Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

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Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

31 de jul. de 2013

Review: Uma saga mais de humanos e menos sobre humanos na adaptação de “A Hospedeira”

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Quando Stephenie Meyer lançou A Hospedeira, em 2008, ficou claro que a escritora da série Crepúsculo (que colocaria seu último capítulo nas prateleiras alguns meses depois) havia crescido para além de sua própria criação. Embora apresentasse alguns dos mesmos vícios de narrativa, especialmente a tendência ao anti-clímax e a premissa do triângulo amoroso, a abordagem dessa primeira novela de Meyer fora das histórias de Edward Cullen e cia era muito mais ampla. Essa era uma ficção científica que, na tradição das melhores ficções científicas, colocava o foco na natureza humana e na resistência e facetas dela diante de uma situação extraordinária. Só o fazia do modo Meyer de ser.

A Hospedeira, o filme lançado em Março último, preserva apenas essa vontade de ser essencialmente humana da novela de Meyer, além da estrutura básica de trama. A mudança fundamental que ocorre na transposição de livro para filme, e nós vamos culpar isso mais na diferença das mídias do que no trabalho de Andrew Niccol, é que agora a história que observamos não é contada sob o ponto de vista de uma estranha no ninho, e parte do estudo de Meyer sobre os efeitos e complexidades do amor e da compaixão ficam perdidos nessa diferenciação. A Hospedeira, o livro, era sobre Wanderer (Peregrina, na tradução em português) se encantando e se horrorizando com a natureza mista da humanidade. A Hospedeira, o filme, é sobre Melanie Stryder se reencontrando com essa natureza.

Na trama, a Terra foi tomada por alienígenas chamados de Almas, criaturas pacíficas que só conseguem existir de forma parasitária em outras espécies, tomando seus corpos. Melanie Stryder é capturada pelo inimigo e Wanderer, uma Alma que já esteve em oitro outros planetas “colonizados”, é implantada nela. Para a surpresa de todos, porém, a moça não desiste de lutar contra o domínio de Wanderer sobre seu corpo, começando um embate de consciência que leva a Alma a trair sua própria espécie para se juntar a família humana que Melanie (e Wanderer, agora) ama. E esse é só o começo. Nas mãos de Andrew Niccol, o homem pelo menos em parte responsável por Gattaca, O Senhor das Armas e O Show de Truman, essa é uma ficção científica ascética e serena, com momentos de ação delineados mais fortemente pela tragédia do que pela adrenalina. Uma trama extrema cuidadosamente controlada, como a Terra que as almas criaram ao invadirem nosso planeta.

Dois méritos são merecidos a Niccol: o homem entende de narrativa e é bom diretor de atores. A mudança de narrador, por exemplo, é uma das escolhas mais acertadas do filme, e poucos outros roteiristas/diretores teriam feito os constantes diálogos internos de Wanderer e Melanie parecerem tão pouco constrangedores em tela. Niccol mantem o anticlimax do livro especialmente porque é nele que tem a oportunidade de explorar melhor a personagem de Wanderer isoladamente, já que durante o restante do filme até o lado do triângulo amoroso representado por ela e Ian (Jake Abel, bem escalado e surpreendente) fica em segundo plano diante da trama amorosa entre Melanie e Jared (Max Irons, um dos poucos heróis românticos eficientes da atualidade). Essa mudança de foco enfraquece um pouco o impacto de A Hospedeira, mas sua mensagem continua interessante.

Diane Kruger é uma escolha sábia para o papel da Buscadora, sabendo ser odiável e compreensível o tempo todo, e entregando em seus últimos momentos em cena a performance mais intensa do filme. William Hurt é um triunfo silencioso na pele do sábio Tio Jeb, mas quem comanda o espetáculo é Saoirse Ronan, absolutamente a única jovem atriz capaz de lidar com os conflitos psicológicos de intepretar duas personagens não só no mesmo filme, mas ao mesmo tempo, e em um só corpo. É ela quem ameniza a mudança de foco do roteiro, equilibra o tempo de tela entre Wanda e Melanie e deixa transparecer o quanto essa história é de ambas em todos os momentos. Stephenie Meyer com certeza deve uma a essa garota.

*** (3/5)

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A Hospedeira (The Host, EUA, 2013)
Direção e roteiro: Andrew Niccol, baseado na novela de Stephenie Meyer
Elenco: Saoirse Ronan, Diane Kruger, Max Irons, Jake Abel, William Hurt, Chandler Canterbury, Boyd Holbrook, Scott Lawrence
125 minutos

Caio

30 de jul. de 2013

Review: A disputa de poder nos sets de Hitchcock em “The Girl”

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Não é a toa que as obras de ficção brinquem tanto com aquele estereótipo do gênio atormentado: graças as muitas biografias de artistas e criadores de todas as épocas, sabemos que as mentes mais brilhantes são aquelas capazes de conceber a si mesmas como matéria-prima e, ao mesmo tempo, resultado da arte. Em The Girl, Alfred Hitchcock não é retratado diferente, como um mestre da narrativa e da linguagem cinematográfica que usa as obsessões e distúrbios de sua vida particular para moldar a fixação presente em seus filmes. O fato de que este fiilme da HBO e também o Hitchcock com Anthony Hopkins se concentram numa fase mais avançada de sua vida e carreira prova que a intenção era mostrar o diretor durante a realização de seus filmes mais simbólicos, alegóricos e metafóricos.

O ponto de estudo aqui é o período entre 1962 e 1964 em que a protegée do mestre era a modelo-tornada-atriz Tippi Hedren. Órfão de uma ingenue loira para chamar de sua depois da precoce aposentadoria de Grace Kelly, Hitch descobriu a moça em um comercial de TV e a chamou para estrelar Os Pássaros, que viria a ser um dos títulos mais reconhecidos da sua filmografia. Além deste, o diretor e a musa fizeram juntos Marnie, um preferido dos fãs, cujas filmagens foram turbulentas graças ao relacionamento cada vez mais abusivo entre os dois. É dito, e endossado por The Girl, que Hitch teria se apaixonado por Tippi, e que os métodos sádicos com os quais a dirigia eram uma retaliação a rejeição dela a suas investidas.

É na quieta relação de poder entre os dois protagonistas que The Girl tem seu às na manga, e o diretor Julian Jarrold (Kinky Boots) precisa ser louvado por tirar o melhor dos momentos mais tensos desse relacionamento, mesmo em detrimento de algumas cenas que poderiam se beneficiar de uma abordagem mais sutil. Há momentos de pura fascinação em nesses pouco menos de 90 minutos, e eles acontecem quando a dinâmica atriz-diretor é posta a prova e conflitada com aquela entre apaixonado e musa relutante. No roteiro de Gwyneth Hughes, veterano da televisão que encontra alguns problemas quando tenta construir a progressão de uma narrativa cinematográfica, Hitchcock deseja Tippi justamente porque ela não o deseja de volta, e a objetifica porque ela se recusa a ser objetificada.

