática tão evasiva com um instrumental igualmente delicado: a maioria das canções é levada por escalas dedilhadas em um violão acústico que se choca lindamente com a voz sempre éterea, mas aqui especialmente expressiva, de Allison. Essa oposição encontra o auge na belíssima “Annabel”, mas produz também, entre outras, a medieval e épica “Alvar”.

Quando sai desse esquema simples, Tales of Us consegue soar ainda mais deslumbrante. Na elaboração mais pop de todo o álbum, “Thea”, a melodia fácil ganha toques eletrônicos, cordas sintetizadas e uma batida discreta que quase faz lembrar o Supernature, álbum de 2005 do duo. A insinuante “Stranger” pulsa com energia sexual e com uma intervenção orquestrada abrupta, enquanto os filtros de voz em “Jo” fazem Allison soar como se estivesse cantando através da recepção cheia de ruído de uma comunicação interplanetária. “Ulla” chama os ouvintes para as profundezas cheias de segredos dos oceanos, ecoando Feist e Sade, mas sendo, assim como o álbum todo, surpreendente e distintivamente Goldfrapp.

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Night Time, My Time (Sky Ferreira)

por iJunior

Como uma das maiores e melhores surpresas de 2013, ou simplesmente um dos albuns mais esperados do ano, a cantora, atriz e modelo descedente de brasileiros Sky Ferreira conseguiu depois de experimentar todos os estilos musicais, melodias e visuais que podia (que foram bem registrados em seus EPs anteriores), surpreender com o album Night Time, My Time a todos que, acredito que assim como eu, depois de ouvir tanto material da cantora já não criava expectativa pra algo, simplesmente esperava. E veio, veio de uma forma surpreendentemente bem elaborada e produzida. Sky permaneceu com sua imagem um pouco melancólica e seu jeitão blasé de ser, sem perder quem era, porém, com um conjunto de músicas realmente bem casadas entre si e uma musicalidade de altissima qualidade.

O album pode soar um pouco homogêneo na primeira audição por conter uma produção semelhante entre as faixas (o que faz parte de toda uma identidade gerada alí)  para alguns mas é só uma questão de aprender a compreender e admirar faixa-a-faixa e se perder em todo o mistério e a melancolia, ora revoltada, ora sensível, disposto nesse album, com vocais de não se por defeito e uma cara só dela. O album abre com uma das faixas mais originais que pude ouvir nesse ano intitulada “Boys”, uma musica fortemente composta por um conjunto de vocais da cantora e um instrumental que hora canta por sí próprio que já faz jus ao restante do album inteiro, dando abertura pra uma das mais impressionantes experiênciais musicais que se pode ter.

Night Time, My Time vem a ser um daqueles albuns aparentemente bem pessoais que trazem musicas que de alguma forma conseguem te incorporar ao personagem e fazer parte de toda aquela atmosfera símbolo e resultado da construção de uma artista, que além de trazer referencias musicais das três décadas passadas consegue trazer turbilhões de sentimentos e reações desde o ar revoltado de “Nobody Asked Me (If I Was Okay)” até o pop doce e sentimental de “I Blame Myself” com uma das letras mais sensíveis dentre todas do album. São musicas polares, ímpares,   porém todas sempre com algo em comum, algo que só quem ouve pode dizer.

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Paradise Valley (John Mayer)

por Clara Montanhez

John Mayer, em seu mais recente album Paradise Valley, continua na mesma trajetória que tinha começado em seu album anterior Born and Raised: a abordagem puxada para o country, e mais precisamente para o folk. Afastando-se do pop rock/blues, no qual construiu sua carreira, John arrisca-se nessa nova área totalmente voltada para as raízes americanas, muitas vezes adotando em suas músicas harmonias e andamentos já bem conhecidos, que são despertados em nosso inconsciente quando ouvimos o novo cd.

“You’re no One ‘til Someone Lets You Down” é exemplo claro dessa nova approach, conquistando novos seguidores e reconquistando aqueles que já acompanham o cantor. Não podemos esquecer, no entanto, a única música mais pop dentre as novas onze, contando com a participação ilustre de sua “nova” namorada, Katy Perry. A melodia de “Who You Love” é bem leve e descontraída, com os dois cantando de maneira muito suave um para o outro, dando a impressão de que não gravaram a faixa para os ouvintes, mas para eles mesmos. Apesar da drástica mudança de gêneros, só há razões para continuar acompanhando a carreira do excêntrico cantor, que não falha em ganhar nossos corações em cada novo album que lança.

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ESTRÉIAS

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Don’t Look Down (Skylar Grey)

por Caio Coletti

Para uma artista que estreou na Billboard em 2005, sob o nome de batismo Holly Brook e cantanto o refrão de “Where’d You Go” para o Fort Minor, foi um longo caminho até Skylar Grey conseguir seu merecido espaço próprio no mundo da música. Alguns anos como a escritora de ganchos e refrões preferidas de rappers como Dr. Dre, Lupe Fiasco, Eminem e Diddy-Ditry Money ganharam uma boa reputação no mundo do hip hop, e mesmo assim foi mais de uma repaginação até Skylar chegar, com sua gravadora, a “fase final” da imagem que seria vendida para o público. O estilo sombrio das melodias são casadas com letras violentas e cheias de sentimentos primitivos: vingança (“Back From The Dead”), frustração (a ótima “Wear Me Out”) e pulsão sexual (“C’Mon Let me Ride”, com Eminem) estão entre os pratos principais de um cardápio saboroso.

