26 de set. de 2013

Estreia: Referências pulp e protagonistas fascinantes ganham o jogo para “The Blacklist”

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

“É por isso que estamos todos aqui, é claro. Minha lista de desejos. Uma lista que eu estive cultivando por vinte anos. Políticos, mafiosos, hackers… espiões”. Assim, em quatro frases que tomam pouco mais de 10 segundos do episódio, James Spader resume perfeitamente em sua entrega de fala todo o espírito de The Blacklist, que a NBC estreou na última segunda-feira (23). Em muitos sentidos, o piloto da série criada por Jon Bokenkamp, dono de créditos hollywoodianos como A Estranha Perfeita e Chamada de Emergência, é a estreia dessa temporada que mais e melhor colocou suas cartas na mesa logo no primeiro episódio. Um pouco de trabalho é necessário – e para a construção de qualquer contexto é –, mas no final dos 43 minutos de piloto, nós sabemos muito bem o que estamos assistindo.

A fala do personagem de Spader é tão importante especialmente por aquela deixa final que confirma uma tendência para o glamour criminoso com a qual a série brinca o tempo todo na figura de seu protagonista. É uma inclinação inocente, pelo bem do entretenimento, e é impossível negar que esse e outros pequenos takes do personagem desfrutando de seu estilo de vida luxuoso, além da constante implicação do roteiro de que “é preciso pensar como um criminoso” (o pessoal primeiro, o geral depois), são divertidos a beça. Quem gosta de boa literatura pulp não pode passar em branco por The Blacklist, que tem a audácia de misturar essas referências com um programa policial muito bem-produzido (a cena de ação principal da semana é genuinamente impressionante) e com um estudo de personagens pungente, amargo e muito confiante na capacidade de seus dois protagonistas.

A trama envolve o criminoso de carreira Raymond Reddington (James Spader), que ficou conhecido por fazer favores a outros companheiros de crime, não se comprometendo a nenhum ideal e aceitando sempre a melhor oferta – o que lhe valeu o apelido de “o concierge do crime”, how very cheesy. Na primeira cena do piloto, ele entra em um prédio do FBI e se entrega às mãos do governo, que o havia colocado na lista de mais procurados, depois de 20 anos em fuga. Ele clama ter uma lista contendo todos aqueles criminosos “perigosos de verdade, porque vocês nem sabem que eles existem” (o monólogo totalmente awesome dessa cena termina com Spader se comparando com o Capitão Ahab de Moby Dick, porque é claro que termina), mas entre suas exigências está falar apenas com a agente novata Elizabeth Keen (Megan Boone).

Durante os primeiros 10 ou 15 minutos de episódio, a câmera do diretor Joe Carnahan (Narc, A Última Cartada) evita de todas as formas filmar a performance de Spader diretamente. Nós o vemos através de câmeras de segurança do FBI e no reflexo do vidro de sua cela improvisada, mas não é até o momento em que ele e Megan Boone estão frente a frente que damos uma boa olhada na performance de ambos. Carnahan não poderia ter feito uma escolha melhor. Aquele diálogo tenso é realçado tanto por essa revelação, e tão mais pelas atuações diametralmente opostas e brilhantes de ambos, que se torna uma das sequencias mais fascinantes da nova temporada de televisão até agora.

Spader é um deleite de maneirismos bem dosados, presta a medida certa de homenagem ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins e encarna o protagonista perfeito para o lado pulp de The Blacklist. Boone, por outro lado, encontra uma visceralidade inédita para uma heroína de televisão, esconde um lado sombrio por trás de uma aparência bem controlada e ainda mantem uma relação de igual para igual com Spader em cena. A química entre os dois é instantânea e um tanto perturbadora, no sentido de que um testa o outro em maneiras explícitas e subliminares. Mesmo com todas as qualidades que poderiam fazê-la digna de ser assistida, The Blacklist encontra seu verdadeiro triunfo quando coloca esses dois protagonistas frente a frente. E essa talvez seja a vitória mais fundamental que uma série poderia almejar.

***** (4,5/5)

Pra quem gosta de: The Following, Hannibal, The X Files, Person of Interest

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Próximo The Blacklist: 01x02 – The Freelancer (30/09)

Caio

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