O filme confia muito em Toby Jones para nos vender um Hitchcock amargurado e em certos momentos odiável, e sua performance é poderosa no sentido que prende o personagem em uma jaula de auto-paródia e deixa a verdadeira tristeza por baixo dela brilhar apenas e somente através dos olhos. Além da maquiagem pesada, é claro, Jones tem a grandeza de reconhecer que Hitch era um cineasta tanto quanto era um ator interpretando a si mesmo. O equilíbrio para acertar essa definição é delicado, mas Jones é mais que qualificado para tal. Sienna Miller, por sua vez, é permitida pintar um quadro bem mais amplo de Tippi Hedren, e aproveita a liberdade para criar um retrato fiel e tocante de uma personagem que o script pinta como heróica.

Se você espera que The Girl pinte uma linha clara entre o que aconteceu e não aconteceu na turbulenta relação entre Hitch e Hedren, é melhor ajustar suas expectativas: a missão do filme de Julian Jarrold é muito mais borrar os limites entre realidade e ficção do que esclarecê-los.

**** (3,5/5)

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The Girl está indicado há 6 Emmys, incluindo:
- Melhor Trilha Sonora para Minissérie, Filme ou Especial (Philip Miller)
- Melhor Fotografia para Minssérie ou Filme (John Pardue)
- Melhor Direção para Minissérie, Filme ou Especial Dramático (Julian Jarrold)
- Melhor Ator em Minissérie ou Filme (Toby Jones)
- Melhor Atriz em Minissérie ou Filme (Imelda Staunton)

Caio

Review: Under The Dome, 01x06 – The Endless Thirst

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Kari Skogland é o amuleto de sorte de Under The Dome. A diretora que já havia sido responsável, nessa primeira temporada, pelo ótimo “Outbreak”, se supera no sexto episódio da série, “The Endless Thirst”. Vinda de episódios soltos em títulos como The Borgias e The Killing, Skogland tem o controle de tom necessário para adicionar intensidade e urgência ao que se passa em Chester’s Mill, um senso do qual Under The Dome pode e deve usufruir com mais frequencia. Afinal, esta deveria ser a história de uma cidade pequena cheia de segredos que se vê sob uma lente de aumento quando tem sua conexão com o resto do mundo desligada por um domo misterioso.

“The Endless Thirst” lida com muitas questões que estiveram esperando seis semanas, já, para serem levantadas: o medo de que a provisão de água, alimentos e combustível para gerar eletricidade acabe; a anarquia que tende a dominar uma cidade em que as regras da civilização se aplicam cada vez menos; a dificuldade do trabalho de Linda como “nova cherife”, com apenas os recursos de uma cidade que deveria ser tranquila, mas é cada vez mais tomada pelo caos. Sem dúvida, a ordem é devidamente restaurada no final, em uma das poucas instancias em que o infame recurso deus ex machina é realmente integrado com o contexto da narrativa e causa impacto eficiente, mas pelo manos agora sabemos que a paz em Chester’s Mill é segurada por uma fina película de segurança. De repente, a cidade altruísta de “The Fire” se torna uma corrida de cada um por si.

Nesse clima de urgência, as histórias paralelas caminham com harmonia: Joe e Norrie tem sua ligação misteriosa com o domo explorada por Julia e Dodee (que infelizmente continua sendo mais uma fonte inesgotável de informação técnica do que uma personagem de verdade) enquanto tentam encontrar um frasco de insulina para salvar Alice, e continuam sendo o melhor casal da série; Linda recruta Barbie para ajudá-la a controlar os habitantes da cidade, que ficam desesperados e começam a saquear lojas quando um caminhão derruba a torre de água potável e o lago da cidade mostra-se contaminado; e até o escapa-e-volta entre Angie e Junior ganha um bom tratamento de roteiro, com Alexander Koch fazendo outro bom trabalho, embora a personagem da pobre Britt Robertson continue sendo uma colagem irritante de donzela em perigo.

O dia é salvo quando descobrimos que a presença do domo não impede de que chova em Chester’s Mill (Dodee nos explica que a presença da barreira criou um mini-ecossistema próprio, com a água do lago evaporando e formando nuvens – e se purificando no processo). Com todas as suas falhas e já confirmada para uma segunda temporada, Under The Dome prova que pode ser absurdamente envolvente quando é bem conduzida.

***** (4,5/5)

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Próximo Under The Dome: 01x07 – Imperfect Circles (05/08)

Caio

Justin Timberlake nas ruas de Chinatown para o clipe de “Take Back The Night”

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por Caio Coletti

O clima formal e elegante dos vídeos do primeiro The 20/20 Experience dá espaço para um Justin Timberlake mais descontraído no clipe de “Take Back The Night”, primeiro single da “parte 2” do álbum, marcada para 30 de Setembro. Lançada há menos de duas semanas atrás, a nova canção ganha ares anos 80, ecoando a fase Off The Wall de Michael Jackson com a batida e o pacote de cordas.

Já no vídeo, liberado hoje (30), Timberlake é visto nas ruas do bairro oriental nova-iorquino Chinatown, mostrando familiaridade com os moradores de lá e dançando pelas ruas e em uma casa noturna. As imagens sãos mescladas com takes de um show do cantor no Yankee Stadium, também em Nova York, enquanto canta seu hino sobre “clamar a noite de volta”.

29 de jul. de 2013

Review: The Newsroom, 02x03 – Willie Pete

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Vamos dedicar algumas sentenças no início desse review para apreciar o brilhantismo de Emily Mortimer. A segunda temporada de The Newsroom tem dado a atriz britânica a oportunidade de mostrar o quanto a fundação emocional da série depende de sua personagem, e o quanto as críticas direcionadas à suposta misoginia de Aaron Sorkin são pobremente pensadas em boa parte dos momentos. Há uma cena em “Willie Pete” em que Mackenzie é provocada por Neal quanto a sua resistência em dar espaço no News Night aos protestos do Occupy Wall Street, e tudo se resume ao preço dos sapatos que a produtora usa. Quando Neal aponta isso para ela, Mackenzie dá a ele o que ele quer, dizendo: “Você tem que se provar agora. Você colocou os meus sapatos na história”. Esse é o tipo de diálogo que seria rechaçado pela crítica, se não fosse a entonação precisa de Mortimer. Como “Willie Pete” nos lembra não só aqui, as mulheres de The Newsroom podem pretender agir como agem porque esse é o estereótipo social que se tem delas, mas não há um homem no rol de personagens da série que possa impedí-las de pensar por si mesmas.

