8 de mar. de 2010

E o vencedor é…

variedades (nunc excl)Post do Oscar (1)

Foi de goleada. Com seis estatuetas contra três, Guerra ao Terror se tornou o grande vencedor da noite e selou o Oscar 2010 como um momento de inovação e definição para os rumos do cinema do futuro. Ou não. Tudo vai depender do quanto o gostinho do ouro da Academia ainda consegue falar alto com os executivos da terra do cinema. A bem da verdade, era como Davi contra Golias. Custando modestos 11 milhões de dólares, sem grandes astros no elenco principal e comandado por uma diretora que andava com pouca moral nos últimos tempos, Guerra ao Terror era o mais humilde guerreiro, colocado frente a frente ao gigantesco (em todos os sentidos) Avatar. O filme dos recordes: o mais caro, o mais visto, o mais lucrativo e o mais revolucionário da história do cinema. Mas nem sempre o filme mais importante é o melhor, e ouso dizer que foi uma jogada de mestre da Academia ceder a Guerra ao Terror, uma obra pequena mas de grandes mensagens e fundamental importância moral, o título, que era seu, de Melhor Filme do ano. E não foi só isso.

Em pleno dia internacional das mulheres, Kathryn Bigelow parecia prestes a desmaiar no palco ao receber a estatueta de Melhor Direção, batendo o ex-marido James Cameron, mais seus asseclas Quentin Tarantino, Jason Reitman e Lee Daniels, e se tornando a primeira mulher a levar o prêmio da categoria. Ainda bonita do alto de seus 58 anos, a diretora de filmes díspares como Caçadores de Emoção e K-19: The Widowmaker, mostrou que mulher também tem pulso para comandar adrenalina, e quebrou preconceitos no Oscar não apenas com sua vitória, mas também ao colocar um filme fundamentalmente de ação no topo da lista dos mais premiados. Tinha que ser a sutileza feminina. E não foi a toa que ela parecia eufórica demais para sequer articular uma palavra quando teve de voltar direto dos bastidores para receber outro troféu, esse de Melhor Filme ao lado dos produtores, do escritor Mark Boal, e do elenco do filme. Apesar do discurso vacilante da diretora (a gente entende, é a emoção), não houve momento mais arrepiante na cerimônia do que o “está na hora” de Barbra Streisand ao apresentar Melhor Direção. Estava, mesmo, na hora.

Por falar em Jim Cameron, ele não pareceu ter perdido a esportiva no decorrer da premiação, mesmo que seu filme tenha sido deixado muito mais de lado do que era esperado. Ainda bem. Era noite de festa, afinal, e Avatar levou os prêmios que merecia: Melhor Fotografia ficou com Mauro Fiore e seu trabalho luminoso, a equipe de Efeitos Especiais recebeu sua recompensa pelo trabalho mais do que suado, e o criativo desempenho de Rick Carter, Robert Stromberg e Kim Sinclair foi reconhecido com o prêmio de Direção de Arte & Cenários. Pouco, é verdade, para o que apontava a expectativa em torno do primeiro filme do “rei do mundo” em treze anos, e também um tanto injusto com a qualidade do filme, mas serve como prêmio de consolação ofuscado pelos holofotes todos nos soldados de Guerra ao Terror. Do que o próprio Cameron chamou de melhor roteiro da história, então, nem sombra.

Mesmo porque as categorias de escritas foram bem distribuídas. Mark Boal levou Roteiro Original por seu trabalho vital em Guerra ao Terror, para somar uma das seis vitórias do filme e deixar Quentin Tarantino se contendo em sua cadeira, enquanto a categoria Roteiro Adaptado ficou com Geoffrey Fletcher e sua adequação da novela Push, da estreante Sapphire, no filme Preciosa. Indie até a medula, aliás, o filme de Lee Daniels rendeu ainda mais uma das unanimidades da noite: Mo’nique, que venceu seu 27º prêmio de Atriz Coadjuvante no ano pelo papel da mãe egoísta e violenta de Precious, a personagem-título. Em um discurso emocionado e forte, a atriz cômica que encarou seu primeiro papel mais denso no filme de Daniels prabenizou a Academia por prezar “a performance acima da política” e agradeceu ao marido, “por mostrar-me que as vezes é preciso deixar de fazer o que é popular para fazer o que é certo”. Mais uma mulher forte e talentosa que mostrou suas garras no palco do Oscar 2010.

Apesar de toda a contundência de Mo’nique, porém, o posto de discurso mais simpático fica com Sandra Bullock, que venceu em Melhor Atriz apenas um dia depois de subir ao palco do Framboesa de Ouro. Como A Proposta foi parar na lista dos piores do ano, só os organizadores do Razzie vão explicar, mas é fato que a atriz merecia algum reconhecimento há algum tempo. Lentamente saindo de seu verniz de “estrela de comédia romântica” e aceitando papéis mais diversos, Sandra fez da Leigh Ann Tuohy durona e severa uma das personagens mais cativantes e brilhantemente interpretadas de nossa década. Modesta como sempre, ela começou perguntando: “realmente mereço isso ou eu enganei todos vocês?”. Acho que não, Sandra. Mesmo porque seria impossível realizar isso com ela no palco, agradecendo a sua “amante Meryl Streep” (em referência ao beijo que as duas compartilharam no palco do Critics Choice Awards) e dizendo que Carey Mulligan é tão “bonita, jovem, elegante e talentosa que me dá enjôo”.