A verdade é que Skylar é ótima compositora e ótima cantora. Apesar da voz nada gigantesca, de alcance menos que impressionante, a moça sabe trabalhar bem com o seu timbre e entrega no álbum uma interpretação visceral e acertada atrás da outra. A produção coloca batidas quebradas para acompanhá-la, por vezes apostando no piano pop, por vezes num caminho mais eletrônico-sujo-épico (“Religion” é uma preferida fácil), até as já esperadas baladas de piano-e-voz (“White Suburban” e uma versão solo do hit “Love The Way You Lie”, que a moça escreveu e que Rihanna e Eminem fizeram famosa).

O hip hop é obviamente o que tempera o álbum todo, e é admirável que depois de tanto tempo, Skylar tenha encontrado realmente o gênero que melhor suporta seu estilo lírico e melódico. Isso salta aos olhos em uma faixa como “Shit, Man!”, argumentadamente a melhor do álbum, e em vários momentos salpicados no decorrer das 14 faixas – um pouco demais, mas perdoamos Skylar porque, afinal, ela teve que esperar por tanto tempo! Poucos artistas se mostraram tão maduros e confiantes em uma estreia, e ainda mais raros são aqueles que transitaram tão bem entre gêneros em 2013. Num ano em que nem todo mundo segurou as expectativas, Skylar entregou até mais do que prometeu.

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The 1975 (The 1975)

por iJunior

O albúm de estréia e autointitulado de uma das melhores bandas alternativas que surgiram Reino Unido, a The 1975, que vêm se construindo ao longo de um certo tempo veio de vez pra apaixonar quem se dispor a ouvi-lo. Dono de alguns dos melhores singles do ano, “Girls” e “Chocolate”, o album The 1975 trás uma sonoridade leve enquanto contagiante, e um dos melhores conjuntos de composições que se pode ouvir entre os albuns lançados esse ano.

Se na primeira audição você não se apaixonar pelo sotaque ou pelo jeito de cantar do vocalista Matthew Healy, que transborda um certo charme ostentado, você irá se encantar com  as incríveis rimas bem feitas e chicletes (de forma não enjoativa) que te farão decorar a musica em questão de poucas audições e não tirá-la da cabeça. O album possuí uma sonoridade diversificada e para todos os momentos, como aquela musica certa pra dançar, viajar ou pra ouvir num momento solitário de reflexão.

É um album sensível, jovem e bem contemporâneo embora ainda brinque com referência de musicas de décadas passadas, trazendo consigo aquela satisfação pra quem procura algo diferente do que anda tocando nas rádios e, com certeza, se apaixonar.

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DIVAS

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Closer to the Truth (Cher)

por Caio Coletti

Um bom álbum de diva não precisa necessariamente ser um ótimo álbum pop (embora haja aquelas que conjuguem as duas coisas). Basta ter uma produção decente o bastante e uma coleção de canções que realçem a personalidade da cantora em questão, e pronto, você tem a garantia de milhares – milhões! – de fãs indo a loucura. Junte isso a saudade acumulada de 12 anos sem um álbum de inéditas, e você tem Closer to the Truth, 25º (!) e mais bem-sucedido (!!) álbum de estúdio da deusa do pop Cher. A nem tão boa recepção do último, Living Proof, foi só incentivo para a cantora de 67 anos (!!!) reunir nesse novo o melhor pacote de canções que teve em suas mãos em mais de 48 anos de carreira (!!!!). E isso inclui o Believe.

Ao mesmo tempo que é muito mais dinâmico que a coleção de hits com dicas de sons latinos lançada em 1998, Closer to the Truth é uma exploração muito mais inteligente da persona pública de Cher, de sua identidade artística e de sua relação com o público, que espera dela exatamente os hinos eletrônicos que o novo álbum entrega. Dicas de disco e orientação orquestral colorem uma produção toda voltada para um tipo muito moderno de música eletrônica na primeira fatia do disco, com colaborações de nomes como Jake Shears (Scissor Sisters) e P!nk na co-composição de algumas faixas – “Take it Like a Man” e “I Walk Alone”, respectivamente. Tudo sem negligenciar a voz ainda gigantesca de Cher, que brilha em “Red” e “My Love”.

A segunda metade do enxuto disco (11 faixas, total de 41 minutos) mistura rock alternativo e country a produção sempre arejada e bem pensada do disco. Inclua nesse pacote a belíssima “Sirens” e o cover de Miley Cyrus, “I Hope You Find It”, que só destaca o quanto uma voz poderosa de verdade faz diferença em uma música. Num ano em que todas as suas “herdeiras” pop tentaram se reinventar e revolucionar o gênero, Cher mostrou que às vezes é muito mais sábio ir direto para o que você faz de melhor. E acredite, ninguém é capaz de batê-la no seu próprio jogo.