Como a descrição de cena aí em cima deixou claro, o episódio não deixa o ritmo diminuir nas histórias paralelas, e ganha pontos aqui a jornada de Jim no ônibus de campanha do candidato Romney. Enquanto Grace Gummer se mostra uma coadjuvante de valor para a série, Sorkin volta ao modo idealista e faz de Jim a pessoa que desperta em (alguns de) seus colegas de profissão a vontade de fazer jornalismo de verdade. Esse é outro ponto que provavelmente será criticado nos reviews desse episódio, em que Sorkin alegadamente está tomando a posição de superior e “ensinando” como fazer jornalismo. Não há qualquer outra resposta para esse tipo de crítica, se ela de fato existir, além dessa: eles estão bravos porque Sorkin está certo. A cobertura de uma campanha deveria, sim, ser um lugar para os jornalistas questionarem os planos do candidato, e não repetirem fielmente aquilo que lhes é regurgitado. O jornalismo precisa, sim, ser visto mais como uma Corte de Justiça. As perguntas incômodas precisam, sim, serem feitas.

“Willie Pete” é um episódio falho em alguns momentos, principalmente em lidar com o retorno de Reese Lansing à trama, pintando demais Will e Charlie como os “patetas da história” e praticamente restaurando a série ao seu status inicial depois do grande climax da temporada passada. Mas tem muitos mais acertos do que erros, fundando a trama pontual do episódio na relação de Will e Mac, o que dá excelentes momentos para Jeff Daniels e Emily Mortimer, e acertando na subtrama envolvendo Sloan e Don, o que parece dar um pouco de esperança para esse último no cenário maior da trama. A narrativa que envolve a temidíssima Operação Genoa esquenta e coloca os protagonistas, ainda com seis semanas antes do final, perto de concretizar a cobertura que levará, como ficamos sabendo no piloto da temporada, a algum erro colossal.

The Newsroom encontra o equilibrio entre sua própria identidade estabelecida no primeiro ano e sua recentemente descoberta desconfiança quanto ao resultado do trabalho de seus personagens.

***** (4,5/5)

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Próximo The Newsroom: 01x04 – Unintended Consequences (04/08)

Caio

James Blunt quer alguém para acender seu “Bonfire Heart”

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por Caio Coletti

Menos de duas semanas depois de matar os boatos de aposentadoria com o anúncio de um novo álbum para Outubro, James Blunt nos deu hoje (29) um aperitivo da sonoridade dessa sua quarta aventura de estúdio. “Bonfire Heart” é o primeiro single, com uma abordagem mais puxada para o violão do que o normal, uma aproximação do som do Mumford & Sons, mas com a assinatura particular de Blunt.

O lyric video de “Bonfire Heart”, dona de letra maravilhosa como de costume (“você ascende a faísca do meu coração de fogueira”) segue com o tema do trailer do álbum, intitulado Moon Landing, e mistura os versos de Blunt com equações e imagens de arquivo de missões espaciais americanas.

28 de jul. de 2013

Review: A transformação de uma sociedade em “Parade’s End”

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Escritas e lançadas pouco depois do final da Primeira Grande Guerra, entre 1924 e 1928, as quatro novelas assinadas por Ford Madox Ford, das quais Parade’s End nasceu, são talvez justamente por essa localização temporal um dos retratos mais precisos e mais abrangentes do conflito. Compreendendo pelo menos uma década de narrativa, a história gira em torno do amor impossível entre o estatístico Christopher Tietjens e a ingenue feminista Valentine Wannop. Entre os dois pombinhos existe nada mais do que a honra de Tietjens, que se diz incapaz de trair a esposa socialite Sylvia, mesmo que ela já tenha se mostrado infiel. O homem, que se considera (e pode muito bem ser) “o último gentlemen britânico” acaba arrastado para a linha de frente da Grande Guerra.

Parade’s End é uma história de transformação tão eficiente porque compreende que a jornada de seus personagens é paralela à jornada da própria sociedade à qual eles fazem parte. As tintas progressistas do autor Madox Ford foram frutos do clima social predominante na Inglaterra depois da grande guerra, com as mulheres conquistando o direito ao voto e os ideais conservadores, que Tietjens representa como epítome, sendo deixados de lado para a vivência de uma época liberal (ainda que curta, vide a Segunda Guerra se seguindo em pouco tempo). Os cinco episódios de uma hora dão ao roteirista Tom Stoppard, vencedor do Oscar por Shakespeare Apaixonado, a oportunidade de pintar um retrato da sociedade que conduziu a Europa à guerra, e daquela que saiu, e em muitos aspectos foi gerada por ela.

Parade’s End, a minissérie, é uma co-produção da BBC com a HBO, e as duas grifes super conceituadas não deixam a desejar: direção de arte, música, fotografia, casting e figurino são apuradíssimos, mesmo as custas de às vezes o resultado final ser “limpinho” demais. O bom gosto estético é realçado pela direção de Susanna White, que fez Jane Eyre para a BBC em 2006, e a moça ainda é a responsável por equilibrar essas escolhas quase ascéticas de produção com o tempo compassado da narrativa e o cerne do arce de transformação dos personagens. Parade’s End muitas vezes se parece com uma pura fábula moral, mas White tem a ajuda de ser elenco para trazê-la de volta para a dimensão humana.

Benedict Cumberbatch faz jus ao seu nome ascendente no meio. Quem não acompanha a versão da BBC para Sherlock pode ter uma excelente primeira impressão aqui, porque ele é o encarregado de soprar vida ao personagem principal, e faz ser humanamente impossível não se engajar com sua jornada emocional. O ator acrescenta profundidade e tristeza inerente aos olhos duros de Tietjens, uma batalha interna que parece nunca estar em trégua, e uma dignidade que vende bem ao espectador a noção do personagem como um homem a ser admirado. Rebecca Hall, por sua vez, demonstra firmeza na própria concepção de Sylvia, e isso é uma das virtudes necessárias em uma história que baseia-se tanto nas percepções que os personagens tem de si mesmo. Seu desempenho é deliciosamente carismático, brilhantemente odiável e, ainda assim, comoventemente trágico.

Parade’s End, às vezes, ganha os tons de uma jornada cosmeticamente perfeita, mas em última instância um pouco vazia. No entanto, é preciso vê-la como uma história contínua para perceber a beleza daquilo que retrata. Como uma pintura impressionista, vista muito de perto, Parade’s End é só um borrão de cores agradáveis aos olhos.