Nem de longe tão longa e tediosa quanto a fala de Jeff Bridges, que venceu como Melhor Ator, subiu ao palco, agradeceu a Deus e o mundo, exigiu que cada membro da equipe de Coração Louco se levantasse da platéia e citou “mamãe e papai”, em referência ao ator Lloyd Bridges e sua influente esposa socialite Dorothy Dean. Tudo sem arriscar ser cortado pelo maestro do show, que deve ter recebido recomendações de “não interromper o chefe”. Dorothy, aliás, que morreu em 16 de Fevereiro último, foi uma de duas ausências sentidas no emocionante (como sempre) clipe de homenagem aos falecidos ligados ao ramo do cinema. Mas ainda é de se entender que ela, que atuou em meia dezena de filmes, tenha ficado de fora. Muito mais grave foi o esquecimento de Farrah Fawcett, que ficou famosa como uma das agentes da série As Panteras mas fez longa filmografia no cinema, incluindo o polêmico O Apóstolo e o mais recente Dr. T e As Mulheres, sob o comando de Robert Altman. Erros à parte, a homenagem contou com James Taylor entoando “My Life”, de John Lennon, para o desfile de fotos, cenas e diálogos que incluiu Patrick Swayze, David Carradine, Brittany Murphy, Michael Jackson e o cineasta Eric Rohmer.

Em clima mais leve, a cerimônia começou com Christoph Waltz subindo ao palco para receber sua esperada e merecidíssima estatueta de Melhor Ator Coadjuvante pelo desempenho inesquecível como o Coronel Hans Landa em Bastardos Inglórios. Sempre extremamente agradecido a seu diretor na empreitada, Quentin Tarantino, o ator finalizou o discurso com um simpático “eu sei que nunca poderei te agradecer o bastante, mas posso começar agora: obrigado”. Clichê, mas nunca deixa de ser eficiente. Ainda mais quando Waltz saiu direto do semi-anonimato para a pose de astro tardio, embarcando em projetos cool como o vindouro Besouro Verde. Resta esperar para saber se ele consegue superar o estigma de um personagem como Landa. Talento para isso ele já mostrou ter.

Assim definido em um clima muito mais descontraído, o Oscar 2010 pode não ter sido a entrega mais bem-produzida, luxuosa ou suntuosa da história da Academia, mas funcionou a perfeição no palco, especialmente na dinâmica entre a genial dupla de apresentadores. Steve Martin e Alec Baldwin soltaram piadas o tempo todo, brincaram com o tempo estourado do show e ainda foram os responsáveis pelo melhor momento da noite: uma paródia de Atividade Paranormal, onde os dois aparecem dividindo um quarto de hotel por uma noite, contorcendo-se e estapeando-se no contexto de suspense do filme. Tudo para introduzir uma bem-vinda homenagem aos filmes de terror, que começou com cenas de Tubarão, passou por Psicose, O Bebê de Rosemary, Pânico, O Iluminado… e Crepúsculo? Só se for por causa dos apresentadores do clip: os lindos e jovens Taylor Lautner e Kristen Stewart, protagonistas da série.

Momentos memoráveis, de fato, não faltaram com Steve e Alec. O primeiro, mais acostumado a sediar a cerimônia, “exterminou” os animais virtuais de Avatar com um frasco de veneno que não existia, logo no começo da festa. O segundo, estreante de peso com gabarito em comédia (quem vê 30 Rock sabe do que eu estou falando), encerrou tudo com chave de ouro dizendo que “a festa foi tão além do horário que Avatar é nesse momento um filme de época”. Meia hora de atraso, o que fez Barbra Streisand e Tom Hanks apresentarem na correria os prêmios principais da noite. Mas nem pareceu. Noite boa é assim: quando a gente percebe, tudo acabou. Sobram os parabéns, os beijos, as bajulações e o pós-festa. Isso, é claro, para eles. Para nós, bem… nós sempre teremos os filmes.

