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Review: Liga da Justiça

É verdade: o novo filme da DC seria melhor se não tivesse uma Warner (e um Joss Whedon) no caminho.

28 de fev. de 2011

You know… – Oscar 2011: o show, os prêmios, os destaques.

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Todo ano é a mesma coisa. Os cinéfilos se polarizam entre um, dois ou três filmes, cada um com sua torcida. A cidade de Los Angeles e uma boa parte do mundo pára para conferir suas apostas se confirmarem ou decepcionares. Mulheres lindas (e homens também, diriam minhas leitoras femininas) passam pelo tapete vermelho sob os olhares atentos de amantes de cinema e de moda. Por breves momentos, só se fala e se respira cinema. E não importa quanta interatividade possamos ter do lado de cá da tela, a verdade é que a magia está lá, acontecendo com o esforço de dezenas, centenas talvez, e nós somos os privilegiados a assistirem. Quanto mais de perto, melhor. Mas não se engane. Plateia é plateia, e estrela é estrela.

E a estrela desse Oscar, sem dúvida nenhuma, teve um nome: Anne Hathaway. Deslumbrante, graciosa, engraçada e talentosa, tudo numa só mulher, em uma só noite. O co-anfitrião James Franco ficou praticamente atirado de escanteio, com seu carisma genuíno (apesar de gaiato), ao lado de uma host com a classe, a simpatia e a presença de Anne. Sim, os números musicais foram curtos e foram poucos, mas quem se importa? As piadas foram boas, e o Oscar, no final das contas, é sobre cinema, não sobre música. A genial montagem de abertura com os filmes indicados para a categoria principal, seguida da divertida apresentação dos anfitriões foi só o começo de um show que pode facilmente figurar como o mais bem produzido, clean e dinâmico do nosso século.

Os destaques não param em Anne Hathaway. Estrela absoluta da edição passada, Sandra Bullock mostrou de novo seu carisma e elegância na apresentação do Oscar de Melhor Ator. Ela falou espanhol com Javier Bardem, disse para Jeff Bridges dar chance a outros atores, cobrou Jesse Eisenberg uma notificação no Facebook, parabenizou Colin Firth por ter feito um filme do agrado da rainha, e culpou James Franco pelas mães que tem que pegar seus filhos e ficam vendo General Hospital. Poucas vezes uma apresentação tão longa foi tão boa e divertida.

Último destaque, é claro: Kirk Douglas. Nonagenário. Um dos maiores atores de todos os tempos. O eterno Spartacus. E um apresentador surpreendentemente divertido. Saudando Anne Hathaway com um “onde estava você quando eu estava fazendo filmes?”, prolongando a entrega do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante com o já clássico “you know…” e piadas sobre Hugh Jackman e Colin Firth (“Hugh Jackman está rindo. Por alguma razão, todos os australianos me acham engraçado. Colin Firth não está rindo. Ele é britânico”), Kirk foi um apresentador que pode entrar para a história do Oscar nessa edição 2011.

Enfim, foi um show divertido, equilibrado e leve. Como todo Oscar precisa aprender a ser. Sem opulência demais, nem luxo de menos. Tudo na medida certa. Até, é claro, serem anunciados os prêmios. Ou não. Tudo depende do ponto de vista.

Os Vencedores

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Para quem reclama que a Academia anda “pulverizando” prêmios, o Oscar 2011 teve um ponto a provar: nesse ano a disputa acabou ficando bem polarizada entre três filmes, mais diferentes impossível, o que comprova a temporada de prêmios de 2011 como a mais versátil em muito tempo, ainda que isso não signifique, de forma alguma, que tenha sido a melhor. Favorito absoluto de mais da metade da crítica antes da festa começar, A Rede Social acabou pondo sua bandeira em três prêmios escolhidos a dedo pela Academia: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Trilha-Sonora. A “surpresa da noite” e grande vencedor do ano, O Discurso do Rei, levou mais quatro estatuetas para o panteão britânico: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro Original. Por fim, o terceiro pólo ficou merecidamente com A Origem, a mais recente proeza de Chris Nolan, que faturou tudo nos técnicos: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Fotografia.