**** (4/5)

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Parade’s End está indicado a 5 Emmys, incluindo:
- Melhor Trilha Sonora para uma Minssérie, Filme ou Especial para TV
- Melhor Fotografia para uma Minissérie ou Filme
- Melhor Ator em Minissérie ou Filme (Benedict Cumberbatch)
- Melhor Roteiro para Minissérie, Filme ou Especial Dramático (Tom Stoppard)

Caio

26 de jul. de 2013

Review: Wilfred, 03x07 – Intuition

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

“Intuition” é provavelmente o mais delirante episódio de televisão de 2013, e isso é tanto algo muito bom quanto algo muito ruim. A tentação é de perdoar os pecados destes 20 minutos de Wilfred em virtude de sua estrutura maior elegante e bem pensada, e da sensação de que tudo pode ser tanto real quanto imaginário (uma oposição que está no cerne mais profundo da série), mas essa sétima entrada da terceira temporada não escapa dos pecados de piadas fracas e a não-realização de todo seu potencial como episódio isolado.

Porque, veja bem, “Intuition” é sensacional no esquema maior da temporada: nós finalmente conhecemos o pai de Ryan, interpretado por James Remar (Dexter), e não há nada nas cenas dele nesse episódio que desminta a visão vilanesca que o protagonista tem do homem, ao mesmo tempo que não há nada que aponte definitivamente para essa direção. Com as linhas sendo cada vez mais apagadas em Wilfred, o real e o que se passa na mente perturbada de Ryan se tornam cada vez mais duvidoso, e é fácil ver onde isso vai levar no finale dessa temporada, daqui a seis semanas.

Como um episódio por si mesmo, no entanto, Wilfred paga um preço alto por sua própria importância, e utiliza uma subtrama fraca envolvendo o personagem-título para conduzir ao clímax. A série também ressuscita o velho e desgastado truque de fazer Ryan suspeitar das intenções de Wilfred. Há uma razão simples pela qual a série funciona melhor quando o protagonista passa incógnito pelo plano do seu alter-ego/melhor amigo: tudo o que Ryan percebe e sentencia, o espectador é levado a experienciar.

Ironicamente, é graças a essa mesma característica única que as brincadeiras conceituais de Wilfred funcionam tão bem. No que parece uma de suas epígrafes pré-episódio, a maior virtude da série é também, frequentemente, seu calcanhar de aquiles.

**** (3,5/5)

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Próximo Wilfred: 03x08 – Perspective (01/08)

Caio

Você precisa conhecer: The 1975

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O The 1975 pode só estar dando as caras no mundo corporativo da música agora, mas os quatro garotos de Manchester estão na ativa já há mais de 10 anos. Formada quando eles ainda eram adolescentes, a banda já se chamou Talkhouse, The Slowdown, Bigsleep e Drive Like I Do, antes do vocalista Matthew Healy achar um rabisco no final de um livro de poesia dizendo “1 June, The 1975”.

Desde o ano passado, os moços lançaram quatro EPs, intitulados Facedown, Sex, Music for Cars e IV. Nosso preferido pessoal é o segundo, com um som mais rock que lembra os melhores momentos do Kings of Leon e do The Pains of Being Pure at Heart, mas o The 1975 também arrasa no synthpop que aparece no último da série.

Aí embaixo dá pra ouvir o nosso EP preferido e curtir o primeiro clipe da banda, para a faixa-título (e uma das melhores canções do ano, na nossa humilde opinião). O álbum de estreia do The 1975 sai no dia 02 de Setembro.

25 de jul. de 2013

Franz Ferdinand volta às raizes teatrais no clipe de “Love Illumination”

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por Caio Coletti

Nem 20 dias depois do todo concretista “Right Action”, o Franz Ferdinand lançou clipe para a música que todos nós estavamos esperando: “Love Illumination”, lançada junto com o single anterior como preview do próximo álbum da banda, Right Thoughts Right Words Right Action, que está previsto para o dia 26 de Agosto.

Esse novo vídeo está bem mais ao gosto dos fãs, resgatando o clima surrealista e quase melodramático dos grandes hits da banda, com a performance elétrica de Alex Kapranos e cia e takes inspirados por Salvador Dalí e pela cultura grega (!). Right Thoughts Right Words Right Actions vai ser o quarto álbum da banda.

Amor no deserto com Vanessa Paradis no clipe de “Les Espaces & Les Sentiments”

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por Caio Coletti

Aos 40 anos e na ativa há 25, desde que cravou o sucesso mundial “Joe le Taxi” (eternizado aqui no Brasil como “Vou de Táxi”, aquela da Angélica), Vanessa Paradis é um ícone da música e da moda francesas. O último álbum da moça, sexto da carreira, lançado em Maio último, é um delicioso disco duplo de pop requintado e acústico.

“Les Espaces & Les Sentiments”, que ganhou clipe hoje (25), é um bom exemplo, com seu refrão viciante, seu dedilhar de violão e suas palminhas para marcar ritmo. No vídeo em preto e branco, Vanessa e seus inconfundíveis dentes separados aparecem em um cenário desértico, numa busca surrealista por um homem que vaga pelo mesmo local.

24 de jul. de 2013

Fiona Apple é dirigida por Paul Thomas Anderson no clipe de “Hot Knife”

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por Caio Coletti

Que o processo criativo de Fiona Apple é lento não é novidade para ninguém, afinal são só quatro álbuns nos últimos 17 anos de carreira. Os intervalos entre os clipes tirados de seus discos não são menos incomuns: de “Every Single Night” para cá, mais de um ano se passou, e agora é que podemos presenciar o excelente vídeo de “Hot Knife”, uma das melhores canções do The Idler Wheel…, lançado lá no começo do ano passado.

O novo clipe é dirigido por Paul Thomas Anderson (Sangue Negro), ex-namorado da cantora, e é quase todo focado nas várias sobreposições vocais da canção, como se as imagens fossem “construindo” a estrutura da música. Fiona divide a tela com a cantora de cabaré Maude Maggart, que ajuda nos backing vocals.

Joss Stone deixa a água lavar as mágoas no clipe de “The Love We Had”

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por Caio Coletti

Dez meses depois de “The High Road”, que tinha o posto de único vídeo retirado do The Soul Sessions Vol 2, Joss Stone chegou para superar todas as expectativas com “The Love We Had (Stays On My Mind)”, uma lindíssima balada que ganhou clipe hoje (24) retratando a cantora solitária em cômodos de uma casa, reminescendo um amor perdido.

O ressentimento de Joss desencadeia os clichês da “chuva em lugares fechados” e do “tudo se quebra e explode inexplicavelmente”, mas a canção é tão boa, e a interpretação de Joss tão incrível, que quase passa batido. “The Love We Had (Stays on My Mind)”, assim como todas as faixas do Soul Sessions Vol 2, é um cover, dessa vez do grupo de doo-wop dos anos 50 The Dells.

