Review: Dirty Computer (álbum e filme)

Janelle Monáe cria a obra de arte do ano com um álbum visual espetacular - e que desafia descrições.

Os 15 melhores álbuns de 2017

Drake, Lorde e Goldfrapp são apenas três dos artistas que chegaram arrasando na nossa lista.

Review: Me Chame Pelo Seu Nome

Luca Guadagnino cria o filme mais sensual (e importante) do ano.

Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

27 de jul. de 2014

Wilfred 4x06: Patterns

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ATENÇÂO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“A verdade está fora de todos os padrões definidos” (Bruce Lee, ator americano)

Vamos ser sinceros: Wilfred sempre foi um dos grandes “Patinhos Feios” do panteão da televisão americana. Mesmo que nessa era pós-pico de popularidade o meio televisivo esteja cheio de séries estranhas e muitíssimo particulares, existe em Wilfred uma vontade ferrenha de fugir dos padrões e do que é considerado uma narrativa exemplar – uma vontade que a separa de quase todas as suas companheiras de mídia. “Patterns” é, apropriadamente, o episódio que encara isso mais de frente, e também o que advoga mais contundentemente o quanto essa abordagem desafiadora pode ser triunfal. Há apenas 4 episódios do seu final, Wilfred ainda é capaz de jogar percepções de trama para baixo, mas a grande mágica é nos fazer descobrir o quanto essa reviravolta estava bem embaixo dos nossos narizes o tempo inteiro.

No espírito de fechar arcos de personagens, a série traz de volta Bruce, o parceiro de jogos mentais de Wilfred que marcou alguns dos melhores episódios das temporadas anteriores. No entanto, sai de cena o cantor de country e ator Dwight Yoakam (que atualmente pode ser visto em Under the Dome), e entra o “irmão-do-Alec”, William Baldwin. Não é só que Wilfred teve a audácia de trocar o intérprete de um dos coadjuvantes mais marcantes da série, e sem se preocupar nem um pouco com a semelhança física (“I did a cleanse”, justifica o novo Bruce) – é que além de ter rejuvenescido uns bons 20 anos, o personagem chega também com um espírito e uma função completamente diferentes.

O episódio mostra Ryan tendo que lidar com o reaparecimento desse velho “amigo”, que demanda um último jogo de desempate com Wilfred antes do personagem-título abandonar esse tipo de atividade a pedido do próprio Ryan, que continua lutando com a perspectiva de confiar no cachorro. Paralelamente, o nosso protagonista está muito perto de desvendar o mistério de quem estava chantageando seu pai por informações sobre o Flock of the Grey Shepherd. “Patterns” é mais um episódio que mostra que Wilfred é perfeitamente capaz de equilibrar mitologia com boas piadas (o roteiro dessa semana é escrito por Ted Travelstead, um humorista nova-iorquino conhecido por sua conta no Vine) e um desenvolvimento de personagem exemplar.

No final das contas, o episódio chega a uma conclusão emocional tão importante quanto os seus anteriores: assim como a Amanda de Allison Mack testemunhou tão comoventemente na semana passada, Ryan precisa se afastar de determinadas pessoas e determinados comportamentos caso queira verdadeiramente seguir em frente. É simples, sim, mas nas atuações de Elijah Wood e Fiona Gubbelman, que construíram uma intimidade muito vulnerável durante os últimos quatro anos, é também muito tocante. Como a maioria dos Patinhos Feios, Wilfred chega perto do seu final cada vez mais se parecendo com um belo cisne.

 Observações adicionais:

- “I will never understand money”

- William Baldwin e Julie Hagerty (a mocinha de Apertem os Cintos.. O Piloto Sumiu!) iluminam o episódio com performances absolutamente ridículas e afrontosamente deliciosas.

✰✰✰✰ (4/5)

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Próximo Wilfred: 4x07 – Responsibility (30/07)

25 de jul. de 2014

Você precisa conhecer: O R&B avant-garde em constante evolução da FKA Twigs

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por Caio Coletti

“Eu amo outro, e por isso eu me odeio”. Essa citação do poeta Sir Thomas Wyatt (veja o original aqui) é usada pela britânica Tahliah Barnett na introdução do seu ainda não lançado LP1, o primeiro álbum de uma carreira que começou em 2012. Conhecida pelo pseudônimo FKA Twigs, a moça liberou o primeiro EP, em companhia de vídeos para as quatro canções, em Dezembro daquele ano, revelando o ponto alto de uma transição de dançarina de backup em vídeos de divas pop (incluindo "Price Tag", da Jessie J) a fashion icon da cultura underground, e finalmente a artista de frente. Ambição é o que não falta para ela, mas Twigs é na verdade uma garota de 26 anos a procura de aperfeiçoamento próprio.

Em entrevista ao Pitchfork, a moça falou sobre o sentido de usar a citação de Sir Wyatt como introdução para o álbum: “Eu amo a minha música, então eu quero produzir, escrever e servir minha música. Eu tive que aprender sobre equalização, programação, e tive que melhorar como pianista e baixista, tudo isso. Você pode ter grandes aspirações, mas aí você descobre que que seu nível de habilidade ou suas inseguranças estão te prendendo. Então você começa a se odiar”, disse ela. O resultado dessa paixão auto-destrutiva é uma produção musical que melhorou exponencialmente desde o EP1 (acima), aquele lançado em 2012.

Nos últimos dois anos, o som de Twigs perdeu muitas características que trazia diretamente do eletro, suavizando os timbres dos sintetizadores e realçando cada vez mais a voz de soprano da moça, que sempre tem o efeito de fazer a melodia parecer leve como uma pluma. Pouco a pouco, a britânica se distanciou de suas colegas emergentes do pop e passou a fazer um som muito próprio, misturando tendências do R&B minimalista contemporâneo com elementos eletrônicos e múltiplas camadas vocais. FKA Twigs, em suma, é uma expressão muito urgente de um novo pop avant-garde.

Isso fica muito claro no EP2 (abaixo), do ano passado, que trouxe as duas canções mais ouvidas da artista até hoje: a climática “Papi Pacify”, que veio com um polêmico e hipnotizante vídeo que representa o melhor do que Twigs pode fazer visualmente (e não é pouco, com sua produção refinada e sua expressão intensa da sensualidade agressiva); e a lindamente composta “Water Me”, que ficou famosa por realçar os traços exóticos da cantora no vídeo.

Depois de toda essa infiltração no mundo musical, Twigs parece estar pronta para encarar os holofotes do seu primeiro álbum completo, que sai no dia 12 de Agosto. Segundo ela, o tempo que passou como dançarina e cantora de um show de cabaré ajudou nesse sentido: “Agora eu me sinto destemida em relação as minhas ideias e minha performance no palco, uma vez que eu encarei plateias tão difíceis, como um cômodo cheio de homens bêbados que vieram para o cabaré porque acharam que iam ver garotas nuas. Mas quando eles chegam, eles veem artistas circenses bizarros, e eu cantando jazz, e um garoto plantando bananeiras. Então você tem que ser capaz de controlar aquela plateia, hipnotizá-los e cativá-los no palco”, ela contou ao Pitchfork.

A julgar pelas músicas e pela bizarra imagem de Twigs como uma deusa antiga que serve água para suas súditas direto do próprio dedo (sério, nós não conseguimos uma melhor descrição), que domina o vídeo de “Two Weeks” (abaixo), o primeiro do LP1, a missão está mais do que cumprida. Dado o distanciamento necessário, não é de se duvidar que no futuro olharemos para FKA Twigs e veremos a Björk da nossa geração.

Pra quem gosta de: Björk, Ellie Goulding, iamamiwhoami, The Weeknd, Drake, Chet Faker

21 de jul. de 2014

Masters of Sex, 2x01: Parallax

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A partir dessa segunda temporada, ao invés de fazer uma cobertura detalhada de cada episódio de Masters of Sex, O Anagrama vai trazer uma review por mês, de preferência de episódios marcantes para a continuidade da série, checando a quantas anda um dos nossos dramas preferidos.