Se a humilde opinião deste escriba vale de alguma coisa, na minha visão a escolha de O Discurso do Rei como o grande vencedor da noite foi um passo para trás que a Academia deu em sua recente e crescente evolução em direção ao reconhecimento de um cinema mais contemporâneo, moderno e interessante. Não que a obra de Tom Hopper seja ruim, entenda-me bem o leitor. Mas cinema precisa, antes de qualquer coisa, antes de ser tecnicamente perfeito ou surpreender com tramas mirabolantes, se comunicar com seu público. E, esse ano, ninguém fez isso de forma mais sutil, elegante e eficiente do que David Fincher, Aaron Sorkin e Jesse Eisenberg, o trio de ouro de A Rede Social que, independente da Academia, vai ser futuramente lembrado como o filme do ano. Ou não, posso estar errado. O tempo dirá.

Mas é assim que eu penso agora, e vamos combinar que estava na hora de premiar David Fincher. Ele atinge seu auge em A Rede Social, um trabalho que consegue ser racionalmente brilhante sem deixar de ser essencialmente humano. E um filme fascinante que Fincher carrega com a perfeição técnica de sempre, mas um tom mais caloroso que é novidade em sua filmografia. Pode-se dizer algo parecido de Tom Hopper? Aliás, mais uma injustiça: Roteiro Original para O Discurso do Rei. Será que uma trama baseada em uma história real pode ser considerada um Roteiro Original? E mais: será que não seria nessa categoria, justamente, que a Academia deveria reconhecer A Origem? Indiscutivel que o que o diferencia dos outros indicados desse ano é, justamente, a originalidade de seu roteiro. E o brilhantismo do mesmo.

Os prêmios principais da noite fecharam com Melhor Atriz para Natalie Portman, por Cisne Negro. Na categoria dos coadjuvantes venceram duas interpretação do filme O Vencedor, o que já era esperado: Melissa Leo levou para casa o troféu de Melhor Atriz Coadjuvante (e os de discurso mais simpático da noite e reação surpreendida mais falsa também), e Christian Bale ficou com a estatueta que deveria ser sua há tempos como Melhor Ator Coadjuvante.

Os Perdedores

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Há algum tempo que os críticos chegaram ao concenso de que o ano de 2010 não foi dos melhores para o cinema, especialmente o americano. Apesar do faturamento mais em alta do que nunca nas bileterias, a quantidade de bons filmes e, melhor ainda, a quantidade de grandes filmes na fila para a temporada de prêmios era notavelmente menor que nos anos anteriores. Tanto foi assim que, quando os 10 concorrentes ao posto de Melhor Filme no Oscar 2011 foram anunciados, muita gente chiou, e por muitos motivos diferentes. Um pela indicação de O Vencedor, que estaria na lista apenas como prêmio de encorajamento a Mark Wahlberg, que levou a longa e complicada produção do filme nas costas. Outro, pela presença de Minhas Mães e Meu Pai, tido por muitos como um retrato superficial de uma situação muito atual que mereceria um olhar mais cuidadoso. Houve até quem desgostasse das lembranças de Bravura Indômita, cujas indicações foram consideradas apenas reconhecimento da grife “Irmãos Coen” de filmes.

Menos descreditado, mas quase como café-com-leite na disputa, veio a “surpresa indie” nem um pouco surpreendente do ano, Inverno da Alma, moderadamente elogiado mais jamais considerado para prêmio algum. E perdendo a força conforme as premiações menores abriam os trabalhos de polarização da disputa, 127 Horas chegou ao Kodak Theatre com um indicado a Melhor Ator cujo prêmio de consolação foi apresentar o show. Finais indignos para filmes que não mereciam estar numa lista apenas para preencher a premiação. Apenas cinco na categoria principal teria sido uma escolha bem mais interessante e acertada.

E, no fim das contas…

Nesse mundo, certas coisas são capazes de unir, e outras só servem para nos separar. Pode ser que, com toda essa comoção entre as polarizações e versatilidades do Oscar 2011, tenhamos esquecido que o cinema foi feito, mesmo, para unir. A verdade é que, no seu conceito original, o prêmio da Academia foi feito para reconhecer o mérito, não o gosto pessoal ou qualquer coisa sobre a qual se possa discutir. O Oscar foi feito para ser indiscutível. Se o fazemos objeto de muita polêmica, que o façamos com elegância, argumentos e inteligência. E cada um com sua opinião. Tenha você gostado ou não, foi isso. Ano que vem tem mais. Mas, “you know”… ;D

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“It’s not the load that breaks you, it’s the way you carry it”

(Lena Horne, atriz homenageada)

25 de fev. de 2011

Toy Story 3 (Toy Story 3, 2010)

