Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

30 de mai. de 2017

Diário de filmes do mês: Maio/2017

Downloads2

por Caio Coletti

Nem todos os filmes merecem (ou pedem) uma análise complexa como a que fazemos com alguns dos lançamentos mais “quentes” ou filmes que descobrimos e nos surpreendem positivamente. É levando em consideração a função da crítica e da resenha como uma orientação do público em relação ao que vai ser visto em determinado filme que eu resolvi criar essa coluna, que visa falar brevemente dos filmes que não ganharam review completo no site. Vamos lá:

tsbu

O Espaço Entre Nós (The Space Between Us, EUA, 2017)
Direção: Peter Chelsom
Roteiro: Allan Loeb
Elenco: Asa Butterfield, Britt Robertson, Carla Gugino, Gary Oldman, Janet Montgomery
120 minutos

Era uma questão de tempo até o redescoberto gosto do cinemão americano por ficção científica (vide os bem-sucedidos Gravidade e A Chegada) dar luz a um produto genérico como O Espaço Entre Nós. Muito mais visão do estúdio do que jamais poderia ser de seu diretor e seu roteirista, esse romance adolescente com tons de ficção peca por ser agressivamente brando e previsível. Até a “reviravolta” final pode ser vista a um quilômetro de distância, mas isso não seria problema se ela fosse emocionalmente satisfatória – ao invés disso, O Espaço Entre Nós transforma sua grande revelação em uma nota de rodapé na história romântica de Gardner (Asa Butterfield), um garoto nascido e criado na primeira colônia humana de Marte, cuja existência é mantida em segredo pela NASA. Ele se apaixona por uma “terráquea”, Tulsa (Britt Robertson), e escapa das garras da organização espacial para encontrá-la assim que coloca os pés no nosso planeta. A partir daí, uma nada empolgante mistura de road movie romântico e filosofia barata se estrutura, conforme Gardner e Tulsa buscam pela identidade do pai do garoto (sua mãe morreu durante o parto) enquanto são perseguidos por Gary Oldman e Carla Gugino, perdidos em personagens que não lhe fazem jus. Butterfield e Robertson se saem ainda pior, incapazes de criar química onde o roteiro não lhes favorece – esses dois jovens e talentosos atores tem feito escolhas nada produtivas para suas carreiras, o que só aumenta a decepção de O Espaço Entre Nós.

O roteiro de Allan Loeb encontra soluções fáceis para seus conflitos centrais, e sua vaga noção das questões mais importantes levantadas pela história não muda o fato de que, entre as histórias de ficção provocativas que vemos no cinema atual, O Espaço Entre Nós é inofensivo no pior dos sentidos. Até Passageiros, outro veículo hollywoodiano mal-direcionado, buscava explorar dilemas mais interessantes (embora fujisse deles no terceiro ato, infelizmente) e tinha uma elaboração visual mais inteligente. Com fotografia ensolarada e direção sem brilho, O Espaço Entre Nós não faz jus ao gênero nobre em que tenta se encaixar – ficção científica sem garras e dentes afiados não é ficção científica.

✰✰✰ (2,5/5)

tc2

Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2, Canadá/EUA, 2016)
Direção: James Wan
Roteiro: Carey Hayes, Chad Hayes, James Wan, David Leslie Johnson
Elenco: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Frances O’Connor, Madison Wolfe, Maria Doyle Kennedy, Franka Potente
134 minutos

Durante as mais de duas horas de Invocação do Mal 2, continuação comandada pelo mesmo James Wan que deu início à franquia, uma sensação incômoda e excitante continuava me provocando. E não, não eram as assombrações enfrentadas pelo casal de paranormais Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga), e sim a impressão curiosa de que Wan estava fazendo uma homenagem, nesse filme, a um mestre inusitado do gênero cinematográfico: Steven Spielberg. Invocação do Mal 2, como peça puramente técnica de cinema de terror, deve muito a Spielberg – a forma como Wan brinca com a percepção do espectador daquilo que está fora da câmera (ou fora de foco, em uma cena memorável), que se conduz em movimentos longos e vagarosos, é especialmente reminiscente do estilo Spielberg de comandar a ação e a tensão em seus arrasa-quarteirões. Os breves flashes das figuras demoníacas enfrentadas pelos protagonistas e a sensação de que eles estão sempre se movendo para além do alcance da câmera  provoca um incômodo visceral que pode não permanecer com o espectador quando os créditos sobem, mas funciona às mil maravilhas enquanto o filme está na tela. Invocação do Mal 2, antes mesmo de ser assustador, quer ser tão divertido quanto um passeio de montanha-russa – e, largamente, consegue.

