por Fabio Christofoli
Lá estava eu. Quieto, ouvindo música. Um garoto entra no vagão. Me chama atenção por estar com aqueles típicos uniformes escolares da Inglaterra, com blazer e gravata. E sapatos. Impecáveis. Ele senta, e abre um livro. E não pensem que era um best seller ou um livro juvenil, era um livro velho. Parecia um romance antigo. Não sei porque me impressionei com isso. E me impressionei ainda mais com a atenção que ele lia aquilo. Calculei que ele deveria ter uns onze anos. Treze, talvez. Vai saber.
Em seguida, um casal de velhinhos entra no trem. Para na frente do garoto. A mulher consegue sentar ao lado dele. O homem não. Não tinha mais lugar ali. Só em outro banco. Imediatamente o garoto fecha o livro e cede o lugar para o homem sentar ao lado da companheira. Se dirige ao banco vazio e retoma a leitura.
Fiquei impressionado com a cena. Com a naturalidade que ela aconteceu e com tantos fatores positivos intrínsecos nela.
Assim como fiquei impressionado com o fato de os ingleses pedirem desculpa cada vez que sem querer (ou quase sempre sem querer) encostam em você. É “sorry” pra tudo! Às vezes até exagerado e meio automático, mas existe a preocupação em pelo menos dar uma satisfação ao próximo. Se alguém está com dificuldade para carregar uma sacola, sempre aparece um outro pra ajudar. Sempre! E olham feio se você está do lado e não ajuda.
E foi assim, com pequenos gestos cotidianos que os ingleses me fizeram pensar no Brasil e em como estamos distantes de um país melhor.
Manifestante usando a máscara-símbolo do grupo Anonymous levanta cartaz, em Junho/2013, em São Paulo
Vejo uma grande distância entre o que almejamos e o que fazemos pra alcançar. Queremos políticos melhores e soluções imediatas, mas somos incapazes de sermos melhores. Nossas crianças (e adultos) leem pouco. Nossos idosos ficam em pé nos precários ônibus que temos. Até ajudamos o próximo, mas na maioria das vezes precisamos que alguém peça. Somos mais calorosos, é verdade. Mas esse calor acaba camuflando na malandragem. Maldita malandragem!
Nós brasileiros exigimos muito do Brasil, mas invariavelmente esquecemos que o Brasil é feito por nós.
Ano passado teve protestos. Quantas mudanças positivas aconteceram? Imediatamente após essa frase, o reflexo é pensar no que foi feito pelo poder público, certo? Mas e o que foi feito por nós? Onde melhoramos como cidadãos? Tivemos um ano pra isso e vejo que não mudamos em nada. Pior, vejo que ficamos piores. Com mais exigências e com menos ações.
Eu penso nisso invariavelmente e infelizmente minhas respostas atualmente estão longe de algo promissor. Não que eu esteja apto para fazer uma análise profunda do que somos, mas eu me sinto apto para entender que não somos o que queremos ser.
O Brasil não vai virar Inglaterra da noite para o dia. Mas podemos começar a ser primeiro mundo na forma como pensamos e agimos no nosso dia a dia. No que somos internamente e no que passamos para os outros. E o que passamos adiante é exatamente aquilo que recebemos depois.
Manifestante levanta bandeira do Brasil em protesto em Junho/2013
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