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Impossível falar de animação nos últimos vinte anos sem falar da Pixar. E impossível falar da Pixar sem passar por Toy Story. Não apenas porque a história dos brinquedos que tomavam vida assim que o dono, Andy, deixava-os sozinhos no quarto, faz parte do currículo da empresa chefiada por John Lasseter (diretor, inclusive, dos dois primeiros capítulos dessa série), mas porque o filme de 1995 representa, em muitos sentidos, a própria essência da Pixar. A mesma essência que a tornou uma das produtoras mais importantes de Hollywood e a mesma essência que deixou as histórias contadas por esse time impregnadas no inconsciente coletivo contemporâneo. Em primeiro lugar, por tratar os filmes de animação como muitos dos feitos em live-action deveriam ser (e não são) tratados hoje em dia: colocando o roteiro em primeiro lugar, na frente até mesmo da técnica de animação. Segundo,  por introduzir comportamentos e sentimentos muito humanos em histórias que não são quase nunca protagonizadas por eles. Ratatouille é um filme sobre sonhos, não sobre um rato. Wall-e é sobre amor, não sobre um robô. E Toy Story 3? Bom, Toy Story 3 é sobre tempo.

E o roteiro maravilhoso de Michael Arndt (Pequena Miss Sunshine) faz questão de deixar claro que, ao ser incumbido de fechar um ciclo que começou na memória afetiva do público há quinze anos atrás, e mais, para satisfazer uma plateia que cresceu, como espectadores e pessoas, junto com esses personagens, ele não está disposto a sacar um final feliz do nada. Arndt é dolorosamente realista, sim, mas usa de seu realismo para dar aos personagens um destino agridoce, meio triste e meio feliz, que só faz deixar as memórias do mundo criado pela Pixar mais intensas e mais concretas na imaginação do espectador. Não é exagero dizer que o roteiro de Arndt é o grande responsável por fazer dos personagens e situações da série uma das coisas mais marcantes do cinema recente na memória afetiva dos espectadores.

Para quem ainda não conhece a trama que move essa terceira aventura dos brinquedos de Andy, basta esclarecer que se trata do capítulo que fecha o ciclo da série, dos personagens, e que, com muito engenho por parte do roteiro, não ignora o tempo que se passou para o público dos filmes originais. Toy Story 3 é mais maduro e, ao mesmo tempo, incrivelmente nostálgico. Aqui, Woody (Tom Hanks), Buzz (Tim Allen), Jessie (Joan Cusack) e o resto da turma são doados por engano para uma creche onde conhecem o urso Lotso (Ned Beatty), aparentemente o “poderoso chefão” do local, que os manda para um lugar onde são maltratados diariamente por crianças que não tem idade o bastante para saber brincar. Nessa confusão, apenas Woody se empenha em retornar para Andy, com esperanças que o garoto, agora prestes a entrar na universidade, resolva levá-lo e aos outros consigo. Os desdobramentos da cosfusão passeiam com versatilidade por cenas divertidas, tensas e dramáticas. Tudo com o estilo natural de Arndt perfeitamente adaptado a um mundo povoado por brinquedos que, afinal, são tão humanos quanto nós.

Toy Story 3 não sofre nem mesmo com a troca de diretores. Ocupado chefiando todo a parte de animação da Disney, John Lasseter delegou a direção do terceiro capítulo para Lee Unkrich, em sua primeira experiência como comandante principal de um filme da Pixar. Creditado como co-diretor em Procurando Nemo e Monstros S.A., Unkrich dá leveza ao estilo de câmera da animação e cria pelo menos um panorama de perfeição impressionante, perto do desfecho do filme. Enfim, Toy Story 3 é um filme feito na medida certa para fechar um ciclo marcante na cinematografia recente e, especialmente,  na memória cinematográfica do público. E acrescenta mais um item a já extensa lista de filmes da Pixar que são bem-sucedidos em tudo o que se propõem. E o segredo deles? Bom, certas coisas não devem se explicar. É mágica.