Para produzir essa sensação, Wan e seu diretor de fotografia, Don Burgess, procuram estabelecer seus cenários firmemente, e adicionar aos monstros da vez um toque de criatividade visual que não existia no primeiro filme, dominado por possessões demoníacas “padrão”. Como resultado dessa nova abordagem, no entanto, Wan acaba chutando os personagens para escanteio, e talvez por isso, mesmo com sua excelência técnica, Invocação do Mal 2 pareça em última instância inferior ao primeiro – ele não nos envolve na luta e sofrimento dos clientes dos Warren como seu predecessor, e o drama pessoal do casal paranormal não é o bastante para tapar esse buraco (ou a ausência de uma Lili Taylor, diga-se de passagem).

✰✰✰✰ (3,5/5)

logan

Logan (EUA/Canadá/Austrália, 2017)
Direção: James Mangold
Roteiro: Scott Frank, James Mangold, Michael Green
Elenco: Hugh Jackman, Dafne Keen, Patrick Stewart, Boyd Holbrook, Stephen Merchant, Richard E. Grant
137 minutos

Há algumas verdades simples sobre a história dos X-Men e, especialmente, o personagem de Wolverine, que Logan entende muito bem, talvez melhor que qualquer outro filme da franquia. Entre elas: a fundamental fragilidade da atitude de “lobo solitário” do mutante canadense, e a importância da noção de comunidade para o progresso social frente a obstáculos aparentemente instransponíveis. O filme de James Mangold espertamente mistura essa mitologia a do western americano em um filme em que vemos um Logan envelhecido, cuidado de um Professor Xavier ainda mais fragilizado, em um futuro que não vê o nascimento de um mutante há mais de 20 anos. É nesse contexto que eles encontram Laura (a jovem e talentosa Dafne Keen), que misteriosamente demonstra poderes parecidos com os de Logan – e que tem uma organização governamental violenta em seu encalço. A trama então se transmuta em um curioso road movie sobre paternidade, as marcas indeléveis da violência e o direito daquilo que é considerado “velho” de existir em um mundo que não o considera mais uma ameaça ou uma parte válida da sociedade. Ao inverter o jogo e colocar os mutantes como os temerosos ao invés dos temidos, Logan é uma poderosa fábula sobre perseguição preconceituosa como qualquer filme da franquia X-Men deveria ser.

É também é uma esperta metáfora sobre imigração e refugiados, embora de forma bem mais discreta e elegante do que era de se esperar de um filme tão violento. O diretor Mangold, experimentando um filme do Wolverine com classificação etária mais restrita, regozija no desaparecimento das limitações e comanda cenas de ação brutalmente físicas sem precisar encontrar formas de comunicar a selvageria do personagem em meias palavras. A falta de sutileza também serve bem a Jackman, que faz sentir a vulnerabilidade de Logan não só na linguagem corporal como em momentos-chave do filme, trabalhando a imagem icônica que construiu ao longo dos anos e expondo o medo e a insegurança que existem por trás dela. Inteligente e refrescantemente completo (sem ganchos para continuações ou “travas” do estúdio), Logan demonstra a potencialidade do gênero de super-heróis para uma reflexão social ainda mais profunda do que vimos até agora. Resta esperar que, visto o sucesso de bilheteria, seu exemplo seja seguido.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

lovesong

Lovesong (EUA, 2016)
Direção: So Yong Kim
Roteiro: Bradley Rust Gray, So Yong Kim
Elenco: Riley Keough, Jena Malone, Ryan Eggold, Brooklyn Decker, Amy Seimetz, Rosanna Arquette, Cary Joji Fukunaga
84 minutos

Lovesong é um animal curioso. Com seus 84 minutos, passa rápido pelos olhos do espectador, e com sua estética indie, não parece carregar muito peso. No entanto, quando os créditos sobem, a impressão é que uma eternidade se passou, e de repente as questões e impressões levantadas pelo filme revelam sua densidade. De certa forma, poucos filmes tem um título mais adequados: o filme de So Yong Kim é mesmo uma “canção de amor”, tanto em sua estrutura quanto em seus temas. Como peça observacional, no trabalho de Kim e dos diretores de fotografia Guy Godfree e Kat Westergard, o filme faz rimas visuais sem esforço, estabelecendo um forte senso de conexão com o ambiente no qual as personagens estão inseridas, e mergulhando fundo em momentos aparentemente simples que revelam profundidades inesperadas. O roteiro de Kim com o marido, Bradley Rust Gray, escapa deliberadamente de preocupações práticas, preferindo deixar pontos importantes da trama subentendidos na relação, nos olhares e nos diálogos entre as protagonistas. É um trabalho belo de elaboração cinematográfica, uma espécie de poesia audiovisual raramente vista mesmo no cinema independente americano – poucas vezes um filme tão apoiado nas intangibilidades de uma relação funcionou tão bem.