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Avril Lavigne (Avril Lavigne)

por Vanessa Dias

Como fã de Avril Lavigne desde a quarta série – quando cantava em um inglês meio enrolado singles como “Complicated” – é claro que também não via a hora de ver o próximo álbum da cantora completo. Mas quando foi divulgado, confesso que estranhei. Avril Lavigne mudou. Ouso dizer que esta mudança é maior que a que foi mostrada com o lançamento de The Best Damn Thing, quando a canadense trocou as gravatas pelo rosa e muitas caveiras de lacinho. A mudança agora não se trata no estilo da cantora, mas Avril cresceu. Essa mudança já pode ser notada no último álbum, Goodbye Lullaby, mas por ter se tratado de um álbum extremamente calmo e pessoal, ainda não pude ver esse amadurecimento de Avril nas músicas “habituais”. Ouvi o álbum uma vez, a estranheza com “Hello Kitty”, “Bad Girl”, e até a chiclete “Bitchin’ Summer” me fizeram torcer o nariz. Quando Avril havia ficado tão pop e comercial? Bom, como disse, Avril Lavigne mudou.

E, apesar de apresentar um clipe de tirar o fôlego dos fãs com “Here’s To Never Growing Up” , em que aparece vestida como se acabasse de sair do clipe “Complicated”, ela já não é a mesma. E para minha surpresa posterior, essa mudança se mostrou ótima! Avril não perdeu a juventude, mas suas músicas se mostram cada vez mais ousadas e bem produzidas. “Bad Girl”, a que me fez torcer o nariz no início, acabou me mostrando um rock poluído (no melhor sentido) que não via desde as músicas de Joan Jett. O auto-tune presente em “Hello Kitty” faz com que a música possa facilmente ser tocada em uma balada. Isso sem contar, é claro, as maravilhosas “Let me Go”, “Hush Hush” e “Give You What You Like”, provando que Avril pode, sim, estar na melhor fase de sua vida profissional e pessoal, mas sempre vai saber emocionar.

É o primeiro álbum da cantora com duetos, e deu super certo. Avril Lavigne acabou se mostrando a prova de que, sim, a cantora pode sempre ter a mesma carinha de 17 anos, mas amadureceu. E, sem perder a personalidade, acabou encantando e trazendo os fãs para acompanhá-la nessa nova fase.

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SINGLES

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“I Love It” (feat. Charli XCX) (Icona Pop)

por Caio Coletti

Com só 2m37 na versão do álbum americano das moças, e três partes compositivas relevantes na construção da música, “I Love It” foi a canção pop direto-ao-ponto do semestre e, muito provavelmente, do ano. Feita absolutamente sob medida para a pista de dança, com a letra espertamente iconoclasta de Charli XCX, a canção é a própria responsável pelas moças suecas terem pulado o Atlântico e lançado um álbum para o mercado ianque. O sucesso surpresa do single, que chegou ao #7 da Billboard Hot 100, veio através de infiltração na cultura pop (as meninas provavelmente deveriam agradecer Girls, que tocou “I Love It” lá em Janeiro), e da exposição gradual e insinuante de Charli no decorrer do ano, o que chamou a atenção para a canção.

A mistura coloca num mesmo pacote partes disfuncionais que, para a surpresa de qualquer um que ouve a música pela primeira vez, ficam bem juntas. Os versos são quase um grito de cheerleaders, com as duas vocalistas do Icona juntando as vozes para contar sobre “esse sentimento no dia em que você foi embora” – que ao contrário de na maioria das músicas pop, é um sentimento bom. O ritmo já insano acelera no refrão antêmico e extremamente propício para a geração Y (“I don’t care! I love it!”) e vai diminuir só lá na bridge, para benefício da espirituosa e acertadíssima letra, que termina com o já icônico verso: “You’re from the 70s, but I’m a 90s bitch”.

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“Royals” (Lorde)

por Marlon Rosa

“Royals”, apesar do nome, é na verdade uma crítica a todo consumismo e luxo presente na vida de astros pop e todo o estilo de ostentação. A simplicidade sonora da faixa, a poderosa letra e o foco nos vocais da compositora e cantora neozelandesa Ella Yelich-O'Connor, mundialmente conhecida apenas como Lorde, parecem ter sido a fórmula perfeita para a música se tornar um hit. Foi no EP The Love Club que “Royals” foi primeiramente apresentada ao público.

Liberado primeiramente e gratuitamente no Soundcloud, o EP conseguiu a marca de 60.000 downloads. Posteriormente, com a ajuda de programas de streaming como Spotify, a faixa chegou aos Estados Unidos, e foi uma questão de tempo até que atingisse a primeira posição da Billboard Hot 100, que é o principal termômetro do país. Esse acontecimento fez com que Lorde (16 anos) se tornasse a artista feminina mais nova a alcançar tal posto.

