Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

31 de dez. de 2011

Bebé Ribeiro #5 – Se joga!

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Depois de artigos belíssimos dos meus amigos Gabis e Guilherme sobre como se vestir na grande noite de ano novo, sinto-me numa responsabilidade TREMENDA de fechar a nossa semana de moda tão poderosa e glamourosa, e por falar nisso...

Chega fim de ano, a mulherada só quer saber de brilho, escolhendo, na maioria das vezes, um dos tecidos mais glamourosos e iluminados: o paetê! A palavra paetê vem do francês pailleté e quer dizer coberto com lantejoulas. Nesse verão, os paetês têm sido muito evidenciados, não só no reveillon, como era muito comum aparecer, mas também em formaturas e noite de natal. Esse tecido está aparecendo e conquistando o corpitcho das mulheres que não dispensam bom gosto, beleza e tendência. Porém, tudo em exagero é um tremendo perigo, pois não é nem um pouco PHYNO você passar a noite de ano novo parecendo uma amostra ambulante da árvore de natal que estava na casa da sua tia avó. Para BRILHAR é necessário ter muito bom senso na hora da produção.

As combinações podem ser as mais variadas: vale usar top sexy bordado com jeans boyfriend e sandálias de saltos altos e finos ou ainda vestido mais soltinho com mix de pedrarias e escarpins - basta saber a ocasião ideal para cada visual.

Uma balada com os amigos pede estilo e ousadia! Faça mix de texturas, tons e bijoux à altura de tanta nobreza. Agora, se a noite de reveillon for um jantar na casa do namorado, dê preferência a roupas mais comportadas. Se for um vestido inteiro bordado, opte por sapatos discretos e baixos (que tal uma sapatilha bem fofa? Ouunt!). Quem tem medo de ousar muito pode usar um colete de paetês com uma blusa bem básica e um shorts destroyed. Outra opção também para brilhar, mas fazendo a linha meiga, é usar sapatilhas de paetês, aliando essa a um vestidinho sequinho e, de preferência, sem bordados.

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Acima de todo poder oferecido pelo paetê, o conforto deve aparecer em primeiro lugar. Se você acha que esse tipo de tecido “pinica” seu corpo, nem pense então em usar, porque não há nada mais last week do que ficar sofrendo por causa de roupa só pra fazer o estilo I’m a Diva. Há outras opções para brilhar: make, sapatos, clutches, esmaltes, enfim, vou usar etecéteras eternas. Mesmo tendo a purpurina a seu alcance, NUNCA esqueça do mais importante : ser você mesma. Não há nada mais elegante do que originalidade e toque pessoal em qualquer coisa que você faça e vista, então, sempre pense em seu estilo. Insegurança só faz apagar o brilho natural que há dentro de você, mesmo estando com O VESTIDO ou com A MAQUIAGEM.

Queria finalizar esse artigo com uma mensagem bem fofa e que fizesse você aí, que está lendo, enxugar uma lágrima que acabou de cair desse rostinho lindo, mas não sou muito boa nisso. Espero que 2012 seja ANOS-LUZ melhor que esse ano que está acabando, e que você NUNCA deixe de sonhar, sorrir, gritar, pular, dançar e VIVER. Faça sua parte aí que pode ter certeza que eu, Gabis, Guigs, Caio e toda equipe d’O Anagrama estaremos fazendo com todo o amor possível nossos artigos que são mais do que meros parágrafos, são lições de vida.

Beijinhos e SE JOGA!

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“To live content with small means; to seek elegance  rather than luxury, and refinement rather than fashion; to be worthy, not respectable, and wealthy, not rich; to listen to stars and birds, babes and sages, with open heart; to study hard; to think quietly, act frankly, talkgently, awai occasions, hurry never; in a word, to let the spiritual, unbidden and unconscious, grow up through the common – this is my symphony”

(William Ellery Channing)

28 de dez. de 2011

GuiAndroid #5–A chave para o que usar no Ano Novo, seja na balada ou na praia

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Enquanto temos 1 ano para pensar no que usar no Natal, acabamos nos esquecendo de pensar sobre o que usar no Ano Novo. Essa dúvida cruel que nos encurrala num período de 6 dias e nos faz correr para as lojas nos fazendo recorrer a todas as peças de cor branca que vemos pela frente.

E eu estou aqui para isso, pensar por vocês na hora de compor o look da noite de Ano Novo. Muitas pessoas costumam passar a comemoração na praia, mas mesmo se você estiver em um ambiente mais fechado, as dicas a seguir vão funcionar em ambos os locais, afinal o Brasil é um país climatizado pelo k-peta e independente do local em que você estiver, vai estar quente. Por isso, vestir jaquetas, vestidos justos, calças apertadas e afins é sentença de morte por hiperventilação. De certo modo vou falar do meu estilo próprio neste artigo, que é uma mistura de preppy com navy, mas vou focar no navy, pois creio que é o mais ideal para o clima brasileiro.

Então vamos começar com o básico, calça e camisa. A dica vale para os dois: girls & boys, optem por bermudas e shorts eles dão mais mobilidade caso você esteja na praia, principalmente os que estão saindo atualmente, são mais curtos, um pouco acima do joelho. A cor, no que diz respeito a calças e shorts, é do seu critério, mas tente sempre cores neutras, o branco, cinza, preto para shorts, caqui e o jeans; já para calças tenha o bom senso de usar branco ou cinza, afinal, o preto vai te fazer querer arrancar as calças em público e se você não estiver na praia e usando sunga vai ser ridículo. E meninas saias estão liberadas, mas curtas, no máximo até a altura do joelho, e tentem saias confortáveis e leves, nada de balonês ou tecidos grossos de mais. A cintura alta com uma camisa para dentro seria o ideal no caso das saias e as cores, todas estão liberadas menos jeans para evitar a morte por cafonice. Desde que vocês não pesem na parte de cima.

Obs: se você ignorar o que eu disse sobre as saias e se enfiar em uma minissaia jeans, comece a reparar, as pessoas irão olhar, a menos que você esteja indo a um baile funk, se você estiver, ignore esse artigo por completo, não vai ajudar em nada.

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Praticidade e conforto, é disso o que um look de ano novo precisa. E como esse feriado imediatamente nos remete a festas, badalação e banho de espumante, você não vai querer uma camisa pela qual você torrou milhares de reais toda manchada, ou uma blusa ou blazer te impedindo de erguer os braços e gritar "Feliz ano novo". Então, esqueça as mangas compridas nesse dia, nem chegue perto delas, evite-as. Opte por camisas, camisetas, polos com tecidos leves todas em cores neutras ou vivas (laranja, vermelho, dourado, prateado, amarelo, para contrastar com uma calça ou uma bermuda jeans azul, branca ou cinza, maybe caqui, lisas ou com estampas discretas, listras são uma boa opção também, não podendo esquecer que o navy está em alta.

Para os sapatos e demais acessórios, pense na praticidade, mas sem perder a elegância, afinal não é uma caminhada no calçadão da praia e também não é mais uma balada para se acabar. Para os homens é sempre mais fácil: relógio que orne com o que você está usando, não precisa ser exatamente da mesma cor, mas não opte por relógios dourados ou prateados a menos que o seu look seja todo branco, caso a festa seja durante o dia os óculos de sol são indispensáveis. Opte pelo modelo aviador: é simples, discreto, elegante e combina com qualquer estilo, seja ele preppy, navy ou o que quer que você esteja vestindo.

Para as mulheres, colares compridos em metal que aumentem a silhueta do seu corpo são uma boa pedida, pingentes simples dão um ar bem clean desde que sejam compridos na altura do busto. Pulseiras que combinem com o look são uma boa pedida, anéis devem ser usados com rigor, tanto em uma festa quanto na praia, você corre o risco de perdê-los. Clutchs para festas são uma ótima escolha, desde que sejam neutras ou ornem com o seu look e para a praia, uma que seja grande o suficiente para você por uma muda extra de roupa, pente, e perfume. Assim você pode dar um mergulho, se refrescar e voltar para a loucura que é o Ano Novo na praia.

Por fim, comece o seu New Year com estilo, mas seguindo o clichê da moda: conforto e praticidade. Use e abuse do navy na praia e na balada troque a camisa por uma polo e pronto, virou preppy. Dois estilos que se cruzam por sua versatilidade e que se encaixam em praticamente toda ocasião e ambiente.

Um feliz ano novo e um incrível 2012 para todos!

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“Uma das coisas mais importantes para mim é tornar as coisas reais, não ter modelos de aparência impecável ou roupas perfeitas demais. Tudo precisa ter um olhar distorcido, porque é assim que as pessoas vivem.”

(Tommy Hilfiger)

26 de dez. de 2011

Wild Fashion #7 – Looks de ano novo

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Olá meus fashionistas de plantão, como estão vocês ? Ganharam muitos presentes de natal ? Eu espero que sim, e que eles tenham sido tão fashion quanto a coluna desse mês.

Bom, no fim de ano sempre fica aquela dúvida de o que vestir, não é mesmo?

