Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

29 de jan. de 2015

Gotham 1x13: Welcome Back, Jim Gordon

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Como toda história do universo de Batman que se preze, Gotham é governada por imperativos morais absolutos, impiedosos e inflexíveis – o que não significa, de forma nenhuma, que ela seja uma série maniqueísta. Em “Welcome Back, Jim Gordon”, a trama da Fox entrega o melhor exemplo dessa lógica complicada, na qual os personagens se movem o tempo inteiro por regiões cinzas do espectro moral, mas as definições mais puras de bem e mal, para além deles, são notavelmente rígidas. Tal e qual o ainda insuperável “The Balloonman” (review), essa 13ª entrada da temporada coloca Jim Gordon no centro das atenções para mostrar as consequências da justiça difícil que ele pratica como um dos poucos policiais honestos em Gotham City.

Outra semelhança com “The Balloonman” aparece na interligação das storylines de Jim e de Oswald, que se reencontram aqui para uma rápida e simbólica na cena na qual o detetive pede ajuda para o futuro super-vilão na resolução de um caso. As mãos de Gordon são atadas quando uma testemunha de um caso importante é assassinada bem dentro do prédio da polícia, e um detetive dos Narcóticos (interpretado de forma apropriadamente odiável por Dash Mihok, de Ray Donovan) protegido por chefões do alto escalão é o principal suspeito. Quando atinge um beco sem saída dentro de suas capacidades como oficial de uma instituição corrupta, Gordon recorre ao Pinguim, de forma semelhante a qual Harvey costumava recorrer a Fish quando precisava de informações. A decisão volta para assombrar o policial ainda nesse episódio, mas com certeza vai continuar reverberando de formas inesperadas no futuro – e é assim que Gotham nos diz que fazer as coisas certas por meios errados só atrai mais problemas.

Essa trama principal do episódio marca também o retorno de Gotham para o ambiente da delegacia e todas as intrincadas relações de corrupção que acontecem naquele lugar. Em poucos momentos a série da Fox é melhor do que quando resolve ser um retrato bem pontuado, incisivo, dessa instituição em que a própria mentalidade dos homens e mulheres de uniforme trai tudo aquilo que eles juraram prezar quando o assumiram. Ben McKenzie agradece o retorno desse lado da série, deixando que o fogo nos olhos de Gordon, a raiva que ele liberou repetidas vezes nos últimos episódios, permaneça seguro dentro de uma interpretação que nunca pode ser considerada sutil, mas é brutalmente eficiente.

Correndo paralela a todo o frisson dentro da GCPD está a história de Fish, que é torturada por um capanga de Falcone (interpretado por Michael Eklund, alguém lembra dele creepy em A Chamada?) até ser resgatada por Butch e começar a procurar vingança contra o Pinguim, a quem foi concedido o controle do seu antigo bar. É a história mais violenta e gráfica do episódio, que dá mais oportunidades à diretora Wendey Stanzler (Revenge, Arrow) para brincar com a linguagem dos quadrinhos e com as interpretações over-the-top de Jada Pinkett Smith e Robin Lord Taylor, se enfrentando cara a cara para decidir quem é o maior mastigador de cenários de Gotham no momento. É preciso dizer que, pelo menos dessa vez, a esposa de Will Smith sai vitoriosa com uma feroz e afetuosa encarnação da personagem que posou de vilã da temporada até o momento e que, provavelmente, vai tomar seu tempo até nos agraciar com sua presença novamente.

Em Gotham, ninguém nunca desiste de jogar o jogo de crimes, justiças e poder que fervilha tanto no submundo quanto nos órgãos oficiais da metrópole. Explorando o seu cenário de uma forma que os últimos episódios não conseguiram fazer, “Welcome Back, Jim Gordon” é uma fábula de retidão moral impecável, lógica quase kármica de retribuição, e observação aguda de personagens. Ou seja, é o melhor episódio de Gotham em 2015.

✰✰✰✰✰ (5/5)

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Próximo Gotham: 1x14 – The Fearsome Dr. Crane (02/02)

Previsões para o Oscar 2015: Melhor Filme

FILM-GOLDENGLOBES/Elenco, diretor e produtor de Boyhoodrecebem o prêmio de Melhor Filme – Drama

por Caio Coletti

Oito indicados ao Oscar de Melhor Filme. É o menor número de lembranças na lista desde que a Academia resolveu fugir do formato de cinco indicados que reinou por décadas até 2010. Foram dez naquele ano, mais dez em 2011, e nove em 2012, 2013 e 2014. Como sempre, a profusão de indicados garantiu a diversidade da lista, mas foi por pouco que os dramas biográficos não dominaram o Oscar 2015: são quatro indicados, entre histórias de cientistas (A Teoria de Tudo) e matemáticos (O Jogo da Imitação) brilhantes até a de um líder do  movimento civil negro (Selma) e a de um herói de guerra americano (Sniper Americano). Sobrou espaço, no entanto para uma comédia fantasiosa (O Grande Hotel Budapeste), uma metaficção adoidada (Birdman), a estreia de um diretor promissor (Whiplash) e o experimento de um veterano do cinema indepenedente americano (Boyhood).

Os indicados:

Sniper Americano
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Boyhood: Da Infância à Juventude
O Jogo da Imitação
O Grande Hotel Budapeste
Selma: Uma Luta Pela Liberdade
A Teoria de Tudo
Whiplash: Em Busca da Perfeição

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Aposte em
Boyhood: Da Infância à Juventude

A essa altura do campeonato, só Birdman posa alguma ameaça para Boyhood, o drama experimental que Richard Linklater fimou durante um período de 12 anos. Mas a metaficção de Alejandro González Iñárritu perdeu bastante força quando perdeu a Globo de Ouro em sua categoria para O Grande Hotel Budapeste, enquanto Boyhood levou a estatueta de Melhor Filme – Drama. Se vencer no dia 22 de Fevereiro, o filme estrelado por Ellar Coltrane, Ethan Hawke e Patricia Arquetter vai consagrar não só uma dos trabalhos mais impressionantes narrativamente das últimas décadas como também um drama sensível e fascinante que carrega o espectador para uma experiência transcendente de cinema.

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Torcemos por
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
O Grande Hotel Budapeste

Na verdade mesmo, o nosso preferido é Boyhood. Mas esses dois indicados também estão na nossa lista de favoritos os tempos, então vale a pena falar sobre eles: Birdman é um tour de force técnico com seu take único e seu elenco ligado no 220, incluindo interpretações definidoras de Edward Norton, Naomi Watts e, é claro, Michael Keaton; Budapeste, por sua vez, é um deleite de brincadeiras visuais e narrativas, uma comovente história sobre a morte de mundos imaginários nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, e um tributo lindo à capacidade humana de sobreviver contando histórias. Ambos são feitos cinematográficos que ficarão marcados no ano de 2014 por um bom tempo, e ambos mereciam algum tipo de reconhecimento, mas não há Oscar que pague o pedacinho deles que vai viver dentro de cada espectador.

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Esqueceram de
O Abutre
Garota Exemplar

Ambos críticas veladas à fundamentos essenciais do american dream, talvez não seja coincidência que O Abutre e Garota Exemplar tenham ficado fora da lista da conservadora Academia. O primeiro é a estreia na direção de Dan Gilroy, que criou uma fábula cínica e assustadora sobre um homem (Jake Gyllenhaal, na melhor atuação de sua carreira) que regurgita frases prontas de auto-ajuda e encarna a ambição fundamental do capitalismo (“greed is good”, alguém?), mas mostra o lado mais feio e psicopático de todos esses conceitos. Garota Exemplar, por sua vez, destrói o conceito de amor romântico para destrinchar as encenações e fingimentos que constituem o relacionamento entre dois seres humanos mais do que falhos, explodindo pelo caminho o ideal da América suburbana, da família perfeita, e da bondade essencial da família.

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Previsões para o Oscar 2015: Melhor Direção

rl globeRichard Linklater com o Globo de Ouro de Melhor Diretor

por Caio Coletti

Um cineasta americano não ganha a premiação da categoria no Oscar desde 2010, quando Kathryn Bigelow se tornou também a primeira mulher a levar a estatueta, por Guerra ao Terror. Desde então, um britânico (Tom Hopper, por Discurso do Rei), um francês (Michael Hazanavicious, por O Artista), um taiwanês (Ang Lee, por As Aventuras de Pi) e um mexicano (Alfonso Cuarón, por Gravidade) foram escolhidos pela Academia. 2015 pode mudar essa história premiando Richard Linklater, Wes Anderson ou Bennett Miller, três dos indicados desse ano. Quem pode desbancar os ianques de novo é Alejandro González Iñárritu (mexicano), bem cotado por seu Birdman, ou Morten Tydlum (norueguês), que fez um trabalho admirável em O Jogo da Imitação.