Nota: 8,0

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Toy Story 3 (Toy Story, EUA, 2010)

Uma produção da Pixar Animation Studios/Walt Disney Pictures…

Dirigido por John Lasseter…

Escritor por Michael Arndt…

Estrelando Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Michael Keaton…

103 minutos

16 de fev. de 2011

A Rede Social (The Social Network, 2010)

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Sempre foi difícil para o ser humano pensar em uma vida que é vivida na solidão. Quase que por um instinto primitivo, procuramos conexões e relações com as pessoas ao nosso redor, como se o próprio conceito de sociedade nos exigisse esse comportamento. Ninguém consegue o que quer sozinho, e viver sem ninguém é assinar um atestado de insanidade. Ainda mais em pleno século XXI, quando a Internet, em seu próprio propósito, nos possibilita estar em constante contato com as pessoas, mesmo quando não estamos realmente em contato com as pessoas. É um paradoxo já bem estranho, e David Fincher não faz nada nesse A Rede Social, com a considerável ajuda de uma história real e do roteiro de Aaron Sorkin, a não ser adiconar mais um ponto de interrogação a essa história toda. Afinal, a Internet está aqui para nos conectar mais ou apenas nos deixar ainda mais separados e, portanto, mais perto desse isolamento que tanto tememos?

Como qualquer boa discussão, A Rede Social não chega a conclusões, na mesma medida que foca um caso isolado, verdadeiro e absurdamente irônico nesse contexto temático todo. A premissa não deve ser novidade para ninguém: estudande de Harvard, o estereótipo do gênio anti-social e cínico, Mark Zuckenberg (Jesse Eisenberg) termina com a namorada e cria, certa noite em seu laptop, um site que compara fotos de garotas da Universidade e pede para os internautas rankearem as mais, digamos assim sem perder a elegância, interessantes. O barulho é tanto que, mesmo com o site colocado abaixo no dia seguinte pela rede de Harvard, Mark é contatado pelos gêmeos ricos e populares Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer) com uma ideia para uma rede social que seria exclusiva para alunos da Universidade. Mark vê mais longe, expande a ideia e lança, com seu parceiro de quarto e melhor amigo, Eduardo Saverin (Andrew Garfield), o thefacebook.

Contar o resto, para quem já não conhece toda a história real, seria estragar uma narrativa muito bem engendrada pelo roteirista Aaron Sorkin. Com a elegância e sobriedade que são suas marcas, ele trata cada personagem de forma muito particular e muito precisa, inserindo uma racionalidade intrincada em sua trama ao mesmo tempo que não deixa o foco se perder do estudo intenso que ele faz de uma parte da natureza humana. E é aí que entra a ironia. Da história do criador de uma das mais populares rede sociais do mundo, Sorkin tira um filme sobre… o isolamento. E sobre como podemos ser facilmente levados por um caminho que não temos real intenção de percorrer. Quando nos damos conta, não tem mais volta.

A figura do criador do Napster, Sean Parker (Justin Timberlake) é a tentação nessa história, e Fincher acertou nessa escolha de elenco como acabou acertando em praticamente todos os papéis de destaque da trama. Justin não é um grande ator, mas é carismático o bastante para levar nas costas o papel de um homem de negócios que não é também tão bom no que faz, mas sabe tirar vantagem de uma boa ideia e de uma matéria de manipulação fácil. Enfim, sua atuação é peixe pequeno, de qualquer forma, quando Jesse Eisenberg está em cena. De forma muito sutil, ele cria aos poucos um personagem que, se pensarmos bem, é complexo e absurdamente diverso do que estamos acostumados a vê-lo representar. Como seu personagem, e de forma muito inteligente, Eisenberg não faz questão de parecer simpático ao espectador. Ainda assim, é impossível não ver a si mesmo, um pouquinho que seja, lutando entre decência e oportunidade, seus princípos e seus sonhos. Não, Mark não é um cara legal, e fez muita coisa errada no caminho para se tornar o bilionário mais jovem (e mais solitário, diga-se) do mundo. O que não significa que ele não seja humano. E Eisenberg nos mostra isso de uma maneira sublime.

Por fim, Andrew Garfield fecha o trio principal com sua atuação natural e fluída de sempre, com seu Eduardo Saverin muitas vezes sobrepondo-se ao próprio Zuckenberg como o protagonista de toda a história. Garfield é um ator maduro e completo, que encontra no comando de David Fincher um potencial ainda a ser muito explorado nos próximos anos. Falando em Fincher, seu trabalho aqui em A Rede Social pode muito bem ser o mais sutil e acertado de sua carreira. Se em Seven ele revolucionou o cinema do suspense, em O Clube da Luta ele mostrou que jogos pop e reflexões de verdade sobre a sociedade podem andar juntos e em O Quarto do Pânico ele desfilou técnica, é nesse A Rede Social que Fincher se sobrepõe a própria e notada frieza presente em suas obras para apresentar um estudo denso, instigante, ainda ligado a toda no entretenimento, mas uma reflexão muito mais humana do que os antecessores de sua filmografia.

