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Review: Me Chame Pelo Seu Nome

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Review: Lady Bird: A Hora de Voar

Mais uma obra-prima da roteirista mais talentosa da nossa década.

Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

31 de out. de 2011

Sucker Punch – A sinestesia incompleta de Zack Snyder

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por Caio Coletti

Para se reconhecer as falhas não é preciso se desonrar os méritos. Sucker Punch é o típico projeto que nasceu e cresceu cercado por expectativas de todos os lados. Não que seja menos do que compreensível a celeuma em torno do primeiro projeto de Zack Snyder depois de colocar as mãos na obra-prima dos quadrinhos Watchmen (e sair praticamente ileso da aventura). Adicione aí um roteiro que brinca de surrealismo e mexe com o funcionamento da mente humana, o que anda na moda desde que Martin Scorsese abriu caminho com Ilha do Medo e Christopher Nolan ditou as regras em A Origem, e a adesão de um quinteto de estrelas jovens que, de uma forma ou de outra, vem cavando seu espaço na cinematografia contemporânea. O resultado de toda essa equação pré-lançamento é que Sucker Punch já nasceu incapaz de corresponder as expectativas. Mas isso não significa, de forma alguma, que seja um filme ruim.

Pelo contrário, aliás. É de certa forma muito corajosa a tour de force que Snyder estrutura para si mesmo. O desafio constante que tem permeado sua carreira até agora, desde 300, é o de conseguir conjugar percepção visual, contextualização diretiva e conteúdo narrativo, e Sucker Punch é a história perfeita para que sua busca por essa sinestesia completa da experiência cinematográfica chegue ao ápice. São só pequenos detalhes de roteiro, talvez pela pressão do estúdio aqui e ali não deixando Snyder desenvolver sua visão completamente, ou mesmo pela ausência de experiência no campo do roteiro original (ter outro estreante, Steve Shibuya, como parceiro não ajuda muito), que impedem o filme de realizar todo o seu potencial.

Baby Doll (Emily Browning) é internada por seu padrasto abusivo em um sanatório, onde deve esperar por cinco dias até a realização da infame lobotomia, cirurgia que leva os pacientes a um estado sedado permanente. Virada narrativa número um: em sua mente, Baby Doll transforma o local em uma espécie de casa de shows/prostíbulo comandado por Blue Jones (Oscar Isaac) e Vera Gorski (Carla Gugino), de onde ela e suas colegas Sweet Pea (Abbie Cornish), Rocket (Jena Malone), Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie Chung) tem um plano para fugir. Virada narrativa número dois: nessa realidade alternativa, a cada vez que dança, Baby Doll é transportada para um outro mundo, ainda, onde as “missões” para escapar do lugar onde está encarcerada são feitas em metáforas pelo roteiro. Nessa brincadeira toda, Snyder cria um mundo particularíssimo, passeia por ambientação de época e brinca de Senhor dos Anéis, Eu Robô, O Resgate do Soldado Ryan… É de fato louvável, em meio a tanta referência, que Snyder faça de Sucker Punch um filme tão seu.

O elenco merece um capítulo a parte, ainda que não haja uma grande atuação a se destacar aqui. Talvez Jena Malone, que já foi comparada a Jodie Foster no começo da carreira, acabe arquivando a interpretção mais marcante. No ramo desde os 12 anos, a moça costuma ser lembrada como a irmã do protagonista de Na Natureza Selvagem, e pelo retrato da mais nova das irmãs Bennet no Orgulho & Preconceito de 2005. Abbie Cornish, uma pequena jóia a ser apreciada desde Candy, que teve papéis em Elizabeth: A Era de Ouro e O Brilho de Uma Paixão, não fica muito atrás em sua atuação discreta e intrigante como Sweet Pea. Vanessa Hudgens (High School Musical) e Jamie Chung (Dragonball Evolution) não são presenteadas com a oportunidade de brilhar, mas não fazem feio em seus papéis. Por fim, a protagonista Emily Browning cria uma imagem de certa forma muito icônica para si mesma, e é capaz de demonstrar dotes dramáticos insuspeitos na garota que surgiu como a irmã mais velha de Desventuras em Série.

Sucker Punch tem algo a dizer, sim, mas parece ter mais a mostrar. Não é uma bomba atômica conceitual e emocional como A Origem, não é o trabalho de classe, reconstrução, circunstância e tensão que foi Ilha do Medo, e muito menos pretende ser uma criação à la Robert Rodriguez. Sucker Punch é um prodigio de visual e trilha-sonora, e pode até fazer o espectador pensar com suas linhas finais, mas não é o grande filme desse ano, e ainda não é tudo o que Snyder pode nos oferecer como diretor. Portanto, fica a dica: antes de colocá-lo para rodar, esqueça um pouco do que você estava esperando. Sucker Punch pode até te surpreender.

Nota: 8,0

Sucker Punch sucker punch 3

Sucker Punch – Mundo Surreal (Sucker Punch, EUA/Canadá, 2011)

Dirigido por Zack Snyder…

Escrito por Zack Snyder, Steve Shibuya…

Estrelando Emily Browning, Abbie Cornish, Jena Malone, Vanessa Hudgens, Jamie Chung, Carla Gugino, Oscar Isaac, Jon Hamm, Scott Glenn…

110 minutos

29 de out. de 2011

Fabio Christofoli #3 – Analogias

Fabio opinião

Toda vez que eu leio a frase “Brasil: Onde politicos são levados na brincadeira e comediantes são levados a sério”, eu fico indignado.  Primeiro porque é uma falácia fazer essa analogia. Em que mundo humoristas e políticos estão no mesmo contexto?  Em que mundo? E só pra derrubar essa frase ignorante, cabe lembrar que este país SEMPRE se indigna quando acontece um escândalo político. Sempre. O nosso problema é que isso nunca segue em frente. Como essa indignação com humoristas não vai seguir.

Depois porque a imagem que acompanha a frase é a foto do Rafinha Bastos. Eu não consigo aceitar que alguém ache certo ou bobagem o que ele falou. Sinceramente. Eu não consigo ver argumentos pra defender a bosta de piada que ele fez, onde insinuou que faria sexo como uma grávida e seu bebê. Desculpe eu ser repetitivo, mas em que mundo isso é normal? Se você acha isso certo, por favor, pare de ler esse texto.

Na verdade, eu adorei saber que as pessoas se indignaram. Odiei ver que pessoas se indignaram com essa indignação. Se alguém se indignou com o que ele falou, é porque há esperança para essa sociedade. Não me venha dizer que foi “só uma piada”. Não brinque com a minha inteligência. Foi muito mais que isso. Antes de ser humorista (nada engraçado, no meu ponto de vista), ele é formador de opinião.  É assistido por milhões de jovens, que estão formando seu caráter, adquirindo seus valores. Sabe o que acontece quando um adolescente assiste um imbecil desses falando isso? Na maioria das vezes, ele reproduz. E isso vai se tornando comum, até, talvez, se tornar uma cultura. Antigamente respeitávamos nossos pais, as crianças eram crianças, a escola era levada a sério... Isso tudo mudou da noite pro dia, e uma das principais culpadas é a mídia de massa, os formadores de opinião presentes nela.  Desculpe ser careta, alguém tem que ser.