As mulheres se apegando as tradições dos significado das cores, e os homens vestindo a primeira roupa que vêem a frente.

Ser supersticioso vale e muito no fim de ano, pra dar aquela sensação de começar o ano bem. Mas também vale começar o ano bem arrumadinho e cheirosinho, não é mesmo? Afinal, um dos mitos de ano novo diz que você fica o ano inteiro como você começa. Então vamos trabalhar e começar o ano maravilhosamente elegantes?

Muitas pessoas passam o ano novo na praia, não há nada como o sal do mar pra tirar os agouros do passado e começar o ano de alma limpa, não é mesmo? Nesse caso temos muito mais liberdade com as peças.

gabi moda 3As mulheres podem e devem optar por shorts e vestidos, mas lembrando que nada de vestido agarrado e nem shorts super curto (a menos que com o shorts você esteja usando uma bata ou blusa larga super maravilhosa, como veremos abaixo). Digo para não optarem por peças que ‘marcam’ pois o ambiente de praia exige mobilidade, para que você possa nadar no mar de roupa a meia noite e depois corra rapidamente a areia para ver a queima de fogos.

Para os homens a pegada da camisa e da bermuda é sempre a melhor escolha pra festas de fim de ano, tanto na praia quanto em um ambiente fechado.

Para quem vai passar o ano novo na balada ou em alguma festa, vale usar e abusar do comprimento (pra menos). Mulheres podem e devem usar vestidos mais curtos, principalmente aquelas que tem as pernas compridas e finas. Não há nada de vulgar. Mas claro que vale lembrar que devemos ser coerentes: ou comprimento, ou decote. Os vestidos que são mais acinturados estão super in, vale usar.

Já as cores, as benditas cores. Mulheres e homes, saibam, não se pode ter tudo na vida. Então optem pela cor mais importante, e que entre em harmonia com o restante do seu look. ANO NOVO NÃO É CARNAVAL , mais de três cores no mesmo look é MUITO perigoso.

Pra não haver erro optem por cores como o dourado, e claro o eterno e insubstituível branco.

Nos pés , é claro que vale lembrar, que se você estiver na praia uma Havaiana bem estilizada não é cafona, e na balada ou em uma festa os saltos com brilho que estão super in entre as novas coleções são uma excelente pedida assim como as sapatilhas, afinal a gente pula pra caramba no ano novo para comemorar, não é?

A maquiagem permite abusos sim, muito gliter de preferência dourado ou uma sombra forte casando com o restante do look são as melhores pedidas. Na boca, de preferência algo leve sempre, a estação pede cores quentes como laranja e roxo nos lábios mas sempre em tons fracos, os fortes morreram no inverno.

Bom, é isso, espero que tenham gostado e que vocês apreveitem MUITO o ano novo, porque é uma festa SUPER fashion... Beijos e até ano que vem liindinhos.

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“Nós pensamos em moda nos termos de marcas chiques. Louis Vuitton, Fendi, Versace: esses são alguns dos templos da moda. Fashionistas gastam seu dinheiro em marcas famosas. Mas isso não significa que a pessoa normal, na rua, não tem senso de moda. Moda é mais sobre você do que sobre sua marca preferida. Materialismo é passado. Moda é estilo pessoal. Então vá adiante e crie sua própria assinatura”

(Nili Zahar)

24 de dez. de 2011

Luis Lima #1 – Clarice Lispector e a Epifania

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A estética literária da ruptura como forma de encontro consigo mesmo.

Clarice Lispector, uma das mais importantes artistas do modernismo brasileiro, que escreveu inúmeros livros e foi responsável pelas mais profundas análises ontológicas, é um mito. Afirmo sem receios que essa mulher foi transfigurada em uma personagem fictícia e o que resta dela são vestígios de uma voz que balbucia aqui e acolá frases impactantes de gosto popular. Os adolescentes que se dizem apaixonados gostam de citá-la; os pseudo-intelectuais, ansiosos pela incursão em filosofias existencialistas, também a citam, ousando, às vezes, parafraseá-la; algumas pessoas taxam-na de feminista; outras, de complicada; ainda há aqueles que concordam que “liberdade é pouco” e que também acham que aquilo a que eles aspiram “ainda não tem nome”, mas, sobretudo, o mais importante é saber que não devemos nos preocupar “em entender, porque viver ultrapassa qualquer entendimento”.

Cabe mais uma vez a ênfase: a figura tão popular é uma personagem que, à mercê de uma vasta digitalização de conteúdo literário de crítica social, acabou sujando a imagem da grande escritora que Clarice Lispector foi. Curioso que ninguém verdadeiramente a lê - são apenas frases soltas, arrancadas de alguns livros bons e outros nem tão bons assim, que apenas servem para disseminar a cultura daqueles que não a lêem, mas que jamais confessariam isso. Clarice é como um deus - não se pode senão adorá-la. Tão popular e tão idolatrada que está, que não se pode remar contra a maré e dizer alto e com segurança “não gosto dela”. Se isso for dito, virão afirmações torrenciais e agressivas que deliberarão que você não gosta porque não reconhece o que é bom na literatura, ignorando aqui que o bom - qual o belo, o feio, o torpe, o incômodo - é relativo, ou então que não gosta porque não entende a estética dela. E provavelmente as pessoas que estarão com as cinco pedras na mão são justamente aquelas que, tendo lido A paixão segundo G.H., entenderam apenas uma a cada quatro páginas - mas isso também não se confessa, né?

Finalizando essa breve explanação a respeito da figura mítica - aquela que é protagonista do aplicativo “Conselhos de Clarice Lispector”, no facebook -, me empenho agora na análise da escritora verdadeira, a ucraniana de nome Haia Lispector, nascida em 1920, que veio para o Brasil ainda criança, onde lhe foi dado o nome abrasileirado “Clarice”, e que, desde a infância, em Pernambuco, nas redações escolares, escrevia textos [que se distinguiam] por registrar sensações em vez de fatos. Iniciou uma carreira de jornalista, trabalhando para a Agência Nacional e recebeu o prêmio Graça Aranha com Perto do coração selvagem, considerado o melhor romance de 1943, livro no qual ela trabalhou bastante a relação professor-aluno, inspirada pelos tempos de colégio. Pode-se dizer sucintamente que sua obra percorre várias temáticas, mas todas elas estão associadas a uma abordagem ontológica - ou seja, um estudo sobre o ser humano - e não em enfoques psicanalíticos, psicológicos ou religiosos, ainda que, a respeito disso, deve-se abrir um parêntese a fim de explicitar que o termo “epifania” - objeto desse texto - está relacionado à religião, mas também significa, segundo definição do dicionário, “apreensão, geralmente inesperada, do significado de algo”.

É importante que, antes de adentrar na análise prática de dois contos nos quais a epifania se verifica, posicionar a escritora dentro de um contexto literário. À época do lançamento do livro, a literatura nacional – bem como as artes de um modo geral – passava por um momento de reformulação na sua estrutura básica. Antes, os escritores davam prioridade à formalidade da obra, apresentando-a já completa ao leitor; à época de Clarice, que pertence à escola modernista, era importante mostrar também o processo de criação do escritor, já que ele é uma figura importante no discurso da narrativa – as impressões do escritor são igualmente importantes, porque elas mostram a perspectiva dele em relação à história que ele escreve. No caso de Clarice, talvez essas características sejam mais notáveis no romance A hora da estrela (1976), lançando apenas um ano antes de sua morte. Mais especificamente, ela pertence à terceira fase modernista e sua primeira publicação, Perto do coração selvagem (1943) foge à temática regionalista que parecia dominar a estética literária do momento e traz a problemática existencial num estilo fragmentado e elíptico, o que definitivamente atrai a atenção de estudiosos, como Alfredo Bosi, Antonio Candido, Walnice Galvão e Gilda de Melo Souza, que se dedicaram a análise da obra dessa escritora.

Vamos, por fim, à análise da epifania em dois contos, sendo eles “O amor” e “A imitação da rosa”, estando ambos reunidos no livro Laços de família (1960). Cabe previamente apontar que em todos a epifania acontece: primeiro, ela surge associada a algum sentimento para então ocasionar a ruptura interna da personagem, tornando-a suscetível a uma perspectiva que ela jamais tivera e, por conseguinte, embora sua vida siga aparentemente igual, a personagem foi modificada, uma vez que agora compreende a existência de uma nova visão de mundo. Vale apontar também que as personagens dos contos são mulheres e, a tempo, acrescento a informação de que a maioria do trabalho clariceano tem como protagonistas mulheres, mas a incursão pelo universo feminino jamais a impediu de discorrer ontologicamente, e, ainda, de tornar suas personagens bastantes densas psicologicamente como forma de se contrapor à instauração do pensamento de que à típica dona de casa do século XX não cabe inteligência e perspicácia. Feito o esclarecimento, cabe que conheçamos as histórias de Ana e Laura

Ana, de “O amor”, é uma dona de casa ocupada com os seus afazeres domésticos: preparar comida, limpar a casa, auxiliar os filhos com seus deveres escolares etc. Numa tarde, tendo acabado os ovos, ela vai repô-los e, ao voltar do supermercado, estando no bonde, vê um homem cego a mascar chicletes. A naturalidade dele a assusta e a primeira reação que ela tem é de nojo - como pode um cego tão à vontade mascando a goma sem nem sequer poder vê-la? E analisá-lo a choca, porque, afinal, como pode ela, uma mulher bem instruída, educada para ser polida, sentir nojo de uma figura humana que, não fosse a deficiência, seria exatamente igual a ela? Os pensamentos a perturbam, obrigando-a a percorrer um caminho de auto-análise também - qual o homem cego, ela também vê pouco, já que nem sequer consegue reter-se às características humanas, uma vez que ao homem cabe a solidariedade e não pejo e, como ela mesma conclui, ela está tão cega quanto ele, mas sua visão é tampada por um véu invisível, uma deficiência que não nasceu com ela nem foi causa por um acidente; foi ela mesma que se permitiu cegar-se.