O trabalho absurdamente elegante de Jeff Croneweth na fotografia é uma assistência e tanto nesse sentido, e não seria injustiça se o homem responsável pelos planos do próprio Clube da Luta se saísse como o vencedor da categoria desse ano no Oscar. Trent Reznor e Atticus Ross são uma aposta mais arriscada, mas fazem um trabalho certamente competente. Como tudo na carreira de Fincher aliás, sempre foi e sempre será. A diferença que faz de A Rede Social seu auge é que, por uma vez e finalmente, não estamos mais falando de finais aterradores, teorias sociológicas ou os incríveis efeitos especiais para envelhecer/rejuvenescer Brad Pitt. Estamos falando da natureza humana. Do que o cinema, por definição, foi feito para refletir. E se identificar com A Rede Social vai acabar sendo muito mais fácil do que você imagina.

Nota: 9.5

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A Rede Social (The Social Network, EUA, 2010)

Uma produção da Columbia Pictures, Relativity Media…

Dirigido por David Fincher…

Escrito por Aaron Sorkin, baseado no livro Milionários Por Acaso de Ben Mezrich…

Estrelando Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Rooney Mara, Brenda Song, Max Minghella…

120 minutos

Paws up, little monsters, we were born this way!

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Música pop, além de extremamente depreciada, tende a ser muito mal-compreendida. Porquê? Bom, talvez por termos perdido aos poucos, nesse anos em que toda a informação deve ser clara e objetiva, além de preferencialmente instantânea, a capacidade de interpretar de uma forma um pouco mais cuidadosa um tipo de informação que exige mais da nossa mente. É mais fácil pôr rótulos e aferir defeitos do que realmente entender o que a canção, a obra, o conjunto de tudo o que se refere a ela, nos quer dizer. Porque arte pop, mais do que qualquer outra, é assim. É preciso ir além do entretenimento, da sensualidade, da iconoplastia própria dos videoclipes e singles, e extrair de tudo isso a reflexão de mundo e de crença que toda boa música pop é capaz de fazer.

Ponto feito, não dá pra julgar Born This Way, o primeiro single do a ser lançado segundo álbum de Lady Gaga, como uma simples canção de balada. Não que ela deixe de o ser, com sua batida constante que remete ao tecno, os sintetizadores que já são a marca da ítalo-americana e a a letra sobre, superficialmente, se libertar dos rótulos. As comparações com Express Yourself, de Madonna, também são justificadas. Mas Gaga está acima de fazer cópias. Primeiro argumento, fazer referência a Madonna na música pop é como falar sobre o Papa em uma missa católica. Além do mais, o pop é isso mesmo, uma colagem de referências e cópias. Se não houvesse cópia, não haveria arte. Mas a boa arte é a que copia para dizer algo novo. E Gaga definitivamente tem mais a dizer do que Madonna.

Antes que os fãs da rainha do pop me linchem em praça pública, explicações: em sua época, Express se tornou sucesso pelo apelo indiscutivelmente inteligente de Madonna, pela habilidosa mistura de artista pop e marketeira brilhante que ela sempre foi. E é música pop de primeira. Mas o que Gaga nos diz em Born This Way não é sobre fazer os homens se declararem, ou sobre sair de algum tipo de repressão. É sobre como todos nós nascemos superstars, e podemos ser o que quisermos, quando quisermos, como quisermos. É sobre liberdade pura. E a metáfora do “nascido desse jeito”, mas a encenação da saída da cápsula que movimentou o Grammy 2011 no último domingo, diz claramente que podemos renascer da forma como quisermos, a qualquer momento.

Uma mensagem muito mais profunda do que as linhas de sintetizadores, e que é capaz de justificar qualquer dito “exagero”, como foi tratada sua aparição no mesmo Grammy que adicionou mais uma camada a plena compreensão dessa nova empreitada de Gaga. Assim como, pode ter toda a certeza do mundo, caro leitor, o clipe adicionará mais um pouco de profundidade a essa mensagem. Porque Gaga não está para brincadeiras. Irreverente como sabe ser, ela está sempre querendo dizer alguma coisa sobre a fama, sobre a sociedade, e sobre nós mesmos. Não é exagero dizer que Gaga vai além de “a nova Madonna”. Gaga é ela mesma, e ao mesmo tempo aparece cada vez mais com uma missão parecida com a de seu ídolo pessoal, Andy Warhol: a de elevar, de novo, e quem sabe de uma vez por todas, o pop a categoria de arte. Aprender com ela, no entanto, ao invés de criticar sem pensar, parece ser privilégio de poucos.