Pra ser sincero, há muito tempo eu tava de saco cheio do Rafinha Bastos. Ele andava extrapolando  o nível da arrogância e do mal gosto.  Antes dessa, eu vi ele debochar dos órfãos no dia das mães e de mulheres feias que são estupradas.  Em nenhum momento eu ri disso. Eu apenas me indignei. Que espécie de humor é esse que indigna? Que humilha? Humor pra mim é aquele que faz rir. Raramente eu vejo alguém rir do Rafinha, apenas vejo muita gente achar legal, debochar com ele. O humor dele é agressivo, tem o objetivo de ofender, antes de fazer rir.

Lembrei agora que há um movimento entre os humoristas que levanta a bandeira do “Humor sem censura”. Infelizmente eles confundem censura com limite. E, numa sociedade decente, tudo tem limite. Minha liberdade acaba quando ela invade a do outro. E quando humoristas se tornam agressivos com as palavras, eles ultrapassam o limite. Vir com esse papinho de que “hipocrisia” é apelo. Todo mundo pensa merda, é verdade. Mas imagina se todos fossemos sair por aí falando o que pensamos. Há uma coisa chamada bom senso e graças a ele que nossa raça ainda não foi extinta.

E já que algum “sábio” fez essa analogia do caso do Rafinha com o dos políticos, concluo meu texto fazendo outra. Sabe o que vai acontecer com ele? Nada. Assim como acontece com os políticos, a indignação vai sumir, da noite pro dia, e a maioria das pessoas que ficou indignada vai esquecer e até voltará a aplaudi-lo. Ele vai continuar ganhando uma fortuna pra ser agressivo e todo mundo vai dormir feliz, menos quem for agredido por ele.

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Muitas pessoas enviaram mensagens me pedindo para perdoá-lo, mas só se perdoa quem pede desculpas e está arrependido. Eu não tive essa opção.
Essa é a minha verdade e também a primeira e última vez que falarei publicamente sobre esse assunto. Tudo o que eu tinha para dizer, disse aqui. Não sei se todos compreenderam minhas razões lendo esse texto, mas peço, encarecidamente, pelo respeito a meu silêncio de agora em diante”

(Wanessa em seu blog pessoal)

25 de out. de 2011

Sobre… – Você me diz que os seus pais não o entendem…

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Quinta-feira, 29 de Setembro, o canal Multishow estava transmitindo um dos dias mais legais do Rock in Rio desse ano, e desde as 17h, quando o show de Joss Stone tinha começado, eu tinha trocado o computador pela televisão. Foi-se o show de pura doçura soul que Joss fez com o público entoando todas as músicas do seu último álbum (e depois perguntam porque a britânica gosta tanto de vir ao Brasil), foi-se também o espetáculo empolgante de Janelle Monáe, que trouxe de volta os tempos da Motown com um toque todo seu, colocou a platéia para cantar e dançar e ainda enlouqueceu os fãs utilizando o corredor que corta a platéia. Rendam-se créditos também a bonita homenagem ao Legião Urbana, apesar de Rogério Flausino ter feito um trabalho duvidoso nas duas faixas com a qual foi agraciado.

A atração derradeira (ao menos para mim, que ainda precisava dormir cedo enquanto as provas não acabavam) era Ke$ha. Pouco antes das 21h, a loirinha entrou no palco, e vamos convir que a primeira impressão não foi boa. O microfone “incrementado” não faz muito bem a voz de Ke$ha, e o show ainda não tinha esquentado. Duas músicas e foi o bastante para minha mãe sair da sala, reclamando do timbre da cantora e, exageradamente, de seu excesso de “formas voluptuosas”. Digamos assim, é claro. Mas não demorou pra Ke$ha botar fogo no seu espetáculo. Talvez a virada definitiva tenha sido “Party at a Rich Dude’s House”, uma música a qual, eu confesso, nunca tinha prestado muita atenção. Coincidência ou não, foi nela que a americana mostrou a que veio: roubou prato do baterista, promoveu a correria generalizada em seu palco, esmurrou o bumbo de outro instrumentista, e terminou deitada, exausta, no canto do palco. O povo vibrou. Eu também. Ke$ha sabe se divertir (e divertir ao espectador) num palco.

A partir daí o show pegou no tranco mesmo. A parte rockstar e a atitude punk de Ke$ha ficaram claras em “Backstabber”, com sua coreografia propositalmente desordenada e toda a interpretação em cima do palco, lembrando o clipe vazado recentemente, e “Blah Blah Blah”. Virada sombrio-surpreendente em “Cannibal”, com Ke$ha bebendo sangue de um coração falso e “crucificando” um dançarino. Aparece o lado artista pop da cantora. O show é essa contradição mesmo: Ke$ha não faz questão nenhuma de posar de diva, mas tem momentos de pura energia rock n’ roll, uma certa aura de ícone do “i don’t give a fuck”, e outros em que mostra essa mescla de capacidade compositiva e performance de palco que fazem a própria definição de arte pop. Que o diga “Animal”. A força da letra é tão clara que Ke$ha não precisou de nada a não ser sua voz e a linha de piano/sintetizadores para levar o público junto com ela.

Mas tudo bem, chega de análises e vamos ao que me interessa aqui. Enquanto a cantora fazia seu discurso antes de iniciar “Tik Tok”, a última música do show, meu pai chegou à sala. Primeiras palavras: “Essa é a Ke$ha? Achei que era bem mais”. Réplica: “Mais em que sentido?”. Tréplica: “Mais. Por quê tanto sucesso?”. Silêncio. Suspiro. “Deixa eu ver o show, depois a gente discute”. Explicação aqui: sempre tive muita abertura pra conversar com o meu pai sobre música. Enfim, Ke$ha canta “Tik Tok”. Eu estava feliz em sair calado, tinha me divertido com o show. Mas não.

Meu pai achou que Ke$ha deixou a desejar (ouvindo apenas uma música, mas vamos relevar isso, pelo bem da discussão). Não dá pra comparar a cantora americana com Joss e Janelle, ainda que haja o quê de performance pop no show da última também, pelo simples motivo que as três são artistas autênticas o bastante com as próprias personalidades, e fieis o bastante a elas, para serem personalíssimas em seus estilos. Mas qual é a barreira, afinal, que algumas pessoas sentem a necessidade impor no caminho para saber apreciar todos esses três tipos de espetáculos? Eu lhes digo uma coisa, caros leitores: assisti Joss, assisti Janelle, assisti Ke$ha. E me diverti, me envolvi e me vi querendo um dia ver ao vivo cada uma delas. Por razões diversas, na verdade.

Joss canta maravilhosamente, tem ótimas músicas e uma presença carismática, a sua maneira, no palco. Janelle é uma voz brilhante também, possui um repertório que só tende a melhorar conforme sua carreira for progredindo, e não há como negar que a presença de palco, a eletricidade que desprende do seu show, é o que ela tem de mais fascinante. Ke$ha não é má cantora (canta ao vivo e, quando sem o “microfone de efeitos” – ninguém é perfeito –, não faz feio), tem meu completo respeito como compositora e colocou para funcionar um show muito divertido e empolgante. O que me impede, o que impede meu pai, e a bem da verdade, o que impede a nós todos de sabermos reconhecer isso? Não é preciso um padrão do que é bom ou do que é ruim. Não é preciso uma classificação. Existe um milhão de coisas boas completamente diferentes entre si.