Laura, por sua vez, é outra dona de casa de “A imitação da rosa” a cuja vida, diferentemente da de Ana, não se associam nenhumas atividades domésticas. A empregada faz todo o serviço e o que resta a ela é organizar a sua casa de modo impessoal, uma vez que ela acredita que a impessoalidade é o mais bonito. Como vai receber um casal de amigos à noite para o jantar, ela decide separar as rosas do vaso sobre a sala de visitas e entregá-la a Carlota, sua melhor amiga. Antes de começar o processo de manutenção das plantas, ela se senta e as observa: em sua vida vazia, talvez fossem as rosáceas a única coisa unicamente sua. Toma-as nas mãos e dedica-se a elas, moldando-as cuidadosamente, uma vez que agora existe uma proximidade irreparável entre elas. E entregar, agora, as plantas à amiga, não seria tirar-se de si um pedaço e dar à outra? E não havia agora tudo se tornado pessoal e não teria ela gostado disso?

Há ainda outros onze contos do mesmo livro nos quais um acontecimento no cotidiano é responsável pela reestruturação das vidas de alguns personagens, como, por exemplo, uma mulher enraivecida que decide encontrar o ódio em “O búfalo”, um homem cujos instintos primitivos são despertados pela visão da galinha sobre a mesa na ceia em “Uma galinha”, além de outros livros que poderiam caber aqui de exemplo, como é o caso de A paixão segundo G.H. Mas como o nosso foco é justamente “O Amor” e “A imitação da rosa”, é necessário apontar as distinções entre as epifanias que ocorrem nesses contos.

É evidente que ambas as protagonistas se deparam com um questionamento acerca das suas características humanas e a epifania delas acontece devido à divergência de seus caminhos em relação às expectativas do que é ser humano. Ana afasta-se da solidariedade, enxerga o outro como inferior, sente por ele nojo - assim, distancia-se da humanidade e somente se reencontra quando percebe a aproximação sua em relação ao objeto com o qual se compara, no caso, o homem cego. Laura, em contrapartida, percebe-se já desde o começo desumanizada, uma vez que adota a impessoalidade como estilo de vida e vive confortavelmente no vazio de sentimentos - está em oposição à figura humana, pois. Seu momento de reflexão surge a partir do preenchimento de seu vazio, uma vez que o contato com as rosas - as únicas coisas das quais ela realmente se sente próxima - começa a torná-la efetivamente uma pessoa, logo, dotada da capacidade de sentir. Percebemos que há ponto de semelhança e ponto de diferença entre as personagens, sendo que elas confluem no que diz sentido à sua desumanização e então consciência disso, e divergem no que tange ao modo como suas epifanias acontecem: enquanto à Ana acontece um efeito de comparação e, por fim, aproximação (ela e o cego são, afinal, muito parecidos), à Laura acontece a infiltração do sentimento e, em breve, o preenchimento de sua languidez existencial. Podemos sugerir aqui que a ruptura é necessária para a re-integração do ser com ele mesmo. Curioso notar que suas vidas “voltam ao normal” depois desses acontecimentos: Ana chega a sua casa e volta às suas atividades domésticas enquanto Laura simplesmente opta por entregar as flores à sua amiga, como planejado antes. Mas, a partir de seus momentos apocalípticos - leia-se “momento de revelação” -, ambas tornaram-se figuras em transição, a caminho de outro campo de compreensão, aquele no qual podem, respectivamente, compreender a naturalidade das coisas e ser livre para sentir.

Como percebemos, o trabalho de Clarice se torna bastante notável quando se verifica a fronteira indefinível entre os elementos ontológicos como a vida e a morte, Deus e o homem, tudo e o nada, a angústia e o prazer, corpo e alma. A idéia é de que esses elementos se fundem em algum momento do cotidiano e formam um todo indivisível e isso aparece nos momentos epifânicos. Jamais podemos nos esquecer de que é importante compreender a possibilidade da epifania no elemento cotidiano, uma vez que ele é uma experiência coletiva, sugerindo implicitamente que todos estão sujeitos a essas transformações.

Enfim, espero ter podido, mesmo que brevemente e sem me aprofundar muito, mostrar que Clarice Lispector é muito mais do que a criatura indiscutivelmente sábia que permeia e assombra. Minha sugestão sincera, parafraseando a monstra do facebook, é que vocês se rendam, como ela se rendeu; mergulhem no que vocês não conhecem, como ela mergulhou - assim, que leiam um pouco da obra dela e que a conheçam muito mais, talvez gostem, talvez não; e se não gostarem, digam alto e em bom tom, de modo que talvez possamos desmistificar toda a encenação que se criou em torno dela.

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Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”

(Clarice Lispector em “A Hora da Estrela”)

22 de dez. de 2011

Projeto Labirintho, de Renan Barreto.

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por Caio Coletti 

Silent Hill, Frankenstein, Lost, Jogos Mortais… Declaradas ou não, todas essas fórmulas vêm misturadas em Projeto Labirintho, o próximo romance do meu caro amigo Renan Barreto, parceiro de longa data aqui d’O Anagrama e autor do Renan Barreto Online. Mas elas aparecem nessa mistura ao lado do toque pessoal de um escritor competente que tem uma história de fato muito intrigante para contar. No decorrer das 152 páginas do seu novo romance, Renan se mostra capaz de brincar com as influências de sua formação (de espectador, leitor e gamer) sem perder o toque pessoal e o sentimento de suspense necessário a trama, marcas registradas de um escritor com personalidade e talento incontestáveis. Para quem está por dentro do universo em que ele se situa, é uma experiência de leitura e tanto.

Talvez a parte mais interessante de se observar nesse Projeto Labirintho seja a construção intensa de personagens que o escritor empreende com seu protagonista, Harry, e o misterioso Frank, que parece o acompanhar em todos os momentos críticos da trama. Harry é um homem traumatizado por um acontecimento de sua juventude, que abandonou o sonho que o próprio pai lhe impôs para construir uma vida sem muito sentido, e vazia, como a de todos os que aparecem presos com ele nessa jornada. Katherine perdeu os pais quando criança, e se perdeu do irmão, Luan, anos mais tarde. Ricardo é um mochileiro sem teto fixo e, portanto, sem família. Nenhum dos três tem para quem voltar. Talvez por isso seja ainda mais instigante vê-los perdidos, juntos, na selva tropical, vigiados constantemente por Frank e Igor, o deformado e enlouquecido personagem inspirado no ajudante do próprio Doutor Frankenstein de Mary Shelley.

Há um trecho em particular em que Harry conversa com Frank, preso em uma cela sem portas, que sintetiza muito bem, nos diálogos diretos e no jogo de perguntas e respostas, a competência de Projeto Labirintho ao lidar com os personagens e com a complexa trama a que se propõe: sem complicar demais na escrita, Renan Barreto nos leva para um trajeto que, se não é muito tortuoso para um suspense (mas tem seus momentos apreensivos), rende 152 páginas de um brilhante entretenimento e ainda reflete, na complexidade de seus protagonistas, a vida meio vazia de todos nós, presos nesse labirintHo da vida cotidiana.

Labirinto 2 Renan_Livro

Nem todos nós estamos livres. Às vezes nossos labrint(h)os não estão lá fora, mas dentro de nós mesmos. Nos prendemos sem querer, nos libertamos sem saber. O que é ser livre, afinal?”

(Renan Barreto em “Projeto Labirintho”)

19 de dez. de 2011

Carta

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texto e imagens por iJunior

Eu sei que lhe prometi um poema, talvez porque você merecesse algo mais trabalhoso, e confesso; me neguei a escrevê-lo varias vezes, por medo do que sairia de mim. Mas relutei, e finalmente, resolvi que deveria escrever apenas palavras puras e sinceras, simples e profundas - talvez aleatórias - mostrando poucos dos muitos sentimentos, pouco de muita admiração, como uma carta, a fim de fazer com que os mesmos olhos encontrassem as mesmas palavras, antes que lágrimas tomassem o lugar da tinta, lágrimas puras dos poucos e grandes momentos em que me trouxeste felicidade.