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Parallax” marca uma nova era para Masters of Sex. O caro leitor pode pensar que essa frase de abertura é um pouco redundante, visto que o episódio é a estreia da segunda temporada do programa, mas não é bem assim: dificilmente uma série estreante muda tanto para o seu segundo ano quanto Masters mudou. Não é tão fácil de observar, no entanto, porque a produção acertadinha da Showtime raramente deixaria escapar algo tão díspar ao que o público já esperava. Esse primeiro capítulo de 2014 de Masters segue à risca a cartilha da sutileza que marcou a segunda metade do primeiro ano, revelando a transição de estilos apenas para quem assiste realmente de perto. “Parallax”, no entanto, ainda é o que é: a transição de Masters entre aquela série sobre a repressão sexual que buscava quietamente desconstruir os limites dos personagens e essa nova, que mostra um ambiente de muito mais diálogo e uma clareza que transpira de cada um deles.

Isso não significa que tudo são flores, só significa que os problemas virão de uma maneira muito mais confrontante, e que as “soluções” deles serão potencialmente mais cruéis. Como se absorvessem o conhecimento que o espectador agora tem deles, Bill, Virginia, Libby e cia precisam se enfrentar agora com toda a consciência de onde estão suas prioridades e seus limites. Nosso protagonista, de maneira espetacularmente trágica, precisa encarar suas falhas olho-a-olho, e Masters faz questão de lembrar o quanto Bill é um homem que deposita o peso de suas limitações nas costas de outros (a pobre Libby é, geralmente, o alvo). Por falar nela, a personagem de Caitlin FitzGerald mostra que há algo de resiliente na sua estoica missão de esposa perfeita, mas a postura e as expressões da atriz, muito pontuais como sempre, revelam que Libby aprendeu a ser muito menos fantoche e muito mais manipuladora do seu teatro social.

Os escritores de Masters (esse episódio de estreia é, obviamente, assinado pela criadora da série Michelle Ashford) também revelam que essa nova fase da trama, absurdamente mais verbal e com dilemas morais mais claros e complexos – quase contemporâneos –, é um bom ambiente para Virginia crescer como personagem. Conforme ela e Masters engatam de vez o que eles podem chamar de affair, e dessa vez sem fios e instrumentos de medição por perto, e ela sente as pressões de ter tido o seu nome em um estudo que se tornou assunto maldito na comunidade médica, Virginia se mostra muito mais afetada pela pressão social sobre seus pensamentos progressistas. Não há nada de errado na personagem ser uma mulher formidavelmente moderna como sempre foi, mas dar a ela alguma vulnerabilidade ao ambiente em que vive é uma mudança muito bem-vinda – e deixa a talentosíssima Lizzy Caplan muito mais a vontade.

Com a sua Super-Mulher não mais imune às aflições de todos os outros personagens, é claro que Masters não iria poupar os momentos de quebrar o coração estrelados por Barton e Margaret Scully. Os dois mais uma vez não estão removidos da trama, não constituem um “núcleo separado”. As breves aparições de Bill ao lado dos dois integrantes do casal garantem que isso não aconteça, e de quebra produzem ótimos diálogos. Enquanto for assim, as atuações da fabulosa Allison Janney e do igualmente espetacular Beau Bridges ainda são as forças mais poderosas que a série tem para perpetrar a sua crítica social. Como sempre, Masters tem todos os recursos para ilustrar seu retrato revoltante das muralhas imensuráveis do preconceito com os personagens à disposição. A diferença é que dessa vez, e pelas próximas 11 semanas, são as palavras deles que vão tentar transpassar essa barreira.

Observações adicionais:

- “Stella!”

- “Parallax”, a propósito, é um fenômeno ótico em que um objeto parece estar numa posição diferente para o observador de acordo com a posição deste em relação a ele. Na nossa humilde interpretação, trata-se de uma referência ao quanto o diálogo sistemático desse episódio é um contraponto perfeito para a explosão emocional e romântica do season finale passado. E ao fato de que esses dois comportamentos humanos convivem no mesmo universo. Engenhoso, não?

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

Caitlin Fitzgerald as Libby Masters in Masters of Sex (season 2, episode 1) - Photo: Michael Desmond/SHOWTIME - Photo ID: MastersofSex_201_1401

Próximo Masters of Sex: 2x02 – Kyrie Eleison (20/07)
Próximo review: 2x05 – Giants (10/08)

Wilfred 4x05: Forward

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Há muitas formas de ir em frente, mas só uma forma de permanecer parado” (Franklin D. Roosevelt, ex-presidente dos EUA)

A exemplo de “Answers”, na semana passada (leia o review aqui), “Forward” é um episódio essencial para Wilfred. Claro, era de se esperar que cada novo capítulo trouxesse um desenvolvimento importante daqui para a frente, visto que só faltam mais cinco sessões de meia hora para o final definitivo da série, mas é admirável ver como os roteiristas, especialmente Reed Agnew e Eli Jorné (responsáveis pelo episódio de estreia da temporada, e por esse), estão amarrando as pontas e direcionando a trama para um daqueles desfechos realmente satisfatórios, principalmente por realizar a promessa temática que Wilfred sempre demonstrou. Não é a toa que essa quarta temporada tem brincado tanto com a relação de (des)confiança entre Ryan e o personagem-título: ela é e sempre foi a grande piece de resistance da série.

Não só ela, é claro. Outro dos grandes temas de Wilfred é a busca pela felicidade, e a forma como ela pode tomar caminhos tortos. Não há nada que personifique melhor como às vezes a jogada mais segura é também a menos recomendada quanto os estratagemas de Wilfred para que seu amigo humano consiga alcançar algo que ele nem mesmo sabia que queria (ou precisava). “Forward” advoga com convicção a teoria de que o personagem-título da série está nesse mundo com a missão de liderar Ryan para um futuro melhor. De fato, haveria muito mais valor emocional e temático nisso do que na opção contrária, quando chegássemos aos finalmentes.

Já que Wilfred não é Wilfred sem brincadeiras conceituais, o episódio se estrutura em 90% de sua duração como um embate de versões de uma mesma história, e serve para mostrar como a percepção de Ryan, que sempre foi o Norte e o filtro da série, é limitada. Pela primeira vez vemos várias cenas e acontecimentos pelos olhos de Wilfred, e há muita diversão nisso – vemos Bear como uma mulher vestida com uma roupa sexy de urso, sem contar com a fotografia inteira em preto-e-branco nessas cenas. Fácil imaginar que haverá quem suporte que, tendo em vista que o programa sempre se concentrou no ponto de vista do personagem de Elijah Wood, isso é só mais uma evidência de que o homem-vestido-de-cachorro está completamente na sua imaginação.

No ponto em que estamos, porém, dizer que Wilfred é apenas uma alegoria imaginária de um homem perturbado diminuiria as implicações emocionais da série. Os dois últimos minutos de “Forward” trazem de volta Amanda, personagem de Allison Mack, e surpreendem o espectador ao soarem tão verdadeiros e tocantes. Há um coração muito idealista por baixo da ousadia estética de Wilfred, e as minhas suspeitas são que ele vai levar a melhor nesses capítulos derradeiros da série.

Observações adicionais:

- “Since you’re tied to a chair, and probably super bored, how was your night, Mr. Chairman of the Board?”

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo Wilfred: 4x06 – Patterns (23/07)

17 de jul. de 2014

Marshall vs. Marshall: Uma visão do último e revisionista álbum de Eminem

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por Fabio Christofoli

Eu gosto tanto de música que dificilmente me arrisco muito a falar sobre isso de forma oficial. Porém, vez ou outra um álbum me chama tanto a atenção que surge uma vontade absurda de falar dele. Peço que o leitor não espere um texto técnico e sim um texto mais voltado às emoções envolvidas ao escutar essa ou aquela música.

Ouvi Marshall Mathers LP2 pela primeira vez em dezembro do ano passado. Eu confesso que tinha certa desconfiança. Aliás, vou além. Eu não gostei na primeira vez que ouvi. E o motivo é simples. O nome do álbum me remetia a um dos melhores álbuns que escutei na vida: Marshall Mathers LP, lançado em 2000 e que projetou Eminem para o mundo.

Aquele álbum até hoje me intriga pela sua forma extremamente crua, violenta, debochada e dinâmica. É uma obra de arte, pois trouxe à tona todas as sensações sinceras do artista. Tem narrativa, tem mágoas, tem ironias, tem críticas... enfim, todas possibilidades que expandem as interpretações em torno dele. Muitos podem não concordar com o que foi dito ou não gostar da sonoridade por uma preferência pessoal, mas a maioria das pessoas não pode ignorar que ali há um artista entregue.