Talvez eu devesse entrar no mérito de Ke$ha ser a voz de uma geração (a minha, e não a do meu pai), mas isso é outra história, que o Legião Urbana soube cantar em “Pais e Filhos”. Pode ser que nossos pais nunca entendam o porquê de “Hungover”, “Animal”, “Tik Tok”, “Cannibal”, e outras músicas de outros artistas, serem tão especiais para nós. É muito mais fácil entender o passado do que o presente, afinal. Mas não deveria, e não precisa haver, esse muro que os impeça de reconhecer que, se um artista é capaz de mexer com a sensibilidade de alguém (que dirá de uma geração toda!), ele já está fazendo algo mais do que válido.

“Essa geração está perdida”, meu pai conclui. Não, definitivamente não. Essa geração está apenas começando a se encontrar.

RIO DE JANEIRO, BRASIL - 29 DE SETEMBRO - PALCO MUNDO: JANELLE MONAE, (Foto: Felipe Hidvegi/Estacio) rock in rio 3

I’ve got a right to be wrong/ My mistakes will make me strong/ I’m stepping out into the great unknown/ I’m feeling wings though I’ve never flown.
I’ve got a mind of my own/ I’m flesh and blood to the bone/ I’m not made of stone/ Got a right to be wrong/ So just leave me alone”

(Joss Stone em “Right to Be Wrong”)

22 de out. de 2011

Bebé Ribeiro #3 – Moves Like Adam

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Quando o Caio trouxe a notícia de que o próximo artigo deveria ser sobre o estilo de algum cara que servisse de inspiração para os outros homens, nem pensei muito: escreverei sobre o ADAM LEVINE! O líder da banda Maroon 5 , a qual esteve recentemente no Brasil fazendo uma apresentação IM-PE-CÁ-VEL, tem muito a ensinar no quesito fashion. Assim como a maioria dos rock stars, Adam sempre está acompanhado de sua inseparável jaqueta de couro, camisa xadrez, calça extremamente skinny e nos pés, algumas variações entre sneakers, coturnos, sapatos e por aí vai. Apesar das brincadeirinhas sobre o fato de na maioria das vezes ele estar sem camisa, fazendo a alegria das garotas (tá, pode me incluir nessa), Levine mostra que apenas com boas jogadas de peças básicas e atemporais, é possível ser considerado um ícone de estilo.

O vocalista tem a pegada rock'n roll na hora de se produzir, porém, diria que é um fresh rock. Raramente vemos Adam em produções muito inusitadas, regadas a muitas misturas de textura ou corte. Geralmente, as roupas estão inspiradas no rock com algumas doses da alfaiataria, como por exemplo, o tradicional colete acompanhado de jeans e t-shirt com estilo "era do meu tio avô e resolvi usar". Outra produção que Adam já apareceu foi usando uma das peças que eu mais AMO ver em um homem: Blazer! Estruturado na medida, não há Bebé Ribeiro que resista a um charme de um blazer novamente com jeans, camisa e gravata.

Não podemos esquecer os xodós não só dele, mas de muitíssimos e muitíssimas: CAMISAS XADREZ! Sempre em tons de vermelho, marrom, cinza, preto e azul , Adam faz bonito quando resolve aderi-las ao look do dia. O mais legal do estilo de Adam é que a maioria das peças e acessórios que ele usa é possível encontrar nas fast fashions. Zara, Renner, C&A, Riachuelo e outras possuem sempre em suas coleções vários modelitos que o astro usa.

Essa foi a minha dica da semana, espero que vocês tenham se inspirado e saiam por aí moving like ADAM!

Beijitos.

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Eu sou apaixonado por moda. Eu acho que diz algo sobre o que você é e, você se preocupando ou não com o que veste, suas roupas refletem algum tipo de atitude quanto ao estilo”

(Adam Levine)

20 de out. de 2011

GuiAndroid #3 – Ed Westwick: O sucesso de contrastes

guiandroid semana de moda

Eis que Caio Coletti propõe o novo tema da semana de moda do O Anagrama: nós da equipe teríamos que escolher um ídolo de moda masculina. Nunca havia pensado nisso, nem parado para escolher alguém para esse "cargo". Então começa a minha odisseia atrás de ''um cara'' que se vista bem e tenha estilo o suficiente para que eu possa chamar de ídolo: Jude Law, Joe Jonas, Nick Jonas, Dougie Poynter, Chace Crawford, Zac Efron e até Billie Joe. Desisto dessa cansativa pesquisa, pois nenhum deles me pareceu estar à altura de ser um ícone fashion masculino, começo então a assistir os novos episódios das minhas séries Terra Nova, The Secret Circle, Gossip Girl...

Isso mesmo, passei a questionar se Chuck Bass era tão bem vestido na vida real quanto na ficção. Surge a surpresa: Ed Westwick se veste quase tão perfeitamente quanto seu personagem na série, talvez o fato de ser inglês influencie em seu guarda-roupa semelhante ao de Chuck. Porém com um estilo mais próprio.

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Com um estilo preppy e um tanto rocker Ed segue a linha arrumadinho, vintage e toda a moda praia das décadas entre os anos 60 e 70, com suas peças inspiradas nos anos 40 e 50, não muito diferente de Chuck B., porém ele impõe seu toque pessoal em tudo o que veste, deixando nem formal de mais ou desleixado de mais; complementando camisetas regatas e acessórios rock com bermuda de alfaiataria, ternos finos com uma camiseta de gola oval por baixo, os sapatos em couro preto ou marrom (arrisco um palpite de que ele use sapatos Prada) implementados em looks modernos e básicos dando o ar extremamente sofisticado. E. Westwick também sabe se vestir muito bem quando o evento exige algo formal ou mais fashionista, talvez ele até busque inspiração em seu personagem, ainda sem se esquecer de sempre deixar sua marca. Pode-se perceber que Ed não usa gravatas e constantemente por debaixo dos blazers e paletós deixa sua camisa aberta com peito à mostra. Ed também é grande fã de cardigãs, toucas, boinas e trenchcoats, artigos claramente de grande bom gosto e que definem seu estilo.

Contrariando um pouco o que o preppy dita, Ed Westwick é uma mistura saudável entre o simples e limpo da Calvin Klein, o vintage e puramente americano (mesmo Ed sendo inglês) da Tommy Hilfiger e o toque pessoal roqueiro de Ed da nossa brasileira Cavalera.

Edward Gregory Westwick é o contraste entre o clássico e o moderno, a classe e o espírito de liberdade, a simplicidade associada à beleza, a sofisticação com um toque pessoal, o estilo preppy e o roqueiro clássico, as peças urbanas e o prêt-à-porter da mais fina alfaiataria andando lado a lado combinadas com perfeição e sobriedade. Ed faz da sua moda singular e sucesso de crítica, talvez ele seja a perfeita definição de moda vestindo-se com o que é bonito e confortável sem ser um outdoor de logotipos, etiquetas e estampas.

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Eu sou um cara do rock n’ roll. Sou um grande fã de Elvis, cara. Eu tenho ‘Heartbreak Hotel’ tatuado no meu peito. Eu tenho ‘21 grams’, ‘Love me two times’, a canção do The Doors. Eu tenho ‘I heart romance’ no meu ante-braço e ‘You make me feel like the one’ nos meus ombros… Eu vi ‘I heart romance’ em uma porta de banheiro no Brooklyn.  Eu achei legal, então tatuei”

(Ed Westwick)

18 de out. de 2011

Wild Fashion #5 – Gerard Way

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Nossa, essa semana o sr. Caio Coletti me lançou um desafio e tanto: Escrever sobre o estilo de uma personalidade MASCULINA!