Nossa protagonista é Sarah (Riley Keough), jovem mãe da adorável Jessie e esposa de um marido ausente. Em depressão, ela entre em contato com uma amiga de faculdade, Mindy (Jena Malone), e as duas partem uma road trip espontânea que revela desejos e peculiaridades da relação entre elas que nenhuma das duas está pronta para encarar. Três anos mais tarde, elas se reencontram no casamento de Mindy. O filme pouco estrutura além disso em termos de narrativa, se apoiando nas duas atuações centrais, que criam uma química irresistível e, em última instância, de quebrar o coração. Keough está especialmente fantástica, encarando um leque amplo de emoções e expressando com brilhantismo a hesitação de um amor restringido por amarras sociais e desencontros casuais que talvez nem mesmo as amantes em questão consigam superar.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

jw2

John Wick: Um Novo Dia para Matar (John Wick: Chapter 2, EUA/Hong Kong/Itália/Canadá, 2017)
Direção: Chad Stahelski
Roteiro: Derek Kolstad
Elenco: Keanu Reeves, Riccardo Scamarcio, Ian McShane, Ruby Rose, Common, Lance Reddick, Laurence Fishburne, John Leguizamo, Peter Stormare
122 minutos

O John Wick original, lançado no Brasil sob o título De Volta ao Jogo em 2014, funcionava largamente porque não se levava terrivelmente a sério, o que permitia ao espectador se divertir com algumas das cenas de ação mais brutais e impecavelmente coreografadas/performadas em muito tempo. É curioso perceber que o contrário acontece com Um Novo Dia Para Matar, continuação lançada esse ano em que Keanu Reeves reprisa o papel do assassino de aluguel, agora sendo obrigado a pagar uma dívida antiga. Nas mãos do hábil roteirista Derek Kolstad, a saga de John Wick continua patentemente ridícula, com seu submundo de assassinos cheio de regras – mas é também a envolvente história de um homem que não só não tem mais nada a perder, como também se agarrou a única coisa que conheceu intimamente durante a vida: a violência e, especialmente, a vingança. Não é um conceito novo, mas funciona surpreendentemente bem quando casado com tiroteios fenomenalmente estruturados, coadjuvantes apropriadamente excêntricos e uma performance tão inadequada quanto estranhamente eficiente de Reeves. O astro de Matrix nunca foi bom ator, mas é inegável sua capacidade de criar personagens icônicos, e seu faro especial para construir “peixes fora d’água” que são, contraditoriamente, terrivelmente cool.

John Wick 2 se apoia nessa contradição muito mais que o primeiro filme, enquanto o diretor Chad Stahelski mostra seus melhores truques e a maestria de sempre na condução das cenas de ação. Elas são brutais como de costume, exponencialmente mais elaboradas em relação ao primeiro capítulo da saga, e terrivelmente excitantes. A trama complicada montada por Kolstad através de ume premissa mais simplista impossível tem maus momentos, mas o filme compensa a paciência do espectador tanto com um clímax explosivo quanto com certa satisfação emocional/moral ausente do primeiro. John Wick acaba de ficar muito mais interessante.

✰✰✰✰ (4/5)

23 de mai. de 2017

Review: The Keepers, série documental da Netflix, é o pedaço de TV mais importante do ano

the-keepers-tv-show

por Caio Coletti

No alto do pôster de The Keepers, nova série documental da Netflix, o serviço de streaming se orgulha de ser a casa de outra produção do gênero celebrada (e vencedora de Emmys), Making a Murderer. A exaustiva série em 10 episódios sobre o caso Steven Avery foi um dos pedaços de audiovisual mais vistos, discutidos e polêmicos do ano passado, e assisti-la é sem dúvida uma experiência única. “Morbidamente fascinante” é uma expressão tão adequada para Making a Murderer quanto “absolutamente fundamental”, no sentido em que abre uma discussão franca sobre a eficiência da justiça em fiscalizar seus próprios atos. De certa forma, a série sobre Avery é um sermão de 10 horas sobre a prepotência da justiça como instituição, e suas latentes falhas.

O que Making a Murderer é também, no entanto, é uma peça de advocacia descarada que esconde evidências, detalhes e sutilezas que podem influenciar o julgamento do espectador sobre o caso que vê em tela. É um convincente e, em partes, tocante discurso apaixonado em defesa de seu protagonista, mas não aspira ser nada além disso – e, talvez, perca a oportunidade de ser uma obra-prima de verdade no caminho. The Keepers não sofre desse mal. O diretor Ryan White aborda o caso do assassinato da Irmã Cathy Cesnik em 1969 e seus desdobramentos atuais da forma como um diretor de cinema deve fazê-lo: como uma história, uma narrativa que, por acaso, é real.

