16 de abr. de 2015

Você precisa conhecer: metade indie rock, metade synthpop – a mistura curiosa do Van Damsel

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por Caio Coletti

Antes de qualquer coisa, vale uma indicação: descobrimos os astros dessa nossa edição do “Você precisa conhecer”, os meninos do Van Damsel, através de um aplicativo maravilhoso chamado Choosic (App Store), quase literalmente o “Tinder da música”. Copiando na cara dura a interface do app de paquera, o Choosic primeiro pede para o usuário iniciante assinalar todos os gêneros que gostaria de ouvir, depois começa a puxar faixas do Soundcloud e deixa-nos ouvir o quanto quiser delas antes de escolher “gostar” ou “não gostar” da música. As canções “gostadas” ficam salvas numa playlist, e o Choosic armazena informações sobre nosso gosto musical para, cada vez mais, indicar os artistas certos. Bacana, né? Na prática é mais ainda.

Os quatro canadenses da foto acima são de uma cidadezinha pequena do país que nos deu Avril Lavigne, Alanis Morissette e Shania Twain (sim!), e estão na ativa desde 2013, quando vários singles lançados no Youtube da banda vinham com o anúncio de um álbum de estreia. Esse primeiro rascunho de disco foi para a gaveta, graças ao sentimento dos integrantes de que as músicas “não capturavam a identidade genuína” de cada um deles. Em entrevista para um site canadense de música, o lead man Sebastien Ste Marie confessa que retrabalhar o álbum de estreia foi um trabalho duro: “O álbum está começando a soar como algo que reflete de forma coesa nossas referências individuais – é rock e eletrônico, indie e pop, grande e dinâmico, processado e orgânico. Tem sido tão desafiador quanto recompensador observar esse proceso. Esperamos que o álbum saia entre o final do verão e o começo do outono”.

(Para os que também se confundem, o verão americano termina no final de Setembro.)

As músicas do Van Damsel de 2013 mostram uma sonoridade que lembra bastante o Two Door Cinema Club, e outras bandas de indie rock que faziam sucesso na época. A busca por melodias grudentas e a experimentação com linhas de baixo e percussão já indicava um espírito pop, mas a ambição do Van Damsel de tocar nesse mundo complicado da eletrônica ainda não havia aflorado. Vale a pena ouvir “What’s It Mean” (abaixo), o primeiro single lançado pelo quarteto, e a grandiosa "Occupy All Streets". Dessa época também são "Accepted Change", "Isotopes", "To the Country" e "Percy's Mount".

Já depois de arquivarem o projeto de primeiro álbum, os meninos lançaram o EP The Sunshine, Girl, até hoje o pedaço de música mais ouvido do quarteto. A faixa-título (abaixo), especialmente, angariou para o Van Damsel boa parte da pequena base de fãs que eles juntaram nesses anos de carreira – e merecidamente, porque a faixa é uma mistura deliciosa de timbres bem curiosos de guitarra, um teclado sintetizado que é precursor de todos os elementos eletrônicos que os trabalhos mais recentes da banda incorporam, e um refrão completamente pegajoso. Também do EP, que veio cheio de ecos na produção e clima praiano, vale destacar também o hino de veraneio "August" e "Communist", que ganhou clipe divertido no qual os integrantes da banda encarnam ícones da esquerda.

É no primeiro single do aguardado álbum de estreia, no entanto, que as coisas com o Van Damsel ficam verdadeiramente interessantes. “The Best of Everything” (abaixo) não é só, apropriadamente, a melhor coisa que o quarteto já produziu – é também uma guinada bem clara em relação à produção anterior da banda. Do começo começo com um sintetizador fantasmagórico até a mistura genial de riffs de guitarra com elementos eletrônicos que persiste em toda a música, o Van Damsel conseguiu transformar uma música mid-tempo, que é melodicamente construida de forma muito adequada ao passado rocker da banda, e transformar num potencial smash hit para uma geração que consome, ao mesmo tempo, Passion Pit e Ke$ha (ou Purity Ring, para os mais indies).

“Sempre foi aparente para a gente, desde o começo do processo de gravar demos, que essa música seria um single. Ela passou por um desenvolvimento extensivo desde que começamos a trabalhar nela, ainda em 2013, mas a sensação que ela passou, e o arranjo, sempre foi de single”, explicou o vocalista Ste Marie para o site canadense. “Nós estamos tentando construir uma ponte entre o sintético e orgânico com esse álbum, e estamos tentando fazer isso através de um processo de composição bastante envolvido, que nos faz analisar criticamente cada elemento das canções que escrevemos. Nós adquirimos mais conhecimento sobre o lado de produção da música. Podem esperar mais evolução sonora para esse novo álbum”. Com essas palavras, o Van Damsel definitivamente se estabelece como o nosso tipo de artista preferido: aquele que nunca pàra de mudar

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