Apesar de ter sido bastante crítica com o trabalho de outras cantoras como Selena Gomez, Lana Del Rey (♥) e David Guetta, eu acredito que no fundo, o que ela quis dizer foi sobre a não identificação com as letras e composições destes respectivos artistas; direito que todas as pessoas têm, uma vez que gosto cada um tem o seu e etc. Isso não muda o fato de que, pra mim e acredito que pra muitos, “Royals” foi o hit do ano.

24 de dez. de 2013

Top 05: Músicas da Sia que marcaram 2013

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por Caio Coletti

Beyoncé? Katy Perry? Lady Gaga? Acho que não. 2013 foi o ano de uma australiana nascida em 1975, pelo menos uma década antes de todas as divas da nova geração, mostrar quem manda no mundo pop. Depois de treze anos seguindo uma carreira solo cheia de pequenas pérolas, mas nunca apreciada como deveria, Sia Furler resolveu pular da frente dos microfones para o backstage, investindo em fazer nome como compositora. Desde 2011, a aposta está funcionando às mil maravilhas. Hoje, difícil é achar um bom álbum pop que não tenha a mão de Furler em pelo menos uma das composições.

Para celebrar essa artista incrível que resolveu ceder seu talento a tantas outras (e rendeu a genial capa dupla da Billboard Magazine de Novembro, reproduzida aí em cima), selecionamos 5 músicas de 2013 que só existem do jeito que são graças a ela. E também aproveitamos pra indicar uma música da carreira solo da Sia pra cada uma das composições da moça nesse ano:

“Pretty Hurts” (Beyoncé, Beyoncé)

A maior revolução pop do ano abre os trabalhos com uma co-composição de Sia. E mais: “Pretty Hurts” pode muito bem ser uma das baladas mais épicas e emocionais do ano, com uma mensagem anti-padrões-de-beleza que tem tanto a ver com Beyoncé quando com Sia. Ao passo que a artista americana queria desconstruir sua imagem de ideal feminino inatingível logo no começo, ao se rebelar contra as convenções contemporâneas de beleza, a australiana coloca na canção seus próprios ideais e experiências como uma aspirante a estrela pop muitas vezes subestimadas por sua aparência.

Co-compositores: Beyoncé Knowles, Joshua Coleman

Trecho-chave: “You can’t fix what you can’t see/ It’s the soul that needs a surgery”

Quem gosta pode ouvir: "Breathe Me", do álbum Colour The Small One (2004)

“Perfume” (Britney Jean, Britney Spears)

Não são muitas compositoras que conseguiriam colocar Britney Spears fora da sua zona de conforto em um momento tão estável e bem-resolvido da carreira. A vontade de ter Sia no time do seu novo álbum, no entanto, gerou para a princesa do pop um dos melhores singles de sua carreira recente, a balada “Perfume”. Com uma letra esperta e ecos de “Criminal”, outro bom single em uma fase ruim, a nova canção registra um dos vocais menos manipulados e mais “puros” de Britney em tempos, e é surpreendente perceber que a voz da moça não é ruim. Não bastasse isso, o refrão ainda consegue ser grudento e épico ao mesmo tempo.

Co-compositores: Britney Spears, Chris Braide

Trecho-chave: “I want to believe/ It's just you and me/ Sometimes it feels like there's three/ Of us in here, baby”

Quem gosta pode ouvir: "Soon We'll Be Found", do álbum Some People Have Real Problems (2007)

“Double Rainbow” (Prism, Katy Perry)

Em meio às referências religiosas-esotéricas do Prism, o iluminado novo álbum de Katy Perry, “Double Rainbow” é um destaque óbvio. Primeiro, porque a melodia é algo que se destaca de todo o restante do álbum, dando à cantora a oportunidade de entregar uma interpretação sensível e delicada como nenhuma outra no (brilhante) disco. Nenhuma outra compositora além de Sia, é razoável dizer, saberia combinar palavras como “pehnomenon”, “striking” e a titular expressão “double rainbow” em uma alegoria romântica tão bem arranjada. A produção suave ajuda bastante, mas é mesmo na poesia de Sia e seus co-compositores que a faixa brilha.

Co-compositores: Katy Perry, Greg Kurstin

Trecho-chave: “Words are phenomenon when you came along/ Yeah, our chemistry was more than science/ It was defining, loud like lightning, it was striking/ You couldn’t deny it”

Quem gosta pode ouvir: "You've Changed", do álbum We Are Born (2010)

“Breathe” (Alive, Jessie J)

Jessie J é uma compositora de mão cheia, e mesmo com a recepção fria, Alive, o último álbum da moça, está cheio de pérolas a serem descobertas. Nenhuma mais preciosa que “Breathe”, no entanto, em que Jessie se junta a Sia para criar uma das power ballads mais marcantes do ano. Com um refrão arrasador e a interpretação perfeita de Jessie, a canção ganha um polimento épico que parece ser a constante a acompanhar todo o trabalho de Sia nesse ano. Os versos rápidos típicos do R&B completam a mistura de uma das parcerias mais legais de 2013.

