Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

17 de jun. de 2011

Wild Fashion #3 – Make-up do inverno

gabi

Esse mês me cansei de falar de roupas, acho que vocês já tiveram as dicas básicas do inverno no último post. Então esse mês eu vou falar sobre o make, um toque INDISPENSÁVEL pro dia a dia da mulher, não é?

Apesar de ser fanática pelos olhos, hoje optei por dar atenção aos lábios. Afinal, fiquei encantada com a tendência lançada por Louis Vuitton. Foco nos desfiles, a marca deu total atenção e cuidado aos lábios, eles reluziram aos holofotes, literalmente.  Tudo por conta do escesso de gloss.

A tendência do inverno nas cores de batom são os tons de vermelho e vinho e muito, mas muito, muito gloss MESMO. Incolor, é claro. E nada de deixar os olhos apagados por conta do excesso de atenção aos lábios, viu? Essa historinha de que “não se pode realçar lábios e olhos ao mesmo tempo” caiu.

Nesse inverno nós podemos e devemos marcar os olhos também. As sombras nos tons de marrom, roxo e verde ganham um destaque maior. Vale também o delineador bem marcado, e o rímel.

Mês que vem vai rolar um post sobre penteados inspirados na itwoman Sarah Jessica Parker. Não percam! Beijos, fashionistas!

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Louis Vuitton manteve viva essa particularidade especial francesa que faz confundir, habilidosamente, tradição e inovação, fazendo do luxo uma herança cultural, e a expressão final da refinada arte de viver”

(do periódico asiático China Daily)

13 de jun. de 2011

Sobre… – Cada um com seu guru

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Texto escrito, obviamente, no dia 24 de Abril.

Hoje é Páscoa. Na tradição católica, o dia em que Jesus Cristo renasceu dos mortos, três dias após a crucificação. Crenças particulares a parte, impossível negar que a fé católica continua forte mundo afora. A presença de incríveis 100 mil fiéis na Praça de São Pedro para a celebração do Papa Bento XVI, que encerrou oficialmente as celebrações da Semana Santa, é prova dessa força da Igreja romana em arrastar multidões com base na tradição ideológica que já conta 2011 anos de idade.

Hoje em dia, no entanto, a hegemonia é passado, e numa dessas ironias do destino, essa Páscoa marcou também a morte simbólica do líder religioso indiano Sthya Sai Baba, aos 84 anos, que desde os 13, quando se declarou a reencarnação de um antigo guru hindu, viveu uma vida que só é incontestável, mesmo, nas obras de caridade realizadas com as doações de seguidores do que muita gente achava ser puro charlatanismo. Pensando bem, o quão diferente da história da fé católica é a trajetória de Baba? Guardadas as devidas proporções a mesma mistura de incredulidade e fé que terminou em algum lugar bom para a humanidade.

Acreditar quase sempre vale a pena, como nos lembrou a morte de Norio Ohga, um ex-músico que mudou o mundo ao acreditar que a Nona Sinfonia de Beethoven (75 minutos justos) poderia caber, toda, em um único disco compacto. Em plena década de 1970, era algo tão absurdo quanto reencarnação ou ressurreição. O resultado da crença de Ohga é a Sony, criadora do CD e, hoje, a maior empresa de entretenimento do mundo.

Itália, Índia, Japão. E do lado de cá, acreditamos em quê? Ah, sim, no “voto de protesto” que não serve para nada a não ser para piorar a situação contra a qual se protesta. Nos EUA, agora acreditam em Donald Trump, disparando como possível candidato republicado as eleições de 2012. Ele é contra o controle de armas, contra o aborto, e defende que, por não ter nascido em solo americano, Barack Obama não poderia ter sido eleito a presidência.