Quase sempre deixo os homens de fora das minhas dicas, mas é que ser elegante para eles não é tão difícil, e também os pobres coitados nem tem muitas opções pra variar, por isso para mim foi um desafio falar sobre o ESTILO de uma personalidade masculina.

Pensei um bocado confesso: todos os homens que eu pensava me vinham a cabeça com camisas e gravatas, ou vestido quase sempre como em uma propaganda de perfume.

Eis que meu gosto musical me deu um brilho, e eu escolhi alguém que tem um estilo um tanto quanto peculiar, devo dizer: Gerard Way (embora tenha o escolhido por ser loucamente fissurada nele).

Para quem não sabe Gerard Way é vocalista e compositor da banda My Chemical Romance.

Devo dizer que ele teve muitas FASES ao longo da carreira, desde o emo que tinha cabelos medianos e era fissurado por morte, até o cara de cabelos vermelhos que canta sobre a liberdade que cada um deve ter sobre si mesmo.

O estilo de Ge me encanta.

Apaixonado por jaquetas de couro (que deixam qualquer look masculino charmosíssimo, desde que você saiba escolher o modelo da jaqueta claro) e botas masculinas ele opta sempre por parecer sério, mas ainda assim um roqueiro meio emo.

A cor do cabelo, NADA COMUM, dá a personalidade final no look de Gerard, mostrando que o vocalista sabe o que quer, e tem certeza das coisas. (Eu seria incapaz de pintar o cabelo dessa cor se não tivesse CERTEZA do que queria).

Talvez esse seja o real motivo por eu ter escolhido Ge, porque ele e seus looks representam o que é moda para mim: nos vestirmos de acordo com o que somos e de acordo com o que queremos transparecer para as pessoas.

Espero que tenham gostado, e lembrem-se se: você veste o que você é!

Beijos e até a próxima meus amores.

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Don’t let the media tell you what to look like. You’re beautiful the way you are. Stay beautiful, keep it ugly” (Gerard Way)

Semana de Moda Especial – Ícones de estilo masculino.

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por Caio Coletti

Estabelecer temas especificos para falar sobre moda é ao mesmo tempo um exercício muito interessante de observar os resultados e uma prática um pouco complicada. Entenda-se: quando se trata de um tema tão amplo quanto a moda se mostrou nesse relativamente recente espaço que O Anagrama abriu para ela, é fácil acabar limitando demais. Acontece que uma coisa realmente tem me intrigado nos últimos tempos. Procurando por aí em blogs de moda (com destaque para o My Petit Closet e para o GuiAndroid FashionWorld, é claro), é fácil perceber como a moda masculina é pouco notada, ou pouco valorizada, em relação a feminina. Não que não seja natural. As possibilidades criativas de um vestido são muito mais interessantes do que as de um traje formal masculino. Minha constatação é, portanto, que os homens precisam ainda mais do que as mulheres de seus icones de estilo se quiserem ser coerentes na hora de se vestir (bem).

Por isso, a revelia da minha própria opinião (sobre o que não entendo é melhor calar e ouvir do que falar besteira), deixei os nossos três brilhantes colunistas de moda escolherem, para essa semana, cada um o seu próprio ícone de estilo masculino. O resultado foi surpreendente, eu devo lhes dizer, e ao mesmo tempo brilhante pela variação que apresentou. Essa semana vamos ter por aqui um rockeiro de cabelos vermelhos, um astro de séries de TV que faz o estilo arrumadinho e um frontman de banda pop rock adepto das camisetas lisas e jaquetas de couro. O denominador comum de tudo isso? Cada um deles é muito verdadeiro com a própria personalidade, e sabe moldá-la bem na hora de escolher os pedaços de tecido com os quais vão se vestir. E, claro, cada um deles representa perfeitamente o próprio conceito de moda que os nossos colunistas tomam pra si. Como quase tudo quando se fala de moda, acabamos concordando mesmo é com Coco Chanel.

A moda sai de moda, o estilo jamais”

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Tudo o que lhe basta são alguns outfits básicos. E só há um segredo: quanto mais simples, melhor” (Cary Grant)

15 de out. de 2011

Movimento

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texto por Caio Coletti
fotos por iJunior

Ela via a paisagem passando pela janela suja, e às vezes parecia estar tão acostumada com a inquietação do leve tremor do trem mexendo com a boca do seu estômago que até esquecia que quem estava se movendo era ela, e não o mundo. Há tanto tempo ela viajava que poderia nem mesmo notar mais a dor da despedida de um lugar onde estivera, e convencera a si mesma que não havia importado, que não fizera diferença. Que, quando realmente fosse pra ser, quando ela encontrasse o lugar que poderia chamar de casa, seria pra sempre. Ela se convencera a não sentir, se convencendo de que nada merecia seu sentimento se não fosse eterno. Mas, nessa vida toda de temporários, ela se esquecera do fundamental: o eterno não existe.

Assim, ela sofria sorrindo. E deixava o mínimo de conforto daquela cabine fria em que viajava ser o bastante para manter-se inteira, manter-se bem, manter-se viva. Manter-se tudo, menos completa. Isso ela não era, nunca fora e provavelmente nunca seria. Aprendera a ignorar aquele pedaço insistentemente latejante de si mesma que faltava, porque vira de longe que o mundo que a cercava fazia o mesmo. Nunca quisera seguir o exemplo, mas concluíra afinal que a dor de saber era maior que a dor de renunciar a verdade. E assim, aos poucos, ela aprendera também a fugir de tudo o que a fizesse se lembrar daquela ausência, daqueles momentos fugidios em que parecia que o trem finalmente iria parar, e ela descia para sorver o ar e ser recordada do fato de que aquela não era sua parada ainda. Tantas vezes. Já até se convencera de que nunca iria ser.

Fria e rígida em seu assento, sozinha em sua cabine, ela não fazia som algum. Ela não se permitia. Não se mexia. Tinha os olhos fixos no lado de fora da janela, mas não sentia nada que passasse por lá. Já vira últimos suspiros, primeiras palavras, beijos intensos, abraços calorosos e conflitos densos. Só observava. Alguém que a visse, ou ouvisse sua descrição, poderia se perguntar se ela ao menos respirava. O movimento do peito era tão mínimo, o brilho dos olhos era tão pouco, o sorriso congelado no rosto era tão perenemente vazio, a respiração era tão curta... Sobrevivia, mas não vivia.

O trem sacolejou um pouco mais forte, lentamente parando em alguma estação sem cor. Só uma pessoa estava lá, esperando alguma coisa com aquela postura falsamente largada, propositalmente displicente, como num eterno tédio de domingo a tarde, sem o Sol ou o cheiro do dia em que tudo começa de novo. Para ele, parado ali, na estação, todos os dias eram iguais. Assim como para ela, eternamente viajante. Era só uma questão de escolha: fingir estar bem quando o interior está constantemente em frangalhos sem que nem mesmo se perceba, isso era imposição irrevogável. Resta, saber, afinal, se parado ou em movimento.

Se ela via o mundo passar, ele via o mundo passando. Se ela sonhava já sem acreditar que um dia chegaria a seu destino, ele esperava igualmente sem esperança pelo trem que traria o seu. Eles podiam sobreviver já sabendo que o que faziam era em vão. Mas o que mais sabiam fazer? Não importava onde estariam. O mundo ficaria, sempre, do outro lado da janela.