Os indicados:

Richard Linklater, por Boyhood
(4ª indicação)
Alejandro González Iñárritu, por Birdman
(3ª indicação)
Bennett Miller, por Foxcatcher
(2ª indicação)
Wes Anderson, por O Grande Hotel Budapeste
(4ª indicação)
Morten Tydlum, por O Jogo da Imitação
(1ª indicação)

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Aposte em
Richard Linklater, por Boyhood

O diretor texano tem feito filmes independentes celebrados desde o comecinho dos anos 90, quando estreou com Slacker. Até agora, a Acadmeia só tinha se rendido ao talento particular do moço com indicações pelo roteiro de Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite, partes finais de uma trilogia adoradíssima que retrata as fases de um relacionamento vividas por Ethan Hawke e Julie Delpy. O jeito naturalista de fazer cinema de Linklater atinge seu ápice no ambicioso projeto Boyhood, atravessando 12 anos da vida de um garoto e nos mostrando, no caminho, como os mínimos detalhes fazem a diferença, e os momentos que parecem insignificantes se acumulam para formar o que somos. É um trabalho de extraordinária delicadeza levado a cabo por um cineasta que merece reconhecimento há muito tempo.

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Torcemos por
Wes Anderson, por O Grande Hotel Budapeste

Wes é o diretor mais distintivo e marcante do cinema americano no século XXI,e ponto. Apesar do trabalho hercúleo e detalhista de Linklater merecer o prêmio, se o Oscar fosse baseado em bruta competência (que mundo ideal seria!) Anderson sairia vitorioso no próximo dia 22 de Fevereiro. O Grande Hotel Budapeste é uma apoteose para o cineasta, que explora mais do que nunca a fotografia, as cores, os atores e a humanidade mais básica dos personagens para contar aquela que é talvez a história mais tocante da sua carreira. Um absoluto maestro em tela, coordenando trabalhos bem diferentes em um todo coeso, Anderson já pode se preparar para os próximos anos, porque a estatueta dele está guardada.

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Esqueceram de
Christopher Nolan, por Interestelar
David Fincher, por Garota Exemplar
David Mackenzie, por Starred Up

Esse diretores pertencem (mais ou menos) à mesma geração, e surgiram para o mundo nos últimos 20 anos. Dois deles são americanos que já merecem reconhecimento há algum tempo: Nolan, responsável pelos melhores filmes de super-heroís da história (a última trilogia Batman), encara com a cara e a coragem as narrativas mais ambiciosas e complexas de Hollywood e nem sempre sai delas ileso – mas conduz o espectador para a compreensão mais humana possível, especialmente no belíssimo Interestelar; Fincher, por sua vez, se mostra cada vez mais um diretor de estilo inconfundível, com obsessões bem claras e a implacável competência de encontrar o cerne das histórias que conta. O menos conhecido dos três é David Mackenzie, um britânico de estilo ousado e visceral, que fez a obra-prima Sentidos do Amor e, em 2014, estreou mais uma peça de gênero brilhantemente humana com Starred Up.

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26 de jan. de 2015

Review: As muitas camadas e significados do impressionante “Birdman”

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por Caio Coletti

Ao considerar o começo de uma resenha de Birdman, mais recente e badalada obra do mexicano Alejandro González Iñárritu (Babel, Biutiful), é preciso levar em conta tudo aquilo que o filme coloca em relação ao vícios e valores da própria crítica de arte. Pode parecer que este que vos escreve esteja se curvando às vontades de um cineasta tão passível de falhas quanto qualquer outro, mas qualquer crítico que se preze não vai querer desrespeitar Birdman quando sair da acachapante sessão de cinema que o filme proporciona. O filme de Iñárritu é uma reflexão tão poderosa sobre a forma com a qual contamos histórias e entretemos aqueles à nossa volta, e ao mesmo tempo o é de uma maneira tão pouco impositiva (ainda que assumidamente pretensiosa – é um paradoxo!), que talvez seja melhor mesmo não colocá-lo nos rótulos que ele tanto abomina. Birdman nos chama a entender de verdade as intenções daqueles que se proclamam artistas, dessa forma tão egocêntrica, então porque não lhe dar esse prazer?

Antes de qualquer coisa, o que o filme realizado pelo mexicano parece querer nos dizer é que essa tal intenção conta muito mais, às vezes, do que o resultado. É uma filosofia perigosa se levada aos extremos: até que ponto o amadorismo e a pouca criatividade produtiva de um artista pode ser relevada em virtude da mensagem que ele quer passar? Até que ponto a história, e tudo o que vem atrelado a ela, conta mais do que a execução? Birdman bate o pé e diz que essa tal linha a não ser ultrapassada é uma invenção da crítica, e não se aplica absolutamente à relação de uma obra com o seu público. Por isso o filme nunca esclareça de maneira definitiva as questões que levanta sobre o talento do seu protagonista e a qualidade da produção que ele se desdobra para concluir – porque isso tudo não importa, no final das contas, frente à colossal e frenética história humana que o filme quer contar.

Ao mesmo tempo, não é como se Iñárritu siga a própria filosofia: Birdman é um triunfo de técnica tanto quanto (ou até mais que) é um triunfo de narrativa. Fotografado com criatividade incansável por Emmanuel Lubezki (Oscar por Gravidade) e editado de maneira hercúlea por Douglas Crise e Stephen Mirrione, parceiros de longa data do diretor, o filme nos leva para uma montanha-russa de tensão e propulsão narrativa ao fazer parecer que a coisa toda é feita em um único e impossivelmente longo take. Com algumas poucas exceções no começo e no final da metragem, Birdman nos conduz por corredores apertados de um teatro da Broadway, pela Times Square lotada e por bares sofisticados de Nova York como uma versão de duas horas daquele tracking shot famoso do final de um dos episódios de True Detective. O resultado é excitante de se acompanhar – além de oferecer desafios absurdos para a encenação e o trabalho dos atores, que Iñárritu e seu elenco espetacular contornam com graciosidade. A trilha-sonora percussiva de Antonio Sanchez trata de dar ritmo e ajudar na continuidade dessa tour de force cinematográfica.

A trama acompanha Riggan Thomson (Michael Keaton) um ator esquecido que, 20 anos antes de quando o conhecemos, interpretou o icônico super-herói que batiza o filme em três grandes sucessos de bilheteria. Agora, tentando se provar um artista sério, ele está prestes a estrear na Broadway com uma adaptação de Raymond Carver escrita, dirigida e estrelada por ele próprio. Birdman brinca com a ambição do projeto de seu protagonista tanto quanto se esforça para justificar a sua própria ambição técnica, e trata de colocar uma série incontável de pedras no caminho de Riggan para que a provação pela qual ele passa seja verdadeiramente exasperante: do problemático co-astro interpretado por Edward Norton à filha recém-saída da reabilitação feita por Emma Stone, o protagonista de Birdman acumula problemas o bastante para que sua lenta descida ao inferno seja não só tematicamente oportuna, como também narrativamente justificável.

O filme de Iñárritu é espertamente metaficcional em muitos sentidos, o que rima bem com a estranha sátira que ele quer ser. Poucas jogadas de casting foram melhores nos últimos anos do que a de Michael Keaton para o papel de Riggan – dividindo um passado tão comum com seu personagem, o ex-Batman de Tim Burton entrega uma atuação rica em subtexto e honestidade, mas principalmente faz transparecer em tela um esforço de atuação que a maioria dos intérpretes prefere esconder. É possível ver Keaton lutando contra as próprias limitações como ator, e tentando achar a linha exata onde seu personagem termina e ele mesmo começa, e há muita coragem (além de muito entendimento do espírito do filme no qual ele está inserido) no ato de deixar isso transpirar para a tela.