Como um tweet de um usuário anônimo me fez lembrar outro dia: “Express Yourself é só sobre sexo. Born This Way é sobre todos nós”. Com justiça a música de Madonna, talvez seja sobre anseios femininos adolescentes, mas disso não passa. Mas Born This Way é também sobre o conceito mais arraigado do que Gaga acredita e quer passar para os seus fãs. Em uma entrevista, a comovente peça saiu-lhe da boca: “Se eu puder, apenas por um momento, inspirar você a amar a si mesmo, então tudo terá valhido a pena”. Alguém mais precisa de uma desculpa para virar fã? Eu te amo, Gaga. E eu me amo, agora. Por mim, você pode dormir tranqüila. Aguardo o álbum com toda a expectativa do mundo. We were born this way, baby.

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I’m beautiful in my way/ ‘Cause God makes no mistakes/ I’m on the right track baby/ I was born this way!

Don’t hide yourself in regret/ Just love yourself and you’re set/ I’m on the right track baby/ I was born this way!”

(Lady Gaga em “Born This Way”)

11 de fev. de 2011

Não tenho estilo, tenho muita coisa para dizer. E digo, por Talita

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Li certa vez em um daqueles sites de astrologia que meu nome carrega a personalidade de alguém que vive só. Intrigada com tal fato, comecei a observar se eu realmente sou uma pessoa solitária. Por incrível que pareça, descobri mais do que imaginei que pudesse. E na verdade, não é tão ruim conviver com a solidão, já que ela me faz aprender e aguçar meu lado autocrítico. De tanto refletir sobre as coisas que acontecem comigo e com todos à minha volta, fiquei surpresa com a mudança de comportamento que o ser humano sofre ao longo de sua existência.

É claro que o assunto não surgiu do nada, pois já havia pensado em escrever sobre o tema. As ideias para realizá-lo; porém, afloraram em minha mente depois que passei horas lendo A Metamorfose, de Frank Kafka (provavelmente você nunca ouviu falar, mas eu recomendo a todos os amantes da filosofia). Enfim, depois de ter me inspirado com uma história fascinante, estou aqui para provar nossa incapacidade de perceber como o tempo passa diante dos nossos olhos. Eu sei que pode parecer muito individualista ficar contando minhas próprias experiências, entretanto espero que alguém em algum lugar do universo possa se identificar e não se sentir só, como me encontro agora.

Quantos aqui já estiveram assustados com a mudança de atitude de outros indivíduos? E ainda arrisco afirmar que muitos já se frustraram quando encontraram seus velhos amigos agindo de modo estranho e às vezes incompreensível. Mas, ao contrário dos outros textos (os quais muitos consideram depressivos ou negativistas), vim declarar que sou completamente a favor de que as pessoas se transformem. Não estou ficando louca. Sei bem como é árduo ter que aceitar que seus amigos, pais, maridos, namorados e conhecidos mudaram. Como é nostálgico olhar aquele ser e não reconhecê-lo mais. Não dá para mudar os fatos, então acostumar-nos-emos  com eles (olha a erudição). Brincadeiras à parte; proponho que você, lendo meus pensamentos, corra adiante de sua própria linha do tempo e perceba como a vida te moldou; quantas coisas você deixou para trás e quantas palavras foram esquecidas e totalmente perdidas. Incrível tudo isso, não é mesmo? Em particular, sou fascinada pelo ser humano e suas reações diante de certas situação e, por este motivo, continuo em busca do sonho de um dia poder estudá-lo por completo. Enquanto não chego lá, fico tentando me conformar com o pouco que possuo.

Pouco, mas não menos profundo. Sinto-me outra Talita agora. Não sou mais a mesma de ontem, nem a mesma do segundo anterior. Visto-me de modo diferente; mudo a minha caligrafia; escuto músicas distintas; aprecio livros de psicologia e falo de um modo que nunca havia feito antes. E como se não bastasse: prossigo sem me conhecer por dentro. Talvez seja por isso que cada expiração me deixe mais intrigada ainda.