Portanto, é inevitável que haja uma comparação repleta de expectativa entre o MMLP1 e o MMLP2. E eu fiz imediatamente, o que foi um erro. Ao mesmo tempo em que esses álbuns são similares e complementares, eles também são completamente diferentes. A começar pelo tom. Em 2000 predominava um Eminem no auge do sucesso, cheio de raiva do seu passado e de artistas pops. Em 2013, o que vemos é um Eminem ainda sarcástico, mas bem mais maduro. Também é um Eminem firmado como grande artista, mas tentando voltar à velha forma depois de muitos dramas pessoais – melhor amigo assassinado, vício em drogas que quase resultou na sua morte, doença da mãe, fim do seu casamento (pela segunda vez com a mesma mulher).

Mas a grandeza de MMLP2 está exatamente no fato dele ter essa relação controversa com o seu homônimo. Não podemos exigir que o Eminem de hoje seja o Eminem do passado. Temos a péssima mania de achar que artistas devem parar no tempo. Não, grandes artistas evoluem, se transformam. Aliás, sempre que o Eminem se repetiu, ele foi apenas uma caricatura dele mesmo. Quem acompanha sua carreira percebe a evolução entre os melhores álbuns dele - quase como uma história.

O seu primeiro álbum, Infinite, foi um fracasso de vendas, mas apresentava um talentoso MC. O seguinte, The Slim Shady LP, assombrosamente apresentava um psicopata americano, disposto a xingar, matar e ferir a sociedade com palavras. Veio então o ápice com The Marshall Mathers LP e The Eminem Show, e a queda com Encore. A tentativa de voltar com um apelativo Relapse. E o recomeço mais humilde em Recovery. Agora é um novo passo. Talvez o mais ousado de todos. O desafio é se manter "sóbrio" e maduro sem perder a essência do seu diferencial.

Não ouso fazer uma análise música por música porque o álbum (versão Deluxe) é muito grande e seria injusto com algumas músicas que escuto pouco. Prefiro então destacar as que mais chamaram minha atenção, como faço a seguir.

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Bad Guy
Ouça

Primeira grande conexão com o MMLP1. É simplesmente a continuação de “Stan”, que em minha opinião é a melhor música do Eminem. Se vocês lembrarem, “Stan” falava sobre um fã doentio, que era tão obcecado por Slim Shady que cometeu suicídio e matou a namorada para chamar atenção do seu ídolo. Em “Bad Guy”, temos a narrativa do irmão de Stan, Mathew (o menino que finaliza o épico clipe da música). Mathew representa todos os que foram ofendidos pelo desbocado Slim Shady e busca vingança. É uma clara reflexão do rapper sobre tudo o que fala, e as consequências que isso pode ter – a mesma reflexão feita em “Stan”, mas por outro ângulo, já que Stan exaltava o lado sombrio de Slim Shady, e Mathew o abomina. Uma música boa, mas incomparável com sua antecessora. Ela é mais longa e o ritmo é mais lento, o que distancia ela das rádios, por exemplo (“Stan”, mesmo longa, estourou em 2001). Em compensação temos mais uma incrível interpretação de Eminem no versos e diversas variações de tons conforme o humor de Mathew. Ah, e se em “Stan” Eminem fez o favor de apresentar para o mundo a talentosa Dido, em “Bad Guy” ele conta com a participação de Sarah Jaffe. Aliás, ao longo do álbum todo ele faz questão de promover novas vozes femininas para a música.

Survival

Um dos grandes sons do álbum. Um pancadão motivacional, com um envolvente refrão cantado por Liz Rodrigues e com interessante participação de guitarras. Fala sobre atingir o topo, sobreviver aos desafios. Eu quando preciso enfrentar um problema sempre aumento o volume e coloco-a pra tocar. Uma curiosidade, essa música foi feita inicialmente para o jogo Call of Duty, e não para o álbum, mas, para nossa sorte, foi incluída nele.

Legacy
Ouça

Mais uma vez Eminem percorre o seu passado triste e busca o garoto que era tímido, desajeitado, rejeitado pelo pai e sofria com abusos morais da mãe. Mas aqui ele troca o tom debochado e violento por uma reflexão mais profunda e esperançosa sobre o seu legado. Mais uma voz feminina se destaca no refrão: Polina.

Berzerk
Ouça

Foi o primeiro single do álbum. Uma clara referência ao hip hop dos anos 80, a música foi produzida pelo lendário Rick Rubin. Aqui ele perde a compostura e volta a ser um pouco Slim Shady, falando sobre violência (de forma bem sutil se comparado ao passado) e provocando Khloe Kardashian, que ele carinhosamente chama de Kardashian “feia”. Gosto das variações de tom e de ver que ele ainda pode “enlouquecer” como antigamente.

Rap God

Um épico. “Rap God” é pretensiosa e extremamente irônica. É quase um freestyle onde ele dispara muitas palavras por segundo e atinge muita gente. Ela é tão grande e complexa que fica difícil destacar tudo. Há momentos interessantes onde ele provoca rappers novos. Há o resgate de uma frase cortada em MMLP1, onde ele falava das crianças assassinadas em Columbine. A frase foi cortada pela gravadora na época e aqui ele a fala como quem dissesse “quem vai cortar agora?”. Há também a velha polêmica envolvendo homossexuais – apesar de ser amigo de Elton John e ter se declarado favorável ao casamento gay, ele ainda usa a palavra “fag” que é extremamente ofensiva. Mas acho que em muitas partes da música ele é irônico com ele mesmo, como quando diz que rima como um robô ou até mesmo quando finaliza a música perguntando porque ele deveria ser um rei se ele pode ser um deus. Cabe lembrar que a música foi lançada no mesmo ano em que Kanye West lança Yeezus e Jay-Z lança Magna Carta Holy Grail. Não é de se duvidar que tudo não tenha sido uma grande provocação.

The Monster
Ouça

Muitos fãs do Eminem odiaram essa música por ela ser muito pop. Eu gostei dela por isso. É um daqueles momentos confusos que te fazem pensar “por que isso?”. Gosto da temática de “The Monster”, fala sobre Slim Shady e seus pensamentos mais sombrios. Fala não, confronta. Há um momento interessante onde ele fala sobre falar às crianças que sofrem com bullyng como ele sofreu, na vontade de dar a elas a motivação a responderem e serem mais confiantes. O que não posso discordar, ele foi meu herói em uma época difícil no colégio. O clipe complementa todo esse resgate que ele faz com suas polêmicas relacionando a esse “monstro” que tem no inconsciente. E parem de odiar a Rihanna. Eles fazem uma puta dupla!

Love Game
Ouça

Kendrick Lamar é uma das grandes promessas do rap moderno. Eu particularmente não sou tão fã dele, gosto de uma ou outra música e acho supervalorizado. Entretanto, essa é uma das melhores músicas do álbum e ele tem grande culpa nisso. “Love Game” é um show lírico! A ironia toma conta do começo ao fim e é hilária a forma que os dois lidam com relacionamentos.

Headlights

Essa sem dúvida alguma é minha música favorita do álbum. “Headlights” é extremamente emocionante, sincera e intrigante para quem acompanhou a carreira do Eminem desde o início, onde ele sempre culpou a mãe por sua infância difícil. Viciada em drogas ela abusou moralmente dele, agrediu e o expulsou de casa. Eminem sempre fez músicas pesadas contra ela – matando-a nas letras, inclusive. Porém, isso mudou há alguns anos. Deborah Mathers ficou doente e pediu perdão ao filho. Isso aconteceu, mas não midiaticamente. Em “Headlights”, Eminem traz isso à tona e demonstra que está arrependido de tudo que falou, dizendo que ama sua mãe apesar de todas as diferenças entre eles. Eu nem sabia que curtia a voz de Nate Ruess até ele me emocionar com esse refrão – principalmente na última parte, que infelizmente foi cortada no clipe...

Evil Twin
Ouça

Outro confronto com o passado. Aqui ele questiona quem ele vai provocar agora que as boy bands acabaram. Diz não ter graça provocar Justin Bieber ou a Lady Gaga, que o alvo dele agora é outro: os falsos rappers. É uma música polêmica, que se assemelha nas intenções à “The Real Slim Shady” ou “Without Me”, mas é distante em termos de ritmo. Não foi feita para tocar na rádio e sim para ver o sombrio Slim Shady atuar mais discretamente.