Nessa condição, ele destrincha personagens e detalhes com a voracidade de um investigador e a sutileza de um artista, buscando os temas centrais dessa saga e as qualidades nucleares de cada sujeito em frente à câmera. Se alguns episódios de Making a Murderer, para o bem ou para o mal, pareciam-se com digressões longas acerca de pequenos detalhes das evidências, The Keepers não tem um minuto que não seja essencial para seu desenvolvimento como obra de arte. Tão frequentemente esquecemo-nos da dimensão cinematográfica do cinema documental, da forma como ele pode inspirar, chocar, emocionar e marcar não só pela força de sua história real, como também pela forma como ela é contada. The Keepers nos lembra de tudo isso, e recupera a grandeza dessa forma de arte no caminho.

O que mais impressiona é que The Keepers faz isso mesmo quando não precisava fazer. As questões reais levantadas pela história da freira assassinada são centrais o bastante para uma discussão social mais contemporânea impossível (abuso sexual, especialmente de menores, e ainda mais especificamente dentro da igreja católica) para que o documentário se sustentasse sozinho. No entanto, Ryan White escolhe aproveitar a oportunidade para mergulhar fundo também no significado da memória, na passagem inclemente do tempo, na propriedade corrosiva dos segredos que carregamos de outra época e do trauma que marinamos no nosso íntimo, e na forma como esses sentimentos todos podem morrer com quem os guardou, para sempre não resolvidos.

Da forma como foi feita, The Keepers é uma elegia e uma exaltação daqueles e daquelas que tiveram coragem de externar esses traumas, segredos e memórias. É muito mais uma história de sobreviventes do que de uma freira morta, que se tornou símbolo de uma resistência que ela nunca foi capaz de concretizar em vida. É tão devastadoramente atual, relevante e explosivo quanto Making a Murderer, especialmente quando analisa a forma como as leis parecem desdenhar das vítimas e proteger os abusadores. É sensorialmente assustadora e amarga, usando reconstruções em preto e branco e o olhar inclemente de uma câmera detalhista para puxar o espectador para dentro da história.

The Keepers é o pedaço de televisão mais importante que você vai ver em 2017. Ainda mais que isso, no entanto, é o melhor. É quando a importância de um tema e a maestria de um artista se juntam dessa forma que precisamos celebrar a capacidade humana de contar histórias, reais ou inventadas, e se transformar constantemente com elas.

✰✰✰✰✰ (5/5)

school

The Keepers (EUA, 2017)
Direção: Ryan White
7 episódios

11 de mai. de 2017

Review: Guardiões da Galáxia Vol. 2 não pede desculpas por ser brega – e nem deveria

9309ee7890499a5b4d7d825f02dbe80e

por Caio Coletti

Por nove anos e quinze filmes, a Marvel Studios tem construído seu universo com um barulho enganador. Apesar de ser a franquia mais amada e vigiada da atualidade, o universo cinematográfico Marvel normalmente é tão sutil quanto um blockbuster jamais poderia ser na costura de seus temas e discussões maiores. Ler nas entrelinhas (e nas entrelinhas das entrelinhas) para encontrar metáforas sobre identidade, militarização, liderança e justiça já é uma segunda natureza para os espectadores mais atentos – e talvez por isso seja tão refrescante constatar que, no cenário dessa franquia, um filme como Guardiões da Galáxia Vol. 2 ainda pode existir.

A segunda aventura dos heróis intergalácticos comandada por James Gunn mostra o protagonista, Peter Quill (Chris Pratt) finalmente encontrando seu pai, o ser todo-poderoso Ego (Kurt Russell), que engravidou e deixou a mãe do herói para trás décadas antes. A ideia de uma família formada por laços emocionais (ao invés de biológicos) já era forte no primeiro filme, mas, ao assumir sozinho o roteiro dessa continuação, Gunn escancara as portas de um sentimentalismo genuíno, abandonando o estilo contido e “realista” dos relacionamentos dentro do contexto da Marvel em favor de uma abordagem estilizada e ultradramática que, surpreendentemente, funciona.

Guardiões da Galáxia Vol. 2 é um pastiche de ideias complexas e emoções primárias, que busca um diálogo franco com o espectador como raramente vemos na era de blockbusters cínicos em que vivemos. O uso espetacular dos efeitos especiais, criando um mundo muito mais sinérgico e colorido do que estamos acostumados no gênero, é um bônus – Gunn tem faro para a coisa, e estava na hora de algum esteticista habilidoso quebrar o padrão das cores “mudas” e das sombras onipresentes no mundo dos super-heróis pós-O Cavaleiro das Trevas.