Enfim, posso repousar realizada por ter me provado que todas as mudanças físicas são somente reflexos das mentais. O mundo mudou seu modo de pensar e seus habitantes se adaptaram do modo que podem. Essa é uma questão que vai além da Seleção Natural. Perdoe-me; querido Charles Darwin, mas sua louvável teoria não faz menção a uma das mais belíssimas características humanas: a possibilidade de pensar. E sem mais explicações, limito-me a pedir desculpas aos meus amigos por tê-los magoado com minhas constantes e estúpidas mudanças. Aproveito para ressaltar que passo a amá-los ainda mais, por entender que eles estão se renovando a cada momento, tornando-se mais fortes e batalhadores. Sigo meu caminho, descobrindo uma das minhas mil faces: a paixão por escrever.

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http://losemy-breathe.blogspot.com/

Say my name, say my name/ If no one is around you/ Say ‘baby, I love you’/ If you ain’t running game/ Say my name, say my name/ You actin’ kind of shady/ Ain’t calling me baby/ Why the sudden change?”

(Destiny’s Child em “Say My Name”)

7 de fev. de 2011

As lágrimas que chorei, por Babi Leão

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O que está acontecendo? Será que só percebemos que a ficção pode virar realidade quando uma frase diz mais que um livro, ou melhor, quando um olhar diz mais que a boca? Será que percebi que um papel dobrado ocupa menos espaço no lixo do que se eu amassá-lo? O que estou dizendo? Eu tinha tudo para ficar em paz quando você chegou, mas será que ninguém reparou que eu quero mais é me perder nesses contrastes de movimentos e sorrisos? O que estou escrevendo? Mil palavras que podem ser tão atrativas quanto pisca-piscas que distraem as crianças e até mesmo alguns adultos com senso de humor. Será que estou escrevendo o amor?

Estou querendo a sedução de uma rosa vermelha, a simplicidade de uma margarida, o romantismo de um girassol. Quero também vinte balões coloridos só para soltá-los e vê-los subindo ao céu, e como uma namorada da natureza, deitar na grama e imaginar para onde iriam, quantas almas necessitadas eu alcançaria e na mão de que criança um deles iria estourar… Talvez na mão de uma que mora atrás das nuvens… Um Anjo? Ah… Deus gosta quando me alegro e acho graça.

Mas o que quero mesmo, de verdade em verdade, é ser aquele tipo de pessoa que sorri apesar de tudo e que faz de duas pequenas palavrinhas lindas para tear uma vida inteira.

O que estou fazendo? Parando de chorar dos olhos para fora, recolhendo as lágrimas, tornando-as em palavras que formam o que encontro e não o que procuro e acho. Será que todo mundo parou de pensar nas estrelas só porque o céu está nublado? Só sei que enquanto não as vejo, vou ficando como quem sonha.

“Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha” – Sl. 126

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http://babileaodeoliveira.blogspot.com/

“On the first page of our story/ The future seemed so bright/ But this thing turned out so evil/ I don’t know why I’m still surprised/ Even angels have their wicked escapes/ And you take that to new extremes/ But you’ll always be my hero/ Even though you lost your mind”

(Rihanna em “Love The Way You Lie – Pt. II”)

“Deve existir/ Eu sei que deve existir/ Algum lugar onde o amor/ Possa viver sua vida em paz/ E esquecido de que existe o amor/ Ser feliz, ser feliz, bem feliz”

(Vinicius de Moraes em “Em Algum Lugar”)

4 de fev. de 2011

Cinco músicas imortais dos anos 2000

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Há músicas boas. Há hits. E, embora os críticos mais enjoados insistam em dizer que não, os anos 2000 continuam, sim, produzindo aquele tipo de música atemporal, que vai atravessar os anos e ser lembrada, no futuro, como clássico. Ou não. Pode ser que elas marquem apenas um momento específico de crescimento e descobrimento para uma “geração nada” que ainda não achou seu lugar no mundo. De uma forma ou de outra, elas vão além dos discos para os quais foram feitas, muito freqüentemente das próprias bandas e intérpretes pelos quais foram gravadas, e se tornam, como toda arte deveria se tornar, entidades separadas, atemporais. Eternas. Aquela canção que, mesmo anos depois, você consegue ouvir sem pensar “que música velha!”. Não, música boa não tem idade. Por acaso, por mérito ou por significado, aqui vão 5 músicas imortais dos anos 2000 (e mais duas menções honrosas no final, é claro).