Beautiful Pain
Ouça

Eu quase nem dei bola pra essa música durante muito tempo, mas hoje é uma das minhas favoritas e possivelmente o próximo single. É poética e conta com um refrão vibrante cantado por Sia (mais uma voz feminina).

Não que as outras músicas sejam ruins, bem pelo contrário. Elas são bem boas. Mas são essas as que me chamam mais atenção e que escuto com mais frequência. Escuto esse álbum há 8 meses sem parar, e temo me viciar como me viciei em MMLP1, vício que dura 14 anos.

Novamente alerto que um não pode ser comparado com o outro, são momentos diferentes. Se fossem parecidos seria trágico! O grande lance de MMLP2 é ele ser uma revisão. É como se Eminem olhasse para o passado e avaliasse como ele está AGORA. E, mais uma vez, ele faz isso de um jeito genial.

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The Marshall Mathers LP 2
Lançamento:
5 de Novembro de 2013
Gravadora: Interscope
Produção: Aalias, Alex da Kid, Cardiak, DJ Khalil, Dr. Dre, DVLP, Emile, Eminem, Filthy, Frank Dukes, Frequency, Jeff Bhasker, Luis Resto, M-Phazes, Rick Rubin, S1, Sir Roams, StreetRunner
Duração: 78m13s

16 de jul. de 2014

True Detective, 1ª temporada: Um ensaio sobre riqueza narrativa e temas atemporais

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Eu prometi para mim mesmo que não escreveria sobre a primeira temporada de True Detective. Nos meses em que a HBO exibiu os oito episódios de que consistiam o primeiro ano dessa criação de Nic Pizzolato (The Killing), entre Janeiro e Março, algo na mistura de diálogos profundamente existenciais, história de detetives by-the-book e atuações de pura sensibilidade masculina dos protagonistas Matthew McConaughey e Woody Harrelson me fez crer que esse seria o tipo de série que, independente da aclamação crítica, e do meu reconhecimento de sua qualidade, eu nunca iria ter entre minhas favoritas. Tanto que, depois de quatro semanas acompanhando os detetives Marty Hart e Rustin Cohle, eu decidi que veria o restante da série quando tivesse mais tempo. Talvez tenha sido destino, porque visto de uma tacada só, como fiz agora (recomeçando do episódio de estreia, “The Long Bright Dark”), no espaço de sete dias, True Detective revela-se muito mais do que parece ser.

Mais ainda do que revelar suas sutilezas narrativas e suas riquezas contextuais em termos de construção de personagem e coerência com a trama, no entanto, ver True Detective na sua totalidade em uma semana me surpreendeu pela simplicidade da experiência de contar uma história. Há críticos e blogueiros por aí que inclusive sustentam, baseados em declarações do próprio Pizzolato (roteirista principal e único de todos os 8 episódios da trama), que True Detective é uma complexa e elaborada meta-ficção sobre o fato de narrar. É muito interessante observar o quanto isso procede em muitos sentidos, embora não seja, nem pudesse ser, toda a fundação de True Detective como produto final. Há a noção de Cohle, o personagem, de que a identidade humana é uma narrativa que construímos para nós mesmos, há a insistência da série de nos mostrar as mentiras e as raízes delas na nossa psique, há a hipocrisia da “honradez” de Marty, um “homem de família” que não aceita, e por isso racionaliza, seus próprios pecados. E há, é claro, o relato da dupla de detetives para seus interrogadores em 2012, uma teia de invenções e correspondências inexatas por si só. True Detective, sob o olhar do espectador atento, é um aglomerado de “narrativas” e “ficções” se entrelaçando de forma muito parecida com os ramos das mini-esculturas satanistas que são parte central da trama de assassinato.

Já deve ser de domínio público, mas a temporada segue mais ou menos a seguinte linha narrativa: Cohle (McConaughey) é um detetive recém-chegado à polícia de uma cidadezinha na Louisiana em 1995, que é emparceirado com Marty (Harrelson) e logo cai de cabeça em um caso incomum. A vítima encontrada pelos dois no primeiro episódio da trama está em posição de contrição, com chifres de cervos colocados sobre a cabeça como uma coroa, cercada por devil-catchers (as esculturinhas que eu citei acima) e com uma espiral pintada na nuca. A rede de simbologias e a narrativa intrincada que se segue são o trabalho esmerado de Pizzolato, costurando uma série de referências culturais (The King in Yellow, famosa coletânea de contos do autor Robert Chambers, é uma das mais notáveis; assim como a trilogia Inferno, Paraíso e Purgatório de Dante Alighieri) a uma jornada emocional e filosófica centrada nesses dois protagonistas. No final das contas, a simbologia toda está aqui para embasar e enriquecer o ponto do roteirista, não para fazê-lo. Um dos grandes vícios das séries “com mitologia” da atualidade é tentar ganhar significado apenas com ela, ao invés de usá-la a favor da história – o ponto do qual todo e qualquer elemento do produto final deve partir.

A direção de Cary Fukunaga (Jane Eyre), ainda bem, entende isso perfeitamente. Climática ao extremo, a câmera do californiano de 37 anos, um dos novos nomes mais notáveis do cinema americano, consegue a proeza de não ser intrusiva numa narrativa que é praticamente um convite ao exagero para o diretor. Na sua orientação dos atores, na forma como filma os detalhes dos sets brilhantemente montados, nas brincadeiras com o foco da câmera e no uso minimalista da trilha-sonroa, Fukunaga mostra-se um mestre em trazer para a tela aquilo que o roteiro lhe pede – e não o que seu ego e talento permitem. Se há uma contenção em True Detective que sublinha o quão brilhantemente concisa é a missão da série, esse crédito é muito devido ao diretor.

A química perfeita entre McConaughey e Harrelson, no entanto, é o ponto valorativo onde começa a aflorar a real genialidade da série. A amizade entre os atores emerge na tela da maneira certa, sem definir as performances mas ajudando a contornar a relação entre os personagens. É claro que McConaughey está especialmente sensacional num papel que lhe dá muito material para mastigar, acertando no olhar perdido e na inteligência aguda escondida por trás da carcaça roída pelo tempo e pela vida mal-cuidada de Cohle. Seu monólogo final em “Form and Void” é um momento emocional tão forte porque vem depois de uma pesada construção de personagem e visão de mundo – há algo de especial em ver Cohle chorar, por mais que isso seja cruel. Esse destaque para McConaughey, que faz um trabalho infinitamente superior aqui ao seu desempenho vencedor do Oscar em Clube de Compras Dallas, não apaga no entanto o brilhantismo de Harrelson. Não é só intensidade, masculinidade e rudez que o ator traz para seu Marty Hart – é, antes, um entendimento profundo desse homem “mimado” pelas vantagens que a sociedade dá a ele, desse idealista falso que, ele mesmo admite, é culpado do pecado da omissão. Omissão de si mesmo, que se diga, por uma versão ideal e irreal de si, uma condição complicada que Harrelson retrata em sutilezas e explosões.

Nesses personagens imperfeitos colocados num mundo de pura perversão, Pizzolato encontra seus heróis. Como Dante em busca da amada Beatrice, passando por inferno, purgatório e paraíso, os dois encaixam-se em True Detective como uma chave que abre a porta da compreensão narrativa. “It’s just one story. The oldest. It’s light vs. darkness”, diz Cohle ao final da série. “And if you ask me, light is winning”. Até no mundo hediondo de True Detective, vejam só, há beleza nas histórias de vida entrelaçadas de dois seres humanos.

✰✰✰✰✰ (5/5)

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A segunda temporada de True Detective já está em processo de produção.

13 de jul. de 2014

Você precisa conhecer: Kiesza, uma artista pop aventureira por natureza

Kiesza2014

por Caio Coletti

Apostem o que quiserem, Kiesza Rae Ellestard ainda vai surpreender muito. Há algo nela, a julgar pelas primeiras entrevistas depois do sucesso surpresa de “Hideaway”, o primeiro single do EP de estreia, que tradicionalmente precisa sobrar numa artista pop: espírito de aventureira. “Meu processo de composição está sempre evoluindo. É como minha vida. Como testar diferentes roupas para ver o que serve”, ela disse em entrevista para o Planet Notion. Ela sabe bem do que está falando.