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Stop and stare/ I think I’m moving but I go nowhere/ Yeah, I know that everyone get scared/ But I become what I can’t be/ Stop and stare/ You start to wonder why you’re here not there/ You’ll give anything to get what’s fair/ But fair ain’t what you really need/ Can you see what I see?”

(OneRepublic em “Stop and Stare”)

13 de out. de 2011

O Breve Fim de Mademoisselle Jaqueline Lemaire

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por GuiAndroid

O cabaré lotado, a música tocando, era difícil saber se era Jazz ou Soul, se era Soul ou música Burlesca. Nunca tive ouvido para música, apenas talento para dança. A década de 20 em Paris se demonstrava mais viva do que nunca, o fim da guerra trouxera clientes, amigos, empresários e amantes ao bar. Ao mesmo tempo em que os ares eram de paz e felicidade a minha vida pessoal e profissional estava se arruinando, com certeza em alguns meses a rua seria minha nova moradia.

-Mas senhor Baudelaire, me dê mais um mês, há cada vez mais dinheiro entrando no cabaré, tenho certeza que madame Chevalier me dará um aumento se eu a pedir.

-A única certeza que pode ter nesse momento Mademoiselle Lemaire é de que vai perder seu apartamento esta semana se não puder me pagar o aluguel.

Monsieur Rousseau viera me cobrar o aluguel em meu trabalho esta noite. A situação estava ficando precária, meu salário mal dava para me manter, muito menos para pegar o transporte até o cabaré.

Meu show começara, a música tocava e eu realizava o número de sempre. Em poucos minutos já estava cansada, mal podia respirar ou raciocinar direito, não havia jantado essa noite, não tinha dinheiro o suficiente para isso. Inevitavelmente, ainda no começo do meu show, escorrego no palco e caio, como se houvesse sabão sob meus pés. A plateia então começa com as vaias, as lágrimas escorrem pelo meu rosto e a cortina se fecha.

- Jaqueline, o que houve com você? Eu lhe disse que se isso acontecesse mais uma vez eu a tiraria do show, você não pode continuar a arruinar meus espetáculos!

-Mas Madame Chevalier, perdão, com o que a senhora me paga não possuo o suficiente nem para o jantar, não existem mais forças em mim para que eu continue todas as noites assim.

- Pois então se vire Jaqueline, todas as outras se viram muito bem com o que pago.

- É claro, elas trabalham em outros cabarés durante o dia, eu não tenho essa condição, moro longe e não tenho tempo para trabalhar tanto assim.

- Pois então arranje outra casa de espetáculos que lhe pague melhor, passe aqui amanhã cedo para pegar a sua demissão e o que eu tenho que lhe pagar por este mês.

Saí da sala de Madame Chevalier aos prantos, fugindo sem rumo pelas ruas iluminadas de Paris. Não me restava mais nada, nem trabalho, nem casa, nem roupas, muito menos comida. O que seria de uma dançarina de cabaré próxima da aposentadoria, vivendo no limbo e a beira da falência?

Na manhã seguinte passei no cabaré e peguei meu dinheiro, pouco, que mal dava para uma semana. Para o aluguel então, impossível. Fui para casa e preparei minhas malas: eu teria que arranjar algum lugar barato para ficar. Com as malas a arrastar pelo chão no meio da manhã saí a procura de uma pensão qualquer, um lugar que me abrigasse por alguns dias. As pessoas na rua me olhavam como se eu fosse uma espécie desconhecida, de animal, como se fosse um escarro no chão pronto para ser pisado.

As nuvens começaram a ficar pesadas e aos poucos as gotas foram caindo, cada vez mais grossas, o drama em meu rosto combinava com o clima e com a luz, era difícil combinar meus pensamentos com a razão, as direções incertas para os quais eles me levavam eram traiçoeiras, em um dia caminhando pelas ruas não houve se quer uma pensão ou albergue que houvesse vagas ou que me aceitasse. A noite já estava caindo e a chuva continuava desabando, as lágrimas em meu rosto eram incessantes, meu estado deplorável. Haveria para alguém como eu um final feliz? Porém como isto é vida real as chances são de que eu contraia alguma doença e simplesmente morra, pois neste ritmo de vida estou fadada a esse fim. Se é que posso chamar isso de vida.

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[Sally]: Você deve estar se perguntando o que eu faço trabalhando num lugar como o Kit Kat Club.

[Brian]: Bem, é um lugar bem incomum.

[Sally]: Essa sou eu, querido. Lugares incomuns, casos amorosos incomuns. Eu sou uma pessoa realmente estranha e extraordinária.

(Liza Minelli e Fritz Wepper em “Cabaret”)

11 de out. de 2011

A Sua Satine

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por Caio Coletti

Ela costumava povoar todos os seus sonhos. Os olhos fechados, a mente longe de qualquer lugar real, ele idealizava o seu rosto, o enchia de perfeição, de vida, de sorriso, de esperança. E a dava o brilho no olhar de uma mulher apaixonada. Na sua mente, os cabelos ruivos ardiam em fogo, a pele branca transpirava candura, e os olhos azuis transbordavam a doce essência do amor. O corpo esguio, o trato refinado, o sorriso discreto de uma dama de gelo cujo coração apenas ele poderia conhecer. Sim, ela era uma atriz. E o mundo todo acreditava em seu pálido, transparente fingimento de frieza e invulnerabilidade. Mas não ele, é claro. Ele tinha privilégios.

Ele conhecia a mulher de verdade por trás das fachadas. E talvez fosse por isso, por seu véu ser mais fácil de ultrapassar para ele do que para qualquer outro homem, ela era incondicional e inteiramente sua. Era um ideal, uma utopia. A rainha de gelo que se tornava numa princesa de fogo eternamente ardente apenas para aquele que amava. Conhecer, saber, prever todos os movimentos daquela mulher, aquela era sua conquista mais glorificada, e mais desconhecida, de todas. O mundo todo se perguntava o que ela, tão linda, vira nele. E os que não o faziam se questionavam porque ele, tão sensível, se juntara a ela, a inatingível.

Ora, ele conseguira atingi-la! Mas por quanto tempo? A questão lhe martelara na cabeça por anos a fio, no cenário difuso, no eterno jogo de agrados que se tornara a convivência dos dois. Ele mal podia se lembrar de como tudo aquilo, aquele relacionamento, aquela ligação estranha que ambos sentiam, havia começado, mas tinha certeza, agora, dos motivos pelos quais havia terminado. O que começara como um sonho se tornando realidade de súbito se transportara de volta para o mundo confuso dos desacordados como o mais funesto pesadelo. E ele a ouvia sedado, em coma, tentando assimilar as palavras que ela dizia naquela bela voz musical que ele idolatrava. Ela podia estar cantando, agora. Mas era uma canção sombria.

- Christian, eu tenho que partir – um acorde tenso soou após sua voz silenciar. – Eu sinto muito, mas esse lugar não é mais o bastante para mim – “você não é mais o bastante para mim”, ele pode ouvir o canto mais sombrio da sua consciência lendo as entrelinhas. Mas, por sua própria sanidade, resolveu ignorá-lo. – Eu vou partir. Não me pergunte para onde, não me peça para explicar. Eu não quero chorar. Eu simplesmente vou embora.