Não seria tão fácil escrever para você, não é fácil achar palavras suficientes para descrever esse todo, esse tudo. Não é fácil se conflitar, achar que nunca conseguiria o suficiente, achar que não poderia agradar. Precisaria eu me enfrentar, relutar, mas de qualquer jeito: tentar. E por mais que não consiga escrever o que você merece, porque tenho medo de dizer de mais ou de menos, porque me importo com o que sou pra você; escreveria aqui, um leve resumo, de um pensamento desses de beira de estrada, de viagem solitária, de folk socado aos ouvidos, de leve piano, de leves sonhos e de leves lembranças.

Porque o que você é pra mim é indescritível, e só meu coração poderia dizer o que meus dedos não conseguem interpretar. Afinal, como seria eu capaz de descrever o brilho dos seus olhos à luz do sol? O passo longo, a voz doce, a simplicidade, a paz que carrega consigo, e mais complicado ainda; seu sorriso?

Como se o infinito que carrega nos olhos, deste quase impossível de se conhecer, pudesse ser transcrito. Como se o que teus cabelos ao vento cedessem o que guardam com tanta beleza, e que esta pudesse ser entendida. Como se essa maquina de fazer sorrisos pudesse ser levada a um papel. Não. Impossível. E me nego a tentar. Porque você é assim, carrega a perfeição à sua maneira, e se até seus defeitos agradam, então porque não apenas apreciar e manter-lhe assim, dentro de mim, com toda a idealização que faço sua, com todas as palavras confusas que nunca se juntam para dizer sobre você?

Porque são três horas da madrugada, e a canção de outono já faz parte dos meus ouvidos, e meus olhos já lacrimejam e se questionam a respeito de o que é que põe pessoas tão maravilhosas em nossas vidas, e do porquê destas estarem conosco. As vezes não me sinto merecedor, as vezes sinto muito sua falta, porque tenho medo de lhe perder, mesmo que apenas um pouco.

Eu sei que podem haver mil iguais a mim à sua volta. Sei que eles podem fazer tudo o que faço - ou ainda melhor - mas sei que o que foi criado dentro de um coração não pode ser comparado. E sei que carregarei sempre comigo um desejo; o da tua felicidade, seja como for ela possível.

E queira Deus que lhe mantenha tudo que você tem, desde a enorme beleza ao enorme caráter, pois mais que a benção de um, a benção de vários, pois para qualquer um, poder te admirar é um ganho. Queira Ele manter tudo que tens de bom e ainda lhe dar muito mais. Queira ele me fazer teu anjo, me permitir te guardar, pois eu sei que te amo - se não amasse, não saberia - e sei bem o quanto lhe quero bem, o quanto me importo contigo, e como é duro terminar um texto sobre você, texto este ainda sem nada, mas o pouco que pude escrever nessa madrugada neutra e sem vida, onde poucas coisas são esperança ou trazem alguma alegria, mas que de alguma forma me trazem a você.

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I’ve got an angel/ She doesn’t wear any wings/ She wears a heart that could  melt my own/ She wears a smile that could make me wanna sing”

(Jack Johnson em “Angel”)

17 de dez. de 2011

Talk That Talk – Rihanna, de cantora a ícone pop.

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**** (4/5)

É fácil, ao analisar a carreira de Rihanna, especialmente desde o Good Girl Gone Bad, de 2008, como uma orientada por decisões mercadológicas espertas, e pouco mais do que isso. É fácil também, ao perceber que o Talk That Talk é lançado cerca de um ano depois de sua última e mais definitiva coleção de inéditas, o ótimo (e absurdamente bem-sucedido) Loud, julgá-lo como um álbum apressado, com a pura intenção de vender algumas cópias a mais, produzir uma mão cheia de singles e manter a coroa de uma das majestades pop da atualidade confortavelmente pousada na cabeça da cantora barbadiana. Mas quem ouviu o Rated R, quem entendeu o Loud e quem é capaz de apreciar arte pop orientada fortemente pela personalidade de quem a faz vai perceber que, ainda que soe, sim, um pouco precipitado, esse Talk That Talk é, muito mais do que isso, um álbum urgente. E cheio de excelentes decisões.

Para começar, esse novo álbum, em parte, vai muito mais longe na missão de se aproximar do eurodance (a mesma orientação que produziu o indiscutível hit “Only Girl (In The World)”), do que aquele que o precedeu. Bom exemplo disso são “Where Have You Been” e o primeiro single, “We Found Love”, ambos com a mão do produtor e DJ britânico Calvin Harris. A segunda conta até com o nome do mesmo, creditado como participação especial. Também, pudera: a composição do single é um trabalho solo de Harris, que ainda a produz, com seus teclados e sintetizadores vindos direto do dance dos anos 90 apoiando uma boa letra que Rihanna, como em cada uma das faixas desse Talk That Talk, toma para si com paixão e personalidade notáveis. Talvez parente temática de “S&M”, “We Found Love” trascende os limites da ode suja ao sado-masoquismo (embora fale com algum prazer de um amor ruim) e cria de uma premissa pop resumida em uma única frase, no refrão, um leque de significados extremamente interessante. Rihanna deixa as suas dinfunções amorosas para trás, mas celebra o fato de ter achado esse amor em “um lugar sem esperança”.

Por outro lado, ao mesmo tempo que mergulha de cabeça nesse contexto eurodance, Rihanna também ensaia uma reaproximação do hip hop que dominava o Good Girl Gone Bad. Tal influência é claramente sentida na segunda porção do álbum, definida pela parceira com Jay-Z na canção-título, “Talk That Talk”. Disfarçada de nova “Umbrella”,  essa versão 2.0 de “What’s My Name” conta com o monotom sexy de Rihanna (um recurso que, independente de estar no repertório da cantora há tempos, ainda não carece de apelo), com um bom refrão e climatização excelente de produção, que garante três minutos de entretenimento hip hop, mas não a primazia e entrega que Rihanna é capaz de mostrar em seus melhores momentos. “Cockiness (Love It)” tampouco o faz, é verdade, mas a faixa ainda tem a considerável vantagem de ser um triunfo de criatividade. A melodia surpreende a cada quebra de ritmo, a harmonia vocal que leva a canção, junto com a batida, lembra um pouco as produções de Timbaland e, ainda mais de leve, o electroclash de artistas como Peaches. É, de novo, a alquimia de artista pop funcionando a todo vapor em um álbum de Rihanna.

No território das baladas, o Talk That Talk toma uma abordagem tão musical e tematicamente variada quanto a do Loud. “We All Want Love” é levada por um riff de guitarra derivado do melhor do indie britânico (leia-se The Kooks, Strokes), mas tem o sabor tropical que é uma das assinaturas de Rihanna, e conta com o seu carisma vocal (que não é pouco) para levar adiante melodia e letra que sugerem um hino de apelo universal cujo maior triunfo, no final das contas, é ser quase exageradamente adorável. “Farewell”, a faixa que encerra o Talk That Talk, é uma power ballad de primeira, remetendo a uma abordagem mais tradicional das longas notas de “Complicated” (mas não demonstrando tanto o desempenho vocal de Rihanna) ou mesmo a canção “Firebomb”, do Rated R. Ao cantar “Adeus, alguém vai sentir sua falta”, ela pode estar dando adeus a si mesma na encarnação perturbada que vimos no Rated R ou no escapismo imediato do Loud. Pode, também, estar dando voz aos próprios fãs, cantando que “seria ainda pior se você não tomasse a estrada”, indicando que uma mudança de direção é fundamental para manter-se fiel a si mesma. Talvez a gente vá sentir, sim, falta da Rihanna que dava voz as nossas feridas e fazia-as instrumento da própria auto-estima. Mas vê-la e ouvi-la assim, apaixonada por si mesma e por tudo o que ela se tornou, é ainda melhor.

Tudo muito interessante, mas “Drunk On Love” é, em absoluto, uma outra história. Com o sample de uma canção da banda alternativa The xx, mais a sequencia de sintetizadores inspirada no clima de “Te Amo”, é dificil no entanto não se ver completamente cativado pela interpretação mais intensa e entregue de Rihanna. Assim como ela, “Drunk on Love” é forte, decidida, de emoções primárias… mas também absurdamente vulnerável.

É esse o ponto do Talk That Talk, afinal. Seja retomando um pouquinho da inocência (na faixa de abertura, “You Da One”), mergulhando de vez no eurodance, adereçando mensagens universais que soam menos feridas e mais otimistas ou simplesmente jogando um pouco do sex game no qual ela se colocou como rainha, a Rihanna desse novo álbum está muito mais confortável para pôr sua alma para fora atrás de um microfone. E é por isso que, excelente ou apenas competente, cada faixa do Talk That Talk é tão totalmente dela. No contexto da música pop atual, Rihanna toma o lugar único daquelas que, apenas com a própria voz e personalidade tornada em arte pop, sem encenações e por vezes até fazendo da falta delas o seu maior triunfo, são capazes de cativar um público gigantesco.