Essa canadense de 25 anos passou a infância se dedicando à dança, mostrando-se promissora na carreira de bailarina clássica até começar a sofrer problemas no joelho. Dessa rua sem saída ela foi parar na Marinha (sim, você leu direito!), uma vez que sempre amou velejar. Lá ela também se destacou, chegando a iniciar o treinamento para se tornar atiradora de elite. Kiesza conta que se obrigou a abandonar o posto quando percebeu que aquilo não era uma brincadeira: “Eu estava disparando essas armas gigantescas, era divertido. Era como um video game, mas aí eu percebi que um dia eles iriam querer que eu usasse aquilo numa situação real, em pessoas reais”, ela se lembra.

Descobrindo a paixão pela música em meio às jam sessions com os colegas de Marinha, a moça se matriculou no curso de música de uma prestigiada universidade canadense, e começou a se interessar por música pop como uma espécie de desafio. “Eu havia ouvido esses dois estudantes dizendo ‘isso não é música de verdade. Essas canções são estúpidas. Elas são tão fáceis de escrever’. Eu havia pensado: se elas são tão fáceis de escrever, porque não é todo mundo que o faz? (…) Mais tarde eu descobri que tudo está na arte da simplicidade, e isso é realmente um talento”, ela diz.

O resultado da parceria com o produtor novato Rami Samir Afuni são as canções do Hideaway EP: duas originais, incluindo a canção-título (#1 nas paradas britânicas), “Giant in My Heart” e as baladas “So Deep” e “What Is Love”. Essa última é cover do hit noventista do Haddaway, transformada numa angustiante balada de piano-e-voz. Com influências claras da house music daquela década, comandada por divas de garganta poderosa como CeCe Peniston e Robin S, a mistura promovida por Kiesza nesse primeiro EP traz elementos contemporâneos como os britânicos do Disclosure, e até a lembrança do começo do século, no revival do house com a ascenção de David Guetta, Alex Gaudino e muitos outros DJs.

O resultado final ̩ simplesmente as m̼sicas pop mais deliciosas que voc̻ vai ouvir em 2014 Рpodem nos cobrar essa promessa, inclusive.

Pra quem gosta de: Calvin Harris, Robyn, Charli XCX, The Golden Filter

12 de jul. de 2014

Wilfred 4x04: Answers

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Na nossa busca pelas respostas na vida, tendemos a fazer ordem do caos, e caos da ordem” (Jeffrey Fry)

“Answers” é tudo o que se pode esperar de um episódio de Wilfred. Nessa até agora espetacular quarta temporada, o episódio se encaixa como um passo fundamental no sentido de desvelar a natureza da trama da série, sem abrir mão de sua essencial ambiguidade. Aqui, descobrimos uma teoria sólida de quem é Wilfred (o Deus adorado pelo culto Flock of the Grey Shepherd), mas o que o psicólogo de Rutger Hauer não consegue esclarecer é se o nosso personagem-título é uma divindade benevolente – Mataman – ou um trickster- Krungel. A diferença fundamental é que um deles tem a missão de conduzir O Escolhido (Ryan is the new Neo!) para a felicidade, e outro para a completa ruína. A dúvida com certeza vai criar raízes no funcionamento da série daqui para frente, uma vez que ainda faltam 6 episódios para Wilfred deixar a cortina cair.

Mais do que isso, porém, “Answers” é fundamental para a trajetória toda da série até o momento. São 43 episódios que caminharam firmemente para os acontecimentos desse capítulo, e ao pensar na forma como ele se desenvolve é incrível perceber que não poderia ter sido de outro jeito. O roteiro de Matt Patterson (Californication) está mais do que satisfeito em brincar com as percepções do espectador, apagar as linhas entre o real e o imaginário e nos presentar com uma das cenas de delírio (ou será que não?) mais desconcertantes de toda a série. A fotografia progressivamente distorcida e eerie dessas sequencias é um trunfo, e as atuações de Elijah Wood e Jason Gann (sim!) nunca estivaram tão no ponto.

Ryan chega ao escritório do Dr. Grummons (Hauer) em busca de respostas sobre o tal culto, mas é induzido a participar de um estudo do psicólogo antes de recebê-las. A princípio, parece que os experimentos estão sendo realizados em Wilfred, mas logo fica claro que o interesse é mesmo em Ryan – e o que se seque é uma disparada de paranóia que atinge proporções inéditas. “Answers” só usa seis atores (Woods, Gann, Hauer, Dorian Brown, Fiona Gubbelmann e Tom Gallop), mas ainda é um dos mais excitantes e desconcertantes episódios da televisão nessa temporada. É preciso aplaudir uma série que consiga esse feito de ser simultaneamente íntima e épica – Wilfred sem dúvida pertence a uma estirpe muito contemporânea de storytelling.

De quebra, o episódio ainda toma seu tempo para analisar a relação de confiança (ou desconfiança) entre Ryan e Wilfred, embora reconheça que a complexidade dessa vertente da história ainda vai precisar de muito tempo para chegar a um fechamento satisfatório. Ah sim, e nunca é demais ver Rutger Hauer, o próprio Roy Batty de Blade Runner, sendo simultaneamente ameaçador e engraçado com seu olhar contidamente louco. Wilfred ainda tem muito a nos oferecer.

✰✰✰✰✰ (5/5)

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Próximo Wilfred: 4x05 – Forward (16/07)

10 de jul. de 2014

As 10 melhores séries da temporada 2013/2014

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Lembram do nosso post do ano passado com as nossas 10 séries preferidas da temporada? Pois chegamos com a versão 2013/14 dessa delícia de lista, que pede a cinco dos nossos colaboradores a dura tarefa de escolher só 2 séries preferidas da fall e mid-season passadas. Vem com a gente descobrir as selecionadas:

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por Caio Coletti

Teen Wolf (MTV)
3ª temporada – Parte 2

O drama sobrenatural da MTV nunca foi tão sério quanto na segunda metade de sua terceira temporada (que contou uma história completamente separada da primeira metade), exibida entre Janeiro e Março desse ano. A série já havia se mostrado interessada em explorar seus personagens bem mais do que se esperaria da sua premissa – e canal, diga-se de passagem. O criador e developer Jeff Davis tem aquele faro raro para fazer uma aventura kitsch divertidíssima ao mesmo tempo em que consegue criar drama realmente envolvente com seus personagens, mas as coisas atingiram outro nível quando a série resolveu contar a história de um Stiles possuído pelo espírito maligno de um nogitsune (espécie de ser sobrenatural da mitologia oriental, semelhante a uma raposa). Explorar a cultura japonesa trouxe a Teen Wolf aquele quê de série bem pesquisada, enquanto o agudo senso de entretenimento de Davis e do principal diretor dos episódios, Russell Mulcahy (Highlander), fazia com que uma batalha entre lobisomens adolescentes e raposas do outro lado do Atlântico não fosse tão ridícula quanto soa.

Ajudou muito ter um Dylan O’Brien no elenco, é claro. O jovem ator americano que já havia dado dicas de profundidade e provas de competência cômica nas temporadas anteriores, agarrou com unhas e dentes a oportunidade de mostrar um lado diferente do seu personagem. Ou, a bem da verdade, a oportunidade de interpretar um personagem completamente diferente agindo de maneira dissimulada dentro da pele de Stiles. O virtuosismo de sua atuação veio da capacidade de combinar as tintas fortes que sua série como Teen Wolf pede (seu olhar maligno quando possuído pelo nogitsune era tudo, menos sutil) com as sutilezas de mostrar aquele garoto que representou nos anos anteriores preso dentro desse pesadelo pessoal. Muito de Teen Wolf é assim, sejam as mortes que tornaram o finale da temporada ainda mais marcante, ou as cenas de delírios que fizeram da série uma das coisas mais estranhas no ar desde Twin Peaks: em meio a um monte de referências pop, a trama se encontra de forma espetacular nos seus personagens.

True Detective (HBO)
1ª temporada

Quando Matthew McConaughey confirmou as expectativas de todos ao receber seu Oscar de Melhor Ator por Clube de Compras Dallas, no finalzinho de Fevereiro, o culunista Miguel Sokol, da Rolling Stone Brasil, definiu a vitória como um triunfo da televisão. Isso porque, embora tenha construído por alguns anos uma reputação de ator respeitável no cinema (a partir de Magic Mike, talvez), McConaughey chegou ao auge mesmo em True Detective. A antologia criminal da HBO estreou em Janeiro para se tornar uma das séries que mais mobilizou fãs e críticos em torno de seus mistérios e seus personagens, e o Rust Cohle de McConaughey é parte central nisso porque encarna a visão de mundo suja, desmistificada, quase niilista da série escrita por Nic Pizzolato. Mesmo assim, é incrível perceber que True Detective não é uma série pessimista. É sombria, e talvez acredite que a luta para iluminar essas sombras já esteja perdida – mas isso não faz com que ela não valha a pena.

