por Amanda Prates
(@donadoolores)
Ultimamente tem sido difícil dar um tratamento diferenciado às palavras direcionadas a Glee. É sempre a mesma ladainha: ou o episódio é uma decepção (ou algo próximo a isso) ou surpreende num aspecto e noutro pelos momentos nostálgicos do que a série já foi, por exemplo. Mas é preciso ressaltar, meu caro leitor, que eu me refiro aqui aos meus próprios textos sobre os episódios desta temporada, ou seja, ao meu tratamento para com a série – se bem que essa divisão de opiniões não tem sido diferente entre a crítica não especializada em geral. Em “Sadie Hawkins” (04x11), no primeiro review da série para este blog, essa que vos escreve começou sua crítica sobre a oscilação entre episódios bons e ruins pela qual Glee passava, e conduziu os argumentos com a mesma tese até o fim. Nessa trajetória de seis episódios e dois (ou três?) hiatus, não muita coisa mudou (e eu falei mais mal do que bem da série) até o 04x18 ir ao ar há duas semanas. Não que “Shooting Star” tenha sido um excelente episódio, mas foi o mais incomum.
Ponho-me no arriscado direito de afirmar que nunca antes se viu algo semelhante em Glee. Um episódio que mistura um tiroteio falso no colégio, choros e soluços em demasia que forçaram atuações anormais, a saída de Sue do McKinley High e uma tensão que quase não convence tem mesmo que causar estranhamento no telespectador (até naquele que não acompanha a série desde o início). A coisa toda já começou mais estranha do que a série costuma ser até chegar ao ápice da trama e revelar, talvez, uma das premissas mais sinceras de Glee que, mesmo clichê, soube trazer de volta sua essência, só que de forma bem inusitada, e sobre a qual discorrerei mais adiante. Comecemos esclarecendo as subtramas do episódio.
Tudo começa quando Brittany avisa aos membros do Clube Glee que um asteroide está prestes a atingir a Terra, logo, ela decide passar seus últimos momentos de vida ao lado de quem mais ama: o Lord Tubbington. Mas, adiante, ela descobre que o tal asteroide não passava de um inseto morto na lente do telescópio, que na verdade não era um telescópio de fato. Enquanto isso, Ryder, ainda mantendo um relacionamento virtual com a misteriosa Katie, decide conhecê-la para mais tarde descobrir que a moça (ou o moço) havia criado um perfil falso e ferir os sentimentos do rapaz. Já Shannon Beiste, aproveitando todo o sentimentalismo e redenção pela história do asteroide e, consequentemente, pelos supostos últimos momentos na Terra, decide abrir seu coração para Will. Este, por sua vez, diz que está tentando se entender com Emma, o que acaba ferindo os sentimentos da treinadora.
É aí que o imprevisto acontece: dois tiros são ouvidos no colégio e o pânico se instaura no McKinley High. Os membros do New Directions, Will e Shannon se escondem na sala do coral até notarem a ausência de dois deles: Brittany, que estava no banheiro e se escondia num dos boxes; e Tina, que havia se atrasado para a aula e, por sorte, estava do lado de fora quando toda a confusão começou. Foi aí que toda a premissa do episódio se desenrolou. Em meio ao desespero e ao medo da morte (ai, jura?), Artie, Jake, Sam, Ryder, Blaine, Marley e Kitty começam a registrar fatos que até então não haviam sido feitos ou ditos por meio de uma câmera de celular. Marley revelou que guardava composições a sete chaves, por sentir vergonha e Ryder admitiu seu amor e gratidão por seu pai. Aos olhos dos mais sentimentais, a tensão pode até ter extrapolado as telas e provocado algum sentimento, mas para mim, tudo não passou de atuações exageradas e muita lágrima falsa que, ao invés de emocionar, me deixaram com cara-de-pateta.
Por outro lado, Heather Morris mostra que, além de ser o alívio cômico da série, também possui talento suficiente para interpretar uma cena de grande peso dramático ao protagonizar os momentos angustiantes de Brittany sozinha no banheiro enquanto o pânico se fazia silencioso pelo McKinley. Ela nos entrega uma atuação tão desesperadamente angustiante e verdadeira – a ponto de nos fazer sentir parte daquela cena – até o momento em que Mr. Shue a resgata para a sala do coral, instantes antes de ser anunciado o fim do perigo. Mesmo quando os alunos respiram aliviados, a tensão não se desfaz e a identidade do possível atirador é a questão que fica dispersa no ar.
A resposta vem logo depois: Sue, por prevenção, guardava uma arma e, por descuido, deixou-a cair, fazendo dois tiros dispararem. A verdade é que Becky foi a responsável pela confusão, ao levar para dentro do colégio uma arma (como instrumento de defesa, de acordo com a mesma), mas para acobertar a moça, Sue decidiu assumir a culpa, o que resultou em sua expulsão. O fato de Becky ter levado uma arma para o colégio por inocente defesa gerou uma reação negativa por parte do público americano que acredita ser muito cedo para abordar tal assunto. Mas Glee não seria Glee se não cuspisse na cara da sociedade, fazendo-a racionar para esse problema tão palpável.
Outras subtramas perderam o foco, mas não deixaram de ser importantes ao episódio, como o caso de Ryder com a misteriosa Katie. O fato é que o moço finalmente descobriu que estava sendo enganado por alguém do próprio colégio. Blake Jenner tem se mostrado mais eficiente que muito ator da série (leia-se Jacob Artist) e é aqui que eu me redimo de ter posto em dúvida a utilidade do moço num dos reviews passados. O vencedor da segunda temporada do The Glee Project tem conseguido levar sinceridade a cenas que poderiam se tornar bobas (como o caso com a garota virtual). Quem não olhou para o rapaz com outros olhos no momento da performance final?