Gravitando ao redor dele, uma série de atores e atrizes também brincam com suas próprias imagens: Edward Norton imerge em Mike da forma como Mike imergiria em qualquer personagem que lhe fosse dado, explorando sua persona pública de astro arrogante e profissional problemático com um timing cômico e uma noção de cena impecáveis; Emma Stone liga as duas contrastantes características de Sam em um só desempenho, combinando características visuais que desbancam sua imagem de queridinha de Hollywood e desviando o tempo todo a atenção de seus olhos (por incrível que pareça), justamente onde mora a agonia de sua personagem, através de uma atuação muito hiperbolicamente expressiva – e devastadoramente eficiente; Naomi Watts reflete seu próprio momento da carreira ao interpretar uma atriz em busca de papéis mais substanciais que possam lhe trazer algo além de popularidade, e o faz com a precisão de tom que vem caracterizando suas atuações nos últimos anos; em papéis menores, Andrea Riseborough (sempre impecável), Amy Ryan e Zach Galifanakis fazem maravilhas com o roteiro e a reflexão muito aguda que Birdman traz.

Sim, porque existe uma segunda camada na elaboração temática do filme de Iñárritu, e provavelmente existam muitas outras que este humilde crítico deixou passar. Além de refletir como nos posicionamos diante da arte, Birdman reflete, de forma diretamente colateral, como nos posicionamos diante das pessoas a nossa volta. A pergunta que nomeia a peça produzida por Riggan (“Do quê falamos quando falamos de amor?”) também permeia o filme no qual ela está inserida, através da análise cuidadosa, e ao mesmo tempo bastante afetuosa, das falhas de comunicação e da bagunça de sentimentos que existe em cada personagem. Nesse sentido, Birdman é até um filme muito típico para Iñárritu, que continua obcecado por esse desastre natural que é o íntimo humano, e pela forma como confundimos amor com admiração, amor com atenção, amor com violência. Enérgico, significativo, impressionante e inteligente como pouco ou nenhum filme foi em 2014, Birdman ainda é uma história profundamente humana e sincera. E é por isso, e não por tudo o mais que faz de bom e ruim, que o filme não merece ser colocado em rótulos que só vão limitá-lo.

✰✰✰✰✰ (5/5)

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Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), EUA/Canadá, 2014)
Direção: Alejandro González Iñárritu
Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr, Armando Bo
Elenco: Michael Keaton, Edward Norton, Emma Stone, Naomi Watts, Andrea Riseborough, Amy Ryan, Zach Galifanakis, Lindsay Duncan
119 minutos

25 de jan. de 2015

Gotham 1x12: What the Little Bird Told Him

GOTHAM: Detective James Gordon (Ben McKenzie, L) stands up to Commissioner Loeb in the "What The Little Bird Told Him" episode of GOTHAM airing Monday, Jan. 19 (8:00-9:00 PM ET/PT) on FOX. Also pictured: Donal Logue. ©2014 Fox Broadcasting Co. Cr: Jeff Neumann/FOX

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

É um fenômeno mais do que bem documentado dessa última fall season: a televisão americana está se tornando uma história em quadrinhos em movimento. E não é porque vários personagens das HQs se transportaram para a telinha, mas também porque a equipe de roteiristas dessas séries optou por uma tradução bem fiel ao espírito dos quadrinhos – o resultado são produções televisivas que brincam com tendências iconoclastas, dramaticidade exagerada e personagens construídos com riqueza de detalhes visuais e narrativos, o que os transforma em caricaturas estranhamente críveis de seres humanos. Não só Gotham na FOX, como Constantine na NBC e The Flash na CW representam essa tendência, e a próxima temporada ainda vai trazer Daredevil para o Netflix.

Há quem argumente, é claro, que essas duas linguagens (televisão e quadrinhos) não devem se misturar, e é muito cômodo para qualquer crítico de televisão dizer isso. O que Gotham faz semana após semana se localiza corajosamente fora do espectro de qualidade que esses profissionais cuidadosamente construíram através dos anos da era de ouro da TV. É uma forma de contar histórias completamente diferente, que não pode ser julgada levando em conta o equilíbrio de gêneros que um bom thriller policial precisa arquivar – é uma história de origem, um procedural e um filme de máfia, tudo ao mesmo tempo. Com o diretor certo, ao assistir Gotham é quase possível se sentir folheando as páginas da última edição de alguma Detective Comics.

Eagle Egilsson, o diretor de “What the Little Bird Told Him”, é o cara certo para essa missão. Com formação de diretor de fotografia, o moço já assinou episódios de Once Upon a Time, CSI e Turn, entre muitos outros – para Gotham ele traz uma sensibilidade visual e uma maneira particular de encenação que pouco ou nenhum episódio da série teve até agora. O roteiro ágil e bem-amarrado de Ben Edlund (1x06, “Spirit Of the Goat” – review) ajuda, trazendo um dos “casos da semana” mais empolgantes e bem balanceados com a trama de mafiosos e a jornada pessoal do protagonista. “What the Little Bird Told Him” não tem muito tempo para lidar com algumas das storylines mais marginais de Gotham, o que inclui o jovem Bruce Wayne, ausente desse episódio, mas se dá muito bem fazendo malabarismos com os personagens que tem em mãos.

Nessa semana acompanhamos a caçada à Jack Gruber (Christopher Heyerdahl, mastigando cenários), o gênio eletricista transloucado que fugiu do Arkham no episódio anterior. Vendo a oportunidade de ser reintegrado como detetive, Gordon faz um acordo com o comissário de Gotham (Peter Scolari, o pai de Hannah em Girls): se eles capturarem Gruber em 24 horas, Jim terá o seu emprego de volta. Ao mesmo tempo vemos Fish Mooney finalmente decidindo atacar Falcone, armando o sequestro de Liza para convencê-lo a deixar Gotham City para trás – o problema é que o Pinguim tem uma carta na manga, e ainda quer vingança contra a ex-empregadora. “What the Little Bird Told Him” é uma cortante peça de personagem que concorda com tudo o que Gotham nos mostrou sobre eles até agora, e ainda aplica uma revolução nas políticas de poder da trama.

Notinhas adicionais:

  • Bbye, Makenzie Leigh! A atuação da moça, que além de linda é talentosa, não ganhou nota em nenhum dos nossos reviews, mas deveria. Sua presença de ingenue vai fazer falta no mundo sombrio da série.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo Gotham: 1x13 – Welcome Back, Jim Gordon (26/01)

24 de jan. de 2015

Previsões para o Oscar 2015: Melhor Cabelo e Maquiagem

c6c15930da03b3c5248853d1a8acf1b8A atriz nova-iorquina Saoirse Ronan em cena do filme de Wes Anderson

por Guilherme Trajano

A Academia começou a premiar a Maquiagem dos filmes em 1981, quando uma onda de protestos pediu que o trabalho em O Homem Elefante fosse reconhecido com uma estatueta. O trabalho no cabelo dos personagens passou a ser reconhecido na categoria só em 2012, quando ela ganhou o nome que tem até hoje. Tradicionalmente, só são escolhidos para a categoria três filmes, como aconteceu esse ano, mas algumas vezes (mais notavelmente em 2003, quando Frida, o vencedor, só teve que bater um outro indicado).

Os indicados:

Bill Corso e Dennis Liddiard, por Foxcatcher
Frances Hannon e Mark Coulier, por O Grande Hotel Budapeste
Elizabeth Yanni-Georgiou e David White, por Guardiões da Galáxia

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Aposte em
Frances Hannon e Mark Coulier, por O Grande Hotel Budapeste

Frances venceu a estatueta pelo seu trabalho em A Dama de Ferro; a dupla concorre este ano graças à impressionante transformação realizada em Tilda Swinton, que interpreta a endinheirada Madame D., que deixa uma pintura renascentista de valor inestimável para o concierge M. Gustave (interpretado por Ralph Fiennes).

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Torcemos por
Elizabeth Yianni Georgiou e David White, por Guardiões da Galáxia

A equipe de cabelo e maquiagem de Guardiões da Galáxia teve a difícil tarefa de transformar personagens originalmente desenvolvidos nos quadrinhos em seres alienígenas reais – ainda que a narrativa seja cômica, as transformações passaram bem longe disso, a atenção aos detalhes e o tom orgânico das produções fazem de Elizabeth e David White grandes merecedores deste prêmio. Seria estimulante ver a academia premiar um blockbuster, ainda que numa categoria técnica. Destaque especial para o personagem de Dave Bautista, Drax, um alien fortão com sede de vingança – tatuagens em alto relevo e ossos da face saltadas são amostra clara do talento desta dupla.

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Previsões para o Oscar 2015: Melhor Figurino

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por Guilherme Trajano

Nos últimos três anos, uma tendência nada nova reina nesta categoria da cerimônia de premiação do The Academy Awards: filmes de época com figurinos ricos em detalhes, joias verdadeiras, peles e grifes, muitas grifes.

