por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Poucas séries além de The Americans seriam capazes de entregar um episódio com “Only You” .Não chega a ser novidade que a morte de um personagem importante (como a de Chris Amador no episódio anterior da série) motive sentimentos de vingança por parte do protagonista mais próximo a ele quando a série permite tal tom. Mas é raro que se preceda a essa morte um episódio tão sombrio, duramente realista, cheio de temas amargos e sem concessões romantizadas quanto “Only You”. The Americans poderia ter optado por uma saída fácil, como chega a sugerir em certo momento, mas prefere realizar um estudo pungente sobre o sentimento de ausência e, para isso, não está nem um pouco disposto a fazer eufemismos para seu público.
Em certo ponto do episódio, Stan diz a sua esposa que “o mundo em que vivemos é um pouco mais escuro e um pouco mais feio do que eu acho que você sabe”, e talvez isso resuma a contemplatividade sombria que permeia todo o episódio. O relacionamento de Elizabeth e Phillip aqui parece mais quebrado e irreparável do que nunca (o take dos carros dos dois indo em direções opostas e de quebrar o coração, e um dos momentos matadores de roteiro e fotografia do episódio). Quando o FBI segue as pistas do assassinato de Amador e acaba chegando a um dos capangas de Gregory, a KGB está pronta para mandá-lo para Moscou colher os louros de seu serviço a Rússia. O que eles não esperavam era que o moço resistisse a esse plano.
Mas a objeção do personagem de Derek Luke a exfiltração é bastante plausível, especialmente quando o episódio nos faz perceber que o que o seduziu para, como americano, se tornar agente russo, foi a vontade de ter um objetivo maior em sua vida. Em Moscou, na vida confortável que o aguarda, talvez ele saiba que não vá tê-lo. A atuação de Luke é afinadíssima com esse preceito, e a química com Keri Russell, que aqui é dada uma quantidade limitada de takes para trabalhar sua personagem, é evidente. Quem também está em um grande momento é Noah Emmerich, a força e a garra do episódio na pele de um Stan amargo e motivado (uma combinação complexa, aliás).
Talvez o take que resuma a verdadeira intenção de “Only You” seja o último, o que é sempre um bom sinal: Elizabeth é focada isolada pela câmera, o fundo difuso e escuro, os olhos tristes de Keri Russell dizendo tudo sem dizer nada. The Americans lida com a morte do Agente Amador (e com a do agente do KGB que Stan matou, aliás – mais um ponto para a série por não ter deixado a história do moço no ar) de maneira magistral em um episódio em que o princípio que motiva cada personagem ferido pela dor da ausência é um só: no fim das contas, acabamos todos sozinhos.
***** (5/5)
Próximo The Americans: 01x11 – Covert War (17/04)
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