É preciso creditar muito mais do que McConaughey, no entanto. A atuação de Woody Harrelson é tão brilhante quanto, mesmo que apresente-se de forma diferente ao público – a atitude do roteiro em relação ao seu personagem é muito mais analítica, a fim de desnudá-lo em suas hipocrisias, e a convicção com a qual Harrelson retrata Marty Hart é aspecto fundamental para que as engrenagens conceituais da série funcionem. Michelle Monaghan e Alexandra Daddario representam as mulheres em uma trama essencialmente masculinizada, e o fazem de maneira categórica – as moças não escapam dos mesmos defeitos dos rapazes, mas há algo de resiliente na forma como elas insistem em serem humanas em um ambiente que nem sempre as conta como tal. Claro, True Detective não é só seu elenco. Esses atores e atrizes estão aqui para soprar vida em personagens que contam uma história brilhantemente labiríntica e surpreendentemente comovente.

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por Clara Montanhez

Hannibal (NBC)
2ª temporada

Ao final da segunda temporada, pode-se ver que Hannibal é realmente surpreendente. Com várias jogadas psicológicas entre os dois personagens principais, Will Graham (Hugh Dancy) e Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen), somente nos últimos dez minutos do último episódio da temporada é que o desfecho é revelado, nenhum momento antes. Desde a primeira temporada, vemos que Will Graham, que é ex-professor de psiquiatria na academia do FBI e se torna consultor de campo, tem um dom muito raro, mas que se mostra, ao mesmo tempo, como uma maldição: ele tem grande empatia para com os criminosos que investiga, conseguindo muitas vezes reconstituir o crime como se fosse o próprio assassino. Contudo, Hannibal, que é um renomado psiquiatra, usa-se desse dom para confundir o próprio Will, que acaba a primeira temporada internado em um hospital psiquiátrico.

Na segunda temporada, Will, junto com Jack Crawford (Laurence Fishburne), comandante da Unidade de Ciências Comportamentais do FBI, planeja usar sua “demência” contra Hannibal, mas se o psiquiatra acreditará ou não só se descobre nos últimos momentos. Não faço ideia de como será a próxima temporada, mesmo porque o final da segunda deixa muitas dúvidas, mas espero ansiosa.

Penny Dreadful (Showtime)
1ª temporada

Essa série, que começou a ser transmitida no final de abril e que já tem a segunda temporada confirmada para o ano que vem, vem com uma proposta interessante, ainda que não inédita: vampiros, monstros, demônios e todos os tipos de criaturas das “sombras”, reunidas na mesma história. A trama, que nos primeiros capítulos ainda não é bem explícita, se passa em Londres no século XXI e é centrada em Vanessa Ives (Eva Green), uma mulher misteriosa que aos poucos revela traços de sua personalidade, mas que continua sendo uma incógnita para Ethan Chandler (Josh Hartnett), um americano aventureiro que passa a acompanhar Ives e Sir Malcolm Murray em suas expedições pelo o sub mundo.

A storyline se torna ainda mais surpreendente quando Sir Murray (Timothy Dalton) contrata um médico legista para se juntar ao grupo; o Dr. Frankenstein (Harry Treadaway) é sombrio e agitado, carregando consigo um segredo que só é revelado por partes no decorrer dos episódios. Apesar das locações escuras e sinistras e as criaturas que o grupo enfrenta, a série não é tão pesada quanto se pode pensar; o feeling de terror está sempre presente, mas é quebrado com os diálogos leves entre os personagens.

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por Marlon Rosa

GIRLS (HBO)
3ª temporada

Eu tenho uma teoria: todo homem deveria menstruar pelo menos uma vez na vida, para saber os efeitos e sintomas da TPM, e, dessa forma, compreender e sentir as dores do outro. Mas é óbvio que isso não nos faria entender nem 1/3 das maravilhas e dificuldades de ser uma mulher.

Girls sempre foi uma série com a missão descompromissada de retratar o cotidiano e os dramas das quatro protagonistas: Hannah, a aspirante escritora de 25 anos, sua melhor amiga Marnie, a imprevisível Jessa e a adorável e inocente Shoshanna ♥. E, apesar das personagens terem personalidades bem definidas e não gerarem uma ampla identificação com o público, não se deve negar que as situações que todas enfrentam são bem semelhantes às dificuldades que a maioria de nós encontramos quando estamos na cada dos 20. Aliás, engana-se aqueles que acreditam que a série é feita só para os pertencentes do sexo feminino, primeiro que não haveria problema nenhum se isso fosse verdade, segundo que a série é tão bem escrita e dirigida que todo episódio é simplesmente uma delícia de assistir, e a trilha sonora, ah, a trilha sonora...

Bom, o que se tem pra falar da 3ª temporada da série é que dessa vez elas se aventuram em um território até então não explorado nas outras temporadas, a felicidade; no mais, tudo continua maravilhoso, o tom, o roteiro, as músicas, enfim, tudo o que faz de Girls uma série fantástica e divertida de assistir.

House of Cards (Netflix)
2ª temporada

Da mesma forma que Frank Underwood avança na busca pelo poder, House of Cards reforça sua posição como uma das melhores séries da atualidade, logo, é de suma importância que faça parte desta lista.

Em seu segundo ano, House of Cards segue para um caminho já esperado: quanto mais próximo do poder, mais atenção se recebe por parte da mídia. E é exatamente em meio a um escândalo contra os Underwood que a segunda temporada toma forma, uma vez que Claire confessa, em rede nacional, já ter feito aborto depois de ser vítima de estupro por um general do alto escalão na época do colégio. Tal revelação leva a uma troca de perspectiva dessa temporada em relação a anterior: onde antes havia o jornalismo investigativo existe agora a força e ferocidade dos tablóides que buscam incessantemente por detalhes íntimos da vida do casal, mudança esta que fez com que a maioria dos veículos torcessem seus narizes dizendo que o viés político da série ficou em segundo plano. Mas oras, não é exatamente isso que acontece na realidade? Se algum escândalo acontece com alguma figura importante da política tudo o que a mídia noticiará a partir dali não será necessariamente relevante, não falarão sobre os planos de política do candidato, afinal, não é isso que interessa para a população naquele dado momento.

No mais, a série continua com sua característica de um roteiro ágil e direto, Frank continua a compartilhar suas ambições com o público, e nós, relés espectadores, nos tornamos cada vez mais cúmplices e apaixonados pelos Underwood, uma vez que a alternativa de odiá-los não seria uma boa escolha.

"I am willing to let your child wither and die inside you, if that’s what’s required,...Am I really the sort of enemy you want to make?" – Claire

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por Sâmela Silva

Peaky Blinders (BBC)
1ª temporada

Não é difícil lembrar-se de produções da BBC que apresentam qualidade excepcional. Ainda assim, Peaky Blinders, exibida na segunda divisão do canal, surpreende com seu elenco, sua equipe de design de produção extremamente competente, personagens incríveis e fotografia maravilhosa. É televisão em sua melhor vertente.

A criação de Steven Knight conta a história da família Shelby, que controlava Birmingham em 1919, e se foca na vida dos criminosos, de certa forma transformando-os em heróis nos olhos do espectador, aproveitando sua humanidade. Lida também com os temas da época, como a perseguição aos comunistas, greves trabalhistas e a vida pós-guerra. Thomas Shelby é um protagonista fantástico, Tia Polly é uma das melhores personagens femininas da atualidade, e Chester Campbell é um homem da lei que se mostra pior do que os próprios bandidos. Cillian Murphy, Helen McCrory e Sam Neill entregam atuações fantásticas, cada faceta daqueles indivíduos sendo explorada com maestria por seus intérpretes.

A série também traz um incrível trabalho visual, seja com sequências feitas de forma artística, fotografia que retrata a sujeira de Birmingham ou a beleza das paisagens, ou a condução de câmera e os enquadramentos que por vezes se concentram nas feições de Cillian Murphy para exaltar as expressões faciais do ator. Tudo isso aliado a uma trilha sonora repleta dos White Stripes.