Enfim, cada um com o guru que merece.

guru 2 The Apprentice Season 3

Eu vi um relatório ontem. Há tanto petróleo, e no mundo inteiro, que eles não sabem para onde despachá-lo. E a Arábia Saudita diz, ‘Oh, há petróleo demais’. Eles – eles voltaram ontem! Você viu o relatório? Eles querem reduzir a produção de petróleo. Você acha que eles são nossos amigos? Eles não são nossos amigos”

(Donald Trump bota medo… em quem teme o retorno do “estilo George W. Bush” de política externa americana)

10 de jun. de 2011

Cumprirei, por Caio Coletti

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Mais uma noite. Mais erros, mais talvezes, mais dúvidas, mais escolhas que a vida me obriga a fazer. E eu, como sempre, as faço da pior forma possível. Nego a emoção, escondo a lágrima e renego o sorriso. E ainda penso que sei o que estou fazendo. Pobre de mim! Acumulo mais pontos negativos pelo trajeto, tropeço em mais pedras pelo caminho (e eu posso não cair literalmente, mas minha alma vai ao chão com todas elas) do que minha mente é capaz de aceitar. E meu coração? Ele palpita pelo movimento, pelo impulso, pelo amor. Pelo que mais ele palpitaria? Por você. E aqui estou eu, uma paixão a cada minuto, um sentimento confuso a cada dia, lhe dizendo que te amo. Mas de que forma? Não me pergunte.

O tempo dirá, replica a multidão. E se ele não disser, o que devo fazer? Eu e minha mania de fazer perguntas cujas respostas não posso ter. Talvez, se tivesse, a vida não fosse tão bonita quanto ela é. E sei que é. Porque embora não saiba o que você significa para mim, sei o efeito que você me causa. Seus olhos são luz, seu toque é eletricidade, seu sorriso é imensidão. Seu perfume é doçura, sua voz é beleza, e a batida de seu coração é a música que eu morreria para compor. Mas isso sou eu, aquele que não diz intensamente, mas sente. E escreve. Porque o eu que mora aqui, nas linhas e entre os espaços das palavras, preenchendo-os com mais do que apenas significado, porque esse eu não pode existir ao seu lado? Também não me pergunte.

Ou melhor, pergunte sim. Quem sabe, se alguém me falar sem rodeios, se alguém me forçar a agir da forma certa, eu não acabe seguindo com a maré? Pergunte-me se quero, e te direi que sim. E já vai ser o esforço dos esforços te dizer essa palavra, porque minha mente me enche de dúvidas, enquanto meu coração bate em certezas. A certeza de que só posso encontrar quem sou eu, só posso saber onde estou, se estiver ao seu lado. Essa não era para ser só mais uma declaração de amor. Mas que melhor sentimento para arrumar nossa confusão do que ele, o onipotente? Ou nem tanto. Apenas forte o bastante para passar por cima das minhas muralhas e me fazer pronunciar promessas.

Abraçar-te-ei. Responder-te-ei. Amar-te-ei. Sem medo de ir além dos meus limites e não saber mais do que se trata. Sempre vai ser o que é, não o que pode ser. Não se vive o futuro, senão o presente. Deixe-me aqui sendo óbvio. Mas espere, para ver se não cumprirei.

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Retrocedeu apalpando as paredes, até que se viu de volta ao apartamento. Bateu a porta com força. Lá embaixo, ele ouvia. Mais parecia o som de uma sepultura, fechando-se.”

(Ray Bradbury em “Promessas, Promessas”)

6 de jun. de 2011

Outro dia, por Caio Coletti

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Sabe quando você se cansa? É aquele dia em que você acorda e demora demais para assimilar o que vem pela frente, e o que vem depois, e depois, e depois. Não porque é tudo muito diferente, muito excitante; é que simplesmente os olhos da fantasia andam tão sedutores que a realidade não é mais o bastante. Aquele dia em que o sonho parece continuar por uns breves instantes depois que você abre os olhos, e vai aos poucos sumindo, como a neblina some quando você se aproxima. Só para te engolir. E daí você se levanta, e segue a mesma rotina que aprendeu a seguir, religiosamente, desde um tempo que nem se lembra. Você vai para os mesmos lugares, vê as mesmas pessoas, respira o mesmo ar e observa as mesmas coisas. Você não aprende nada de novo, nem encontra nada que provoque algo além de um sorriso fátuo e sem sentido quando termina. Não é pessimismo, não é depressão. É só... o vazio.