É claro que o filme não funciona o tempo todo. Em alguns momentos, essa abordagem “aberta” de Gunn ao lidar com clichês do gênero cria piadas e cenas descartáveis, e o adorável Bebê Groot dublado por Vin Diesel (?!) cheira um pouco demais a golpe publicitário para ser completamente abraçado pelo espectador médio. O mais bacana, no entanto, é que Gunn sabe quais convenções chutar para escanteio e quais adotar para si – por todo o seu sentimentalismo, Guardiões da Galáxia Vol. 2 nunca parece manipulador, e procura encontrar tridimensionalidade em todos os seus personagens, com uma trama descomplicada que permite que a jornada de cada um se desenvolva.

As duas mulheres protagonistas do filme, Gamora (Zoe Saldana) e Nebula (Karen Gillan), por suas vezes, ganham arcos mais fortes do que a maioria das personagens femininas da Marvel. Saldana parece especialmente acomodada ao papel, entregando uma Gamora que pode rankear com facilidade entre as grandes heroínas da ficção científica. A autonomia dessas guerreiras não precisa ser provada dentro do roteiro de Gunn – ao posicioná-las como forças já a serem reconhecidas na história, o diretor dá espaço para suas intérpretes trabalharem, e a relação entre as duas é marcantemente complexa para um blockbuster de verão.

Lidando de forma esperta com temas como arrogância, poder, comunidade e vingança, Guardiões da Galáxia Vol. 2 deixa todas as suas cartas na mesa para o espectador. Em seu abraço entusiasmado das possibilidades de contar uma história, o filme pode ser lido como jocoso, ou brincalhão demais, ou mesmo brega – mas Gunn e companhia não só tem essa consciência, como não pedem desculpas por isso. Pensar que a Marvel, sempre tão habilidosa em esconder suas ambições narrativas nas sombras de um bom e velho “arrasa quarteirão descompromissado”, ainda é capaz de se abrir para o ridículo e o maravilhoso de suas próprias histórias, deveria ser animador para qualquer amante de cinema (e quadrinhos) por aí.

✰✰✰✰ (4/5)

gotg

Guardiões da Galáxia Vol. 2 (Guardians of the Galaxy Vol. 2, EUA, 2017)
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn, baseado nos quadrinhos de Dan Abnett & Andy Lanning
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Michael Rooker, Karen Gillan, Pom Klementieff, Sylvester Stallone, Kurt Russell, Elizabeth Debicki, Chris Sullivan, Sean Gunn
136 minutos

3 de mai. de 2017

Diário de filmes do mês: Abril/2017

Downloads1

por Caio Coletti

Nem todos os filmes merecem (ou pedem) uma análise complexa como a que fazemos com alguns dos lançamentos mais “quentes” ou filmes que descobrimos e nos surpreendem positivamente. É levando em consideração a função da crítica e da resenha como uma orientação do público em relação ao que vai ser visto em determinado filme que eu resolvi criar essa coluna, que visa falar brevemente dos filmes que não ganharam review completo no site. Vamos lá:

mt

Monster Trucks (EUA/Canadá, 2016)
Direção: Chris Wedge
Roteiro: Derek Connolly
Elenco: Lucas Till, Jane Levy, Thomas Lennon, Barry Pepper, Rob Lowe, Danny Glover, Amy Ryan, Frank Whaley
104 minutos

A relação do cinemão americano com seus clichês mais tóxicos está deteriorando. Essa é a conclusão à qual um espectador esperto deve chegar ao fim de Monster Trucks, fracasso de bilheteria dirigido por Chris Wedge, conhecido pelo trabalho na animação A Era do Gelo, entre outros títulos do gênero. Aqui, ele encontra espaço para cenas de ação dinâmicas e demonstra seu domínio do trabalho de efeitos visuais, mas esbarra em um roteiro tão teimosamente inano e convencional que chega a doer. O responsável é Derek Connolly, que ascendeu à fama após Jurassic World, e enquanto a continuação da saga dos dinossauros tentava se disfarçar de pastiche hollywoodiano, Monster Trucks não está sob a mesma ilusão. Pelo contrário, o filme abraça as tradições mais irritantes do blockbuster, entre elas a construção de um protagonista masculino (e branco) cuja alta opinião de si mesmo é “justificada” por suas habilidades, mostradas como extraordinárias. Monster Trucks não está interessado em mostrar essa arrogância como defeito, mas em recompensá-la como um traço da tradição americana, exatamente como faz com os carrões bebedores de gasolina do título.