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5º lugar – “Here Without You” (3 Doors Down, Away From The Sun, 2003)

Eu sei que o 3 Doors Down vem de uma leva medíocre de bandas de pop rock que precedeu o movimento emo, ao lado de coisas como The Calling e Goo Goo Dolls. De uma forma ou de outra, toda geração precisa de um hino para a fossa, e o jovem anos 2000 adotou o terceiro single do segundo álbum da banda, Away From The Sun, como a sua trilha-sonora depressiva. O curioso é que a letra (bela a sua maneira) fala de saudade, mas não diretamente de perda, como assinala “e esta noite, garota, somos apenas eu e você” no final do refrão. Ainda assim, a balada eficiente do 3 Doors Down ficou marcada como a canção melancólica imortal dessa nossa década.

Eterna em dois versos: “"Everything I know, and everywhere I go/ It gets hard but it won’t take away my love”

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4º lugar – “Apologize” (OneRepublic, Dreaming Out Loud, 2006)

Pode ser que Ryan Tedder, como compositor, tenha produzido mais canções memoráveis do que como frontman do OneRepublic. Mas, que “Halo” e a voz de Beyoncé me perdoem, nada é capaz de superar “Apologize”, a canção que dá a banda americana o título de one-hit-wonder. Com tema absolutamente universal (“é tarde demais para pedir desculpas!”), o cello que é a marca registrada da banda funcionando a todo vapor e a composição sempre muito melódica de Tedder, o single-maior do primeiro disco da auto-proclamanda banda “sem gênero” é daquelas canções que se apegam fácil ao inconsciente coletivo mundial. Ponto pra Tedder, que devia ser mais reconhecido.

Eterna em dois versos: “I’d take another chance, take a fall, take a shot for you/ And I need you like a heart needs a beat, but it’s nothing new!”

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3º lugar – “Can’t Get You Out of My Head” (Kylie Minogue, Fever, 2001)

Poucas vezes uma canção teve um título tão acertado. Fruto-maior da performer australiana Kylie Minogue nesse século, retirada direto de seu álbum mais vendido na América, Fever, “Can’t Get You Out of My Head” (“não consigo te tirar da cabeça”) é provavelmente a canção mais grudenta desde sempre. Se Kylie poderia ser mais reconhecida do que é, a célebre canção de 2001 foi um momento de glória para compensar todo o descaso que os americanos constumam dispensar a ela. E não é a toa: além de grudenta, a música é dona daquelas melodias descomplicadas que agradam aos ouvidos, e a voz de Kylie nunca soou tão genuína.

Eterna em dois versos: “There’s a dark secret in me/ Don’t leave me locked in your heart!”

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2º lugar – “Beautiful Day” (U2, All That You Can’t Leave Behind, 2000)

É impressionante a longevidade do U2. Nas paradas desde os anos 1980, não importa o quanto se reinvente, o grupo irlandês sempre volta com força no imaginário do público a cada novo álbum. Em 2000, com o alegre All That You Can’t Leave Behind, não foi nem um pouco diferente, e não há canção mais simbólica da presença do U2 no nosso século do que “Beautiful Day”. Os backing vocals viajantes, a produção que combina os sintetizadores do produtor Brian Eno com a vontade do U2 de construir uma sonoridade mais direta ao ponto, nada paga Bono entoando que “é um lindo dia, não deixe ele escapar”. Absolutamente eterna.

Eterna em dois versos: “What you don’t have you don’t need it now/ What you don’t know you can feel it somehow!”

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1º lugar“Crazy” (Gnarls Barkley, St. Elsewhere, 2006)

Eles são o símbolo dos “one-hit-wonders” do século XXI. Amados pela crítica, o vocalista Cee Lo Green e o DJ/produtor Danger Mouse se juntaram em 2006 para fazer do projeto Gnarls Barkley um capítulo a parte na música pop. O disco de estreia é recheado de pérolas do soul-eletrônico da banda, mas nada supera “Crazy”, canção sobre “como as pessoas só levam um artista a sério se ele é insano” gravada em um take, com instrumental e melodia inspirados pelo trabalho de Ennio Morricone nos velhos western italianos. Mas acabou que letra, clima e clipe se tornaram uma ode a forma como todos nós somos, um pouco que seja, loucos de pedra.

Eterna em dois versos: “My heroes had the heart to loose their lives out on a limb/ And all I remember was thinking I wanna be like them”

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“It’s a damn cold night/ Trying to figure out this life/ Won’t you?/ Take me by the hand, take me somewhere new/ I don’t know who you are, but I/ I’m with you”

(Avril Lavigne – “I’m With You” – Let Go – 2002)

“It’s not always rainbows and butterflies/ It’s compromise that moves us along/ My heart is full and my door’s always open/You come anytime you want”

(Maroon 5 – “She Will Be Loved” – Songs About Jane – 2002)