Co-compositores: Jessie J, StarGate

Trecho-chave: “It's crysal clear with you, nothing's a blur/ Just inhale me to your world/ And blow it up”

Quem gosta pode ouvir: "Clap Your Hands", do álbum We Are Born (2010)

“Cannonball” (Louder, Lea Michele)

Louder, o álbum, está marcado para 28 de Fevereiro, mas deixar de colocar “Cannoball” nessa lista seria injustiça, além de uma oportunidade perdida, uma vez que Sia é creditada em outras três das onze faixas da tracklist do álbum. A parceria com a estrela de Glee e cantora-treinada-na-Broadway Lea Michele parece ter rendido bons frutos, a julgar por esse primeiro single brilhantemente ritmado, feito sob medido para mostrar a voz poderosa da moça. A mensagem de superação da letra fala alto aos fãs que acompanharam a via crúcis de Lea ao perder o amigo e ex-namorado Cory Monteith, mais cedo nesse ano.

Co-compositores: Benny Blanco, StarGate

Trecho-chave: “And now I will start living today/ Today, today, I close the door/ I got this new beginning and I will fly/ I’ll fly like a cannonball”

Quem gosta pode ouvir: "You Have Been Loved", do álbum Some People Have Real Problems (2007)

Review: American Horror Story Coven, ep. 9 – Head

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Marlon Rosa

Na maioria esmagadora das vezes, a sequência que acontece antes da abertura de American Horror Story, dá o tom e apresenta a trama central do episódio. Em “Head”, 9º episódio da temporada, não é diferente. O ano é 1991, a floresta fica ao norte da Geórgia e o pai que está cheio de expectativa e conselhos, lidera o inocente e apreensivo Hank, seu filho, em sua primeira caçada. Ao encontrarem o alvo, Hank hesita em meio às palavras e suspiros de piedade da bruxa, e, é neste espaço de tempo que ela resolve fazer o Smaug e esbaforar uma labareda em direção a Hank. Seu pai consegue pular em direção ao filho e salvar livrá-lo da magia, mas não sem antes ficar com a mão queimada.

Em New Orleans, Fiona decide fazer uma visita a Marie Laveau, acompanhada da cabeça de LaLaurie, que lhe foi entregue no episódio anterior. Ela tenta propor uma aliança com a rainha do vodu para que juntas, elas enfrentem a ameaça dos caçadores de bruxas. Laveau encara a situação toda com deboche e risadas que só Angela Basset consegue invocar. Ela dispensa Fiona e pede a Queenie que queime a cabeça de LaLaurie.

Com todos os problemas que uma cegueira pode invocar, Cordelia parece odiar mais o fato de quando as pessoas mudam os objetos de lugares. Este drama é acompanhado por Myrtle, que aproveita o fato e se defende da acusação de que foi ela quem cegou Cordelia. É então que vemos o sentimento maternal que Myrtle desenvolveu por Cordelia durante tantos anos reaparecer, o que faz com que ela mate os dois membros do conselho, retire seus olhos, e os dê a Cordelia para que ela volte a enxergar, mas como consequência, ela perde o poder de enxergar o passado e a verdade das pessoas.

Somos apresentados a Delphi Trust, empresa por traz dos caçadores de bruxas e também os responsáveis por jogarem ácido no rosto de Cordelia. Ela é comandada pelo pai de Hank, que tinha a missão de se infiltrar no coven de Fiona e adquirir o máximo de informações possíveis. O fato de terem cegado Cordelia, tinha como objetivo deixa-la mais dependente de Hank, já que ele só havia se casado com ela por ordens do pai. É evidente que tudo deu errado, uma vez que Hank realmente se apaixonou por Cordelia, e se vê um conflito: buscar a admiração do pai matando a mulher que ama ou poupá-la e continuar sendo uma decepção?

Nan, que está no hospital à espera de Luke, consegue a ajuda de Madison e Zoe para invadir o quarto do paciente que está sob proteção de sua mãe. Luke decide falar através do poder Nan, e diz ter descoberto toda a verdade sobre o que causou a morte de seu pai. A culpada é a mãe, que ao descobrir a traição do marido, decide matá-lo.

Do outro lado, temos Queenie, que ao invés de fazer o que a rainha do vodu havia ordenado e queimar a cabeça de LaLaurie, decide por educá-la com um coquetel de filmes sobre a raça e cultura do seu povo.

Porém, o ponto dramático mais alto da temporada e quiçá de toda a série acontece logo em seguida, quando Hank (depois de ter levado uma voduzada de Laveau que queria que o trabalho para o qual ela o contratou fosse concluído rápido), não consegue matar Cordelia e decide ir atrás dos praticantes de magia negra. É ao som de “Oh Freedom – The Golden Gospel Singers”, que Hank massacra o reino da rainha do Vodu. Na bagunça, Queenie, que havia levado um tiro na barriga, consegue se arrastar até uma arma que estava no chão, e atirar em sua própria cabeça pare evitar que Hank mate Laveau. Ela consegue, porém, fica o mistério se seu cérebro também está imune à habilidade de boneca vodu ou se ela está realmente morta.

