26 de set. de 2013

Estreia: Os clichês e o moralismo de “Hostages”

Hostages-CBS-Poster

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

Uma das estreias mais alardeadas do maior canal aberto americano, a CBS, nessa temporada, Hostages tem o nome do mega-produtor Jerry Bruckheimer no topo do cartaz, encimando até os dos astros Dylan McDermott (AHS) e Toni Collette (United States of Tara). É baseada em uma série israelense que vai estrear algumas semanas depois dessa versão americana, onde está nas mãos de Alon Aranya (Red Widow) e Jeffrey Nachamanoff (Chicago Fire) como developers. Nachamanoff, que teve experiência cinematográfica como diretor de O Traidor, com Don Cheadle, assume as câmeras do piloto veiculado nessa segunda-feira (23). E os primeiros 45 minutos da série destróem toda e qualquer esperança de que essa mistura possa dar em algo além de um enorme clichê ambulante.

Os primeiros 20 minutos ou um pouco mais não pecam nem por serem ruins, mas principalmente por serem absolutamente triviais. Conforme somos apresentados ao cotidiano, às personalidades e aos papéis desempenhados por cada membro da família Sanders, o roteiro de Aranya e Nachamanoff se arrasta por frivolidades e soa quase o tempo todo artificial, tentando fabricar uma tensão que a princípio não existe através de uma trilha-sonora exagerada. Mesmo que já não tenha um currículo tão pequeno, a direção de Nachamanoff não traz nada de bom a série: se é que traz alguma coisa at all, uma vez que até os atores parecem perdidos com a falta de momentum da narrativa. Esse é o tipo de coisa que uma produção não-americana faria muito melhor, simplesmente porque boa parte dos profissionais do entretenimentos dos EUA esqueceram como criar tensão palpável sem recorrer a correria.

Não é a toa que Hostages melhore substancialmente quando a trama é finalmente posta em marcha: o agente do FBI de motivações misteriosas Duncan Carlisle (Dylan McDermott) invade a residência dos Sanders com uma equipe e faz dos quatro membros da família reféns. Seu interesse mais é na Dra. Ellen Sanders (Toni Collette), cirurgiã designada a uma operação simples no pulmão do presidente americano (James Naughton), e a condição para que ele deixe a família da moça em paz é que ela mate o comandante-em-chefe da nação, fazendo parecer um acidente médico. Uma vez que o suspense e a premissa tomam conta da direção narrativa, todos os elementos de Hostages parecem se ajeitar um pouco mais a vontade, o que não significa que aqueles primeiros 20 minutos tenham sido só uma introdução a uma série muito melhor do que parecia.

Hostages é uma produção com lógica moralista, dessas que hoje em dia só se vê na CBS, assumindo uma posição de elevação moral em relação a todos os seus personagens ao invés de tentar entender os dramas deles. Os segredos de cada membro da família Sanders estão ali para mostrar que eles não são tão inocentes assim, mas o problema é que no caminho para evitar o maniqueismo, a série tropeça num julgamento muito simplista das motivações de cada personagem. Aranya e Nachamanoff podem não querer dividi-los claramente entre “bem” e “mal”, mas o faz através de uma inversão de valores que não desmonta o jogo do preto e branco – só o coloca em negativo.

Outro problema é pensar de que forma uma premissa como essa é capaz de encher uma temporada inteira, que dirá várias. A não ser que se mova para uma situação em que o personagem de McDermott passa a aterrorizar várias famílias em vez de usar apenas os Sanders como isca devido a uma motivação ainda não revelada (mas que parece bastante pontual), Hostages em algum momento vai se tornar um eterno looping de enrolação e vai se virar para as explicações menos plausíveis para fazê-lo. Aqui no piloto, as cenas finais são o maior triunfo de todo o episódio, principalmente porque o roteiro é de fato engenhoso com a virada-surpresa, e graças a uma Toni Collette inspirada (ou só agarrando a oportunidade de finalmente expressar alguma emoção não-artificial depois de 45 minutos de material que não está a sua altura como atriz).

Hostages não começou particularmente bem, e ainda tem pela frente a prerrogativa de pertencer a uma rede de televisão que vai esticá-la até quando o público se cansar de verdade dela. Enquanto todas as séries costumam se estruturar mais solidamente a partir de alguns episódios depois do piloto, a nova produção de Jerry Bruckheimer tem tudo para ficar cada vez pior.

*** (2,5/5)

HOSTAGES

Próximo Hostages: 01x02 – Invisible Leash (30/09)

Caio

2 comentários:

Rubens Rodrigues disse...

Ótima review, Caio. Realmente é complicado imaginar como a série vai sustentar a premissa por tanto tempo. Só fico triste pela Toni, que é uma grande atriz. De qualquer maneira, espero que Hostages consiga aprender com os próprios erros e se livrar da mesma armadilha de The Following.

Anônimo disse...

Vejo daqui há alguns meses uma retratação nesse review, que baseada em tão pouco, concluiu menos ainda. rs