18 de set. de 2013

Estreia: Sleepy Hollow, a mistura louca da temporada, funciona e é imperdível!

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Toda temporada de televisão tem uma figura carimbada: a série que mistura gêneros e fórmulas para tentar algo novo e, ao mesmo tempo, muito familiar. Os resultados são os mais diversos, desde o mais do que bem sucedido mix de procedural com ousadias narrativas e construção europeia de personagens de The Good Wife, até a infeliz combinação de gore com metalinguagem literária e referências pulp de The Following. Uma coisa garantida, no entanto, é que essas séries geralmente são capazes, em um nível maior ou menor, de “balançar o coreto” das emissoras abertas americanas e puxar as barreiras do que é aceitável para a programação das mesmas e para o público médio de televisão.

Quando essa ousadia não existe como meio e fim em si própria, o resultado costuma ser bem interessante, e Sleepy Hollow, candidata óbvia ao posto de mistura inesperada de gêneros dessa temporada, consegue prometer uma jornada no mínimo cativante no piloto veiculado na última segunda feira (16) na Fox. A série chega com marcas de qualidade certificadas pelo cinema, como vem se tornando habitual no meio televisivo: os showrunners Alex Kurtzman e Roberto Orci são queridinhos de Hollywood, tendo assinado os dois filmes da nova franquia de Star Trek e os três de Transformers, enquanto o piloto ganha a assinatura de Len Wiseman, o homem responsável pelos dois primeiros Anjos da Noite e por Duro de Matar 4.0, na direção.

O primeiro bom sinal é que esses nomes hollywoodianos fazem de fato alguma diferença para Sleepy Hollow. Orci e Kurtzman tem, como pouquíssimos roteiristas da atualidade, a habilidade de equilibrar o ritmo frenético da narrativa e a construção de personagens críveis, ainda que não tão originais. Mesmo que jogue com estereótipos, é impossível negar que a dupla sabe fazê-los funcionar, como com a Tenente Abbie Mills de Nicole Beharie (Shame). Essa não é a primeira vez que o espectador vê uma personagem torturada por um evento de seu passado, o que a faz única para entender uma situação extraordinária que foge da percepção dos companheiros de trabalho presos a uma realidade que nunca pende para o extraordinário. A performance de Beharie ajuda, mas é a forma como o roteiro apresenta esse conflito, e a química entre o personagem de Mills e Ichabod Crane, que ascendem a faísca para a percepção de quem assiste. Mesmo sendo bastante ordinários no cenário televisivo, esses dois personagens são absolutamente únicos nas linhas de Orci e Kurtzman.

Já que falamos dos personagens, vamos tentar um rápido resumo da trama que não estrague muita coisa: quando uma série de misteriosos assassinatos começa a assolar a pequena cidade de Sleepy Hollow, Ichabod Crane (Tom Mison) é levantado de seu túmulo para parar seu jurado inimigo, o Cavaleiro Sem Cabeça. Acontece que na mitologia da série, o lendário conto de terror ganha tintas apocalípticas, incluindo visões que Ichabod tem de sua esposa Katrina (Katia Winter), uma bruxa condenada a fogueira 250 anos antes de o esposo ser levantado de seu sono eterno. Ela o diz que, quando o sangue de Ichabod e do Cavaleiro se misturaram no campo de batalha em que ele o decapitou, ela foi obrigada a jogar um feitiço nos dois para conter o assassino sobrenatural. Ah, e ele pode muito bem ser um dos quatro Cavaleiros do Apocalipse também, é claro. Detalhes.

É aí que vem a mistura louca de Sleepy Hollow, uma série que pelo menos por enquanto quer ser, ao mesmo tempo, um procedural policial (em certos diálogos entre Ichabod e Abbie fica implícito que o Cavaleiro não é a única ameaça que eles precisarão combater), um conto de peixe fora d’água encarnado no protagonista, que estranha o século XXI em que é despertado – algo muito bem expressado na ótima interpretação de Mison, e uma série de terror com viés sobrenatural apocalíptico. Aqui, no piloto, quem equilibra tudo isso é Len Wiseman, e o moço tem muitos recursos para fazê-lo. Além de sua linguagem dinâmica e sua mão milagrosa para as cenas de ação, o diretor empresta para a série certo senso de coesão na narrativa que faz tudo funcionar como uma engrenagem bem azeitada para nos introduzir a um mundo estranho, mas absurdamente excitante. E no final do dia, o que mais além disso é a boa televisão?

***** (4,5/5)

Pra quem gosta de: Criminal Minds, Southland, The Fall, Hemlock Grove, 666 Park Avenue, Elementary, American Horror Story.

Próximo Sleepy Hollow: 01x02 – Blood Moon (23/09)

Caio

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