Em 2013, O Grande Gatsby (Baz Luhrman, Moulin Rouge) levou a estatueta nesta categoria pelo figurino de Catherine Martin, esposa de Baz Luhrman. O figurino completo deste filme foi confeccionado pela Prada e as joias foram todas de uma coleção exclusiva que a Tiffany & Co. criou para a película. Já em 2012 o vencedor foi Anna Karenina (Joe Wright, Orgulho e Preconceito) figurino de Jacqueline Durran, onde as jóias foram cedidas pela Chanel a partir de sua coleção de alta-joalheria. Por fim, em 2011, O Artista (Michel Hazanavicius, OSS 117 : Rio ne Répond Plus) contou com figurino de Mark Bridges (O Lado Bom da Vida) sendo este o menos grifado dos filmes, onde o figurinista encontrou no filme mudo um modo com que as roupas ganhassem voz e pudessem contribuir com a trama.

Os indicados:

Milena Canonero, por O Grande Hotel Budapeste
(9ª indicação, 3 vitórias)
Mark Bridges, por Vício Inerente
(2ª indicação, 1 vitória)
Colleen Antwood, por Caminhos da Floresta
(11ª indicação, 3 vitórias)
Anna B. Sheppard, por Malévola
(3ª indicação)
Jacqueline Durran, por Mr. Turner
(4ª indicação, 1 vitória)

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Aposte em
Milena Canonero, por O Grande Hotel Budapeste

Milena é três vezes vencedora do Oscar de Melhor Figurino, por Maria Antonieta (2006) de Sofia Coppola, Carruagens de Fogo (1982) e Barry Lyndon (1975). O filme de Wes Anderson retrata um hotel nos alpes austríacos no período pré-Segunda Guerra, onde se desfilam muitos casacos de pele, sobretudos negros como carvão e uniformes púrpura, mas engana-se quem pensa que são apenas peças confeccionadas para o filme, o figurino do filme foi todo produzido pelas mãos dos artesãos da Fendi e da Prada, que também produziu as malas e baús mostrados no filme.

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Torcemos por
Anna B. Sheppard, por Malévola

Anna B. é a responsável pelo figurino de Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino) pelo qual levou o Saturn Awards. É interessante notar que o figurino sofre sutis mutações ao longo do decorrer do filme, conforme a trama se desenvolve e se torna mais sombria, os tons e texturas se modificam. Malévola quando criança possui belas asas e vestes em tons de marrom dando uma impressão harmônica em contato com a natureza. Logo que perde suas asas tudo se torna negro, seu vestido é estruturado, rígido como sua personalidade, os demais personagens também passam a se vestir de preto assim que Malévola lança sua maldição sobre a princesa aurora. Há de se notar também que os detalhes possuem uma característica orgânica: as asas, o colarinho e os chifres todos tem uma textura que os aproxima do real.

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Esqueceram de
Colleen Antwood, por Olhos Grandes

Colleen Atwood detém a estatueta de melhor figurino por três trabalhos: Chicago (2002), Memórias de Uma Gueixa (2005) e Alice no País das Maravilhas (2010), sendo uma veterana da premiação é praticamente ultrajante ter sido deixada de lado nesta categoria. Olhos Grandes é uma trama retratada nos Estados Unidos dos anos 1960, e o figurino conta com vestidos de silhueta new look com cintura marcada, busto ajustado, saia rodada e cores fortes. O figurino impressiona através da simplicidade eloquente do filme, tudo é muito bem ajustado e adequado para a época e mais importante, para seus personagens.

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17 de jan. de 2015

Review: “O Jogo da Imitação” é um tributo inspirador ao espírito humano

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por Caio Coletti

Só mesmo um diretor norueguês poderia trazer O Jogo da Imitação à vida de maneira tão comprometida. Cineastas com laços em nações envolvidas (mesmo que perifericamente) na história estariam mais do que inclinados a enchê-la de sentimentalismo, pompa grandiosa e teses sociais – Morten Tydlum não. Responsável pelo elogiado Headhunter, ele aborda o roteiro do estreante Graham Moore com literalidade refrescante, traduzindo sem concessões o que o escritor procura passar com essa história, e entregando uma trama de Segunda Guerra Mundial com uma visão única (o que, nesses tempos cansados do épico de guerra, não é pouco). Tydlum trabalha com o diretor de fotografia Oscar Faura (O Impossível) para dar cores e climas diferentes para cada uma das três linhas narrativas que compõem o filme, e no caminho cria um drama muito envolvente sobre a resistência humana.

A história real acompanha Alan Turing (Benedict Cumberbatch), matemático britânico que se candidata, logo no começo da Segunda Guerra Mundial, a um trabalho que todos consideravam impossível: quebrar o código Enigma, sistema criptográfico de comunicação utilizado pelos alemães. Enquanto vemos a trajetória que levou ele e um time de outros matemáticos a ter um papel instrumental no fim da guerra, também observamos um Alan mais velho sendo investigado por um policial (Rory Kinnear, ótimo como de costume), curioso quanto aos motivos pelos quais os registros militares do moço são confidenciais. Por fim, o círculo críptico do roteiro de Graham Moore se fecha com a história de um jovem Alan (Alex Lawther) e sua primeira paixão de infância, o encantador Christopher (Jack Bannon, um ator mirim pra se observar).

Com essa estrutura que, tão esperta quanto previsivelmente, se assemelha a um enigma – uma espécie de código para o espectador decifrar –, O Jogo da Imitação é ótimo entretenimento, uma quieta e dramática, mas estranhamente empolgante, trama de espionagem e ciência. É também, no entanto, um estudo de personagem aguçado, lançando um olhar moderno sobre uma história antiga, revelando os seres humanos envolvidos nela através de suas características atemporais. O foco do filme é em Turing, mas aqueles que povoam o mundo ao seu redor são caracterizados com igual ou maior delicadeza por Moore: Matthew Goode brilha como o carismático Hugh; Charles Dance exercita sua melhor expressão de desprezo como o Comandante condescendente da operação secreta; e Mark Strong (sempre subestimado) é puro charme escorregadio como o classudo agente do MI-6 que ajuda Turing e cia.

No entanto, a força de O Jogo da Imitação, mesmo com todas as suas virtudes técnicas, está na história extraordinária que tem para contar, e nos dois protagonistas que garantiu para contá-la. Cumberbatch faz um trabalho sutileza absurda, ao mesmo tempo em que não abre mão da expressividade que é característica dos trabalhos de sua meteórica carreira até aqui. O trabalho de voz, como de costume, é fundamental para carregar as características do personagem no início do filme, quando ele ainda é um mistério para o espectador. O timing cômico do ator britânico é perfeito enquanto Turing tropeça e gagueja pelas frases do roteiro, e especialmente no traquejo social mais que deficitado do personagem – ainda assim, ao mesmo tempo, Cumberbatch injeta no personagem uma certa dignidade, uma ambição desmedida e uma sagacidade aguda que fazem bem-vinda companhia  ao seu ego inflado. É impossível acusá-lo de interpretar uma variação dos gênios anti-sociais que fez em O Quinto Poder e Sherlock, porque ele trata Turing como um ser humano completamente novo, e portanto exige que o façamos também.

Keira Knightley, é claro, também está em plena forma como a garota charmosa, genial e desafiadora que se torna a melhor amiga de Turing na operação. É deixado implícito que, assim como o próprio matemático, Joan Clarke teve que enfrentar muitos obstáculos para conseguir o que quis – de fato, é possível apontar que esse é o próprio tema de O Jogo da Imitação, o filme otimista mais devastadoramente triste de que se tem notícia há décadas. Enquanto mostra seus cientistas correndo contra o relógio (e não conta um inimigo específico), a câmera de Tydlum e o roteiro de Moore observam o mundo ao redor deles desmoronar. Em uma sequência particularmente marcante, vemos o antes, o durante e o depois de um bombardeio em uma cidade britânica. Em outra, um tanque passa por cima do capacete de um soldado largado na lama.

O Jogo da Imitação quer mostrar que há algo em comum entre a história pessoal de Alan, a formidável experiência que ele conduziu durante a guerra e a própria vitória contra a opressão esmagadora do nazismo. Em cada um desses casos, o ser humano foi capaz de apresentar sua face mais aterrorizante – no preconceito, na descrença, na resistência ao novo e na violência contra o outro –, mas não foi esse lado nosso que venceu, no final das contas. Seja no arrependimento do policial interpretado por Rory Kinnear, seja nas milhões de vidas que Turing salvou durante a Guerra, ou no imenso legado que ele deixou para que esse mesmo equipamento que eu uso para digitar essas palavras exista, O Jogo da Imitação é uma história de triunfo do intelecto, da invenção, e do não-convencional. De todos os ângulos que uma história como essa poderia render, nenhum seria mais poderoso do que esse.