A primeira temporada de Peaky Blinders foi curta, porém satisfatória. Trouxe uma trama interessante com personagens que desafiam conceitos morais, roteiros que fazem muito em apenas 6 episódios e mostra que é mais do que mera “storytelling” – é também arte.

Community (NBC)
5ª temporada

Chega a doer falar sobre o quão boa a última  temporada de Community foi. Uma das piores decisões que a NBC fez foi cancelar a série (e olha que o canal já fez muita besteira), e é triste pensar que, justo em um de seus anos mais inspirados, a criação de Dan Harmon deu adeus ao canal.

Saiu em grande estilo, porém. Após o infame “ano do vazamento de gás”, Community mostrou que ainda conseguia fazer graça de si mesma, e trouxe de volta dinâmicas já usadas anteriormente sem torná-las forçadas. A introdução do personagem de Jonathan Banks pareceu ser um mero artifício para substituir Chevy Chase como o cara mais velho no grupo, mas acabou sendo uma grande oportunidade para desenvolver o grupo em novas situações e o próprio Hickey, e o fizeram muito bem.

Além da revisita à Dungeons & Dragons, Community também trouxe outras instâncias temáticas que explanaram sua extrema criatividade e preocupação com seus personagens: o caos causado pelo jogo de “the floor is lava” necessário para a amizade de Abed e Troy, o episódio que homenageia David Fincher sendo crucial para a humanização de Hickey, e “G.I. Jeff”, que tocou nas inseguranças do protagonista da série de uma forma única, porém efetiva. Isso sem mencionar o fantástico episódio distópico que criou sua própria mitologia de forma notável e foi resolvido em meros 20 minutos.

Não existem muitas séries que usam referências à cultura pop de forma tão inteligente e tão entremeada com suas tramas. E, bem, o grupo de estudos e aqueles amigos tão diferentes já fazem muita falta. Justamente quando só faltava uma temporada. Quase lá. #sixseasonsandamovie

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por Thiago Santos

Devious Maids (Lifetime)
2ª temporada

A série não é exatamente estreante, na verdade já está na sua segunda temporada e ouso afirmar que é umas das melhores séries de “dramédia” do momento. Devious Maids conta as histórias de Marisol (Ana Ortiz – Ugly Betty) , Rosie (Maya Herrera – Heroes), Carmen (Elena Delgado – Without a Trace), Zoila (Carla Espinosa – Scrubs) e Valentina (Edy Ganem). O destaque dessa série está no misto de humor do dia-a-dia das empregadas latinas, com os mistérios que rondam a vida de seus patrões e casos amorosos.

A primeira temporada gira em torno do assassinato da doméstica Flora Hernandez, e o acusado pelo assassinado acaba sendo o filho da professora universitária Marisol Suarez, que resolve se passar por empregada para descobrir o verdadeiro assassino e livrar o filho da cadeia. Os momentos de comédia estão principalmente ligados a Rosie, uma empregada tímida e inocente que ainda não domina completamente o inglês; Carmen, que é louca para ser uma cantora famosa e faz muitas loucuras para alcançar seus objetivos; e também da relação de Zoila com sua patroa Genevieve Delatour, uma mulher que tenta a todo custo parecer mais jovem do que é.

A segunda temporada traz um mistério que também envolve um assassinato (ou dois), e nossas empregadas maluquinhas estão com cada vez mais confusões no currículo, mesmo que algumas tenham mudado de patrões. Devious Maids entra no nosso ranking por ser tão boa em prender a atenção do espectador, trazer humor, drama e um elenco muito divertido, ter uma trama muito gostosa e ainda assim ser pouco conhecida.

Once Upon a Time (ABC)
3ª temporada

A temporada foi muito emocionante e temos que destacar a incrível atuação de Lana Parrilla (Regina/Rainha Má), a personagem é uma mistura de vilã e heroína apaixonante, mesclando a bondade que Regina vem assumindo com sua antiga personalidade de rainha má. Lana se tornou o amor maior dos fãs, deixando a protagonista no chinelo, o que venhamos e convenhamos é meio que esperado, Jennifer Morrison é uma boa atriz, mas a personagem Emma, com o perdão da expressão, é um ‘pé no saco’. A prova do grande sucesso de Lana está no fim da temporada quando Emma faz uma besteira enorme (ah vá!) e isso acaba magoando Regina, os fãs da série se mostraram muito bravos com Emma nas redes por isso, afinal todos estão se tonando realmente #teamRegina.

A temporada começou focada na história de Peter Pan, que ao contrário do convencional da Disney, não tinha nada de bom e divertido, na verdade era egoísta, mal e perigoso. Mas a grande “sacada” dessa temporada foi sem dúvida nenhuma Zelena, a Bruxa Malvada do Oeste (O Mágico de Oz), vivida Rebecca_Mader (Lost). A vilã, que também é meia irmã de Regina, apesar do seu tom de pele verde feito por computador (porque diabos eles não podiam usar maquiagem na atriz?) roubou a cena e a temporada. Zelena aprontou muitas coisas para conseguir fazer um feitiço do tempo e recuperar a vida que lhe foi tirada ao ser abandonada pela própria mãe (Cora).

Once Upon a Time ganha um lugarzinho entre nossas melhores séries pois mesmo com efeitos especiais bem ruinzinhos, a atuação do elenco é impecável e faz a série ter muita qualidade. O melhor disso é que a série também vem aproveitando os sucessos da Disney no seu universo de contos, pois como vimos no fim da temporada, o reino de Frozen está chegando em Storybrooke e todos estamos ansiosos para ver Elsa na série.

9 de jul. de 2014

Top 5: Os clipes sensacionais do OK Go

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por Caio Coletti

Talvez o primeiro dos fenômenos virais do Youtube, o quarteto OK Go permanece até hoje (oito anos depois do Oh No e seu ostensivo hit – do qual falaremos mais tarde – “Here it Goes Again”) como uma força da natureza quando se fala de virtuosismo visual. A incansável vontade de surpreender o público, especialmente depois de todo mundo ter se apaixonado por aquele primeiro vídeo com as esteiras, manteve a banda na realeza do rock alternativo, e também na boca de todo mundo que curte um clipe bem-produzido.

Há quem diga que é só técnica, e que raramente os vídeos da banda tem algo a ver com a música. O vocalista principal Damian Kulash jura que não é só uma jogada de marketing: “Em nenhum caso nós dissemos ‘a-ha, isso vai fazer as pessoas comprarem o nosso disco’. Sempre foi nossa posição que a razão pela qual você está em uma banda de rock é para fazer coisas. Você quer fazer coisas criativas para viver”. Com essa atitude de complemento ao trabalho criativo, o OK Go já levou um Grammy e teve seus clipes exibidos em vários museus de arte contemporânea.

Abaixo, a gente elenca os 5 vídeos essenciais da banda, incluindo o mais recente, com o qual abrimos a lista:

“The Writing’s on the Wall” (17 de Junho de 2014)

Prestes a lançar o quarto álbum da carreira (só um deles, o auto intitulado OK Go, veio antes da fama viral), a banda tirou três semanas numa rotina de trabalho 20 horas por dia (!) ao lado de uma equipe de mais de 50 pessoas (!!) para criar as muitas ilusões de ótica de “The Writing’s on the Wall”. A coreografia complexa inclui trocas de roupa realizadas em tempo real – o clipe foi filmado em só um take, com uma câmera operada pelos próprios integrantes da banda, e mostra várias perspectivas que fazem pinturas em 2D parecerem cenários tridimensionais.

A “desconstrução” das ilusões é a parte divertida do vídeo, e o mais legal é que tudo isso, além de deliciosamente engenhoso, tem muito a ver com a letra sentida sobre um relacionamento em que nenhum dos lados vai sair ganhando.

Hungry Ghosts, o novo álbum, sai no dia 14 de Outubro.

“Here it Goes Again” (31 de Julho de 2006)

Foi aqui que tudo começou. O OK Go já estava para completar meia década de estrada quando resolveu fazer upload de um vídeo que os integrantes haviam ensaiado exaustivamente para completar, lá em meados de 2005. A coreografia nas esteiras conquistou o mundo – foram 52 milhões de visualizações até o vídeo ser retirado do canal da banda e repostado no da EMI Records, onde recebeu mais 20 milhões de visitas – isso numa época em que o Youtube ainda não era o gigante que é hoje.