O protagonista Lucas Till vê seu carisma natural preso a esse personagem a quem não é solicitado nenhum arco de evolução ou amadurecimento – ele é Tripp, assistente de ferro velho em uma pequena cidade americana que tem a economia sustentada por uma empresa de exploração de petróleo. Após um acidente na perfuração do solo, curiosas criaturas aquáticas emergem, e uma delas se mostra amigável o bastante com o protagonista. A partir daí, a mistura de clichês e detalhes mal resolvidos é contagiosa de uma forma que nem mesmo a natural amabilidade do elenco (incluindo uma desafortunada Jane Levy, na pele da mal desenvolvida namoradinha do protagonista) consegue salvar. Ganha pontos pela direção, mas não vale o tempo que pede para o espectador investir nele.

✰✰✰ (2,5/5)

brazil

Brazil: O Filme (Brazil, Inglaterra, 1985)
Direção: Terry Gilliam
Roteiro: Terry Gilliam, Tom Stoppard, Charles McKeown
Elenco: Jonathan Pryce, Robert De Niro, Katherine Helmond, Ian Holm, Bob Hoskins, Michael Palin, Peter Vaughan, Kim Greist, Jim Broadbent
132 minutos

Em muitos sentidos, Brazil é o filme mais emblemático da carreira de Terry Gilliam, um dos grandes autores cinematográficos do século XX. O filme exemplifica as virtudes e defeitos da visão do diretor, sua excentricidade e sua aguda consciência social, assim como o seu gosto por uma direção de arte que lida com elementos kitsch do cinema de gênero clássico, produzindo quase sempre um cenário de dark fantasy muito peculiar. Assistir ao filme hoje em dia, mais de 30 anos depois de seu lançamento, no entanto, é também concluir que é uma obra prima incompleta. Como fábula futurista distópica sobre um estado travado por burocracia, o tempo o enfraqueceu um pouco – assim como enfraqueceu o romance central, um tanto raso e machista para os padrões atuais. Como exercício de estilo, no entanto, o filme continua um excitante passeio por uma mente única, pela visão difusa do futuro e da humanidade que Gilliam imprime às suas elaborações visuais, e por personagens tão idiossincráticos quanto inesquecíveis.

Jonathan Pryce, hoje em dia interpretando o Alto Pardal em Game of Thrones, brilha como o exasperado protagonista, Sam Lowry, um burocrata que se vê envolvido com um erro fatal da máquina governamental. Em seu caminho escuso por rebeldias absurdistas, conhece um “encanador clandestino” (Robert De Niro, hilário) e se apaixona por uma mulher misteriosa (Kim Greist). O pessimismo inerente das histórias distópicas contamina o roteiro de Gilliam, Tom Stoppard e Charles McKeown, mas o filme encontra originalidade nos detalhes com os quais imbui seu universo e sua narrativa – em última instância, é um conto psicodélico sobre uma sociedade em que as mais simples autonomias se tornaram ilegais.

✰✰✰✰ (3,5/5)

tgwatg

The Girl with All the Gifts (Inglaterra/EUA, 2016)
Direção: Colm McCarthy
Roteiro: Mike Carey, baseado em seu próprio livro
Elenco: Sennia Nanua, Gemma Arterton, Glenn Close, Paddy Considine, Anamaria Marinca
111 minutos

Abordagens originais no subgênero de zumbis são raridades mais de meio século depois de George A. Romero ter dado vida às criaturas pela primeira vez. The Girl with All the Gifts, que o autor Mike Carey adaptou para o cinema a partir de seu próprio livro, é uma dessas raridades. A história acompanha a jovem Melanie (a carismática estreante Sennia Nanua), que representa uma geração de crianças que nasceu infectada com o mesmo vírus que transformou quase toda a humanidade em vorazes devoradores de cérebros. Essas crianças, embora possuam semelhante fome por carne humana, não apresentam os sintomas que transformam adultos em criaturas vagantes e sedadas. Quando um grupo desses zumbis mais “perigosos” invadem um acampamento do governo onde testes cruéis são administrados nas crianças em questão, Melanie foge com um grupo de adultos – e a história toma rumos imprevisíveis a partir daí. O mais bacana é que The Girl with All the Gifts usa esse cenário único para discutir um tema social que ainda não foi explorado pelo naturalmente político subgênero dos zumbis: o conflito geracional.

Na direção discreta de Colm McCarthy, o filme se transforma em uma fábula essencial sobre a ordem natural do mundo, a substituição dos valores que ocorre com o passar do tempo e, especialmente, do bastão de controle social de uma geração para outra. A feroz e independente Melanie existe como um contraste à dócil professora interpretada por Gemma Arterton ou à ambiciosa doutora encarnada com o comprometimento e excelência de sempre por Glenn Close. Na melhor tradição do gênero, The Girl with All the Gifts é uma inteligente e visceral tradução de uma ansiedade muito real que assola nossa sociedade – é uma pena que encontre aspectos formulaicos em sua estrutura e realização que o impedem de ser a obra prima que merecemos.