✰✰✰✰✰ (5/5)

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O Jogo da Imitação (The Imitation Game, Inglaterra/EUA, 2014)
Direção: Morten Tydlum
Roteiro: Graham Moore, baseado no livro de Adrew Hodges
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Rory Kinnear, Allen Leech, Matthew Beard, Charles Dance, Mark Strong
114 minutos

15 de jan. de 2015

Previsões para o Oscar 2015: Melhor Ator Coadjuvante

FILM-GOLDENGLOBES/J.K. Simmons levou o troféu do Globo de Ouro por Whiplash

por Caio Coletti

Iguaizinhas à lista do Globo de Ouro na categoria, as indicações a Melhor Ator Coadjuvante no Oscar devem também produzir o mesmo resultado: vitória para J.K. Simmons por seu papel como um instrutor de bateria maldoso no energético Whiplash, do jovem diretor Damien Chazelle. Correndo pelas pontas estão o veteraníssimo Robert Duvall, um dos atores mais celebrados da história do cinema americano; o texano Ethan Hawke conquistando sua segunda indicação na carreira (ou quarta, se você contas as duas a Melhor Roteiro Adaptado); Edward Norton na pele do colega de cena de Michael Keaton em Birdman, e voltando ao Oscar 15 anos depois de A Outra História Americana; e o sempre aplaudido Mark Ruffalo, cujo personagem encontra um destino trágico (não é spoiler, a história é real!) em Foxcatcher.

Os indicados:

Robert Duvall, por O Juiz
(7ª indicação, 1 vitória)
Ethan Hawke, por Boyhood
(4ª indicação)
Edward Norton, por Birdman
(3ª indicação)
Mark Ruffalo, por Foxcatcher
(2ª indicação)
J.K. Simmons, por Whiplash
(1ª indicação)

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Aposte em
J.K. Simmons, por Whiplash

No palco do Globo de Ouro 2015, no último dia 11, J.K. Simmons dedicou seu prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por Whiplash para os dois jovens que construíram o filme ao seu lado: o diretor Damien Chazelle (29 anos) e seu co-astro Miles Teller (27), que interpreta o aspirante a baterista de jazz que cai nas mãos do tutor sádico vivido por J.K. Simmons. Nada mais apropriado, uma vez que a carreira desse character actor (um daqueles caras que você talvez não lembre o nome, mas definitivamente conhece o rosto) foi rejuvenescida pela colaboração, que já lhe rendeu 20 prêmios de crítica e o Globo de Ouro ao veterano de 59 anos. O Oscar vai servir como a coroação de uma carreira brilhante, que incluí mais de 150 créditos e papéis marcantes como o J. Jonah Jameson de Homem Aranha e o pai da protagonista de Juno.

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Torcemos por
Ethan Hawke, por Boyhood

Apesar da performance do moço não se segurar frente a de Patricia Arquette, que interpreta a mãe do protagonista de Boyhood, Hawke é uma figura marcante como Mason Sr. Na verdade, o fardo que o roteiro de Richard Linklater coloca sobre os ombros do ator é grande: nas mãos de qualquer outro que não Hawke, talvez o personagem tivesse se tornado muito menos identificável do que é. O pai do pequeno Mason não é o homem mais responsável, nem confiável, do mundo, e admite abertamente isso até o final, quando descobre ter se tornado “o cara chato” que a ex-esposa queria que ele fosse 20 anos antes. Como tudo em Boyhood, no entanto, a jornada do personagem é de amadurecimento e descoberta de mundo, e Hawke injeta-o com tamanho charme, tamanha verdade, que fica difícil não amá-lo.

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Esqueceram de
Rupert Friend, por Starred Up

Sim, mais uma indicação para Starred Up, porque sim. Não só o filme é um dos mais injustamente ignorados do ano (no Oscar, na vida, nos cinemas), como está cheio de performances inesquecíveis. Ben Mendelsohn poderia muito bem estar aqui por interpretar o pai do protagonista, que está preso com ele; mas quem entrou nos nossos corações foi Rupert Friend, visceral e essencial para a dinâmica da história como o conselheiro psicológico da prisão, que monta um grupo de terapia baseado no diálogo. Há muito pouco de sutileza na genial interpretação de Jack O’Connell como o protagonista, e por isso Friend é a escolha perfeita para contracenar com ele nos momentos mais decisivos do filme, desenhando ao mesmo tempo um arco de personagem memorável para si.

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Previsões para o Oscar 2015: Melhor Ator

mkMichael Keaton ganhou o Globo de Ouro por Birdman

por Caio Coletti

Se as categorias femininas são sempre muito vigiadas, nos últimos tempos os homens tem tido disputas fáceis em Melhor Ator. Talvez desde 2006 não se via um rol de performances maculinas tão celebradas na lista do Oscar – na época, foram lembrados Phillip Seymour Hoffman por Capote, Heath Ledger por Brokeback Mountain, David Strathairn por Boa Noite e Boa Sorte, Terrence Howard por Ritmo de um Sonho e Joaquin Phoenix por Johnny & June. Já em 2015, é a vez de vermos dois jovens britânicos (Eddie Redmayne e Benedict Cumberbatch) competindo com medalhões americanos como Steve Carell, em seu primeiro papel dramático reconhecido pela temporada de premiações; Bradley Cooper, que virou queridinho do Oscar desde O Lado Bom da Vida; e Michael Keaton, que voltou dos mortos (e não como Bettlejuice, infelizmente) para se tornar o favorito do ano por Birdman.

Os indicados:

Steve Carell, por Foxcatcher
(1ª indicação)
Bradley Cooper, por Sniper Americano
(3ª indicação)
Benedict Cumberbatch, por O Jogo da Imitação
(1ª indicação)
Michael Keaton, por Birdman
(1ª indicação)
Eddie Redmayne, por A Teoria de Tudo
(1ª indicação)

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Aposte em:
Michael Keaton, por Birdman

Não dá pra dizer que a Academia adore atuações auto-referenciais (afinal, nem Mickey Rourke levou o prêmio por O Lutador), mas o buzz em torno da volta de Michael Keaton para os holofotes é tanto, vinte e poucos anos depois de deixar para trás o manto de Batman, que vai ser difícil para os votantes ignorá-lo. Pode ser que não aconteça, mas se de fato o Oscar for parar nas mãos desse americano de 63 anos, que também fez seu primeiro blockbuster em tempos em 2014 (Robocop), será muito merecido. Não só a atuação em Birdman foi saudada como uma das mais intensas, em um dos papéis mais exigentes, do ano, como o talento (especialmente cômico) de Keaton passou tempo demais sem ser reconhecido. 14 associações de críticos pelos EUA, mais o Globo de Ouro, já deram o prêmio para ele.

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benny

Torcemos por
Benedict Cumberbatch, por O Jogo de Imitação

Em um comentário sobre O Jogo da Imitação, filme baseado na vida e no trabalho de seu tio-avô Alan, James Turing comentou que o ator escalado para o papel do protagonista, Benedict Cumberbatch, “sabe de coisas das quais eu nunca soube. A quantidade de conhecimento que ele tem sobre Alan é impressionante”. A gente até pensou em dizer aqui nesse post que torcíamos também por Eddie Redmayne e Steve Carrell, mas a possibilidade desses dois ganharem caso o troféu escape de Michael Keaton é muito maior, então decidimos nos focar em Benedict. “Astro em ascenção” não é um termo que se aplica mais ao britânico, que ganhou fama no papel icônico de Sherlock, série da BBC, e desde então fez todas as escolhas certas, mostrando imenso potencial dramático e carisma ainda maior. Azarão na lista da categoria, Cumberbatch tem 38 anos e muitas oportunidades pela frente para impressionar os membros da Academia – e nós.