23 de jul. de 2013

The Naked and Famous voltou pra fazer os indies dançarem com o single “Hearts Like Ours”

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por iJunior e Caio Coletti

Hoje, depois de três anos de Passive Me, Aggressive You, um dos melhores albuns de 2010, pudemos sentir novamente aquela sensação única de juventude que só a The Naked + Famous nos traz em suas musicas com a soma de seus sintetizadores, toda a liberdade, a alegria, a energia jovem, agora com uma nova musica que prova que eles nao deixarem de ser aquela TN+F que conhecemos há anos atrás.

“Hearts Like Ours” soa como uma junção de “Young Blood” (maior sucesso da banda) em sua energia e “No Way” em seu lado melancólico, e trouxe consigo aquela esperança do tão aguardado novo album intitulado In Rolling Waves que se depender da primeira musica de trabalho não terá nada o que decepcionar. O segundo disco sai no dia 16 de Setembro.

Review: Under The Dome, 01x05 – Blue on Blue

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Under the Dome está de volta aos negócios com “Blue on Blue”, quinto episódio da temporada de estreia. A mão firme do developer Brian K. Vaughan deu a série, até agora, um primeiro ano equilibrado como o de uma veterana, e isso só começa a ficar claro aqui, em um episódio que joga com riscos altos e coloca os personagens em posições que avançam a mitologia da série e as tramas pessoais nela envolvidas. Esse tipo de narrativa deixa muito peso nas virtudes e fraquezas dos personagens, e ainda que “Blue on Blue” nem sempre seja tocante, o envolvimento do espectador com as histórias dos residentes de Chester’s Mill é testamento de um bom trabalho de roteiro nas últimas quatro semanas.

A linha-mestra do episódio é o “dia das visitas” instituido pelos militares: membros da família e amigos dos residentes da cidade, que ficaram do lado de fora do domo, são levados até a barreira para falar com seus entes queridos. A subtrama que melhor funciona, como sempre, envolve Linda se reencontrando com o namorado bombeiro, e tendo que contá-lo sobre a morte do irmão, o policial acertado por um tiro ricocheteado no domo no episódio 2. Natalie Martinez está (e tem estado) formidável, aproveitando a profundidade que o roteiro dá a Linda e arquivando uma performance carismática e forte.

A segunda storyline mais envolvente continua sendo a de Joe e Norrie, que parecem ser os únicos curiosos o bastante quanto ao domo para realmente tentarem decifrar algo sobre ele. Ainda mais do que isso, o casal formado por Colin Ford e Mackenzie Lintz é talvez o único que tenha alguma química palpável em toda a série, e “Blue on Blue” é um bom episódio para quem está considerando shippar os dois adolescentes mais sensatos de Chester’s Mill. Apesar dos bons esforços de roteiro, Rachelle Lefevre e Mike Vogel continuam sendo melhores separados do que juntos, tendo em vista a falta de química apesar das ótimas performances de ambos.

Tudo se torna mais intenso em “Blue on Blue” quando os residentes da cidade descobrem que o exército planeja atirar uma bomba poderosíssima no domo, esperando destruí-lo (e sem se preocupar com o fato de que isso destruiria também tudo que está dentro dele). Angie é libertada por Big Jim, mais tarde encontrada por Junior, e as coisas ficam em suspenso nesse lado da trama, num episódio que é melhor para Dean Norris do que para Alexander Koch ou Britt Robertson. E dizemos adeus ao reverendo de Ned Bellamy, ceifado por Big Jim ao ameaçar expor todos seus segredos para a população de Chester’s Mill. Ah, e o domo continua lá depois do impacto do míssil, indestrutível. Seguindo a regra que estabeleceu logo no começo, Under The Dome usa a barreira prendendo os cidadãos mais como um catalisador de transformações do que como uma origem de tribulações.

**** (4/5)

UNDER THE DOME

Próximo Under The Dome: 01x06 – The Endless Thirst (29/07)

Caio

22 de jul. de 2013

Review: The Newsroom, 02x02 – The Genoa Tip

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Na análise que fiz na semana passada do episódio de estreia da segunda temporada de The Newsroom, as possibilidades abertas pela trama maior esboçada por Aaron Sorkin eram tão amplas que ficou difícil enxergar as possíveis desvantagens que ela poderia trazer para a week-to-week basis da série. “The Genoa Tip”, embora não seja um mau episódio de forma alguma, mostra pelo menos um calcanhar de Aquiles dessa “nova The Newsroom”: com tantas tramas seguindo em paralelo e se estendendo por mais de um episódio, o impacto da trama particular semanal diminui, e o personagem que mais pesadamente se apoiar nela, também.

Quem sai perdendo dessa vez é Don, com quem, vamos ser sinceros, a série não tem ideia do que fazer a curto prazo (seu possível romance com Sloan é um bom prospecto para o futuro, mas ainda não está em primeiro plano): em “The Genoa Tip”, ele repentimanete se torna obcecado pelo caso de um presidiário acusado de matar um policial, prestes a enfrentar a injeção letal mesmo com graves dúvidas pairando sobre a legitimidade de seu julgamento. Sorkin não plantou nenhuma semente dessa trama em episódios anteriores, mesmo estando em posição perfeita para fazê-lo, com a liberdade temporal que The Newsroom lhe dá. Se nesse episódio ficássemos sabendo do caso e do envolvimento de Don, e daqui a uma ou duas semanas recebêssemos o desfecho dela, talvez seu impacto fosse maior. Em uma temporada toda sobre construir a cobertura jornalística (e a narrativa dramática) num espaço maior de tempo, Sorkin não pode se dar ao luxo de fazer nada tão instantaneamente.

As outras tramas nem-tão-paralelas seguem perfeitamente: nós já sabíamos que Maggie eventualmente iria para a África e enfrentaria um horror tão grande que a transformaria na mulher que vimos em breves cenas no piloto, e isso torna a sua tentativa de vender a história para Mackenzie ainda mais intrigante, uma vez que está em jogo também a descoberta do que levou a personagem de Allison Pill para lá; as aventuras continuadas de Jim na campanha de Mitt Romney ganham a adição da colega de profissão interpretada por Grace Gummer (irmã de Mamie Gummer, filha de Meryl Streep), em performance carismática; e apesar da indecisão de tom e do discurso um tanto anti-tecnológico de Sorkin, a trama de Neal perseguindo o Occupy Wall Street funciona quando confia no personagem e na própria importância dos acontecimentos a sua volta.