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Take me away/ I wear my heart on my sleeve/ Always let love take the lead/ I may be a little naive/ You know I’m drunk on love!/ Drunk on love!/ Nothing can sober me up/ It’s all that I need” (Drunk on Love)

Suck my cockiness, lick my persuasion/ Eat my poison and swallow your pride/ Down down/ Place my wants and needs over your resistance/ And then you come around/ You come around/ You come around” (Cockiness)

15 de dez. de 2011

Quinze bons álbuns do segundo semestre (Parte III de III)

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5ª posição – The Night The Sun Came Up (Dev)

Este álbum envolve a deliciosa voz doce e suave da cantora de musica eletrônica DEV (que ficou muito conhecida pela musica “Like A G6”) com batidas eletrônicas bem únicas e envolventes, estas que juntam uma pegada de R&B com instrumentos clássicos como piano e violino que produzem uma ótima composição musical, destas que nos fazem sentir vontade de dançar ou apenas curtir os momentos, como na musica “Shadows”. Destaque pessoal à musica “Me” finalizada com um excelente solo de violino que em poucos segundos une-se com a batida que torna a musica impressionantemente contagiante.”
Destaque: Me
(por @iJuunior)

Se sua memória de Dev se limita a “Like a G6”, você não sabe o que está perdendo. The Night the Sun Came Up, esse primeiro álbum da cantora que explodiu cantando com o Far East Movement, é um pouco do groove do hit, sim, mas é muito mais do que isso. Melódicas e perfeitas para a voz doce que tem, as composições de Dev conseguem ser ao mesmo tempo dançantes e encantadoras. A produção do grupo The Cataracs no álbum todo garante uma identidade musical forte, uma abordagem uniforme, mas ao mesmo tempo não impede que haja uma versatilidade de visões da mesma. Há irreverência em “Lightspeed”, tristeza em “Shadows”, surpresas em “Getaway”, e até o momento dance-sem-se-preocupar, “In The Dark”.

Os singles: Bass Down Low - In The Dark

Ouça também: Getaway - Lightspeed - Dancing Shoes - Shadows

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4ª posição – LP1 (Joss Stone)

“LP1 é quinto álbum de Joss Stone. O mais incrível deste álbum que ela além de estar na composição de todas as faixas, também produziu o mesmo e foi lançado por um selo próprio, a gravadora "Stone'd". Ela só não se superou nesse álbum, porque realmente estava muito ocupada com os projetos da sua banda SuperHeavy, que além dessa linda mulher com uma voz explosiva conta com a partipação de Mick Jagger, Dave Stewart, Damian Marley e A. R Rahman. Karma, Somehow e Cutting the Breeze são as faixas que mais se destacam no álbum. Arrisco a dizer que se não fosse Adele, Joss Stone seria a melhor coisa do soul atual.”
Destaque:
Cutting The Breeze
(por @junior_ruiz)

Entre baladas próximas ao pop rock (fruto da parceria com David A. Stewart, companheiro de SuperHeavy e ex-Eurythmics) e canções que realmente fazem jus a sua raiz na música soul, Joss Stone constrói esse seu quinto álbum como uma artista consolidada na sua forma de arte, que sabe criar dentro dela e usar os recursos que tem (muitos, por sinal) para montar mais uma coleção de inéditas próxima do impecável. A grande qualidade do som da inglesa continua sendo a voz rasgada, de interpretação visceral e alcance invejável, mas ela sabe maneirar quando precisa, e daí saem baladas lindas como “Cry Myself to Sleep” e “Drive All Night”. Claro, continua sendo um prazer estourar com ela em “Karma” e “Don’t Start Lying to Me Now”.

Os singles: Somehow - Karma

Ouça também: Don't Start Lying to Me Now - Cry Myself to Sleep - Landlord

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3ª posição – Hold on ‘Til The Night (Greyson Chance)

“Desde o cover de Paparazzi no YouTube, Greyson demonstrou ser uma pequena grande estrela em infinita ascensão. No álbum Hold On Til The Night nossa estrela de apenas 14 anos exibe todo o potencial de sua voz com vocais exóticos e únicos até de mais, acompanhados em baladas envolventes e contemporâneas. Em um álbum com 11 músicas, 7 delas tem grande potencial para divulgação, com 7 possíveis sucessos. A música “Cheyenne” é a que mais se destaca, a letra em combinação com a voz de Greyson e a melodia se tornam mágicos, uma canção de amor cantada com mais emoção impossível. Talvez Greyson Chance esteja livre da maldição do segundo albúm e este seja sua passagem para o estrelato.”
Destaque:
Cheyenne
(por @GuiAndroid)

Ver um talento com o de Greyson Chance, de meros 14 anos, ser tratado da maneira que merece é sempre um prazer. Após sua versão de “Paparazzi” estourar no programa de Ellen DeGeneres (e posteriormente no YouTube), Greyson tomou seu tempo e apareceu-nos com um álbum de aparas acertadas, que tem sua mão na composição de mais da metade das faixas e dá espaço de sobra para sua voz brilhar. Dos arranjos de cordas que embalam os singles “Unfriend You” e “Hold on ‘Til The Night” ao piano puro de “Cheyenne” e “Waiting Outside The Lines”, Greyson passeia por harmonias vocais como gente grande, e ainda mostra-se brilhante no campo da composição, habilidade mais do que notável em faixas como “Heart Like Stone”.

Os singles: Waiting Outside The Lines - Unfriend You - Hold on 'Til The Night

Ouça também: Home is in Your Eyes - Heart Like Stone

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2ª posição – Unbroken (Demi Lovato)

Demi Lovato passou por um período turbulento longe da mídia, para se tratar de problemas alimentares e bipolaridade. Voltou renovada, com seu 3º álbum agora mais voltado ao pop/R&B. Depois de gravar com John Mayer, agora é a vez de se unir a nomes como Timbaland, Missy Elliot, Dev e Jason Derulo. Sua voz se impõe em faixas mais tristes ou românticas, mas também deixa sua marca em sons feitos diretamente pras pistas de dança. Um bem sucedido 'comeback' para um nome promissor que já arranca elogios de nomes como Kelly Clarkson (com quem fez dueto recentemente), Katy Perry e Rihanna.”
Destaque:
Fix a Heart
(por @guilhermejales)

Isso pode ser um choque para algumas pessoas desatentas, mas Demi Lovato é sim uma vocalista capaz de se colocar a altura de quase qualquer risco musical que desejar correr. Nesse Unbroken, ela se afasta da imagem de estrela rocker da Disney e abre seu leque musical, deixando explícito, no caminho, o tamanho de seu potencial vocal. Ela passa pelo R&B, entregando ao menos uma faixa genial, a absurdamente criativa e maravilhosamente cantada “Lightweight”. Arrisca também um mergulho na música eletrônica, saindo-se com performances de fazer inveja a melhor amiga Selena Gomez, e com a contagiante “Give Your Heart Break”. E, como se não fosse o bastante, ainda usa seu alcance a serviço de baladas lindas como a faixa final, “For The Love of a Daughter”.

Os singles: Skyscraper

Ouça também: Lightweight - Give Your Heart a Break - For The Love of a Daughter

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1ª posição – Talk That Talk (Rihanna)

Particularmente me surpreendo com a Rihanna à cada novo trabalho que ela lança e com o Talk That Talk não está sendo diferente, acho louca essa capacidade dela em se superar e renovar sua imagem, sempre tendo algo muito particular em sua música, bacana é que ela acompanha tendências sem deixar de imprimir sua marca, vai fazer barulho com esse álbum.”
Destaque: Talk That Talk
(por @EvandroSaid)

Sim, ela foi precipitada. Sim, Talk That Talk não é um álbum cuidadosamente acabado. Mas só é prova da significância de Rihanna no cenário atual, e de seu talento de produzir obras que nos dêem uma expressão do seu momento pessoal, que mesmo com todos esses defeitos, Talk That Talk ainda seja o melhor álbum do semestre. Aqui ela submerge nas influências eurodance (vide a incrível “Where Have You Been”), retorna ao melhor do seu hip hop (“Cockiness”) e produz o que pode ser a balada mais intensa do ano, e a melhor canção de sua carreira (“Drunk on Love”). Tudo isso em um álbum julgado como “apressado” e “descartável”. Eu só imagino o que ela vai ser capaz de fazer quando produzir uma obra verdadeiramente madura, então.