Post do Oscar (3)Post do Oscar (2)

Eu não sei o que dizer. Esse é para todo mundo que trabalha em um sonho todos os dias – garotos e garotas preciosas ao redor do mundo. Todo o elenco e a equipe, todos que continuaram acreditando em mim. Meus dois irmãos, que me apoiaram de todas as formas – meus modelos, heróis, Buddy e Todd. Minha mãe Betty, anjo do meu mundo. Meu pai Alfants, você passou tanto tempo conosco e nos ensinou tudo. Me desculpem se estou em um branco agora. Eu agradeço a todo mundo” (Geoffrey Fletcher abre caminho como o primeiro roteirista negro premiado)

Esse é mesmo… não tem outro jeito de descrever: é o grande momento da minha vida. Primeiramente, é tão extraordinário estar em companhia de meus colegas nominados, cineastas tão poderosos que me inspiraram e que eu tenho admirado, alguns, por décadas. E obrigado a cada membro da Academia. Esse é, de novo, o grande momento da minha vida. (…) E eu só queria agradecer a cada homem e mulher na exército que arriscam suas vidas em uma base diária no Iraque e no Afeganistão, e ao redor do mundo. E que eles voltem sãos e salvos. Obrigado” (Kathryn Bigelow quebra outro tabu, a primeira mulher premiada em Direção)

P.S.: A cobertura do Parada Obrigatória foi um sucesso, e uma delícia de se fazer! Por mim, estamos lá em todas as premiações!

P.S. 2: Uma dedicação especial as leitoras mulheres, e ainda mais especial as amigas blogueiras: Bones, Babi Leão, Nat Valarini, Cíntia Carvalho. Continuem com o trabalho brilhante, moças!

5 comentários:

Thiago Nardi disse...

Cara eu tava com sono e assisti soh um pedaço.. só até a homenagem dos falecidos..
queria ter visto o "coronel Hans Landa" ter ganho a estatueta e uma pena q o tarantino não ganhou a de roteiro...
vc sabe se ele jah ganhou algum??...

e outra coisa
eu vi uma entrevista do fantástico tempos atraz com o James Cameron e ele disse q " esse tipo de filme não é o tipo de filme que a academia costuma presentear"..
realmente neh cara
ma ele conseguiu ganha 4 oscar no terminator 2 mesmo assim..
abraço ae!

bones disse...

Obrigada pela menção no dia internacional das mulheres, não que eu me ligue muito em datas mas é bom ser lembrada.

Primeiro, que noite!!!! levantei as seis da manhã depois de tres horas e meia de sono e estava nas nuvens!!!!

Star trek com Oscar!!! queria que Avatar ganhasse mas meio que já esperava o resultado.


Segundo, seu post reflete muito bem a premiação e dá um resumo excelente. Imagina a estante da casa da Mo'Nique com 27 trofeus.
Minha única ressalva. O Razzie premiou Sandra não pela Proposta que ainda é um dos bons filmes do ano e sim pelo filme All About Steve , onde ela é uma nerd que assedia um cinegrafista da CNN.

Foi um excelente show para nos que estavamos no clima de premios mas eles alardearam tanto que quem queria ver tv não achou o mesmo. A grande abertura não foi tão grande assim e teve gente que foi dormir mais cedo. vamos esperar a audiencia para saber.

Um abraço Caio. (vamos repetir aquele chat qualquer dia)

Vinícius Cortez disse...

Oi Caio, obrigado pelo elogio :) Mas o último é o do blog, o Quasar precisa acabar =/

it was RED - Para quem gosta de cinema disse...

Assisti a apenas um pedaço da cerimônia; agradou-me bastante a homenagem ao terror (mesmo com a inclusão de películas que fogem completamente do gênero, como "Crepúsculo" - aliás, "Crepúsculo" é um insulto ao terror).

A premiação estava claramente divida entre "Avatar" e "Guerra ao Terror". O grande número de vitórias desse foi uma surpresa previsível, um golpe barato; a Academia tentou fazer algo inesperado, mas não conseguiu. Surpreendente seria se "Inglourios Basterds" levasse o prêmio de melhor filme. No entanto, atitudes como essa não se pode esperar de uma cerimônia como o Oscar.

Rubens Rodrigues disse...

Eu fui dormir às 2 am, tinha que acordar 4 horas depois pra ir trabalhar, arrependido. Eu não tinha certesa que Avatar ia receber o premio de melhor filme, só tinha esperança.

É como se o trabalho de Jim nos últimos quatro anos não fosse reconhecido. Posso tá exagerando, mas poxa, olha o que o filme representa pro cinema agora. Até antes de Avatar eu li vários artigos afirmando que tão cedo o cinema não ia voltar a lucrar como antes. E o 3D? É caro. Muito caro. Quem imaginava que a fila pro 3D seria tão grande e permanente como foi nos últimos 4 meses?

Eu não sei se o "barato" é o novo arrasa quarteirões, mas a história do cinema aponta que a ousadia lucra e é inesquecível. Não desmereçendo os filmes de baixo orçamento, já que eu não assisti The Hurt Locker. BTW, Slumdog é um filmaço que não perde pros concorrentes de 2009.

Isso me faz lembrar outro grande filme que não chegau a ser reconhecido como deveria - 2001: Uma Odisséia no Espaço.



btw, foi legal ver a Barbra Streisand e tosco o momento Tom Hanks.

@rubensrodrigues