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Esqueceram de
Jake Gyllenhaal, por O Abutre
Jack O’Connell, por Starred Up
Ralph Fiennes, por O Grande Hotel Budapeste

Ignorar a performance de Jake Gyllenhaal em O Abutre é ignorar os próprios problemas de ideologia do sonho americano, e talvez o personagem tenha incomodado tanto que afastou os votos da Academia. De uma forma ou de outra, o “jornalista” com lábia solta, ares psicopáticos e discursos de auto-ajuda surpreendentemente americanos segue como uma das construções mais meticulosas e bem urdidas do ano – por parte do roteiro, sim, mas principalmente por parte de Gyllenhaal. E já que todo o frisson em torno de Invencível não vingou, indicaríamos Jack O’Connell pela performance brilhante (e reveladora) em Starred Up, um drama britânico de prisão produzido em 2013, mas que só chegou ao lançamento comercial, inclusive nos EUA, em 2014. Não seria a primeira vez que a Academia pula anos, e a atuação de O’Connell leva o filme (excelente) nas costas. Por fim, Ralph Fiennes está inesquecível como o Monseiur Gustave H. do filme de Wes Anderson, que foi lembrado 9 vezes pela Academia, e poderia muito bem ter sido lembrado 10.

O Abutre: REVIEWTRAILER
Starred Up: REVIEW - TRAILER
O Grande Hotel Budapeste: REVIEW - TRAILER

Person of Interest 4x12: Control-Alt-Delete

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Há algo de muito sutil em “Control-Alt-Delete”, apesar das informações telegrafadas em diálogos expositivos necessários para cobrir o plot de um episódio que nos é apresentado essencialmente do ponto de vista de uma coadjuvante. Essa sutileza está na construção de personagem e no discurso sobre a dúvida e a autoridade, encarnados em Control (Camryn Manheim), de volta pela primeira vez desde o finale do terceiro ano. O roteiro de Andy Callahan, em sua estreia na série, justifica os problemas com exposição de trama ao colocar sob os holofotes mais uma das muitas transformações de personagem de Person, e deixar mais do que claro o quanto elas fazem sentido. É uma característica muito especial que a trama da CBS sempre teve, essa de retratar a progressão de seus personagens de forma inteligente e integrada com o espírito da série.

É especialmente um prazer ver isso acontecendo com Control, porque Manheim é uma atriz de fartos talentos para emprestar para essa jornada de personagem. Ela volta à pele da oficial do governo responsável pela morte de centenas de “ameaças” detectadas pelos sistemas de vigilância com facilidade, vestindo os maneirismos de mulher durona para deixar transparecer, no fundo dos olhos e na mais delicada das expressões, o descontentamento tanto com a sua função quanto com a forma como o Samaritan conduz as coisas. O episódio começa quando Control dá as ordens para desmantelar uma suposta rede terrorista em Detroit, o que não dá muito certo quando um dos alvos desaparece e Samaritan nega a ela o acesso aos dados do computador do moço.

“Control-Alt-Del” é uma narrativa determinada a nos mostrar como andam as coisas “do outro lado da mesa”, algo que não tivemos a oportunidade de ver ainda nesse quarto ano, tão preocupado com as circunstâncias novas do #TeamMachine. Só por isso, já ganha pontos ao construir melhor o mundo de Person, apresentando os oficiais do governo como vítimas (mesmo que não tão incautas) das tramoias próprias do Samaritan. A máquina que deveria ser perigosa por responder a cada comando dos humanos que as controlam na verdade se mostrou um ente poderoso e de pensamento próprio, tanto quando a criação de Finch, mas com um coração muito menos humano. O objetivo final de toda essa operação comandada pelo sistema de vigilância ainda é obscuro, mas a extensão de seu poder fica cada vez mais clara. Não é exagero dizer, de certa forma, que nesse ponto de Person of Interest Samaritan está governando o país.

Quando os nossos protagonistas habituais aparecem finalmente em cena, é para desfilar diante de Control em uma cena tensa de interrogatório e mostrar que o que aconteceu com Shaw no episódio anterior não passou sem consequências. Jim Caviezel é sempre ótimo em expressar pesar e cansaço através da expressão dura de Reese, e exercita esses talentos com grande eficiência aqui – da linguagem corporal a forma de falar, o personagem muda completamente; Amy Acker também está brilhante, é preciso dizer, e nada pode bater Michael Emerson balançando constantemente entre a incredulidade e a esperança ao tentar ajudar os dois a encontrar Shaw. Apesar das declarações de Sarah Shahi para a imprensa de que talvez sua personagem não seja mais vista (“pelo menos por algumas temporadas”), é impossível prever exatamente o que Person vai fazer nas próximas semanas. Se continuar fazendo tão bem, no entanto, não vai ter ninguém reclamando.

Notinhas adiconais:

  • Muitas palmas para o diretor Stephen Surjik, veterano da série e do cinema (ele dirigiu as comédias Quanto Mais Idiota Melhor 2 e Loucos por Ela), que arquiva uma encenação classuda para um episódio que precisava desse refinamento visual para funcionar.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo Person of Interest: 4x13 – M.I.A. (03/02)

Previsões para o Oscar 2015: Melhor Atriz Coadjuvante

d35d11e8-cb96-4919-abda-e16d9ff3e800-620x372Patricia Arquette e seu prêmio por Boyhood

por Caio Coletti

Mudando só uma das indicadas da lista do Globo de Ouro, a categoria de Melhor Atriz Coadjuvante pode não ter surpreendido ninguém, mas continua tendo nomes de peso na disputa. As veteraníssimas Meryl Streep e Laura Dern foram lembradas por suas performances como uma bruxa no musical Caminhos da Floresta, e como a mãe adoentada da aventureira Cheryl Strayed em Livre (respectivamente). Elas enfrentam a concorrência de duas favoritas da nova geração: a britânica Keira Knightley, que impressionou ao lado de Benedict Cumberbatch em O Jogo da Imitação; e a americana Emma Stone, que saiu direto do segundo Homem-Aranha para a metaficção de Birdman. Quem tem a vantagem, no entanto, ainda é a azarona Patricia Arquette, dona de performance inesquecível nessa experiência de vida em forma de filme que é Boyhood.

As indicadas:

Patricia Arquette, por Boyhood
(1ª indicação)
Laura Dern, por Livre
(2ª indicação)
Keira Knightley, por O Jogo da Imitação
(2ª indicação)
Emma Stone, por Birdman
(1ª indicação)
Meryl Streep, por Caminhos da Floresta
(19ª indicação, 3 vitórias)

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Aposte em
Patricia Arquette, por Boyhood

Envelhecer diante das câmeras (dos 34 anos aos 45) sem um pingo de vaidade já é um feito e tanto para uma atriz de Hollywood, mas se Patricia Arquette realmente levar o Oscar no próximo dia 22 de Fevereiro, vai ser porque fez muito mais que isso. A ex-protagonista da série Medium (pela qual levou um Emmy em 2005) arquiva no drama colossal de Richard Linklater uma atuação mais discreta, melancólica e profundamente humana do que qualquer outra que tenhamos visto nos cinemas em 2014. A mãe de Mason só leva o título de coadjuvante por formalidade, porque o filme é tão dela quanto de Ellar Coltrane, o ator-mirim que Linklater viu crescer em frente a suas câmeras. Já são 16 prêmios levados para casa em reconhecimento da atuação no filme, e mesmo assim parece pouco para o quão inesquecível é a performance de Patricia.

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Torcemos por
Keira Knightley, por O Jogo da Imitação

Embora tenha ficado bem claro que nossa torcida está com a provável vencedora Patricia Arquette, também somos perdidamente apaixonados pela inglesinha Keira Knightley, que chega à disputa mesmo com todas as críticas que caíram sobre ela quando foi escalada para o papel em O Jogo da Imitação. O autor do livro que serviu de inspiração para o filme sentiu que o roteiro redigido por Graham Moore deu mais ênfase ao relacionamento de Alan Turing (Benedict Cumberbatch) com a amiga e noiva “de fachada” Joan Clarke. Criticada como uma forma de suavizar a homossexualidade de Turing, a decisão foi ainda mais contestada quando uma sobrinha do matemático declarou que Keira era bonita demais para o papel de Clarke. Passando por cima de tudo isso, a moça, que vem merecendo uma segunda indicação ao Oscar desde Não me Abandone Jamais (2010), conquistou a lembrança da Academia.