✰✰✰✰ (3,5/5)

dog

Quatro Vidas de um Cachorro (A Dog’s Purpose, EUA, 2017)
Direção: Lasse Hallström
Roteiro: W. Bruce Cameron, Cathryn Michon, Audrey Wells, Maya Forbes, Wallo Wolodarsky, baseados no livro de W. Bruce Cameron
Elenco: Josh Gad, Dennis Quaid, Peggy Lipton, K.J. Apa, Luke Kirby, Britt Robertson
100 minutos

Quatro Vidas de um Cachorro carrega as marcas de um filme de antologia, mesmo que não seja. A visão sempre maleável do talentoso Lasse Hallstrom na direção ajuda com essa impressão – em cada um dos “capítulos” da vida do cachorro no centro  do filme, o filme toma um espírito e estilo diferente, certamente também influenciado pelo roteiro dividido entre quatro autores, incluindo W. Bruce Cameron, que assinou o livro que inspira o filme. Isolados, cada um dos capítulos tem seu charme, e certo nível de verdade emocional. Por toda a sua amabilidade, no entanto, Quatro Vidas de um Cachorro não escapa da noção confortavelmente convencional de um drama americano que prioriza uma história tipicamente (caucasiano-)americana sobre as outras, negligenciando de certa forma a vida sentimental dos personagens à beira dessa história. E sem pessoas ricas em vida emocional, um filme como Quatro Vidas de um Cachorro naufraga, exatamente como faz a cada momento em que apressa ou diminui as histórias “coadjuvantes” para poder retornar à principal.

O filme acompanha, como explicita o título, quatro reencarnações do cachorro dublado por Josh Gad – naquela que toma precedência frente às outras, ele é o companheiro de Ethan (KJ Apa), um jovem com carreira promissora no esporte que acaba tendo que largar tudo após problemas familiares e se tornar proprietário da fazenda dos avós, perdendo a namoradinha (Britt Robertson) no processo. É a história de decepção e triunfo que assombra a mitologia do meio-Oeste americano desde sempre, e talvez por isso Quatro Vidas de um Cachorro soe falso quando se concentra nela ao invés das mais vibrantes e interessantes que vem depois dela. Fizesse uma divisão mais igualitária entre seus “capítulos”, o filme de Hallstrom poderia se tornar um importante documento dos muitos cantos e estilos de vida dos EUA – da forma como está, não consegue escapar de ser emocionalmente frustrante.

✰✰✰ (2,5/5)

tlf

Pérfida (The Little Foxes, EUA, 1941)
Direção: William Wyler
Roteiro: Lillian Hellman, baseada em sua própria peça
Elenco: Bette Davis, Herbert Marshall, Teresa Wright, Richard Carlson, Dan Duryea, Patricia Collinge
116 minutos

Reza a lenda que Bette Davis não gostava de sua performance como Regina Giddens em Pérfida, adaptação para o cinema da peça de teatro tornada lendária por Tallulah Bankhead, uma das grandes intérpretes da dramaturgia americana. Fã incondicional de Bankhead, Davis admitiu ter deixado escapar momentos no filme em que apenas imitava os trejeitos e entonações particulares da colega de profissão -  na tela, no entanto, sua Regina ainda é impecavelmente fria, imponente, sexual de uma maneira ameaçadora, e eventualmente compreensível. Uma mulher que se esconde atrás do dinheiro porque o mundo lhe ensinou que esse seria o único tipo de poder que ela poderia ter, Regina é uma personagem antológica e inesquecível, eternizada na tela por uma Davis impecável, hipnotizante, digna da atenção indivisível do espectador mesmo diante de outros bons intérpretes. O destaque fica por conta de Patricia Collinge, que herdou o papel de Birdie do teatro e cria um contraponto digno de pena e afeição para a frieza de Regina – ao contrário da protagonista, Collinge desaba em detalhes emocionais, provendo um yin para o yang dos efeitos da opressão representado pela personagem de Davis.

A lendária Lillian Hellman adaptou para o cinema a peça de sua própria autoria, garantindo que o final de seu equilíbrio de moralidades continuasse tão discretamente ambíguo quanto era nos palcos. A trama acompanha Regina e seus irmãos tentando convencer o marido da protagonista, um homem adoentado com valores muito diferentes da família mesquinha da esposa, a investir em um negócio que lhes trará lucro obsceno. Na direção, o mestre William Wyler imbui com profundidade os poucos cenários da história, elaborando a relação entre os personagens com signos visuais como a enorme escada da residência Giddens – em uma inversão fascinante, quanto mais alto na escada o personagem está, menos controle da interação ele tem. A subversão de convenções combina com uma fábula em que vilões são os protagonistas, e a esperança da trama na humanidade é cruelmente limitada.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

fang

Desafiando a Arte (The Family Fang, EUA, 2015)
Direção: Jason Bateman
Roteiro: David Lindsay-Abaire, baseado no livro de Kevin Wilson
Elenco: Jason Bateman, Nicole Kidman, Kathryn Hahn, Christopher Walken, Marin Ireland, Michael Chernus, Maryann Plunkett
105 minutos

