O iTunes Festival, série de shows que cobre todo o mês de Setembro promovido pela Apple, começou agora a pouco com um estrondo: Lady Gaga deu o maior aperitivo até agora do som e do visual do seu novo álbum, ARTPOP, marcado para lançamento dia 11 de Novembro. Das 15 faixas do disco, oito figuraram no show de quase uma hora e meia apresentado na Roundhouse Arena, em Londres. A performance, que começou com pouco menos de meia hora de atraso, foi antecipada por três vídeos exclusivos dos ensaios nos últimos dias, mostrando um pouco das faixas “Swine”, “MANiCure” e “Sex Dreams”. Veja aí embaixo:
A performance abriu com a já conhecida dos fãs “Aura”. A versão tocada não difere em nada da vazada algumas semanas atrás, antes mesmo do lançamento de “Applause”. A performance-conceito começou com Gaga sendo aprisionada em uma armadura de ferro e suspendida do palco, vestida com roupas pretas e um mais que apropriado véu (lembrem-se que “Burqa” era o nome da canção antes da mudança) que deixava antever apenas os olhos verdes e a boca. O dedilhar de violão antes da entrada eletrônica continua uma das coisas mais cosmopolitas e espertas que Gaga já fez como artista pop, e o refrão empolga, apesar de não antecipar em quase nada a viagem de estilos que estaria por vir.
Depois de “Aura” foi a vez de “MANiCURE”. A batida glam rock antecipada pelo teaser estourou na Roundhouse Arena, com palminhas contagiantes e clima remetendo a era The Fame e a canções nunca lançadas (mas sempre lembradas pelos fãs) como “Fashion” e “Glitter & Grease”. Aparentemente a artista, que declarou para a Rolling Stone se sentir desconfortável em fazer referência a ela mesma musicalmente, mudou de opinião nos últimos anos, porque “MANiCURE” é tão absolutamente Gaga, naquela assinatura inconfundível de melodia e refrão, que não dá para relacioná-la a qualquer outra coisa.
Interessante também foi o fato da cantora ter realizado essas primeiras trocas de roupa no palco, com os maquiadores e assistentes vindo ao seu socorro enquanto ela conversava com os fãs e trocava a longa peruca morena pela juba loira que apresentou na maioria das fotos promocionais do álbum, e as vestes pretas pelo biquini de conchinhas e flores que virou visual assinatura dessa primeira fase do ARTPOP. Assim montada ela cantou a faixa-título do álbum, primeira canção totalmente desconhecida dos fãs, que surpreendeu pelo clima new wave, com sintetizadores constantes e batida hipnotizante sobre o refrão “We could-we could belong together/ ARTPOP”. Um deleite oitentista.
Da Suécia dos anos 80 direto para a Nova York dos 90 com “Jewels & Drugs”, com participação de rappers como T.I. e Too-Short, a canção que vem para calibrar o estilo de Gaga com quem comprou a onda do hip hop moderno. A produção histérica e a batida alucninante abriu espaço para as participações especiais e para a performance desenvolta da moça num gênero que sem nenhuma dúvida não é seu hábitat natural.
Um interlúdio depois veio “Sex Dreams”, com Gaga saindo de uma meia esfera metalizada e dançando sugestivamente ao som de uma das letras mais picantes da sua carreira. "I lay in bed, touch myself and think of you”, cantou sobre uma backtrack de vocais sintetizados e o clima de “Heavy Metal Lover” versus Charli XCX. A faixa não é o melhor exemplo de um hit nato, mas funciona no show e deve funcionar bem na mistura louca de estilos do álbum. Vide a canção seguinte, a aguardadíssima “Swine”: despida de perucas e sentada ao piano, ela armou uma introdução acústica que só aumentou o impacto quando a produção de batida frenética entrou em cena. Um eletropop pesado que dá um aceno para as ousadias do alternativo e abre caminho para a presunção de que Gaga ainda é a artista pop mais desafiadora de sua época.
A fofura com os fãs da noite foi a acústica “I Wanna Be With You”, uma balada lindinha sobre a época em que a artista foi obrigada a se afastar dos palcos e do público. Disfarçada de alegoria romântica e incluída na tradição de pequenos momentos serenos nas performances estendidas da artista, a canção tem uma bela melodia e a sinceridade na voz de Gaga vende muito bem a letra. Não foram poucas as lágrimas nos rostos de fãs na plateia com mais essa declaração de amor.
O ato fechou, é claro, com “Applause”, que mostrou o quanto Gaga ainda sabe exatamente o que fazer para colocar uma arena inteira para dançar. O refrão quase colocou a Roundhouse abaixo, temperado pela performance regada a coreografia e papel picado, com Gaga entrando em cena com um dos figurinos do clipe: o terninho verde-e-preto de brilhantes, completo com um cachimbo no canto da boca.
Uma performance indiscutivelmente idiossincrática (a essa altura, algo que Gaga faz não o é?), com os longos momentos em que a artista pàra o espetáculo para discursar com os fãs e as loucuras conceituais que aprendeu-se a esperar dela, esse show no iTunes Festival deu ao público cativo da moça a oportunidade de sentir o gosto abrangente e multi-facetado do ARTPOP como um álbum que não tem a pretensão de reafirmar a importância de Gaga no cenário pop. Muito mais que isso, a ideia aqui parece ser mostrar que a visão musical e artística da performer vai muito além de convenções de gêneros e trends. Música é música, não importa tanto qual é a relevância de determinados estilos de fazê-la para a Billboard atualmente. Para além de qualquer número de vendas, tudo influencia tudo, e tudo constrói aquilo que vem depois, então qual é mesmo o ponto de encontrar o caminho fácil para o #1?
Veja a performance completa abaixo:
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