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Esqueceram de
Saoirse Ronan, por O Grande Hotel Budapeste
Jessica Chastain, por Interestelar
Rene Russo, por O Abutre

Esse trio improvável de atrizes estariam na lista de dependesse de nós aqui d’O Anagrama. A jovem Saoirse Ronan, de 20 anos, já foi indicada na categoria por sua performance-revelação em Desejo e Reparação – e continuou, escolhendo bons filmes ou não, sendo uma das atrizes mais expressivas e interessantes em atividade atualmente. Quando finalmente acertou no projeto, se juntando a Wes Anderson em O Grande Hotel Budapeste, se tornou o coração de um filme muito pleno de emoções e personagens, se destacando mesmo nas poucas cenas em que aparece. Já Chastain se mostrou uma queridinha do Oscar nos últimos anos, e poderia muito bem ter sido lembrada esse ano, seja por A Most Violent Year ou (de preferência) pela atuação intensa em Interestelar, de Christopher Nolan. Por fim, a veterana Rene Russo (60 anos!) mostrou que envelheceu bem, acertando no ponto como a jornalista de O Abutre, e merecia ser indicada pela primeira vez pela Academia.

O Grande Hotel Budapeste: REVIEW - TRAILER
Interestelar: REVIEWTRAILER
O Abutre: REVIEW - TRAILER

Previsões para o Oscar 2015: Melhor Atriz

531169807PH00392_72nd_AnnuaJulianne Moore com seu Globo de Melhor Atriz – Drama por Para Sempre Alice

por Caio Coletti

A categoria de Melhor Atriz é sempre uma das mais concorridas do Oscar, e também a que provoca mais debates devido à eterna discussão sobre a qualidade dos papéis femininos em Hollywood. Em 2015, a lista inclui uma mulher deprimida tentando salvar o emprego, a esposa corajosa de um dos maiores cientistas de todos os tempos, uma sociopata de primeira categoria, uma aventureira da vida real que percorreu quase 2000 km a pé, e a professora com Alzheimer precoce interpretada por Julianne Moore, que deve sair vitoriosa da noite de 22 de Fevereiro.

As indicadas:

Marion Cotillard, por Dois Dias, Uma Noite
(2ª indicação, 1 vitória)
Felicity Jones, por A Teoria de Tudo
(1ª indicação)
Julianne Moore, por Para Sempre Alice
(5ª indicação)
Rosamund Pike, por Garota Exemplar
(1º indicação)
Reese Witherspoon, por Livre
(2ª indicação, 1 vitória)

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Aposte em
Julianne Moore, por Para Sempre Alice

Aos 54 anos, com nove indicações ao Globo de Ouro (2 vitórias) e outras cinco ao Oscar, Julianne Moore é uma das atrizes americanas mais respeitadas de sua geração. Nada mais justo, portanto, que finalmente ganhe a sua estatueta, e dessa vez todos os sinais apontam para isso: a atriz já tem 9 troféus de prêmios críticos empilhados na prateleira pela atuação, e o Globo de Ouro confirmou seu favoritismo. Na pele de uma professora de linguística que se vê em uma situação desesperadora ao começar a esquecer palavras, Julianne apresenta uma das performances mais vulneráveis e relevantes da sua carreira. No discurso do Globo de Ouro, ela agradeceu aos diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland (Quinceañera) por fazerem o filme, uma vez que todos achavam que “ninguém queria ver a história de uma mulher de meia-idade”. O filme também conta com Alec Baldwin, Kate Bosworth e Kristen Stewart no elenco.

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Torcemos por
Rosamund Pike, por Garota Exemplar
Marion Cotillard, por Dois Dias, Uma Noite

Na verdade, ficaremos bem felizes se a nossa previsão de vitória para Julianne se confirmar, mas ao mesmo tempo decepcionados que essas duas não possam levar o prêmio também. São dois papéis bem diferentes para atrizes bem diferentes: Pike, a intérprete da assustadora Amy de Garota Exemplar, é uma londrina de 36 anos, que até cair nas graças de David Fincher era conhecida por papéis coadjuvantes em Orgulho e Preconceito e Jack Reacher, entre outros; a francesa Cotillard já tem uma estatueta em casa, pela atuação como Edith Piaf em Um Hino ao Amor, de 2008, mas continua entregando uma atuação magistral atrás da outra na brilhante filmografia que construiu. Enquanto o triunfo de Pike como Amy é esconder muitas camadas de personagem por baixo das infinitas encenações e mentiras do filme de Fincher, Cotillard despe-se de vaidade e apresenta emoção crua no filme dos irmãos Dardenne, uma das pérolas mais subestimadas do ano.

Garota Exemplar: REVIEWTRAILER
Dois Dias, Uma Noite: REVIEWTRAILER

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Esqueceram de
Jennifer Connelly, por Noé

Sabemos que Noé é um filme falho (apesar de termos gostado bastante do épico estranho que Darren Aronofsky fez), mas não poderíamos deixar de citar a atuação espetacular de Jennifer Connelly nele. A verdade é que, num mundo justo, a moça seria uma daquelas atrizes que é habitué do Oscar, aparecendo em indicações de quando em quando e ameaçando ganhar às vezes – uma outra Meryl Streep ou, numa escala menor, Amy Adams. Só para citar alguns momentos em que ela deveria ter sido lembrada: Criação (2009), Diamante de Sangue (2007), Casa de Areia e Névoa (2003) e Réquiem para um Sonho (2000). Como Naameh, a esposa do profeta que dá nome ao filme de Aronofsky, Connelly injeta a aventura/drama do diretor com uma humanidade intensa, fugindo do papel submisso que a história lhe oferece e criando uma expressão emocional muito viva para a personagem. Merecia, e muito, a indicação.

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12 de jan. de 2015

Review: A humanidade crua e delicada de “Dois Dias, Uma Noite”

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por Caio Coletti

Quando se tem um histórico de depressão, as pessoas começam a te tratar de forma diferente. Embora a condição clínica da protagonista Sandra (Marion Cotillard) não seja exatamente o foco de Dois Dias, Uma Noite, a reação daqueles em volta dela na agonizante jornada documentada pelo irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne é muito importante para entender o que o filme quer passar. Saindo de uma longa luta contra a doença, Sandra precisa visitar seus colegas de trabalho para convencê-los a deixá-la retornar ao seu posto, mesmo que isso signifique – segundo o chefe da companhia – a perda do bônus de final de ano de todos eles. É uma tour de force de resistência, e de negação do próprio orgulho, que a personagem tem que passar, tudo enquanto luta contra os traços remanescentes da depressão. É também uma oportunidade única para os Dardenne realizarem um estudo social de profundo significado humano.

Jean-Pierre e Luc são queridinhos de longa data do cinema europeu, têm duas Palmas de Ouro na prateleira (por Rosetta e A Criança, de 1999 e 2005, respectivamente), e são conhecidos pelo estilo “câmera-na-mão” de fotografia, além do costume de não escalar grandes astros em seus filmes. O papel central que Marion desempenha em Dois Dias, Uma Noite, portanto, é uma exceção dentro da carreira dos cineastas, mas é uma exceção mais do que acertada – difícil pensar em outra atriz sendo capaz de interpretar Sandra com tamanha vulnerabilidade, transparência absoluta de emoções e uma linguagem corporal que expressa de costas mais do que muitas atuações seriam capazes em pleno close-up. Há algo nos olhos da atriz francesa, vencedora do Oscar por Piaf, que legitima o constante bravado de Sandra, que rejeita os sentimentos de pena do marido e de vários de seus colegas de trabalho, mas há também o retrato de uma mulher verdadeiramente em pedaços, lutando contra uma força muito maior que ela para se recompor.

Conduzida pela câmera delicada e íntima dos Dardenne, Marion é o corpo e a alma de Dois Dias, Uma Noite (e poucas vezes essa frase tão batida foi usada com tanta justiça): ela nos leva por uma jornada que tem muito a mostrar a cada parada pelo caminho. O roteiro assinado pelos dois irmãos cineastas colore uma ampla gama de reações e emoções ao passar por cada uma das pessoas que Sandra visita, documenta cada encontro com uma tonalidade diferente e parece querer nos mostrar o quanto a maneira como os outros nos veem pesa nos meandros da nossa vida. Citar qualquer uma dessas cenas seria estragar o ponto de Dois Dias, Uma Noite, a constante expectativa na qual a estrutura da história nos deixa, a honestidade brutal e (ao mesmo tempo) sutil com a qual o filme observa cada personagem, sem cair em maniqueísmos fáceis e falsos moralismos.