Desafiando a Arte é um pequeno filme que levanta grandes questões, mas nunca deixa essas questões subirem à cabeça. Dependendo da sua visão sobre ele, o filme pode ser: uma análise estoicamente determinista sobre os limites da arte e sua “genuinidade”; um retrato impiedoso de um relacionamento abusivo entre marido e esposa/pai e filhos; um conto otimista sobre encontrar seu caminho na vida através de apoio emocional e pragmatismo; ou tudo isso ao mesmo tempo, o que provavelmente é mais justo ao produto final. Em seu caminho para desenredar essas questões, no entanto, Desafiando a Arte toma cuidado de não soar pretensioso, construindo em seus personagens os aspectos fundamentais de todas esses exames profundos de temas complexos. Se a estética do filme, dirigido pelo também protagonista Jason Bateman, usa e abusa dos clichês da dramédia independente, o roteiro do talentoso David Lindsay-Abaire (Reencontrando a Felicidade) passa longe da exaustiva reflexão dessas mesmas convenções.

Na trama, acompanhamos os filhos de um casal de artistas contemporâneos de performance, que usavam os dois, quando crianças, para montar encenações/pegadinhas elaboradas, que passavam por instalações artísticas. Hoje, Annie (Nicole Kidman) é uma atriz com problemas de alcoolismo, e Baxter (Jason Bateman) é um escritor com bloqueio criativo – por um acaso do destino, os dois acabam visitando os pais, Caleb (Christopher Walken) e Camille (Maryann Plunkett), pouco antes de ambos sumirem em um incidente misterioso.  O quarteto de atuações principais é um triunfo: a quieta sensibilidade de Bateman contrasta com a sempre transparente e detalhista performance de Kidman, enquanto Walken domina a tela com seu retrato convincente de um homem cujo ego e ideias estão sempre acima do bem estar daqueles a sua volta. Para Desafiando a Arte funcionar, a excentricidade de Walken precisava deixar o disfarce inofensivo de seus personagens mais recentes – e ele encontra a ameaça e manipulação com facilidade assustadora aqui.

✰✰✰✰ (4/5)

ocp

A Última Ressaca do Ano (Office Christmas Party, EUA, 2016)
Direção: Josh Gordon, Will Speck
Roteiro: Justin Malen, Laura Solon, Dan Mazer
Elenco: Jason Bateman, Olivia Munn, T.J. Miller, Jennifer Aniston, Kate McKinnon, Courtney B. Vance, Jillian Bell, Rob Corddry, Vanessa Bayer, Randall Park, Jamie Chung, Abbey Lee
105 minutos

Não há nada de errado com uma comédia que faz paradas eventuais no caos de suas situações para nos atualizar na história de verdade que existe no seu cerne. O problema de A Última Ressaca do Ano, portanto, não é que ele ambicione enredar uma trama além das palhaçadas anárquicas da festa de escritório que dá o título original ao filme, mas sim que tal trama falha em convencer até o mais envolvido dos espectadores. Aqui, vemos a filial de uma empresa, em época natalina, sob ameaça de fechamento após a visita da CEO da companhia, interpretada por Jennifer Aniston – é quanto um investidor em potencial (Courtney B. Vance) aparece e diz que gostaria de “experimentar o ambiente” da empresa antes de fechar o negócio que poderia salvá-la. A solução do gerente T.J. Miller é dar uma festa de arromba, e é desnecessário dizer que as coisas saem do controle a partir daí – o roteiro de Justin Malen, Laura Solon e Dan Mazer tem menos boas ideias cômicas do que deveria, mas ainda encontra certo espírito de descontração que torna a maioria das cenas na festa agradáveis.

É quando os conflitos fraternais, românticos ou mesmo tecnológicos da trama prática se colocam na frente dessa “curtição” que o caldo azeda um pouco. Ancorado nos talentos consideráveis de Aniston, Kate McKinnon (como a “certinha” chefe dos recursos humanos) e Jillian Bell (na pele de uma hilária cafetina), membros mais inspirados de um elenco cheio de talento, A Última Ressaca do Ano quer misturar comédia absurdista com elaboração corporativa inconvincente, e o resultado é um filme consideravelmente menos divertido ou significativo do que poderia ser. Uma equipe cômica como essa certamente merecia (muito) melhor.

✰✰✰ (2,5/5)