“Shooting Star” é tudo o que Glee não foi nessas três temporadas e meia, não por não ter conseguido antes, mas por ter sido exibido no momento certo, provocando (talvez) no telespectador todos os sentimentos que pouco se viu antes: medo, angústia, desespero. E, pra quê deixar de fazer ou falar algo quando podemos fazê-lo agora? Precisamos esperar que o medo do fim nos induza a revelar um segredo ou a confessar amor por alguém, por exemplo? Glee é sobre isso e mostrou que voltou a ser Glee.
◘ “Your Song”, de Elton John, interpretada por Ryder (Blake Jenner); veja aqui;
◘ “More Than Words”, do Extreme, interpretada por Sam (Chord Overstreet) e Brittany (Heather Morris); veja aqui.
**** (4/5)
“Sweet Dreams” foi um resumo de tudo de bom que Glee já foi. Essa já é a segunda vez consecutiva que Ryan Murphy faz com que nós acreditemos que Glee finalmente está voltando a ser Glee. Talvez seja a nostalgia que é de praxe em final de temporada, ou talvez tenha sido apenas mais um tiro certeiro dos roteiristas. O fato é que, se “Shooting Star” surpreendeu, “Sweet Dreams” emocionou e fez relembrar a melhor fase da série. Foi incrível como o elenco antigo e o novo souberam fazer da mensagem do episódio algo tão inspirador, nostálgico e novo, concomitantemente.
Simplicidade é a palavra mais do que adequada para definir este episódio. Nada de polêmica, reviravoltas de plots passados, nem do elenco completo. Tudo foi emocionante ao seu modo simples e bem feito. SONHOS foi o tema da semana e ninguém mais indicado para levar esse plot adiante e com maestria que Rachel. A moça, que, junto com o núcleo de Nova York não aparece desde o 04x17, voltou e fez a premissa ao modo Glee, com enfoque na audição para o musical Funny Girl. Mas, antes de voltar à moça, falemos sobre os fatos que marcaram o núcleo de Ohio.
Tudo começa com Finn finalmente na faculdade, um lugar (idealizado pelos roteiristas) onde a animação reina (só que não). Puck retorna à série com uma sensatez nunca antes vista. O moço alertou Finn para seu desinteresse com relação os assuntos da faculdade (mas foi ele mesmo quem levou Finn para o “mau-caminho”, que coisa controversa, não? Só Titia pra fazer algo do tipo.). O “ex-vilão” usou um discurso todo consciente para fazer Finn perceber que, para tornar seu sonho de ser professor em realidade, ele precisaria se esforçar e levar os estudos a sério. Finn parecia ter tão seguro de si nos últimos episódios, mas bastou esse plot para que ele se perdesse de novo (então, né!).
Enquanto isso no Clube Glee, Mr. Shue, com o ego tomando conta dele, comunicou aos membros o tema e as músicas escolhidas por ele para apresentação nas Regionais. A atitude do professor desagradou os alunos, é claro, principalmente Marley, que queria que uma de suas composições fizesse parte da lista. Logo, o professor não aprovou e até se mostrou agressivo quanto à posição de “enfrentamento” do grupo (ele, afinal, estava todo mordidinho por Finn não ter aceitado voltar a trabalhar com ele no coral).
Voltando ao núcleo de Nova York, Rachel se envolvia nas preparações para a audição do musical Funny Girl. Foi aí que Shelby apareceu para finalmente exercer seu papel de mãe e aconselhar a moça sobre suas escolhas, e claro, tinha que sair uma performance de arrepiar dessa conversa. “Next to Me” foi simples e emocionante, algo que só nossa queridinha sabe fazer. Em meio a conselhos e alertas, até o Finn serviu de conselheiro para Rachel e ela, como num surto, decidiu performar o hino “Don’t Stop Believin’” na audição. Eu prefiro me abster de comentários, afinal, foi muita emoção para apenas 3 minutos de cantoria e eu sou incapaz de transformá-la em frases.
Em Ohio, depois de ouvir a música composta por Marley, Will decide refazer o tracklist para as Regionais. “You Have More Friends Than You Know” foi uma das canções originais de Glee e, ao contrário das outras vezes, foi pensada e inserida no momento certo. “Outcast” também foi composta exclusivamente para a série, e fechou perfeitamente o episódio, como uma das performances grupais mais sinceras da temporada.
“Sweet Dreams” foi tudo o que Glee precisava voltar a ser nesta temporada. Um episódio sobre sonhos, futuro, incertezas e até crises de identidade. Tudo simples e na medida certa. Só faltam três episódios para o fim da temporada, mas a série já foi renovada para mais duas (comemoremos?).
◘ “Next to Me”, de Emeli Sandé, interpretada por Shelby (Idina Menzel) e Rachel (Lea Michele); veja aqui;
◘ “Fight For Your Right (To Party)”, de Beastie Boys, interpretada por Finn (Cory Monteith) e Puck (Mark Salling); veja aqui;
◘ “You Have More Friends Than You Know”, composta por Mervyn Warren and Jeff Marx para a série, interpretada Marley (Melissa Benoist), Blaine (Darren Criss), Unique (Alex Newell) e Sam (Chord Overstreet); veja aqui;
◘ “Don’t Stop Believin’”, do Journey, interpretada por Rachel (Lea Michele); veja aqui.
***** (4,5/5)
Próximo Glee: 04x20 – Lights Out (25/04)
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