- Não – não era um lamento, e sua voz não era nem de longe a melodia que saíra dos lábios dela, mas era possível ouvir a resolução no seu tom. – Eu jamais permitiria que isso acabasse, mas você sabe que também não me colocaria na frente dos seus sonhos. Você vai estar longe, é claro que vai. Mas eu posso esperar por você. Para sempre.

Palavras sempre foram seu forte, mas não parecia estar na melhor de suas formas naquela noite, pois sua declaração de amor eterno simplesmente provocou um sorriso apagado nos lábios finos dela. E ele encarou aqueles olhos azuis que sempre foram uma fonte cristalina de amor para ele. Não importa o que ela falasse ou o que acontecesse, aqueles olhos lhe traziam a lembrança do quanto ela o amava. Ou talvez fosse apenas o quanto ele se sentia assim. Não sabia mais. E de repente aqueles olhos eram mais espelhos de sua própria e obsessiva paixão do que dos sentimentos dela. Não eram mais os olhos da sua amada, da sua Satine. Eram os olhos de uma atriz.

- Christian – ela quebrou o silencio, e de repente ele pôde ouvir a dissimulação na voz dela que seus amigos tanto tentaram avisá-lo sobre. – Eu te amo. Sempre vou te amar em alguma parte de mim. Mas não. Não me espere. Eu não vou voltar.

“Ela não quer mais isso!”, a voz no fundo de sua consciência o falou, acusadora, enquanto ele de repente via toda aquela beleza, todo aquele ideal que por tanto tempo ele tivera em seus braços, lhe fugindo. E o verdadeiro véu de sua Satine finalmente caiu. Ele não gostou do que viu, da pele branca reluzindo desonestidade, dos cabelos vermelhos pegando fogo em descaso e dos olhos azuis transbordando de desamor. Era a verdade que ele encarava agora, e não o algo belo que ela lhe mostrara por tanto tempo. Ela virou as costas, uma lágrima hipócrita caindo de seus olhos raivosos em segredo.

E ele viu o último relance daquele brilho azul que ele amara. A última nesga daquela pele branca que ele acariciara. O último rastro do perfume doce que o hipnotizara. E então, ele acordou. E a vida era real mais uma vez. Real e dolorosa, pois a sua Satine sempre existira, e sempre existiria. Mas apenas em seus sonhos.

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[Christian]: All you need is love!

[Satine]: Love is just a game.

[Christian]: I was made for loving you baby, you were made for loving me.

[Satine]: The only way of loving me baby, is to pay a lovely fee.

(Ewan McGregor e Nicole Kidman – Christian e Satine – em “Moulin Rouge!”)

8 de out. de 2011

Love? - “Papi”, o novo de JLo, está mais para paixão desenfreada e amor a primeira vista.

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Ao comer um biscoito enfeitiçado que fará com que ela recupere o amor de seu amado, ela acaba atraindo muitos outros homens além de seu namorado.

Descrição do clipe (por GuiAndroid)

Com um ar de Sex and the city, pois o clipe se passa na cidade Nova Iorque, Jennifer Lopez está no saguão de seu prédio pegando sua correspondência, como parece fazer todo os dias. Então ela devora o biscoito em questão de segundos (uma sutil falha de continuidade do clipe), e ao sair de lá os homens na rua começam a disputá-la, pegam flores, saltam por vidraças, quando menos se espera um exército de homens loucos de amores por JLo a persegue; é interessante perceber que durante metade do tempo em que os homens estão atrás dela, ela mal percebe e continua a andar nas ruas de Nova Iorque feito uma Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker).

Carrie JLo então percebe o exército de homens correndo desenfreadamente atrás dela e passa a correr também assustada com o que está acontecendo. Desta parte para frente começa uma coreografia muito criativa que dá um UP no videoclipe e faz dele ainda mais dançante. Como a música, assim como todo o álbum é feito para baladas, é impossível ficar parado, principalmente quando a coreografia começa. Você logo quer aprender a fazer aquela ''dancinha'' louca também.

Opinião

 GuiAndroid

Papi demonstra-se como uma evolução do trabalho de JLo, que em I'm Into You deixou um pouco a desejar. Fiquei procurando a Lil Wayne até o final do clipe, logo depois eles lançaram uma versão do clipe com a Lil W. que acabou por ser melhor que a versão da JLo.

Papi vem para ser a nova batida das casas noturnas do mundo todo, como uma canção indutora a sedução, movimentos sensuais e acima de tudo uma melodia muito satisfatória que te faz querer cantar, ouvir, aprender a letra e imitar os vocais exóticos de Jennifer Lopez.

Estaria Jennifer Lopez tentando um albúm com singles universais? On the floor se passa em LA., I'm into you no México, Papi em NYC, onde se passará o próximo clipe? Talvez em alguma cidade que esteja apta o bastante para toda a energia de JLo.

Caio Coletti

Papi foi uma surpresa pra mim. A persona carismática e as habilidades de dança de JLo não são novidade pra ninguém, mas esse terceiro videoclipe do álbum Love? fez algo que nenhum dos dois anteriores (On The Floor e I’m Into You) conseguiram fazer: me fez querer ouvir o álbum todo.

Culpa da direção versátil, mas sempre equilibrada e divertida de Paul Hunter (responsável por vídeos díspares como My Love de Justin Timberlake e Take it Off da Ke$ha), culpa da coreografia brilhante, culpa do refrão que contagia muito mais, com sua batida pulsante, do que a house music barata de On The Floor.

O Papi que eu vi foi um clipe bem-produzido, divertido, no qual JLo parece muito mais confortável na sua própria pele do que nos singles anteriores. No final das contas, é essa espontaneidade que conta: e não alguma camuflagem que faça o artista passar por algo que ele não deseja ser.

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Now all my super-ladies/ I got my baby/ If you got your baby, baby…

Move your body, move your body/ Dance for your papi/ Rock your body, rock your body/ Dance for your papi”

(Jennifer Lopez em “Papi”)

6 de out. de 2011

Review: Unbroken – Duas visões sobre o novo álbum de Demi Lovato.

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Caio Coletti – **** (4/5)

Demi Lovato não é a mesma garota da Disney que todos conhecemos com Camp Rock ou, para os mais desligados desse mundo, com algum dos singles de Don’t Forget ou Here We Go Again. Quando o seu primeiro álbum saiu para surpreender pelo menos a parte mais atenta da crítica com um som mais encorpado, uma personalidade mais própria e um potencial vocal mais interessante do que as investidas de seus colegas de “geração Disney” Jonas Brothers, Selena Gomez e Miley Cyrus, Demi tinha 16 anos e cantava sobre estar se adaptando a posição de ídolo adolescente, sobre paixonites da juventude e sobre afirmação de personalidade. O lançamento de estúdio seguinte, Here We Go Again, mostrou que Demi estava disposta a experimentar bastante com o meio musical. De certa forma, musicalmente, Unbroken não foge do caminho natural dessa evolução.