Por fim, a busca por algo concreto na história da Operação Genoa nos deixa descobrir que o grande bicho-papão da temporada é o caso de um crime de guerra supostamente cometido por um segmento do exército americano. Ainda temos a odisseia pessoal de Maggie, que é confrontada por sua melhor amiga quando esta assiste o vídeo do Youtube em que ela grita para um ônibus da Sex and The City tour que está apaixonada por Jim. The Newsroom está consistentemente lidando com essas histórias de personagem de forma mais madura e elaborada, estabelecendo motivações e desenhando diálogos que são colaterais para a trama concreta da série, e não paralelos. Só o que falta acertar, mesmo, é o equilibrio entre as tramas serializadas e as que duram só um episódio.

**** (4/5)

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Próximo The Newsroom: 02x03 – Willie Pete (28/07)

Caio

Kelly Rowland confessional no vídeo de “Dirty Laundry”

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por Caio Coletti

Celebrada desde o lançamento, que ocorreu antes mesmo do álbum, Talk a Good Game, chegar às lojas, “Dirty Laundry” não é o tipo de música que precisa de um grande vídeo para se destacar. A escolha dela, portanto, para novo single de Kelly Rowland poderia ser arriscada, mas a produção elegante e minimalista do clipe, mais os takes sinceros que incluem vários da cantora às lágrimas, colocaram a cereja no topo do bolo.

Elogiado como o melhor álbum da moça, Talk a Good Game é o quarto de sua carreira solo lançado desde 2002, e estreou em 4º lugar da parada na Billboard. Em “Dirty Laundry”, Kelly fala do difícil período pós-Destiny’s Child, do sucesso de sua “irmã” Beyoncé e do relacionamento abusivo com o ex-noivo Roy Williams.

Birdy está de volta com o primeiro single próprio, “Wings”

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por Caio Coletti

É assim que a gente gosta. Ao invés de perder tempo preocupada com a possível recepção de um álbum de composições próprias, a britânica Jasmine van der Bogaerde, conhecida como Birdy, aproveitou a notoriedade para mostrar logo a extensão do seu talento. O sucesso do álbum de estreia recheado de covers em 2011 abriu espaço para Fire Wiithin, que tem previsão de lançamento para 23 de Setembro.

“Wings”, primeiro single lançado hoje (22), mostra que a moça tem mão para a composição também. Ainda baseada no piano e na voz maravilhosa da moça de apenas 17 anos, a canção ganha adição de percussão e guitarra para criar uma balada piano rock com o toque todo pessoal e lírico de Birdy, uma das poucas artistas que conseguiriam construir uma identidade própria mesmo tendo só covers no currículo até agora.

21 de jul. de 2013

Review: Os meandros do poder romantizados em “Political Animals”

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No jogo de peixe grande da indústria televisiva (que se tornou muito parecida, ao seu modo, a hollywoodiana de cinema), uma série, antes mesmo de ter o direito de ser uma série, é uma aposta alta da emissora que decide vieculá-la. Agora, vejam bem: este que vos fala não é um dos críticos que se apressam a condenar a lógica mercadológica do entretenimento contemporâneo, simplesmente porque, se fosse fazê-lo, era preciso condenar a estrutura toda do capitalismo. Além disso, aceitar como um fato o status de produto de uma minissérie como Political Animals é um passo a frente para entender a própria estrutura dessas seis horas de televisão.

Ao contrário da recentemente resenhada Top of The Lake, o drama político do canal USA não procura fugir da estrutura episódica. Essa não é uma história unificada contada de maneira progressiva por um número definido de capítulos, e sim um drama altamente serializado, que de muitas formas se aproveita desse esquema de vários segmentos de narrativa para cobrir as tribulações de diversos personagens envolvidos em uma mesma trama política. Há uma marcação muito clara nesse sentido: o recurso dos flashbacks, que só não é utilizado no piloto e no finale da série (preocupados com, respectivamente, apresentações e desfechos), foca a cada episódio em um personagem particular. É assim, pedacinho por pedacinho, e não em uma única linha do tempo transformativa, que ficamos conhecendo a família Hammond-Barrish.

E a expressão “ficamos conhecendo” não é incidental: ao final de Political Animals, a impressão que fica é a que apenas começamos a descobrir esses personagens, e o final desembaraçadamente aberto deixa no ar a possibilidade da produção de uma segunda temporada (ou seria uma “segunda minissérie”?). Não seria a primeira vez que o USA operaria essa transição, já que Debra Messing viu sua originalmente limitada The Starter Wife ganhar um segundo ano no canal. Com ou sem continuação, Political Animals nos coloca lado a lado com uma família americana obviamente inspirada nos Clinton, completa com um ex-presidente cujo mandato foi assolado por escândalos sexuais (o Bud Hammond de Ciarán Hinds) e uma esposa que superou a polêmica e se tornou Secretária de Estado da nova administração (a Elaine Barrish de Sigourney Weaver). Para colorir a coisa, o criador e roteirista Greg Berlanti, que desde Brothers & Sisters é chegado a um drama familiar, incluiu um filho gay (o TJ de Sebastian Stan), outro prestes a se casar (o Douglas de James Wolk), uma jornalista ambiciosa (a Susan Berg de Carla Gugino), e até a mãe irreverente da personagem de Weaver (a Margaret da grande Ellen Burstyn).

Esse resumo diz muito sobre o tom da narrativa em Political Animals, pendendo para o lado novelesco e romantizado, o que fica bem claro no retrato tanto da política quanto do jornalismo. Essa não é House of Cards. Aqui, as pessoas ainda arriscam sua pele e seu emprego por princípios éticos e se deixam facilmente levar por suas paixões, colocando-as acima da integridade da própria família. Há quem argumente que há algum realismo nisso, e a questão é muito mais o lado para o qual se vira a lente de aumento da narrativa do que a veracidade daquilo que aparece sob ela. O fato é que, de tão focalizada no drama pessoal dos personagens que é, Political Animals acaba transparecendo algumas inconsistências na construção dos mesmos: o flashback de Elaine, no segundo episódio, a retrata de forma que contradiz tudo o que vimos dela até então, e não é de forma positiva; o personagem de TJ nunca é interessante mais do que como um conceito rascunhado que só encontra ressonância emocional na reação de outros personagens a ele; entre outras pequenas falhas.

No entanto, com seu foco incansável nas personas fictícias que passeiam na tela, Political Animals encontra seu caminho para ser bastante envolvente, em grande parte com a ajuda de seu elenco fenomenal: não há nenhuma outra atriz além de Sigourney Weaver que poderia fazer Elaine Barrish de forma tão convicta e determinada a ponto de fazer-nos acreditar de verdade nela, e ao mesmo tempo incluir sub-tons emocionais tão sutis em cada expressão; Ellen Burstyn, por sua vez, mostra porque atuar não tem segredo para quem realmente se entrega com toda a alma para a personagem, e ela é dada alguns momentos realmente impressionantes no decorrer da série; Ciarán Hinds, muito criticado por alguns, é um oceano de maneirismos e expressividade na pele do homem do povo, e a inabalável certeza do personagem em si mesmo encarnada pelo ator é comovente; Carla Gugino é uma adversária a altura de Weaver, dando o controno perfeito, sem muita expansividade, a sua personagem; e por fim, James Wolk entende o Douglas Hammond humanamente falho construído pelo roteiro, e é só sua atuação que o torna tão simpático ao olho do público cínico contemporâneo.