Os singles: We Found Love

Ouça também: Where Have You Been - Cockiness (Love It) - Drunk on Love

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24ª posição – Stronger (Kelly Clarkson) – Ouça: You Can't Win

25ª posição – Mylo Xyloto (Coldplay) – Ouça: Every Teardrop is a Waterfall

26ª posição – The Awakening (James Morrison) – Ouça: In My Dreams

27ª posição – Evanescence (Evanescence) – Ouça: The Other Side

13 de dez. de 2011

Quinze bons álbuns do segundo semestre (Parte II de III)

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10ª posição – Young Foolish Happy (Pixie Lott)

“O segundo álbum da cantora inglesa Pixie Lott trás consigo características do primeiro Turn It Up (Lounder), porém ainda bem diferente. Young Foolish Happy (Jovens Tolos Felizes) é um destes álbuns que carregam uma explosão de sentimentos da primeira à ultima faixa, cada uma podendo ser dedicada a um momento diferente, um sentimento diferente, desde àquela lembrança de um primeiro dia com alguém até o fim de tudo. Com sua voz de tonalidades ímpares, vezes meio rouca vezes afinada, merecedora de aplausos, Pixie consegue amantes de seu álbum na primeira audição. Destaque para a musica “You Win” onde, em minha opinião pessoal, a voz dela esta representada de forma mais impressionante, além de ser uma musica portadora de uma excelente letra.”
Destaque:
You Win
(por @iJuunior)

A inglesa Victoria Louise Lott foi vista como uma candidata ao trono de princesinha pop (mais pela aparência do que pela música) a época do lançamento do Turn it Up, seu álbum de estréia. A bem da verdade, seu apelo é muito mais soul do que se pode imaginar, a começar pela voz e estilo de interpretação, passando pela inteligente mescla de canções upbeat e baladas pop que é sua marca. Esse Young Foolish Happy, como o próprio título indica, favorece os momentos mais otimistas, mas não perde a qualidade soul que diferencia a música de Pixie da de, por exemplo, Katy Perry. De certa forma, aqui ela ensaia um retorno as tendências hip hop do pop do começo da nossa década, mantendo uma invejável e deliciosa consistência vocal e compositiva.

Os singles: All About Tonight - What do You Take me For?

Ouça também: Nobody Does it Better - Stevie on The Radio - Dancing on My Own

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9ª posição – Siberia (LIGHTS)

Seria um erro definir este album como apenas pop eletrônico comum. O álbum Siberia, segundo da cantora Lights, traz uma batida eletrônica corrosiva, viciante e envolvente acompanhado de uma voz doce e delicada. Este consegue envolver essa sonoridade forte com musicas que trazem consigo um sentimentalismo que o torna lindo e nos traz a uma catarse perfeita. O álbum é desses em que uma única audição nunca é suficiente. O primeiro single, “Toes” é viciante e bom para qualquer momento. Destaque à musica “Banner” que descreve bem o que foi dito a respeito dele embora seja uma das musicas mais melancólicas do álbum.”
Destaque:
Banner
(por @iJuunior)

Definir Siberia em rótulos como synthpop, indie pop, new wave e dubstep não é só inútil: é também muito equivocado. Nas 15 faixas desse seu segundo álbum de estúdio, a cantora e compositora LIGHTS molda para si um universo tão particular que as próprias referências começam a se confundir. A faixa-título ecoa The Postal Service (ou, para os leigos, Owl City) por todos os lados. “Toes” é um single tão improvável quanto brilhantemente composto. “Cactus in The Valley” coloca para funcionar um minimalismo que faz bem a linda melodia que tem. Perto do final, “Flux and Flow” coloca a canadense como a porta-voz do futuro da música eletrônica. E tudo fecha maravilhosamente com a colossal e intrumental “Day One”.

Os singles: Toes

Ouça também: Siberia - Peace Sign - Cactus in The Valley - Flux and Flow - Day One

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8ª posição – Birdy (Birdy)

“Primeramente, se você é um sentimental de coração mole ou não gosta de musicas que tenham letras que vão lembrar de desilusões, evite a Jasmine. Birdy mostra que idade não importa quando se tem talento, com uma voz apaixonante (leia-se potente tambem), aliado ao seu dom de tocar piano. Sendo assim penso que não existe alma que não se comova com “Without a Word”. OK, a tracklist do álbum é baseada em covers de clássicos; porém “Without a Word” é angustiante com o sofrimento da partida, que se torna linda da sua forma. Apenas essa musica me faz esquecer o incrivel cover de “Skinny Love”, e mostra para todos haters que ela não é somente mais uma, e seu talento ainda vai calar a boca de muitas pessoas.”
Destaque:
Without a Word
(por @Caio_bob)

Com 15 anos e uma voz que desmente facilmente sua idade, a britânica Jasmine Van Den Bogaerde ainda é uma compositora em formação, e mesmo assim é impressionante o que ela consegue fazer na única canção original (“Without a Word”) desse disco de estreia composto de covers de artistas indie como The xx e The Postal Service. A rendição do clássico do duo de indie eletrônica, “The District Sleeps Alone Tonight” é, aliás, a prova do incrível potencial que a garota encerra em sua voz. Discretamente impressionante, tocando piano com quase tanta maestria quanto abusa do seu alcance, Birdy é um prodígio que não pode e não deve sumir dos nossos olhos tão cedo. Birdy, o álbum, é um passo modesto para o tamanho do seu talento, mas impressionante para os ouvidos.

Os singles: Skinny Love - Shelter - People Help The People

Ouça também: The District Sleeps Alone Tonight - Terrible Love

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7ª posição – Biophilia (Björk)

Biophillia consegue ser calmo e super agitado ao mesmo tempo. Com tema natural, algumas musicas me agradam, outras também. De primeira não gostei do álbum, mas com o tempo fui ouvindo faixa por faixa e me apaixonando cada vez mais. Hoje já até sei algumas musicas de cor, da letra as batidas. Gostei muito do álbum em todos os aspectos. Acho a Björk uma cantora e compositora fantástica. Ela realmente nasceu para isso. Sabe me encantar e encantar muitos outros de olhos fechados. Daria 5 estrelas para Biophillia.”
Destaque:
Crystalline
(por @EVERYBODYKILLS)

A coisa mais cruel que se pode fazer com uma artista como Björk é tentar entender suas escolhas como se não fossem opções claramente subjetivas de uma compositora, cantora e produtora muito capaz de pisar fora de sua área de conforto. Trata-se, claro, de uma escolha muito inteligente: nenhum artista sobrevive em evidência por mais de 15 anos (Debut é de 1993) fazendo mais do mesmo. E mesmo que os melhores momentos desse Biophilia ainda sejam os em que ela passeia pelo seu território eletrônico-experimental (vide as batidas corrosivas, os sopros e “Tesla coil”s de “Thunderbolt”), e ainda que quase nada aqui se compare a artista enérgica que Björk um dia foi, ela ainda tem competência de sobra para produzir um álbum musicalmente belíssimo.

Os singles: CosmogonyVirusMoon 

Ouça também: Thunderbolt - Sacrifice - Mutual Core

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6ª posição – Cinderella’s Eyes (Nicola Roberts)

“Defino este álbum como único em qualquer sentido. De sonoridade ímpar acompanhada de uma voz também incomparável - a da cantora Nicola Roberts, ex Girls Aloud - o álbum carrega consigo musicas para qualquer momento, daquelas para o fim de um relacionamento àquela em que você simplesmente quer aproveitar seu dia como se fosse o ultimo. Possuí também um bom uso vocal da cantora para compor as musicas, ainda mais aquelas bem chicletes como a musica “Gladiator” que em poucas audições você já fica com “show show show show show here a go go go ....gonna tap tap tap...” na cabeça. Destaque para a musica “Take A Bite” muito envolvente e acompanhada de ótimos “La La Las”, ótima para curtir acompanhada de bons pensamentos, ou apenas para curtir o dia.”
Destaque:
Take a Bite
(por @iJuunior)

É uma preciosidade encontrar um álbum pop injetado de tamanha personalidade como é esse Cinderella’s Eyes, primeiro trabalho solo da ex-Girls Aloud Nicola Roberts. A antiga companheira de vocais de Cheryl Cole criou um som tão único quanto em sintonia com as maiores tendências do indie pop dos últimos anos. A produção é quase sempre perfeita (o único deslize do álbum é  “Fish Out of Water”, mas há de se relevar, com tantos acertos), os vocais e as letras de Roberts indicam um uso todo particular dos recursos que ela tem (e não são poucos, de fato). Aqui, melodias na melhor tradição chiclete da música pop (vide os singles “Beat of My Drum” e “Yo-Yo”) dividem espaço com trabalhos mais pessoais, como a brilhante “I”.

Os singles: Beat of My Drum - Lucky Day - Yo-Yo

Ouça também: Porcelain Heart - I - Gladiator 

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20ª posição – Junk of The Heart (The Kooks) – Ouça: Happy

21ª posição – Red (Dia Frampton)Ouça: Isabella

22ª posição – In Case You Didn’t Know (Olly Murs) – Ouça: Anwhere Else

23ª posição – Superheavy (Superheavy) – Ouça: Miracle Worker

Quinze bons álbuns do segundo semestre (Parte I de III)

listas musica

por Caio Coletti

Vamos ser honestos: 2011 foi mesmo um ano fantástico para a música. Se os bons álbuns dessa porção inicial do ano nem mesmo couberam na lista tradicional de 10 eleitos, porquê sequer tentar no segundo semestre, esse ainda mais cheio de lançamentos de qualidade? Daí a decisão de ceder espaço a quinze desses lançamentos e, ainda não sendo o bastante, citar quatro menções honrosas abaixo de cada um dos três posts que vão apresentar para vocês essa lista, todos a ser publicados ainda essa semana. Outra novidade é que cada um dos álbuns listados vai ter, além do comentário desse que vos fala, uma breve resenha de um convidado de honra. Agradeço desde já a todos que toparam o desafio.