Quando abre com “All Night Long”, que coloca já na primeira faixa os talentos de Missy Elliott e Timbaland para funcionar juntos ao dela, e abre caminho para as três faixas seguintes (“Who’s That Boy”, “You’re My Only Shorty” e “Together”), Demi quer nos dizer que não é mais só a estrela mais rock n’ roll da Disney. Aos 19 anos, ela sabe se virar muito bem no R&B, tem voz para as ambições que traça e sabe se cercar das pessoas certas. Nessa leva de quatro primeiras músicas o único erro (e talvez seja mesmo um caso isolado em todo o Unbroken) é “Who’s That Boy”. Para uma faixa que tem trabalhando ao seu favor os talentos incontestáveis de Dev e Ryan Tedder (ela, já referência obrigatória na música eletrônica atual; ele, um dos maiores compositores pop do nosso século), a segunda do setlist do álbum erra ao não dar o devido destaque ao vocal de Demi, e ao se mostrar, essencialmente, rasa.

Esse primeiro bloco do álbum fecha brilhantemente com “Lightweight”. A última contribuição de Timbaland na produção é talvez a melhor balada do Unbroken, e é aqui que é trazida a tona a imensidão do potencial de Demi como vocalista. O refrão é de dar arrepios, e a produção é absurdamente criativa, quase toda construída em cima de diferentes harmonias vocais. É até interessante notar o link temático entre “Lightweight” e sua sucessora, “Unbroken”. A faixa-título é a primeira demonstração de que a cantora não pretende só arranhar no terreno da música eletrônica. Aqui o mergulho é fundo. Produção e composição são bem polidos, e faz toda a diferença ter Demi, e não Selena Gomez ou Ke$ha, nos vocais.

É aí, nessa dualidade com a qual os críticos tanto se preocuparam, que reside a autenticidade de Unbroken: a mensagem de Demi é que ela já esteve por baixo, e que todo mundo um dia vai estar, mas que a mudança não é o fim, e sim uma oportunidade de se construir de volta, mais forte, num lugar diferente. Por isso “Skyscraper” é tão simbólica e fundamental nesse setlist. Aqui, a power ballad perfeita, a escolha brilhante de tê-la como um primeiro single e o apelo que os vocais abalados de Demi tem com o ouvinte (o que só torna as notas que ela alcança no climax da música mais notáveis, diga-se de passagem) trabalham junto com a missão de sintetizar tudo o que Unbroken realmente quer dizer. “Go on and try to tear me down/ I will be raising from the ground/ Like a skyscraper”. Não é sobre para quê ou para quem o desafio é dirigido. É sobre o que ele significa.

Entre pequenas pérolas otimistas (destaque para as ótimas “Hold Up”, “Give Your Heart a Break” e “In Real Life”), Unbroken é sobre seguir adiante. E talvez por isso resolva deixar o gosto amargo de uma canção tão triste, tão autêntica quanto “For The Love of a Daughter” como a última impressão do ouvinte. A emoção é natural de uma letra que tem muito de autobiográfico e retrata Demi com 4 anos, lutando contra os problemas de alcoolismo do pai. Não é uma canção que saia da memória fácil, e é um lembrete muito oportuno de que, se está falando de dar a volta por cima, não é como se não se importasse com isso que Demi o faz. Ela viveu o que conta. Ainda que em curtos 19 anos. Ainda que seja, é claro, uma compositora que vai amadurecer muito. Mas se tem algo que Demi não é, e não se permite ser em momento nenhum, é uma encenação. Unbroken representa o que ela é, e o que ela sempre vai ser, independente das experimentações musicais que fizer. E só isso já é o bastante para torná-lo acima de qualquer suspeita.

Guilherme Jales – **** (4/5)

O retorno de Demi Lovato com Unbroken era esperado mesmo por quem não é fã da cantora e apenas conhece uma ou outra música. Afinal, é a sua volta depois de quase um ano afastada do showbiz após alguns meses de reclusão num centro de tratamento, seguida de um longo período de gravações em estúdio.

Mesmo antes dessa curta pausa na sua carreira, Demi sempre apontou que queria experimentar uma pegada mais próxima do pop-R&B em seu terceiro trabalho, sempre mencionando a influência de Christina Aguilera como uma de suas inspirações e o gosto pelas músicas de Rihanna e Nicki Minaj.

Unbroken começa com duetos e faixas produzidas por nomes fortes do gênero. O já não tão Midas como antes Timbaland produz “All Night Long”, uma faixa dançante com participação da mais bem sucedida rapper da música americana, Missy Elliott. Segue-se “Who’s That Boy”, provável próximo single com participação da ascendente Dev; e “You’re My Only Shorty”, dueto com o rapper Iyaz com uma batida que chega a lembrar as músicas de Justin Bieber.

Pra uma cantora que sempre teve uma pontinha de rock dentro de si, são faixas muito diferentes do que costumamos ouvir na sua voz. Ensaiam uma aproximação com um público mais velho, que já tem idade para beber e sair na noite. Sua voz sempre forte se destaca, mas as faixas não empolgam tanto como deveriam.

Nas músicas mais lentas e românticas é que Demi se sobressai. “Together” (dueto com Jason Derulo) e as belas “Lightweight” e “Fix a Heart” mostram que quando Demi foca seu esforço em músicas mais pessoais e emocionais, o resultado é bastante positivo.

Aqui também entra “Skyscraper”, seu último single, sobre recuperação emocional e uma bonita mensagem de “volta por cima”. A canção havia sido gravada no período mais difícil da cantora, com a garganta enfraquecida pelo efeito da bulimia da qual Demi começou a se tratar em seguida. Mesmo após uma regravação recente, a cantora optou por lançar a primeira versão, por representar de modo melhor a dor da letra. Parece ter sido a escolha perfeita.

O cd se encerra com “For The Love of a Daughter”, música adiada do cd anterior, onde a cantora revela seu drama de conviver na infância com um pai alcoolatra. É talvez a melhor de Unbroken, revelando uma dor pungente e verdadeira.

Outro destaque do álbum é “My Love is Like a Star”, canção co-escrita por James Morrison que lembra um tanto os vocais de Kelly Clarkson e Christina Aguilera, e apontam a esperança de que, com a voz que tem, Demi possa chegar à altura desses grandes nomes do pop.

Potencial ela tem. Falta apenas o direcionamento, o amadurecimento que só o tempo traz. E que ela perceba o valor de apostar mais nos seus bons vocais em vez de apelar à dança e ao espetáculo puramente visual.

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You can take everything I had/ I can break everything I am/ Like I’m made of glass/ Like I’m made of paper/ Go on and try to tear me down/ I will be raising from the ground/ Like a skyscraper”

(Demi Lovato em “Skyscraper”)

In memoriam: Steven Paul Jobs (24 de Fevereiro de 1955 – 05 de Outubro de 2011)

4 de out. de 2011

Guilherme Jales #2 – Impressões sobre o Rock in Rio IV

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Dois fins de semana, sete dias de apresentações, e com o final da 4ª edição brasileira do Rock in Rio, chega a hora de fazer um balanço do que aconteceu com o festival.

1. Sete dias de música, meses de mimimi

As reclamações quanto à escalação das atrações já são praxe em qualquer conversa que mencione o festival. A diferença é que, com a agilidade da internet e a amplificação de opiniões pelas redes sociais, virou padrão reclamar da quantidade de atrações pop no Rock in Rio. Nem adiantava explicar o histórico eclético de quem já apresentou nomes que vão de Elba Ramalho a Sandy & Júnior, de Moraes Moreira a Britney Spears. No fim das contas, depois de Slipknot e Metallica, ninguém reclamou mais de Katy Perry e Rihanna.