Eles foram convidados para repetir a proeza ao vivo, no MTV Movie Awards daquele ano, e o resultado foi ainda mais awesome do que o esperado. Saudades de quando o OK Go era popular assim.

“Here it Goes Again” é do energético (e excelente) álbum Oh No, de 2005.

“This Too Shall Pass” (1 de Março de 2010)

Nosso preferido disparado, “This Too Shall Pass” empresta o conceito do cartunista e inventor Rube Goldberg (o criador dos “efeitos dominó”) para realizar algo muito mais elaborado. Foram quatro meses de construção e preparação do enorme dispositivo que inclui objetos absolutamente diversos como uma televisão, bolas de metal enormes, um piano (!), latas de lixo e máquinas de escrever, para citar só alguns. Momento de triunfo: uma guitarra pendurada por um fio faz duas colheres baterem em copos cheios de água, sem os derrubarem, e a melodia que sai é idêntica ao do refrão da música.

Mesmo com toda a preparação, foram necessários 60 takes (sim, 60) para conseguir realizar a sequencia com perfeição. A equipe precisava de em torno de uma hora para resetar a máquina a cada vez que algo dava errado.

“This Too Shall Pass” está no álbum Of The Blue Collor of the Sky, de 2010.

“All Is Not Lost” (25 de Julho de 2011)

A parceria com o grupo de dança Pilobolus gerou uma das experiências mais legais e interativas da carreira do OK Go. Não tanto nessa versão filmada para o Youtube aí em cima, mas sim no site que hospeda a versão original do clipe, que permite ao espectador incluir uma mensagem que será formada com os corpos dos dançarinos ao final do vídeo. O vídeo todo é baseado na performance deles, e na versão do site as “janelas” que vão se multiplicando na tela também fazem parte da coreografia, filmada de baixo enquanto os dançarinos se movimentam em uma superfície transparente. O conceito todo é bem original.

Para formar os padrões que aparecem na tela, a produção do clipe precisou de 12 longos takes, que são reproduzidos em números cada vez maiores até estarem multiplicados em 48 “janelas” diferentes desse mosaico em movimento do OK Go.

“All is Not Lost” também é do álbum Of The Blue Collor of the Sky, de 2010.

“Needing/Getting” (05 de Fevereiro de 2012)

Outro dos nossos preferidos. Com a ajuda da Chrevrolet, que inseriu “braços pneumáticos” no seu então recém-lançado modelo Sonic, o OK Go se preparou por quatro meses para criar uma versão acústica “automobilística” para a faixa “Needing/Getting”. Conforme o carro dirigido pelo vocalista Damian Kulash passa por uma pista armada no meio do deserto, os tais braços que se estendem dos lados do carro tocam vários instrumentos posicionados estrategicamente, criando exatamente o som que a música pede. É um vídeo deliciosamente engenhoso na melhor tradição do OK Go.

Foram mais de 1000 instrumentos utilizados na brincadeira, e o vocalista Kulash teve que fazer aulas com um dublê profissional para dirigir o carro. “Needing/Getting” foi exibido no comercial do Super Bowl de 2012.

A faixa está no Of The Blue Collor of the Sky, de 2010.

4 de jul. de 2014

Wilfred 4x03: Loyalty

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Estamos todos no mesmo barco, em um mar tempestuoso, e devemos uns aos outros uma terrível lealdade” (G.K. Chesterton, autor britânico)

Se Wilfred não fosse tão fiel a sua própria forma de nomear os episódios com uma “lição” aprendida por nosso protagonista, “Loyalty” poderia muito bem se chamar “Resentment”. Nesse terceiro de dez episódios que a temporada derradeira da série vai entregar, Ryan viaja por um mar de ressentimentos ao se ver obrigado a enfrentar o dilema da relação com sua irmã, Kristen. A personagem simultaneamente adorável e insuportável da ótima Dorian Brown sempre foi para a série um coringa, uma jogadora importante no campo cômico, mas cuja relação com Ryan nunca foi tão colocada no centro dos holofotes quanto aqui. Ou talvez seja melhor dizer que essa relação entre irmãos nunca foi tão levada a sério.

Não me leve a mal, porque “Loyalty” ainda é um dos episódios mais engraçados de Wilfred em tempos. Assinado por Keith Heisler (American Dad), o roteiro dá um jeito de integrar excelentes piadas – mesmo que a maioria delas seja derivada de uma só situação – com o toque dramático que aprendemos a esperar da série. O episódio abre com a divisão da herança do pai de Ryan, e a revelação que o dinheiro poderá ser livremente utilizado por Kristen, enquanto Ryan receberá sua parte em prestações anuais. Daí “Loyalty” deságua para outra situação espinhosa: o ex-marido da personagem de Dorian Brown está pedindo guarda integral de Joffrey, o filho do casal, e ela quer que Ryan a ajude nos trâmites legais do processo.

A trama segue questionando a “lealdade” de Ryan à irmã, e o quanto o seu ressentimento por ela será um obstáculo na tarefa que ela lhe pede. Ao mesmo tempo, há um paralelo interessante (e hilário) com o fato de Wilfred confessar para o protagonista que é “viciado em cuddles”. A questão que é proposta para o espectador atento é clara: o quanto essa súbita revelação é um dispositivo cômico, e o quanto é uma reflexão da necessidade de Ryan de ser útil para Kristen, algo que o seu próprio pai nunca pensou que ele fosse?

Em sua última temporada, Wilfred está claramente tentando amarrar as pontas emocionais, enquanto nos deixa entretidíssimos com um interminável novelo de lã – a mitologia cada vez mais expansiva da série. As possibilidades que ficam abertas na trama são uma distração para os ciclos de personagens e relacionamentos que vão se fechando a cada episódio. Como era de se esperar, é muito fácil ser enganado pelas intenções de Wilfred.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Próximo Wilfred: 4x04 – Answers (09/07)

3 de jul. de 2014

Você precisa conhecer: Pawws, uma candidata a diva do synth-pop que não quer ser superficial

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por Caio Coletti

Lucy Taylor é o nome da britânica que responde pelo nome artístico de Pawws. O motivo do nome, de acordo com a própria, é a paixão por gatos (sério!), mas não deixe isso te enganar: dentre as candidatas a nova diva do synth-pop, nenhuma leva o ofício mais a sério do que ela.

Pawws surgiu em meados de 2013 com o melancólico single “Time to Say Goodbye” e seu b-side mais balançadinho, “Slow Love” (ouça ambos abaixo), e desde então já mostrou que sua formação única trazia uma visão diferente para o gênero: o site The Line of Best Fit, em um perfil que fez da moça, revelou que o background de Pawws inclui tanto música clássica (ela fez parte de uma orquestra durante a adolescência) quanto clássicos soft rock como Fleetwood Mac e Peter Gabriel, sem contar a vibe oitentista (ela diz que ama Cyndi Lauper, e dá mesmo para ouvir nas melodias) que é obrigatória para o synthpop século XXI.

Desde esse primeiro lançamento também, a moça se destacou pelas letras suavemente melancólicas e pela vontade de estruturar sua identidade em cima de canções de amor contemporâneas. A tendência se confirmou com o lançamento do primeiro EP, intitulado Sugar, uma coleção de quatro canções que a autora confirma como a história não de um, mas de vários relacionamentos com o mesmo destino. “Eu peguei partes de relacionamentos e os costurei nessa história completa sobre estar apaixonado por alguém e não funcionar”, ela disse à BEAT Magazine.

Quando perguntada se não tem vontade de escrever uma canção sobre “ir à balada com strippers e dançar ao som do DJ”, ela fica horrorizada: “Não! Talvez um dia, nunca diga nunca. É engraçado, eu estava ouvindo uma música ontem e li a letra – eu não vou dizer qual era a música porque não quero ofender ninguém – e ela não significava absolutamente nada. Era apenas palavras aleatórias jogadas em uma canção. Eu pensei, ‘Deus, eu espero nunca fazer isso’. Eu me sentiria envergonhada. Não ia ser verdadeiro para mim”.

Com um som mais cheio de camadas e quatro canções que dão um jeito de se elaborar de forma diferente mesmo sem fugir da proposta geral da artista, o Sugar EP (veja o vídeo da faixa-título e ouça o EP todo logo abaixo) é uma ótima pedida para quem curte o synth-pop do século XXI, mas está cansado das mesmas referências e temas.

Pra quem gosta de: Cyndi Lauper, Robyn, La Roux, Betty Who