Nessa lista, como de costume, há surpresas e artistas consagrados, presenças inesperadas e apostas certas. Eletrônica e soul. Pop, avant-garde e rock. Porque ouvir música sem preconceitos de gênero ainda é, e vai continuar sendo, uma virtude. A partir de agora, então, em contagem regressiva,  os 15 álbuns (e mais 12!) que valem a pena serem ouvidos nesse segundo semestre de 2011.

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15ª posição – Ximena Sariñana (Ximena Sariñana)

“Ximena Sariñana é uma mexicana muito atrevida, lançou seu primeiro álbum, chamado Mediocre em 2008, todo em espanhol, e foi um sucesso no seu país. Mas ela ficou realmente conhecida depois de regravar a música “Lucky” do cantor Jason Mraz em espanhol com o mesmo, que ganhou o nome de “Suerte”. Em julho de 2011 ela lançou seu segundo álbum de estúdio, inteiramente em inglês e auto-intitulado. Esse álbum é, sem exageros, uma DELÍCIA, mas comparado ao seu primeiro trabalho, ele perde alguns pontos. Quando você o coloca pra tocar, ele te cativa de uma forma que você não consegue parar enquanto não chega ao fim.”
Destaque:
Different
(por @junior_ruiz)

Mexicana, ex-atriz mirim de telenovelas em seu país, sem histórico em nenhum dos grupos pop tão populares por lá e fazendo um som muito mais denso (e cheio de referências) que os artistas dissidentes dos mesmos, Ximena Sariñana Rivera é dona de voz grave, rouca e impregnada de balanço soul, justamente o toque especial às músicas desse segundo álbum, auto-intitulado, seu primeiro trabalho em inglês. Mediocre, o anterior, era dono de uma vibe mais pop-rock, enquanto essa nova investida adota por vezes os sintetizadores (produzindo faixas memoráveis, vide “Shine Down”) e por vezes o piano quirky que lembra o primeiro álbum de Lily Allen com um toque muito pessoal, e adorável, da própria Ximena. É desse verve que o primeiro single, “Different”, bebe.

Os singles: Shine Down

Ouça também: Echo Park - Tú y Yo

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14ª posição – Ceremonials (Florence + The Machine)

Esse álbum é sem dúvida alguma um dos maiores merecedores de destaque entre os lançados este semestre/ano. Este é um álbum indiscutivelmente único. Sua sonoridade é um pouco diferente a sonoridade do primeiro álbum da banda Florence + The Machine intitulado Lungs. Este possui musicas um pouco menos agitadas como as de seu antecessor, porém nos envolve da primeira a ultima faixa. Ceremonials possuí corais, instrumentos musicais diferentes e a voz incomparável da cantora Florence Welch, que possui fôlego de sobra para cantar. O álbum provou que a banda não perdeu a pegada indie e fizeram musicas que conquistaram ainda mais fãs. Destaque para a musica “Never Let Me Go” que possui vocais excelentes, destes em que nos fazem ouvi-la sem fazer mais nada para apenas apreciar tanta arte musical.”
Destaque:
Never Let Me Go
(por @iJuunior)

Apresentada ao mundo com o álbum Lungs, a talentosíssima inglesa Florence Welch é a cabeça, a composição e a voz do Florence + The Machine, que encara agora a maldição do segundo álbum. Ceremonials é uma obra toda própria, de climatizações trabalhadas, com consideravelmente menos da energia rocker crua de faixas como “Kiss With a Fist” e mais da cuidadosa combinação de alquimia indie pop, intervenção grandiosa de corais e intensidade emocional de momentos como “Cosmic Love”. Não deixa de ser uma decisão acertada, que faz desse Ceremonials uma obra uniforme (algumas vezes até demais), que possui orientação artística clara e entrega, faixa após faixa, a visceralidade e a catarse tão boas de ouvir que aprendemos a esperar de Florence.

Os singles: What The Water Gave Me - Shake it Out - No Light, No Light

Ouça também: Seven Devils - Heartlines - Spectrum - Strangeness and Charm

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13ª posição – Gravity The Seducer (Ladytron)

Bom, como o Caio disse, Ladytron é uma banda Britânica (uma das minhas favoritas), que está com esse novo álbum Gravity The Seducer, que apesar de ser um som frio e sombrio, é leve. As coisas ficam realmente sombrias à partir da terceira música, White Gold (minha favorita), com vocais super sombrios e frios, é uma canção pesada, desesperada, com cara de que toca em pistas de “Inferninhos”(clubs estilo porões). Eu poderia ficar falando horas e horas sobre esse álbum, mas resumindo, ele é simplesmente perfeito para você ouvir em dias de inverno. Eu amei esse álbum, é um álbum quase perfeito, se não fosse a ultima faixa, Aces High, que eu achei chata e entediante.
Destaque: White Gold
(por @My_Vanity)

O Ladytron é o primeiro veterano na nossa lista: a banda britânica tem cinco gravações de estúdio lançadas desde a estreia, em 2001. Desde então, o nome Ladytron e a figura dos dois casais que a compõe se tornaram referência quando o assunto é electro e synthpop, influenciando artistas díspares como Goldfrapp e Cansei de Ser Sexy. Esse alcance do Ladytron é facilmente percebido em Gravity The Seducer: as faixas iniciais, perfeitos exemplares do que se vê hoje como a primazia do indie eletrônico, são ainda mais notáveis quando se acrescenta o fato de que o Ladytron é conhecido pela performance ao vivo sem o uso de samplers. A fatia final do álbum é a que mostra, no entanto, que o Ladytron é também uma banda avant-garde das boas.

Os singles: Ace of Hz - White Elephant - Mirage

Ouça também: Ritual - Attitude Blues - Melting Ice

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12ª posição – Crazy Clown Time (David Lynch)

Diretor, roteirista, artista plástico, guru da meditação, compositor e, agora (ufa!), cantor.  Sim, o amado e odiado David Lynch debuta, num disco solo, aos 65 anos, com o “estranho” Crazy Clown Time ou, em bom Português, A Hora do Palhaço Louco.  Vale lembrar que na cultuada Twin Peaks, Lynch já metia o seu bedelho na área musical.  Com toques de blues, música eletrônica, rock alternativo e noise rock, no melhor estilo Sonic Youth (é viagem minha?), o álbum promete dividir opiniões, assim como acontece com os filmes do cara. Destaque para a participação luxuosa de Karen O, do Yeah Yeah Yeahs, na faixa chamada Pinky’s Dream  e para a canção que dá nome ao disco - para mim, a melhor, embora a maioria do povo que converse sobre discorde de mim.”
Destaques:
Pinky's Dream - Crazy Clown Time
(por Marcelo Antunes)

Não se esperaria um álbum comum de David Lynch. O diretor de cinema conhecido por pérolas imaginativas como Eraserhead e Veludo Azul, entre outras, nos aparece aqui com seu primeiro álbum solo, e toma a direção da música eletrônica. Lynch começa nos pegando de surpresa com o apelo pop de “Pinky’s Dream”, parceria com Karen O, e “Good Day Today”, essa, escolhida como single, quase toda composta de sintetizadores e voz tratada por filtros. É uma jogada esperta, que envolve o ouvinte e, de repente, faz de uma faixa toda falada de quase oito minutos como “Strange and Unproductive Thinking” algo muito mais fácil de se ouvir. Crazy Clown Time é um trabalho atmosférico, amplo, por vezes cínico, mas uniformemente genioso (e, por isso, genial).

Os singles: Good Day Today - I Know

Ouça também: Noah's Ark - Strange and Unproductive Thinking

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11ª posição – My Life II… The Journey Continues (Act I)

Ao contrario do que muitos pensam, falar sobre o novo álbum de May J Blige é de extrema clareza, perfazendo sobre minha mente algo que exige muito menos que 6 linhas. Precisamente, basta uma palavra para sintetizar o álbum My Life II... The Journey Continues (act. 1): está sendo inacreditável. Um arranjo de estrema perfeição, melodias que soam de canções de ninar a baladas. Mary, como sempre, não deixou seu estilo quase clássico de interpretar canções.”
Destaques:
Love a Woman Mr. Wrong
(por @vinicius300)

Não se é aclamada como “a majestade do soul e do R&B”, entre outros títulos de igual lisonja, por acaso. Mary J. Blige é notável tanto na história recente do gênero quanto na atualidade, e esse My Life II é a prova cabal de que ela está lonje de ser coisa do passado. Inteligentemente, essa nova-iorquina de 40 anos realizou aqui um álbum moderno na medida certa, que deveria servir de exemplo a cantoras indecisas entre o R&B contemporâneo e o soul clássico (leia-se Jennifer Hudson). De alguma forma, com muita classe e parcimônia exemplar no uso da linda voz que tem, Blige consegue soar tão natural sob os sintetizadores de “Ain’t Nobody” quanto na balada acústica “Need Someone” ou na maravilhosa “The Living Proof”, que fecha o álbum.