Political Animals é uma narrativa que confia no público para ainda conseguir se enredar pelos dramas pessoais de personagens que são ao mesmo tempo ideais puros e seres humanos complexos. Pode ser que não seja realista, mas sem dúvida nenhuma é bom entretenimento.

**** (3,5/5)

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Political Animals está indicada a 5 Emmys, incluindo:
- Melhor Atriz em Minissérie ou Filme (Sigourney Weaver)
- Melhor Elenco para Minissérie, Filme ou Especial para TV
- Melhor Minissérie ou Filme
- Melhor Atriz Coadjuvante em Minissérie ou Filme (Ellen Burstyn)

Caio

19 de jul. de 2013

Review: O noir feminista e a boa narrativa de “Top of The Lake”

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Exibida em 7 episódios entre Março e Abril desse ano pelo Sundance Channel nos EUA (pela BBC Two na Inglaterra, e pela UKTV na Austrália), Top of The Lake não pode e não deve ser visto como um drama serializado. Sua estrutura em nada tem a ver com a de títulos como Breaking Bad, The Following e The Killing, entre tantos outros. Ao invés de tentar contar uma história e construir um universo através de peças temáticas de uma hora, a minissérie de Jane Campion prefere estruturar sua narrativa como cinematográfica, instituindo conflitos e revelações crescentes até os momentos finais, culminando em um clímax único ao invés de um por semana. É, portanto, um longo filme, contando em por volta de 350 minutos uma história que, para aqueles personagens, tem um início, um meio, e um final.

Chamado de “noir feminista” por alguns representantes da crítica, Top of The Lake tem como protagonista a detetive Robin Griffin (Elizabeth Moss, de Mad Men), que retorna a sua cidade natal para cuidar da mãe com câncer, Jude (Robyn Nevin), mas se vê às voltas com um caso pessoal demais para ser ignorado: a tentativa de suicídio e consequente desaparecimento da garota Tui (Jacqueline Joe), de 12 anos. O detalhe importante é que a menina estava grávida quando sumiu. As suspeitas caem sobre o pai de Tui, o chefão do crime local Matt Mitcham (Peter Mullan), cujos hábitos vis e histórico nada limpo fazem dele o nêmesis de Robin. Mas Top of The Lake é bem mais simbólico que isso, e a oposição entre a “heróina” e o “vilão” é apenas a setpiece central de uma obra maior com a intenção de retratar a opressão feminina e a sociedade patriarcal da cidade fictícia.

Criadora e roteirista em todos os episódios, Jane Campion é conhecida por filmes como O Piano e Retrato de uma Mulher, e é impossível negar que a ênfase no tema e na divisão de sexos é um tanto excessiva, mas a neozelandesa gosta de sublinhar a tintas fortes suas teses, e Top of The Lake tira momentos impressionantes dessa tendência. O enterro de um personagem no episódio 6, embalado por uma linda versão de “Joga”, da islandesa Bjork; a silenciosa confissão de Robin quanto a um trauma de seu passado no episódio 4; as explosões de violência que revelam o âmago desses personagens quebrados e sombrios, espalhadas por toda a série. Campion sabe que pegar pesado só funciona se nos importamos com os personagens em tela, e por isso os faz tão ambíguos e complexos, finalizando com uma direção que parece incluir e isolar ao mesmo tempo, aludindo a ilusão de pertença a uma comunidade da protagonista.

O elenco ganha uma nota a parte, como esperado: com sete longas horas para construirem seus personagens, eles fazem um trabalho uniformemente brilhante. Moss, para quem não acompanha Mad Men, é uma revelação com sua presença insinuante, seus olhos inquisitivos e sua habilidade ímpar de desconstruir a personagem sem que a exposição de seus sentimentos ao espectador soe pouco natural. Peter Mullen é uma presença magistralmente forte na pele de Mitcham, e não é pouco o que o roteiro de Campion exige dele, passeando por gamas de emoções e reações muitas vezes indecifráveis. Robyn Nevin faz as vezes de sabedoria da narrativa enquanto está em tela, é presenteada com algumas das melhores linhas de diálogo dos episódios iniciais, e consegue transmitir afeição e resiliência em um só olhar. Por fim, Holly Hunter brilha como uma espécie de guru contemporânea de uma comunidade de mulheres que se muda para uma parte da propriedade da família Mitcham, emprestando olhos duros como aço e linguagem corporal absolutamente particular a personagem.

Top of The Lake poderia ser apenas uma alegoria óbvia (embora maravilhosamente executada), mas Campion mostra que conhece os fundamentos do storytelling e faz sua minissérie brilhar como, antes de mais nada, um drama de personagens marcantes. É na vontade de ser o básico primeiro, e o complexo depois, que ela ganha o jogo.

**** (4/5)

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Top of The Lake está indicada a 8 Emmys, incluindo:
- Melhor Elenco para Minissérie, Filme ou Especial de TV
- Melhor Direção para Minissérie, Filme ou Especial Dramático (Jane Campion)
- Melhor Ator Coadjuvante em Minissérie ou Filme (Peter Mullan)
- Melhor Atriz em Minissérie ou Filme (Elizabeth Moss)
- Melhor Minissérie ou Filme
- Melhor Roteiro para Minissérie, Filme ou Especial Dramático (Jane Campion)

Caio

Review: Wilfred, 03x06 – Delusion

WILFRED: Episode 6: Delusion (Airs Thursday, July 18, 10:00 pm e/p). Pictured: (L-R) Elijah Wood as Ryan, Fiona Gubelmann as Jenna. CR: Prashant Gupta/FX

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

“Delusion” é um lembrete oportuno, bem no centro da terceira temporada de Wilfred, que essa é uma trama bastante dark para uma comédia sobre um homem que vê um cachorro como humano. Ryan, não importa o quanto tenha mudado nesses três anos de série (e é inegável que o personagem tenha feito um longo caminho), ainda é um homem que tem muitos problemas em se relacionar com certas partes de si mesmo, e que tende a escolher o caminho mais fácil em detrimento da sinceridade. O episódio dessa semana deixa isso bem claro projetando a insegurança do protagonista em sua amizade com a vizinha Jenna.