2. Cobertura na mídia: mais erros que acertos

A transmissão dos shows nas madrugadas da Globo foi limpa e seca, com pouco além das apresentações ao vivo e compactos dos shows anteriores. Zeca Camargo tinha pouco a dizer de cada banda a passar pelo Palco Mundo além de ‘fantástico’, ‘sensacional’, ‘arrasador’ e afins. Na cobertura do Multishow, pérolas e mais pérolas das apresentadoras e repórteres. Além do viral do momento na internet, a frase “Hoje é dia de rock, bebê!” pronunciada pela atriz Cristiane Torloni num estado etílico alterado em entrevista na área vip do evento.

Por outro lado, a transmissão completa do evento para o mundo todo via internet permitiu a milhões de brasileiros ter um gostinho do que foi estar na Cidade do Rock. Pra quem nunca pôde estar num Rock in Rio, foi possível sentir um pouco do clima do evento. A apresentação do Metallica foi a transmissão ao vivo mais assistida da história do YouTube – lembrando que esses dados não incluem o público brasileiro, que tinha o portal G1 como única opção para ver as apresentações online.

3. Bons shows, algumas decepções, gratas surpresas

Fora de lugar no meio de Jamiroquai, Janelle Monáe e Stevie Wonder, Ke$ha foi considerada por muitos o show mais fraco do Palco Mundo. Dentre as atrações internacionais, algumas não surpreenderam e apresentaram apenas o esperado como Katy Perry (espetáculo visual, voz questionável) e Rihanna (pouca cenografia, e vocais apenas na média).

Para este que vos escreve, talvez a maior decepção tenha sido o show de Frejat. Tocou os grandes sucessos, fez homenagens como “Malandragem” relembrando Cássia Eller, mas não deixou sua marca e nem de longe lembrou o show enérgico do Barão Vermelho que fez história 26 anos atrás.

Por outro lado, pudemos ver várias apresentações memoráveis para fãs e ouvintes de ocasião de algumas bandas. O Metallica acertou em cheio ao focar sua apresentação nas músicas mais antigas; o Coldplay emocionou, mesmo com várias músicas do cd novo que só sai dia 18 de outubro, e deu um show de música e luzes. O Brasil conheceu o groove de Janelle Monáe, e na mesma noite viu um inspirado Stevie Wonder fazer 100 mil pessoas cantar junto seus grandes sucessos e até clássicos da bossa nova como “Garota de Ipanema” e “Você Abusou”, naquele que foi unanimemente considerado pela crítica o melhor show do festival.

O Rock in Rio volta ao país em 2013, já com a confirmação de número menor de ingressos (reduzido de 100 mil para 85 mil por noite), e com venda antecipada já lançada. No fim das contas, o saldo foi positivo para o público, para os artistas, patrocinadores, e para o Rio de Janeiro, que agora ganha um novo centro de eventos e segundo a organização do evento, gerou uma renda de US$ 461 milhões para a cidade. Fica agora um gosto de quero mais. Que venha o Rock in Rio V!

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“Houve de apresentações memoráveis a exageros performáticos, de personagens inesperados a imagens de encher os olhos. Mas as coisas não acabam por aqui. Afinal, todo dia é dia de rock, bebê.”

(matéria do G1 elegendo os momentos marcantes do festival – e fazendo uso, é claro, do bordão da vez)

1 de out. de 2011

“Pânico 4” mostra a franquia em sua melhor forma.

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por Rubens Rodrigues

Foi com Pânico, lançado em 1997 aqui no Brasil (e um ano mais tarde com Titanic), que eu conheci o cinema. Lembro de ter visto os dois primeiros filmes da franquia e ter achado o máximo. Eu nem tinha 10 anos ainda, mas Sidney Prescott e o assassino com máscara de fantasma grudaram na minha cabeça como sinônimo de terror. Afinal, diferente do psicopata que matava suas vítimas dentro de seus próprios sonhos (A Hora do Pesadelo) e dos demônios que eram libertados através de uma caixa mística (Hellraiser), Pânico trouxe um assassino possível.

O filme foi uma espécie de homenagem ao gênero de terror usando da metalinguagem, e teve seus méritos, pois se tornou um sucesso de bilheteria e inspirou franquias como Eu Sei O Que Vocês Fizeram... e Lenda Urbana. O problema é que quando Pânico 3 foi lançado o plot já não era novidade e o filme apresentou um roteiro arrastado e uma direção não tão cuidadosa quanto dos anteriores. Se o terceiro filme mostrou uma franquia desgastada, como o quarto cumpriria bem seu papel em tempos de Atividade Paranormal e Jogos Mortais?

Em Pânico 4, Sidney (Neve Campbell) é autora do livro de auto-ajuda Out of Darkness (“Saindo das Sombras”, em bom português) e está de volta à Woodsboro para promover o título. Dewey (David Arquette) agora é chefe de polícia e está casado com Gale (Courteney Cox), que largou a carreira de jornalista e não consegue mais inspiração para escrever. Logo o assassino Ghostface volta a agir, mas dessa vez o alvo é Jill – a prima da protagonista é o elo entre a geração atual e a clássica.

O diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson sabiam que para contar a história para um novo público teriam que se adaptar a era da informação instantânea e do live streaming, e é justamente onde o filme triunfa. A narrativa apresenta um grupo de cinéfilos que festeja todo ano o “massacre de Woodsboro”, como ficou conhecido o primeiro atentado à vida de Sidney. Os geeks registram em video toda a experiência na escola e na festa Stab-a-thon, onde a franquia Stab (o filme dentro do filme) é apresentada inteiramente em sequência.

Outro detalhe interessante é que alguns momentos fazem referência ao original, como a clássica cena em que Casey Becker, interpretada de forma sublime por Drew Barrymore, tenta salvar o namorado amarrado em uma cadeira durante um jogo de perguntas e respostas. Moderna, Hayden Panettiere mostrou que tem potencial para “rainha do grito” em uma verdadeira homenagem à participação de Barrymore – e porque não, ao próprio filme.

Aproveitando o gancho, a sequência inicial de P4 não ficou devendo nada às de seus antecessores. P2 trouxe um casal sendo assassinado no cinema, durante a exibição do filme Stab. No mais recente temos várias sequências de mortes dentro do próprio Stab até chegar às vítimas reais do assassino. Com introduções tão interessantes como estas, fica até difícil de acreditar na morna participação de Liev Schreiber em P3, que poderia ter ficado de fora.

Divertido do começo ao fim e com a medida certa de terror, Pânico 4 é o pacote completo. Wes e Kevin homenagearam o gênero e não economizaram críticas às franquias que perderam o ritmo depois de tantos filmes. Neve, David e Courteney, em uma sintonia incrível, mostraram que ainda têm fôlego para uma nova trilogia – por favor! No final, digo com facilidade que tenho orgulho de fazer parte da nova geração Pânico.

Nota: 9,0

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Pânico 4 (Scream 4, EUA, 2011)

Dirigido por Wes Craven…

Escrito por Kevin Williamson…

Estrelando Neve Campbell, Courteney Cox, David Arquette, Hayden Panettiere, Kristen Bell, Anna Paquin, Emma Roberts…

111 minutos

“Meus amigos? Em que mundo você está vivendo? Eu não preciso de amigos. Eu preciso de fãs. Você não percebe? Isso nunca foi sobre matá-la. Foi sobre… me tornar você. Eu quero dizer, minha mãe teve que morrer para que eu ficasse igual a original! É doente, não é? Bom, doente é o novo são” (Jill Roberts)