O tempo passa, você vai se deixando levar por tudo o que você precisa fazer, que você quer fazer, que sua carne deseja fazer. Você deixa passar oportunidades, faz escolhas erradas e se repreende por ser tão falho que é quase humano. Até que você chega em casa e, bom, não muda muita coisa. Você já está cansado do seu computador, da sua estante de livros, da sua dor de cabeça, das suas músicas e do seu universo particular. Você já está cansado de ligar a TV e ver os mesmos programas, rir dos mesmos personagens. Você está cansado até de se emocionar com o que passa por seus olhos e chega aos seus ouvidos. Você está cansado de ter que abrir a mente para pesquisar e saber direito de cada acontecimento ao seu redor. Você está cansado de tentar evitar a ignorância, a estupidez, o egoísmo, a má-educação. Você está cansado de seguir regras. E você está cansado da sociedade.

Mas você não conhece outra coisa. Você faz pose, você cria a si mesmo a cada dia que sai de casa e, às vezes, mesmo entre as quatro paredes, você continua atuando. Você finge que não se importa, que nada te abala, que o mundo não te atinge e que você nunca está cansado de ser golpeado no peito e não cair. Ou melhor, cair e se levantar de novo, fingindo solenemente, como você tão bem sabe fazer, que ninguém te viu no chão. Mas daí, quando você conclui que está cansado de tudo isso, você para e olha para uma folha de papel em branco, ou para o ponto que pisca no editor de texto vazio (e eles também olham para você, os amigos escritores sabem do que eu estou falando). E você percebe que só quando você encher aquele alvo de flechas em forma de letras, linhas, parágrafos, sentimentos e alma que você vai deixar de estar cansado.

E então você pensa: porque só sou completo aqui? E você se cansa de escrever. Fim.

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Minha vida me quer escritor, e então escrevo. Não é por escolha: é íntima ordem de comando. Sinto em mim uma violência subterrânea, violência que só vem a tona no ato de escrever. Escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente minha própria vida. Eu vou me acumulando, me acumulando, me acumulando… até que não caibo em mim e estouro em palavras”

(Clarice Lispector em “Um Sopro de Vida”)

3 de jun. de 2011

Born This Way – O que é pop?

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***** (5/5)

Pense em música pop. Qual é a referência que vem ao topo de sua mente? Se você já passou dos 30, talvez seja a da fase Like a Virgin de Madonna, ou mesmo os cabelos laranjas de Cyndi Lauper em seu primeiro e mais celebrado álbum, She’s So Unusual. Passou a adolescência nos anos 1990? Eu aposto forte que sua mente passeou pela pose de Lolita de Britney Spears em Oops! I Did it Again, pelas viagens mais psicodélicas e sérias de Madonna (ela de novo!) na fase Music/American Life, e talvez até pelas dancinhas coordenadas do Backstreet Boys (ou das Spice Girls; a diferença é qual, mesmo?). A música pop veio antes dos anos 1980, na verdade, mas isso só vem ao caso se você quiser entrar nos méritos de como os Beatles praticamente “criaram” a celebridade moderna ou de como David Bowie foi o primeiro grande artista pop da nossa era. De uma forma ou de outra, desde que surgiu, a música pop foi um Coringa, um rótulo para definir o que fugia de rótulos. Na tentativa desesperada de classificar o que é pop, os anos 2000 e Kylie Minogue, com seu Fever, nos deram uma noção confortável: tudo o que é cria de estúdio, tudo o que é eletrônico, é pop! Bom, eu e Lady Gaga estamos aqui para dizer que não é bem por aí.

Para fugir da hipocrisia, é claro que o Born This Way, como álbum, se aproveita muito dessa porta aberta pela popstar australiana no começo do nosso século. Mas os sintetizadores não são aqui, e a bem da verdade nunca foram, a essência da música de Gaga. Mesmo quando o The Fame surgiu estourando de decadência dance européia e contagiou o mundo inteiro com uma noção de música disco e pop com pegada que parecia morta e enterrada, não era “sobre sexo e champagne”, como ela própria canta em Electric Chapel. E já que surgiu a citação, comecemos justamente por essa faixa. Pode ser surpresa pra muita gente ver uma canção de Lady Gaga abrir com um riff de guitarra reminiscente do heavy-metal, para em seguida desaguar na batida “sledgehammer” na melhor tradição do techno que permeia todo o álbum. Adicione aí sinos de Igreja ressonantes e uma queda de tom operada por grand-piano que você tem a primeira, e talvez uma das melhores de uma série de mescla de referências que Gaga realiza por todo o Born This Way.