Por fim, o episódio termina com Marie Laveau fazendo o que todos já esperavam e correndo para as asas da Suprema, algo que já foi mostrado nos materiais de divulgação da série, lá no começo de tudo, onde todas pareciam estar reunidas contra um inimigo em comum, os caçadores de bruxa.

Que a guerra comece!

***** (4,5/5)

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Próximo AHS Coven: ep. 10 – The Magical Delights of Stevie Nicks (08/01)

22 de dez. de 2013

Prepare-se para o Victoria’s Secret Fashion Show: o que esperar e quando assistir o desfile

01As modelos backstage no fim do desfile

por Isabela Bez

Filmado há mais de um mês na cidade de Nova York, o Victoria’s Secret Fashion Show finalmente vai ao ar aqui no Brasil. Na madrugada do dia 22 ao 23 de dezembro, a TNT transmitirá o megadesfile à 00h10, com reprise às 10h05 do dia 23. Já no SBT ele vai ao ar um dia depois, na madrugada do dia 23 ao 24, à meia-noite.

02As Angels Lily Aldridge, Candice Swanepoel, Behati Prinsloo, Doutzen Kroes e Adriana Lima

O megadesfile reuniu as 40 melhores modelos do mercado usando lingeries reveladoras ao som de Taylor Swift, Fall Out Boy e A Great Big World. A grande entrada ficou para Candice Swanepoel com o Fantasy Bra de 10 milhões de dólares desenhado especialmente para ela. A brasileira Lais Ribeiro teve uma participação especial esse ano, já que ano passado deixou de desfilar porque torceu seu tornozelo em um dos ensaios.

No total, cada modelo demorou cinco horas para ter seu cabelo e maquiagem feitos. Os temas foram “Invasão Britânica”, “Noites Parisienses” e “Pássaros do Paraíso”, além do segmento PINK que reúne as modelos mais novas. A primeira fila contava com Valentino Garavani, Olivia Palermo e Adam Levine, que assistiu com muita animação sua noiva Behati Prinsloo desfilar.

03Taylor Swift e Cara Delevingne tirando uma selfie

Cara Delevingne não desfilou para a coleção PINK e ganhou mais destaque do que o ano passado, desfilando dois looks. Teve até espaço para uma batidinha na bunda entre Cara e Taylor Swift, que mostraram que não há rivalidade nenhuma entre as duas, apesar de ambas terem namorado Harry Styles recentemente.

Neste ano, Karlie Kloss finalmente entrou no time de Angels, provavelmente substituindo Miranda Kerr que recentemente anunciou sua saída após diversos anos atuando como um dos principais rostos da marca. Seu destaque foi tanto que Karlie até pôde usar seu corte de cabelo curto em vez de colocar apliques como ano passado.

04Joan Smalls, Karlie Kloss e a brasileira Izabel Goulart cantando ao som da Taylor Swift

O grande rumor da noite ficou por conta de Jessica Hart, que fez um comentário infeliz na after-party sobre Taylor Swift ao jornal WWD, afirmando que a cantora não daria uma boa Angel. “Eu acho que, quer saber, Deus a abençoe. Acho que ela é ótima,” ela disse. “Mas, não sei, para mim ela não encaixou. Não sei se deveria dizer isso. Acho que nós estamos trabalhando por 14, 15 anos; o que é necessário para chegar até aqui vem com experiência e confiança e saber como ser confiante com você mesma. Acho que isso vem com a idade.” Apesar de ter pedido desculpas à Taylor e declarado que se arrependeu do que disse, há boatos de que ela foi demitida do Victoria’s Secret por conta de seu comentário.

Se você não quiser esperar, pode assistir vídeo do desfile completo em HD abaixo:

Fotos por Kevin Tachman para a Vogue americana

20 de dez. de 2013

Review: Person of Interest, 03x11 – Lethe

PERSON OF INTEREST

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Lethe” é um episódio pivotal para a terceira temporada de Person of Interest, e não só isso, é o quinto episódio seguido que merece essa designação. No espaço dos últimos dois meses, Person tem desenvolvido sua trama de maneira espetacular naquele que pode muito bem ser o auge criativo da série, bem no meio do terceiro ano. E não só de acontecimentos chocantes como a morte de Carter (que ainda faz falta aqui) vive essa época de ouro da trama: é na lenta realização de todo um novo conceito para Person, quietamente desenvolvido nos diálogos e nas direções em que seus personagens são empurrados, que está o triunfo dessa temporada. É uma notável realização quando uma série de audiência espetacular, estabelecida como uma das grandes marcas da CBS, tem a coragem de colocar tudo o que compõe o seu núcleo mais fundamental em dúvida.

Desde a primeira temporada, a premissa fundamental tem sido bem simples: Finch e Reese, mais alguns outros cooptados pela causa, contam com a ajuda de uma máquina de vigilância para encontrar e tentar salvar vários civis que estão em perigo eminente. Se existia um problema nessa construção básica, embora a série nunca tenha deixado transparecer, era o quanto ela roubava dos personagens sua capacidade de decisão e ação próprias. Person sempre foi governada, mesmo com seu frio cinismo ao olhar o mundo humano, por um senso de destino e obrigação, por um desenvolvimento de plot essencialmente dirigido pela máquina, enquanto éramos deixados observando os humanos reagirem ao mundo que ela construía. Nessa terceira temporada, no entanto, se a Máquina é o Deus de Person, chegou a hora dos seus súditos contestarem a divindade.