O single: 25/8

Ouça também: Feel Inside - Don't Mind - Need Someone - The Living Proof

 albuns 2011 5,3albuns 2011 5,6

16ª posição – Agridoce (Agridoce) – Ouça: 20 Passos

17ª posição – Vows (Kimbra) – Ouça: Call Me

18ª posição – Destroyed. (Moby) – Ouça: The Violent Bear it Away

19ª posição – Vanbot (Vanbot) – Ouça: Make Me, Break Me

8 de dez. de 2011

Cópia Fiel (Copie Conforme, França/Itália/ Bélgica, 2010)

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por Caio Coletti

Talvez o mais celebrado de um time grande de cineastas iranianos que dominaram o circuito dos festivais europeus no século XXI, Abbas Kiarostami, como quase todos os seus conterrâneos, já teve e ainda tem problemas com a sua terra natal e a mão-de-ferro do governo de Mahmoud Ahmadinejad. A parte ruim disso são os longos períodos que, às vezes, ele e outros grandes diretores precisam passar sem filmar. A boa são produções cosmopolitas, com ritmo europeu, que deixam o cineasta a vontade para praticar sua arte. Produções como esse Cópia Fiel (tradução digna, que milagre, para o original Copie Conforme), que chega a terras brasileiras com o selo de qualidade do Festival de Cannes de 2010, que prestou homenagem a Juliette Binoche, laureando sua atuação como a dona de uma loja de antiguidades, mãe de um garoto e esposa de um marido ausente, cujo destino se cruza com o do escritor interpretado pelo barítono de ópera William Shimell em uma tarde de diálogos intensos na Toscana italiana.

Três línguas (francês, italiano e inglês) são ouvidas durante os 106 minutos de Cópia Fiel, e é absolutamente notável como Kiarostami consegue dirigir seus atores e sua mise-en-scene num sentido em que essa pluralidade toda seja apenas natural. O roteiro do próprio cineasta é um primor de diálogo, mas também de construção de dois personagens magníficos. Mesmo que se concentre tanto nas angústias da Elle de Juliette Binoche, o script encontra tempo, sem se tornar cansativo por isso, para nos dar um bom panorama do leque emocional e conceitual de alguém como o James Miller de Shimell. Cópia Fiel mantem com tal naturalidade o interesse de quem o assiste com alguma boa vontade justamente porque é capaz de percorrer uma gama de emoções, sensações e raciocínios ampla em, relativamente, pouco tempo. E, claro, pelo carisma mais do que fundamental de um elenco reduzido aos dois protagonistas.

Juliette Binoche é superlativa, e isso nem mesmo basta para descrever sua atuação. Em certa cena, num dos diálogos mais intensos com seu par, num pequeno café italiano, a atriz representa um pequeno desmoronamento emocional, uma progressiva tristeza surgindo em seu olhar, fragilidade vindo a tona na expressão de seu rosto. É o trabalho de uma atriz que conhece bem o bastante o ser humano para construir uma muralha em torno do seu personagem, e fazê-la cair, assim, em alguns segundos, com alguns olhares. Binoche é adorável, elegante, graciosa, e é fácil de identificar-se com ela. É um caso raro de carisma puro combinado com talento descomunal. Seu par em cena, William Shimell, também surpreende com uma atuação classuda, detalhista e muito resistente, mas ainda assim expressiva e acertada o bastante para seguir sempre a altura de Binoche, ainda que o filme seja indiscutivelmente dela.

Na força desses dois protagonistas, nas suas suposições filosóficas intrigantes sobre a validade da arte e da cópia, na reflexão intensa que faz das oportunidades que temos da vida, na sensibilidade com que é guiado, Cópia Fiel é cinema para quem gosta do ritmo europeu, com certeza, e para quem não se importa com toneladas de diálogo ao invés de ação fisica. Mas é também um filme que ganha-nos por, em meio a tantas nacionalidades, demonstrar que a emoção e o arrependimento humanos são, por definição, universais.

Nota: 10

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Cópia Fiel (Copie Conforme, França/Itália/Bélgica, 2010)

Escrito e dirigido por Abbas Kiarostami…

Estrelando Juliette Binoche, William Shimell…

106 minutos

5 de dez. de 2011

O Discurso do Rei (The King’s Speech, Inglaterra, 2010)

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 por Caio Coletti

2010, em quase todas as avaliações críticas, foi dado como um ano fraco para o cinema. Apesar do Festival de Cannes ter feito muito mais barulho que a edição desse ano ousou causar, a lista de indicados para o Oscar acabou decepcionando muita gente, que inclusive achou desnecessária a continuidade dada pela Academia a nomeação de 10 concorrentes ao prêmio de Melhor Filme. Por outro lado, a lista demonstrou a pluralidade da linguagem cinematográfica como poucas na história do prêmio-maior do mundo do cinema, sendo que a grande contenda do ano ficou entre pólos absurdamente opostos desse contexto: A Rede Social, de David Fincher, representa a forma de fazer cinema verborrágica, dinâmica, em que as emoções superficiais são extrapoladas, mas os dilemas profundos são protegidos pela casca quase invulnerável de uma geração que aprendeu a ser assim num mundo que gira rápido demais; esse O Discurso do Rei segue na direção oposta, expondo sem pudor as vísceras de seus personagens, mas não os fazendo sujos como o cinema independente americano. Trata-se da exposição européia da polida educação que demorona assim que se olha, um pouco mais de perto, os olhos de quem está em cena.

E que olhos, que interpretações. Seja nos cacoetes típicos de Helena Bonham-Carter, aqui um deleite crucial como a esposa praticamente perfeita do protagonista ou na deliciosa insistência e brilho de um ator magnífico (e subestimado na mesma proporção) como Geoffrey Rush, O Discurso do Rei é o grande filme que é em parte por causa de seu elenco. Não foi por acaso que deixei Colin Firth para uma sentença só dele: sua atuação é absolutamente singular, de uma complexidade impossível de mapear, demonstrando toda a insegurança de sua persona com a mesma ousadia que constrói, aos poucos, de fragilidade em fragilidade, um ser humano que qualquer um é capaz de admirar pela perseverança e pela bravura. É uma contradição, pensar que são as neuroses e gagueiras do seu Rei George VI que o fazem um protagonista tão admirável, uma figura na qual se espelhar. Mas diz-se, na vida real, que simpatizamos pela qualidade, e amamos pelo defeito. É fácil amar o personagem de Firth. Por mais temperamental, dificil, inseguro e imaturo que ele seja. Ou talvez justamente por tudo isso, e por superar tudo isso.

Se o verdadeiro herói é aquele que passa por uma transformação, o Rei George é um herói e tanto.  O roteiro de David Seidler, veterano dos filmes para TV e autor do script de O Rei e Eu, também ganhador do Oscar, sabe quando ser divertido e leve, quando pegar pesado na construção de seus personagens, e quando deixar a trama fluir pela própria grandeza de sua história real. Mas talvez sua melhor qualidade seja manter a fleuma britância e fazer de O Discurso do Rei um filme, além de grandiosamente emocional, esteticamente charmoso. Isso é trabalho dele e de Danny Cohen, o diretor de fotografia, responsável também pelas câmeras de Os Piratas do Rock, entre outros. Seu trabalho é de classicismo exemplar, mas também de certa ousadia que é essencial para a estética do filme não parece desgastada e totalmente sem sintonia com o espectador. Amparado, assim, o trabalho de Tom Hooper, conhecido pelo filme de TV Longford, na direção, é bem mais fácil. Mas sua perícia em guiar toda a hisótira e mecanismo do filme adiante é também inegável.

Independente da dança das estatuetas, O Discurso do Rei não decepciona quem, assim como este que vos fala, confia na Academia para premiar, sempre, filmes brilhantes como esse. Talvez eles nem sempre acertem aquela produção que vai ser considerada “o filme do ano” daqui a algum tempo, mas é inegável que, ao colocar para rodar um filme amparado pelo ouro do Oscar, você raramente vai se decepcionar. O Discurso do Rei tem uma ótima história pra contar, uma porção de gente talentosa para contá-la, e ainda pode nos ensinar, quem sabe, a acreditar um pouco mais em nós mesmos. E você não vai me ver negando prêmio nenhum a um filme assim.

Nota: 9,0

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O Discurso do Rei (The King’s Speech, Inglaterra, 2010)

Dirigido por Tom Hooper…

Escrito por David Seidler…

Estrelando Colin Firth, Helena Bonham-Carter, Geoffrey Rush, Derek Jacobi…

118 minutos