E isso é, de certa forma, um resgate do que realmente significa música pop. Outro dos maiores exemplos é Americano, em que a Lady Gaga espertamente poliglota que permeia esse álbum começa a aparecer. Com versos em espanhol e em inglês, a faixa põe pra brigar a batida incessante que é a marca registrada do álbum, mais toques sutis de sintetizadores, com uma banda de mariachis e um violão que é pura referência espanhola. É esse tipo de operação, de submergir completamente em um estilo sem por isso se enquadrar nele, para manter a mente aberta para qualquer elemento que possa e deva se encaixar na música para aperfeiçoar a experiência de sua compreensão, que faz do artista pop um artista pop. Liricamente, também, Americano é um excelente exemplo de como Gaga carrega seu Born This Way. Parte homenagem aos fãs latinos (“I have fought for/ I will fight for/How I love you”), parte fuga da perseguição da fama (“Don’t you try to catch me/ Don’t you try to catch me/ No, no, no”), a faixa deixa transparecer que esse segundo álbum apresenta uma Lady Gaga simultaneamente mais aberta e mais auto-protegida, mas acima de qualquer coisa honesta com sua própria personalidade.

Inclusive com seus próprios erros. É por isso que, tão mal-compreendida como foi, Judas se destaca do álbum mesmo não sendo a faixa mais musicalmente empolgante dele. A verdade é que a canção é tudo o que se espera de uma parceria de Gaga com o compositor e produtor RedOne, que trabalhou com ela por boa parte da fase The Fame/The Fame Monster. E talvez tenha sido por isso que as comparações com Bad Romance, o próprio paradigma dessa parceria, tenham sido tão fortes. Mas, ainda assim, mesmo com a competência de ambos, Judas não é surpreendente em momento algum, causando impacto pelo seu conteúdo lírico forte, talvez o mais forte de todo o álbum. O breakdown com claras influências do dubstep dispara o que podem muito bem ser os versos mais pessoais e incríveis que Gaga já compôs, e quando ela se declara corajosamente “in love with Judas”, ela está perguntando, sem rodeio nenhum, “quem de vocês pode me jogar uma pedra?”. Claro, com o clipe tudo fica mais evidente.

A segunda incidência do simbolismo religioso pesado no álbum é ainda mais impressionante, por incrível que pareça. Não é exagero dizer que Bloody Mary pode ser a mensagem mais primária e mais forte que Gaga jamais ousou escrever. Se colocando no papel de Maria Madalena uma vez mais, a cantora não poderia ser mais clara do que é no refrão, onde chama os haters para a briga e declara solenemente, com aquela a voz meio sedada que faz parte do repertório conhecido de seus vocais, que “quando vocês se forem eu vou continuar sendo a Maria Sangrenta”. É a afirmação sólida de quem tem a certeza de ser o mais autêntica possível, e certas sinceridades são meio impossíveis de se derrubar. Talvez seja essa a grande qualidade do Born This Way, afinal: todas as 14 faixas soam como expressões honestas de uma artista que se coloca por completo em sua arte, sem pudores, sem covardias e sem se render ao que um estúdio pode achar “digerível”. Musicalmente falando, Bloody Mary é uma das gemas downtempo que um álbum acelerado como esse ainda é capaz de nos trazer.

É a mesma sensação hipnótica que uma canção como Heavy Metal Lover é capaz de trazer. Por pura ironia ou não, a faixa preferida do cantor Adam Lambert contraria seu título e se torna uma das incidências mais pop de todo o álbum. É um triunfo de produção, sejamos sinceros, e o refrão é outra demonstração de incrível criatividade e excelência de Gaga como compositora melódica. A magia pop do produtor Fernando Garibay, cujo envolvimento no álbum foi criticado, acaba fazendo muito bem a Lady Gaga como artista e popstar. Heavy Metal Lover não é novidade liricamente, mas é aquele tipo de pastiche pop que soa culpadamente delicioso. Ainda bem, aliás, porque a faixa é sucessora do único grande desastre do álbum, a inflada (no pior sentido) Highway Unicorn (Road to Love), uma faixa que (e eu tentei não usar essa expressão) passa dos limites. Sim, a própria essência da música de Lady Gaga é extrapolada, mas essa faixa em si é simplesmente informação demais para momento e envolvimento de menos.