Cheio de momentos poderosos, o filme dos Dardenne passa sua mensagem com a quietude e a pouca pretensão que é marca indelével do cinema francês. Retratando uma realidade dura e intransponível, que não pode ser salva por atos heroicos ou superações magníficas que provam o espírito humano acima de qualquer provação, Dois Dias, Uma Noite é muito menos uma fábula moral (como facilmente poderia ser, nas mãos de roteiristas menos inteligentes) e muito mais uma reafirmação humanista. Quer nos lembrar que a força da vida, essa incansável vontade de continuar em frente que é justamente o que não nos mantem inertes na cama todas as manhãs de dias úteis, vem pura e simplesmente do ato de lutar por ela.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Dois Dias, Uma Noite (Deux Jours, Une Nuit, Bélgica/França/Itália, 2014)
Direção e roteiro: Jean-Pierre e Luc Dardenne
Elenco: Marion Cotillard, Fabrizio Rongione, Catherine Salée
95 minutos

7 de jan. de 2015

Person of Interest 4x11: If-Then-Else

PERSON OF INTEREST

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“If-Then-Else” é um exercício excepcional de narrativa. Um daqueles episódios de televisão que, talvez daqui há 10 ou 20 anos, servirão de exemplo para mostrar o que essa mídia é capaz de fazer, o quão criativa e interessante ela pode ser. O roteiro assinado por Denise Thé (4x04, “Brotherhood” – review) resgata uma tradição da TV que andou perdida nessa que é chamada a “era de ouro” do formato: no melhor espírito dos episódios cômicos de Arquivo X e do grande musical que Buffy armou lá pelas alturas da sexta temporada, Person of Interest subverte a própria noção de história linear e mexe com a cabeça do espectador ao contar uma parábola poderosa sobre a brutalidade e a generosidade humanas – através de uma série de simulações operadas pela Machine de Finch, que está tentando tirar nossos heróis da situação mais espinhosa na qual estiveram.

Sem perder o espírito brincalhão que adquiriu nos últimos tempos, Person nos presenteia com alguns pequenos prazeres pelo caminho, recompensando o espectador que conhece bem os personagens e é capaz de se divertir com eles tanto quanto é capaz de se emocionar ou se angustiar com seus destinos. “If-Then-Else” marca a despedida de uma personagem que se infiltrou na memória afetiva do público da série de uma maneira impressionante, e presta tributo a ela entregando à atriz que a interpreta o material mais farto que lhe é dado em tempos. Sarah Shahi, como de costume, permanece ferozmente fiel a sua definição de Shaw, e é isso que torna especial cada momento dela no episódio – muito mais pela força da atriz do que por qualquer outra coisa, a personagem se tornou uma figura indissociável da série, e o efeito de sua morte é forte o bastante para sublinhar bem o tema do episódio e representar uma tremenda ruptura no funcionamento de Person.

“If-Then-Else” é um eletrizante jogo de xadrez contra a sorte, um estudo de personagem bem consciente do que a série nos informou sobre eles até agora, e uma ousadia narrativa que se encaixa perfeitamente com o mundo criado por Person, especialmente nesse quarto ano. É um thriller de ação ultra-atual sobre a forma como nos conectamos com as pessoas, e a diferença que faz essa dimensão humana do mundo. É uma demonstração dramática e extrema de que os cálculos de uma máquina não são capazes de prever cada comportamento e variável do mundo real. E é especialmente uma thinking piece filosófica e humanista sobre a necessidade de entender que nenhuma vida é menos importante que a outra – que a verdadeira compaixão e o verdadeiro sentimento não admitem a existência de “coadjuvantes” ou “protagonistas”.

Em pleno meio caminho de seu quarto ano, Person of Interest vira o tabuleiro de cabeça para baixo e deixa as peças caírem no chão mais uma vez, incitando o caos emocional que com certeza preencherá a segunda metade da temporada. E mostrando que, espatifados no asfalto, o peão e a rainha parecem exatamente iguais.

Notinhas adicionais:

  • Eu NÃO estou brincando: a televisão americana pode se preparar para 2015, porque ainda estamos em 08 de Janeiro e “If-Then-Else” acabou de se tornar o episódio a ser batido.
  • É preciso dar parabéns ao diretor Chris Fisher pela forma geniosa com a qual ele conduz essa narrativa cheia de brincadeiras conceituais, mas que ainda quer soar séria e importante no final das contas. Nem todo diretor conseguiria equilibrar esses tons, mas o trabalho do moço aqui é perfeito.
  • B’bye Shaw! We’ll miss you!

✰✰✰✰✰ (5/5)

PERSON OF INTEREST

Próximo Person of Interest: 4x12 – Control-Alt-Delete (13/01)

6 de jan. de 2015

Gotham 1x11: Rogues’ Gallery

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ATENÇÃO:  esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Rogues’ Gallery” é um dos episódios mais espertos de Gotham até hoje, e o é porque pega o espírito dos dois capítulos que o antecederam (“Harvey Dent” e “Lovecraft” – aqui) e vira-o do avesso para entregar algo ainda mais interessante. É como se, no curto espaço de tempo do holiday break, a série da FOX tivesse se dado conta que, agora que já estabeleceu as regras do mundo em que se localiza, precisa se tornar mais íntima daqueles que o povoam. A 11ª entrada da temporada nos leva para dentro do ostentoso portão de ferro do Arkham, para perto das negociações de bastidores da máfia, e para a motivação mais íntima dos seus personagens – e o resultado é um episódio brilhante.

A roteirista estreante Sue Chung é um talento a ser observado nas próximas temporadas de televisão, assinando um script bem-amarrado, com senso temático perfeitamente cristalizado e a noção de que Gotham precisa brincar com o kitsch para funcionar. Aqui, somos apresentados à bizarra coleção de criminosos insanos do Arkham enquanto acompanhamos os atribulados primeiros dias de Jim na instituição, marcados por uma sequência inexplicável de crimes caracterizados pela condução clandestina de terapias de eletrochoque que deixam vários dos pacientes em estados vegetativos. O administrador do Asylum, interpretado por gosto por Isiah Whitlock Jr. (Veep) garante que, mesmo com os terríveis problemas do local, as tais sessões de terapia não estão sendo conduzidas sob sua autorização.

A trilha-sonora e a fotografia brilham em “Rogues’ Gallery” enquanto somos familiarizados com o ambiente nada convidativo do Arkham, uma reflexão estourada da metrópole aos pedaços que foi a protagonista da primeira metade da temporada. Essa parte central da trama funciona largamente graças aos esforços sempre muito bem-vindos da série de construir seu mundo com riqueza de detalhes e comunicação direta com clichês e convenções dos quadrinhos e do gênero policial. Ben McKenzie continua sendo um centro forte na qual Gotham pode se apoiar, e a entrada de Morena Baccarin como uma personagem familiar aos fãs das HQs é muito bem-vinda – ela traz uma presença feminina não-vilanesca que foge dos clichês amontoados na personagem de Barbara, e cuja química com McKenzie é imediatamente identificável.

Enquanto temos um gosto do que é ver Gotham City por trás das fachadas deterioradas das suas ruas, também somos presenteados com uma eficiente exploração dos personagens de Robin Lord Taylor (Pinguim) e Drew Powell (Butch). Nosso gângster manco preferido é preso ao tentar agir à revelia de seu empregador, o chefão do crime Sal Maroni, e a atuação de Lord Taylor fala mais alto do que um episódio todo focado no personagem conseguiria: o Pinguim de Gotham é movido pela ira e a engenhosidade escorregadia de alguém que passou a vida sendo “a smart monkey; but a monkey”. Ao mesmo tempo, Butch é confrontado com a possibilidade levar vantagem caso decida se voltar contra Fish e se alinhar com outro dos subordinados de Falcone – Powell interpreta esse dilema moral da forma fria que o roteiro lhe exige, estabelecendo o personagem como uma força a ser respeitada na definição da direção em que a trama de Gotham vai seguir.

O mais bacana, no entanto, é que mesmo em meio a todo esse turbilhão de acontecimentos, Gotham ainda arranja tempo para construir um tipo deliciosamente insano como o Jack Gruber de Christopher Heyerdahl (conhecido do grande público como o Marcus de Crepúsculo) para movimentar a trama dessa e das próximas semanas. O ator claramente se diverte no exercício de devorar cenários que é esse personagem, e o espectador não consegue evitar de se divertir junto. Uma ótima história de mafiosos, um brilhante retrato de Gotham City, uma parábola sobre justiça centrada em um protagonista marcante, e uma das horas de televisão mais divertidas que você vai passar nessa temporada – bem-vindos de volta a Gotham.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo Gotham: 1x12 – What the Little Bird Told Him (19/01)