Deixado em marcha lenta desde a metade da segunda temporada, a paixonite de Ryan por ela volta a ser a pauta da série aqui. Os roteiristas foram inteligentes ao tirar essa questão do centro da trama, dando espaço para storylines que não existiriam caso se insistisse em manter o casal principal se sondando eternamente. A história de Ryan com Amanda foi pivotal para a jornada do personagem, como os ecos dela provaram no começo dessa temporada, e manter Fiona Gubbelman um pouco fora dos holofotes deu espaço para que a atriz fizesse sua personagem respirar e trascender o “apenas adorável”.

Em “Delusion”, até a crise de Jenna quanto ao seu aniversário de 30 anos é crível, sublinhada por uma cena preciosa entre ela e Ryan. O personagem de Elijah Wood recebe em seu e-mail um convite para a festa-surpresa organizada pelo marido da moça, Drew, mas demora menos de algumas horas para decidir que os planos dele são horríveis e tomar as rédeas da festa. Ao mesmo tempo, Wilfred descobre que, aos 9 anos, está envelhecendo para um cachorro, e se torna obcecado em escrever uma autobiografia e dar de presente para sua dona.

Como sempre, a storyline de Wilfred existe para ir de encontro a de Ryan no final do episódio, mas o que faz a diferença em “Delusion” é a escolha que é dada ao protagonista nas cenas derradeiras, e a decisão que ele toma. É dificil adivinhar o quão apegada ao proprio status de continuidade Wilfred é, mas o realce dado aos aspectos mais sombrios da trama já são uma ousadia mais do que bem vinda.

***** (4,5/5)

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Próximo Wilfred: 03x07 – Intuition

Caio

TV: Glee, Grey’s e The Simpsons

Cory-Monteith

Produção de Glee entra em hiatus

A produção de Glee faz uma pausa para definir novos rumos para a quinta temporada. Segundo o Huffington Post, as filmagens que deveriam ter começado nesta semana foram adiadas para o início de agosto.

Os roteiristas terão que reescrever a maior parte da trama, já que o ator Cory Monteith, encontrado morto no último sábado (13), teria grande destaque na nova temporada.

Anteriormente programada para retornar em 19 de setembro, a quinta temporada de Glee deve estrear só no dia 26.

Novidades no elenco de Grey's Anatomy

O THR anunciou a adição de dois nomes ao elenco de Grey's Anatomy.

Bobby Campo (Being Human) e Heather Hemmens (Hellcats) estão no episódio de estreia da décima temporada, que terá duas horas de duração.

Os personagens estarão envolvidos em um desastre não especificado, e apesar de estarem confirmados apenas no início da season, poderão participar de mais episódios.

Grey's Anatomy retorna em 26 de setembro.

Simpsons fará crossover com Family Guy

Segundo o TV Guide, Peter a família Griffin farão uma visita aos Simpsons.

O episódio com o encontro das duas famílias só deve ir ao ar em 2014, mas os fãs de ambas as séries já discutem se o episódio conseguirá manter o nível das séries.

BLOG OS SIMPSONS

Rubens

Um tapa na cara chamado Miley Cyrus

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É, parece que a nova princesinha dos EUA foi de Britney Spears a Snoop Dog em alguns anos. Com o lema de que "é a nossa festa, nós podemos fazer o que quisermos", Miley mostra com seu novo single "We Can't Stop", que o topo da montanha para ela não se resume mais a músiquinhas pop que falavam sobre Nick Jonas. Miley cresceu, e com ela sua produção musical.

O novo single da cantora já foi reconhecido com o certificado de platina, por ter vendido mais de um milhão de cópia SÓ NOS ESTADOS UNIDOS. O mais legal de tudo isso, é que a meninha que começou com apenas 14 anos na Disney com o papel de Hannah Montana conquistou uma legião de fãs bem fiéis.

Apesar de a critica e os tablóides constatemente criticarem sua nova atitude, parece que Miley agradou os fãs com suas mudanças, e conquistou novos admiradores. O single da cantora não foi surpresa para os fãs, que já esperavam algo bem diferente desde a parceria que ela fez com Snoop Lion na canção " Ashtrays and Heartbreaks".

Além do estilo musical, o estilo fashion da cantora e atriz veio mudando e MUITO!

Claro, mesmo quando ainda era apenas uma teen apaixonada e de coração partido ela já era uma camaleoa de visuais. Já teve cabelos negros, meio loiros e, o meu preferido, o longo ondulado e meio ruivo. Mas já que a mudança na música seria radical, no look não poderia ser diferente. Miley vem adotando ( para combinar com sua nova fase musical meio hip hop) um estilo nigga total, e eu particularmente adoro esse estilo. A diva vem usando e abusando dos croopeds, da maquiagem mais limpa mas com um belo batom vermelho, e dos lenços na cabeça. Inclusive no clipe de "We Can't Stop" ela até dá uma ousadinha e aparece com dois dentes de ouro, ela já apareceu com os dentes em alguns eventos também (mas calma , são só uma "capa" no dente, nada de dar uma de Kesha), isso sem falar nos cabelos bem curtinhos e loiros platinados.

Miley deu um tapa na cara da sociedade e da indústria musical, e provou que um bom ARTISTA faz sua boa imagem com um trabalho de excelência. O provável novo álbum de inéditas pode não ter as letras mais belas emocionantes e consistentes, mas com certeza trazem a nova personalidade e fase de Miley, afinal ela tem apenas 20 anos e está curtindo a vida. Afinal se fossemos condenar mudanças de estilo Taylor Swift seria a Maria Madalena da indústria country.

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Gabis Paganotto

18 de jul. de 2013

Avril Lavigne continua a nostalgia no novo single, “Rock N Roll”

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por Caio Coletti

Em certo ponto de “Rock N Roll”, novo single de Avril Lavigne, a moça canta: “Eu não me importo se sou uma desajustada/ É melhor que que essas coisas hipsters de m*rda/ Eu sou uma princesa/ E você ainda me ama”. É o canto de vitória de uma artista que foi de adolescente rebelde para princesinha do pop punk, e agora é uma adulta de muita classe reconhecendo que, se manteve-se no topo por todas essas mudanças, é porque é impossível negar que tenha talento.

De volta para os braços do produtor LA Reid, que foi responsável por seus dois primeiros e mega-bem-sucedidos álbuns, Avril já havia lançado um olhar de soslaio para o público que a viu crescer na ótima “Here’s To Never Growing Up”. “Rock N Roll”, segundo single do ainda sem título (ou data de estreia) novo álbum dela, é cantada diretamente para esse público, e proclama que eles “deixem todos saberem que ainda somos rock n’ roll”.

UPDATE (12/08): Avril lançou hoje lyric video para a canção, com a participação dos fãs, que mandaram as mais variadas “performances” para a cantora pela função de vídeo do Instagram. No meio dos admiradores estão ninguém menos que os irmãos do Jedward, bem-amado duo de synthpop.