E, observe bem, Gaga brinca com a beira do precipício pop em todo o Born This Way. Ou melhor, ela pula dele com a cara e a coragem, enfrentando as consequências e, de alguma forma genial, fazendo quase tudo funcionar no meio do caminho. Bad Kids é uma besteirinha que soa, de longe, como Summerboy, faixa do The Fame, mas carrega uma mensagem que vai agradar tanto os fãs da cantora que se torna simplesmente acima de qualquer suspeita. Government Hooker abre com Gaga fazendo uma pequena incursão pela ópera, falando italiano, para em seguida deixar rolar uma das batidas mais criativas do álbum. A letra fala sobre ser o que o público quiser dela, ou seja, da própria essência da celebridade contemporânea com a qual Lady Gaga tem, notadamente, uma relação de amor e ódio. Conta com Gaga cantando como nunca e tem a instrumentação mais absurda e groovy de todo álbum. Enfim, como boa parte do Born This Way, essa quarta faixa só está aqui para nos dar respostas temporárias para uma personalidade que não pode ser, nunca, completamente entendida.

Porque, por mais incrível que isso possa soar, Lady Gaga é a mais humana das popstars do nosso tempo, e o é por um único fato: nós nunca vamos saber, de verdade, quem ela é por inteiro. Assim como nós nunca vamos nos conhecer por completo, que dirá quem nos cerca! Tudo que é compreensível demais, confortável demais, é fingimento. E, se vocês me permitem a incursão pessoal, isso me incomoda profundamente. Com todas as suas perucas e absurdos, Gaga ainda é capaz de nos dar uma balada maravilhosa, com influências do glam-rock e um franco toque de country em You And I. Pode também nos dar o sabor de duas grandes canções de libertação, ainda que nenhuma das duas seja exatamente exemplar musicalmente, em Born This Way e especialmente na inevitavelmente arrepiante Hair (com sua linha de piano doce e seu refrão feito para ser um hino).

E, por fim, nos deixa no “topo da glória” em Edge of Glory. Que glória, vocês me perguntam, há em solos de saxofone e ser odiada por meio mundo? A glória de ser inteiramente verdadeira consigo mesma e com quem a ouve. A glória não de fazer música, mas de ser música. E se isso incomoda alguém, bom, “wear an ear condom next time”.

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“…I’m gonna dance, dance, dance/ With my hands, hands, hands/ Above my head, head, head/ Like Jesus said!/ I’m gonna dance, dance, dance/ With my hands, hands, hands/ Above my head, dance together/ Forgive him before he’s dead, because…

I won’t cry for you!/ I won’t crucify the things you do/ I won’t cry for you, see/ When you’re gone I’ll still be Bloody Mary…”

(Lady Gaga em “Bloody Mary”)

1 de jun. de 2011

Dez bons álbuns do primeiro semestre (Parte II)

lista musik I primeira

Entre os medalhões e as revelações que todo mundo passou a conhecer nos últimos meses, a parte de baixo do rol desses cinco primeiros meses do ano era esperada. O mesmo não acontece, acreditem em mim, com essa fatia de cima. Tudo bem, vocês já devem ter advinhado quem tomou o primeiro posto, mas e quanto a um ator britânico regravando clássicos do blues, um dos gêneros mais americanos por excelência? E quanto aos veteranos do assim chamado alt-rock que gravam uma obra atualíssima e muito consistente? Que tal experimentar a “cachinhos dourados” do pop rock americano, um gênero pelo qual, os leitores assíduos sabem, O Anagrama preza muito? Ah, sim, e há sempre a musa adolescente que cresceu e começa a aparecer como compositora. Sempre bom se surpressander, não é? Que venham mais sete meses cheios de surpresas por aí.

lista albuns 2011 !

5ª posiçãoGoodbye Lullaby (Avril Lavigne)

Vai haver chiados pela presença tanto de Avril quanto desse disco em particular na lista. Mas a verdade é que o Goodbye Lullaby é a expressão mais autêntica da princesa do pop-punk, dando ao ouvinte um belo primeiro aperitivo da Avril compositora e produtora. Em duas faixas, ela faz todo o trabalho sozinha, e não é nem pouco por acaso que “4 Real” e “Goodbye” são a dupla de canções que soam mais alto emocionalmente para o ouvinte. Claro, há partes da Avril cria de produtor aqui, especialmente no início do álbum, recheado com as composições do mago pop Max Martin. De uma forma ou de outra, ela se mostra mais aqui, e o que dá para ver é bem interessante.