Isso faz de personagens que já eram bastante bons ainda melhores, e a série ainda acertou ao esperar três temporadas para mostrar esse lado de sua trama, porque agora conhecemos Finch, Reese e companhia o bastante para entender de onde vem as suas ações quando estão agindo sozinhos, muitas vezes à revelia e até batendo de frente com a vontade da máquina. Por vezes, Person ainda tem a necessidade de mostrar que os humanos da sua história precisam se curvar diante da máquina, mas a relação deles com ela, de repente, se tornou muito mais antagônica e amarga. Essa mudança se personifica no agente do caos que é a Root da fabulosa Amy Acker, uma perigosa nova parceira/vilã que, junto à morte de Carter, representa a transição do momento em que fica claro que a máquina quer dar as cartas, mais do que qualquer coisa.

Mas vamos falar de “Lethe” (palavra grega para “esquecimento”, diga-se de passagem), episódio dessa semana que coloca o foco em Arthur Claypool (Saul Rubinek, de Warehouse 13, em uma performance fascinante), número dado pela máquina e relutantemente aceito por Finch, tanto por pressão de Root quanto de Shaw. A série tira um ótimo momento da cena inicial, em que o personagem de Michael Emerson anda pelas ruas e se recusa a atender os orelhões que a máquina faz tocar, amarrando o episódio com os acontecimentos anteriores da temporada e mostrando que Finch foge de qualquer responsabilidade com o mundo após provar das consequencias. De qualquer forma, Claypool, logo descobrimos, é um ex-funcionário da NSA que, devido a um tumor no cérebro, se torna uma potencial e fácil fonte de informação para qualquer grupo rival disposto a se aproveitar da psique frágil do moço.

Uma míriade de reviravoltas de roteiro são amarradas com firmeza por Erik Mountain, que assina o script do episódio e adiciona no tempero uma série de flashbacks para a infância e adolescência de Finch, lidando com um pai (Tuck Mulligan) que tem os mesmos sintomas de Arthur. Não só Mulligan está ótimo no papel, como o subplot dá à criação de Harold e a sua complexa relação com ela uma nova e mais humana perspectiva, traçando a vontade de criar uma máquina que pudesse pensar por si própria diretamente com a doença do pai e a necessidade de “consertá-lo”. Ao mesmo tempo, uma mão cheia de cenas mostra como Reese está lidando com o mesmo tipo de comportamento que Finch teve na primeira cena do episódio, fugindo das responsabilidades para bem longe até que Fusco chega em seu “socorro”. Caviezel encaixa bem a amargura e a perda de propósito que surgem em Finch nesse pós-luto, e parece grato pela oportunidade de deixar seu personagem respirar um pouco emocionalmente.

“Lethe” deixa todas as suas tramas suspensas no ar, incluindo a revelação de que a mulher que esteve posando como a esposa de Arthur, Diane (Camryn Manheim, de Ghost Whisperer, se divertindo no papel), é na verdade a antiga chefe de Shaw, e portanto primeira em comando do time do governo que deseja controlar a máquina. Misture isso com uma rápida aparição do grupo Vigilance, que decididamente se encaminha para ser o grande antagonista do final da temporada, e o episódio é um mid-season finale mais do que digno para uma série que está quente em uma sequencia de excelentes episódios. Person of Interest volta só em 7 de Janeiro, e poucas vezes uma espera foi tão torturante.

Observações adicionais:

- Shaw lidera o trabalho de campo na trama da semana, já que Reese está em seu momento revoltadinho. É testemunha do bom desenvolvimento da personagem – e da habilidade de Sarah Shahi em ser verdadeiramente badass – que isso não conte como desvantagem para o episódio.

- A mistura de amargura e medo na atuação de Michael Emerson quando finalmente se encontra com Arthur, que descobrimos ser um antigo colega de faculdade de Finch, ilumina uma visão desse personagem como um homem torturado pelo passado, que amargamente encontra-se com outro que vive quase integralmente nele.

***** (5/5)

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Próximo Person of Interest: 03x12 – Alethia (07/01)

19 de dez. de 2013

Review: “Gravidade” usa e abusa de tudo que o cinema pode e deve ser

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por Caio Coletti

Alfonso Cuarón nunca foi um dos meus diretores contemporâneos preferidos. Bissexto, por vezes polêmico e saudado pela crítica como um “virtuoso” de sua função por trás das lentes, sempre ao lado do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, o mexicano de 42 anos guarda muitas semelhanças com Stanley Kubrick, o obsessivo mestre americano morto em 1999. Não é a toa, portanto, que poucas ou nenhuma crítica de Gravidade, mais recente filme de Cuarón, deixe de citar 2001: Uma Odisséia no Espaço, filme mais celebrado – e menos compreendido – da carreira de Kubrick. As semelhanças existem, porque ambos são filmes que confiam na técnica cinematográfica como ferramenta pivotal no desenvolvimento da história que pretendem contar. É justamente onde se afasta de 2001, no entanto, que Gravidade realmente triunfa.