Os singles: What The HellSmile

Ouça também: Wish You Were Here - Everybody Hurts - 4 Real - Goodbye

lista albuns 2011 !!

4ª posição – The Way it Was (Parachute)

Eles são descritos como a “cachinhos dourados” do pop rock americano. A comparação é tosca. O Parachute é uma banda pop rock das boas, com o balanço urbano e o baixo funky do Maroon 5, boas letras para a média do gênero e experimentação rock como poucos conjuntos conseguem fazer hoje em dia. Esse segundo álbum de estúdio, além de um passo a frente musicalmente, se tornou também um sucesso maior do que seu antecessor, o que indica um pouco de bom gosto no ouvinte jovem contemporâneo. Porque, se for para falar sobre relacionamentos frustrados, que seja com a diversão nem um pouco culpada de bandas como o Parachute.

Os singles: Something to Believe In - Kiss Me Slowly - You and Me

Ouça também: White Dress - Halfway

lista albuns 2011 !!!

3ª posição – Collapse Into Now (R.E.M.)

Experiência faz a diferença, não dá para negar. Especialmente se você é Michael Stipe, vocalista cuja voz grave e letras absurdamente poéticas são apenas algumas das qualidades do R.E.M. Na ativa há mais de duas décadas, os americanos são classificados como alternative rock, mas a bem da verdade criaram um gênero todo próprio ao longo da carreira. Ouvir um disco do R.E.M. é buscar reconhecer a linguagem e a expressão da banda e de Stipe, e isso se mostra tanto de maneira bruta, desnudada, na fúria poética de “Blue”, que fecha esse décimo quinto álbum, quanto na melancolia agridoce e complexa de “Oh My Heart” e '”Walk it Back”.

Os singles: Mine Smells Like HoneyÜberlin - Oh My Heart

Ouça também: Every Day is Yours to Win - Walk it Back - Blue

lista albuns 2011 !!!!

2ª posição – Let Them Talk (Hugh Laurie)

Álbuns-solo de atores que se arriscam no território musical costumam ser uma tortura. Não que eles cantem mal, ou sejam mal-produzidos. Acontece que o ego fala mais alto, como era de esperar daqueles que são pagos para ficar em frente a uma câmera, no final das contas. Exemplo típico é Robert Downey Jr, uma voz incrível que realizou uma egotrip lamentável em The Futurist. Mas não estamos falando de qualquer um aqui: Hugh Laurie é tão bom ator quanto homem focado e músico de primeira, e o Let Them Talk é um álbum que reedita blues tradicionais com a elegância e a competência que só poderia vir de um britânico (seu sotaque ianque, aliás, é perfeito).

 Os singles: You Don't Know My Mind - Guess I'm a Fool

Ouça também: After You've GoneBaby Please Make a Change

lista albuns 2011 !!!!!

1ª posiçãoBorn This Way (Lady Gaga)

Sou suspeito para falar, mas também não vou dizer muito. Várias audições depois de ser lançado no dia 23 de Maio, ainda não é possível formar uma opinião de fato embasada e sólida sobre o Born This Way. O que já ficou claro é que Gaga não está brincando com o destino da própria carreira, e liberou um álbum recheado de criações incríveis, que só fazem confirmar a reputação de sua autora como a maior compositora pop do nosso século. A temática, a mensagem, o DNA musical e as infinitas influências que recaem sobre o álbum são matéria para muito mais do que uma notinha. E só essa complexidade já faz do Born This Way o melhor álbum do ano até agora.

Os singles: Born This WayJudas - The Edge of Glory

Ouça também: Government HookerHair - Bloody Mary - Yoü and I

lista albuns 2011 !!!!!!lista albuns 2011 !!!!!!!

Sometimes I think my baby is too good to die/ Sometimes I think she could be buried alive/ Baby you don’t know, you don’t know my mind/ When you see me laughing, laughing just to keep from crying”

(Hugh Laurie em “You Don’t Know My Mind”)

Follow me!/ Don’t be such a holy fool/ Follow me!/ I need something more from you/ It’s not about sex or champagne/ You holy fool”

(Lady Gaga em “Electric Chapel”)