Onde Kubrick quis contar a história magnânima da humanidade, dos macacos aos homens passeando pelas estrelas, de criatura a criador e de volta outra vez, Cuarón prefere firmar seu filme, com convicção, num arco de personagem particular. Ao partir do microcosmos de sua protagonista, em busca de recuperar as forças depois de uma tragédia pessoal, e se vendo em meio a um pandemônio espacial angustiante, o diretor e roteirista (ao lado do filho Jonás Cuarón) parece fazer um retrato muito mais honesto e bem capturado de quem somos como seres viventes do que Kubrick jamais pode alcançar. Gravidade é aquele ponto pivotal do amadurecimento de Cuarón como cineasta, em que o mexicano parece se dar conta que cinema não é só uma forma de arte visual, e que construir uma narrativa contundente e envolvente para casar com seus desbundes técnicos é não só necessário, como muito mais satisfatório.

O filme, só para o caso de você ter vivido em uma caverna nos últimos meses, conta a história de Ryan Stone (Sandra Bullock), cientista em missão especial para a NASA que se vê em uma situação desesperadora quando a chuva de detritos de um satélite destruído destrói a sua equipe, deixando ela e o experiente astronauta Matt Kowalski (George Clooney) em seus trajes espaciais, vagando pelo enorme vazio da órbita da Terra em busca de alguma estação espacial que ainda não tenha sido destruída pela mesma e acumulativa “chuva de destroços”. Vocês se lembram daquele slogan no poster do primeiro Alien? “No espaço, não dá para ouvir você gritando”. Um infinito, silencioso e sufocante vazio é o vilão de Gravidade, e ele é mais assustador do que qualquer monstro alienígena.

A força do filme vem tanto das situações angustiantes que essa premissa básica gera, firmando Cuarón como um dos grandes mestres da manipulação de emoções e ansiedades do espectador (A Vila, de M. Night Shyamalan, e Argo, de Ben Affleck, vêm a mente), quanto do arco temático bem claro que a personagem de Sandra Bullock desenha. Nesse sentido, é claro, a performance da atriz é fundamental, e a tão celebrada preparação minuciosa de Bullock para o papel vale a pena: com as feições mais expostas pelo cabelo curto, a expressão dura e uma miríade de emoções à flor da pele para expressar, a atriz mostra que talvez a Academia tenha lhe dado o Oscar muito cedo. Gravidade é, definitivamente, seu trabalho mais difícil, e mais sólido.

Clooney, que (spoiler) desaparece lá pela metade do filme e só volta para uma rápida cena perto do final (/spoiler), está bastante confortável como o equilíbrio tonal do filme de Cuarón, dando a tragédia de Ryan uma perspectiva diferente. Carismático como de costume e de presença marcante, especialmente com o trabalho de voz, Clooney faz com que a perspectiva de ter Robert Downey Jr. no mesmo papel – o ator de Homem de Ferro só desistiu por conflitos de agenda – seja inimaginável.

Dito tudo isso, está na hora de admitir: Gravidade é mesmo um triunfo técnico de cinema, com seus longos takes únicos (16 minutos é o tempo que dura a tomada inicial!), seus efeitos especiais sem precedentes e sua construção visual que discretamente foge do senso comum da ficção científica. A câmera viajante de Cuarón e Lubezki parece estar em gravidade zero junto com seus personagens, mas nem por isso vê desculpa para ser instável e desconfortável. Eventualmente, essa observação meio errante produz imagens absolutamente impressionantes, ao mesmo tempo que não esquece da simbiose entre o visual e a narrativa, utilizando recursos como a colocação da câmera em primeira pessoa com o personagem para realçar sensações já estabelecidas no papel.

Aqui, Cuarón arquiva um verdadeiro triunfo, e definitivamente um dos melhores filmes de 2013, mas só o faz porque consegue entender que sua virtuosidade com o meio cinematográfico precisa estar casada com uma história que diga algo, e priorize dizer algo, sobre a natureza humana. O cinema pode ser o meio perfeito para pintar verdadeiras telas impressionistas com a câmera, mas não faz sentido fazer arte se ela não for dizer algo sobre e para quem a receber. Gravidade, apropriadamente, é um filme sobre ter as forças de colocar os pés no chão e seguir em frente, e sobre como facilmente nos deixamos desligar do mundo quando mergulhamos nos nossos próprios dramas. Só por isso que a presença constante da Terra no canto da tela captada pelo diretor, um deleite visual entre muitos do filme, adquire um significado. Eternamente vagando pelo espaço, nos deixando engolir pelo vazio, nos esquecemos muitas vezes que existe um mundo todo para além de nós mesmos.

***** (5/5)

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Gravidade (Gravity, EUA, 2013)
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón
Elenco: Sandra Bullock, George Clooney
91 minutos