por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Como toda tendência televisiva que se preze, a de recriar momentos históricos e recheá-los de intrigas e sombras que não estão nos livros didáticos começou na HBO. Ou mais ou menos isso. Embora claramente a atual onda de séries históricas tenha seu fundamento na estreia e sucesso arrebatador de Game of Thrones em 2011, quatro anos antes a Showtime já exibia o polêmico The Tudors, estrelado por Jonathan Rhys Meyers. E o mais recente filho dessa corrente de recriações de época é Da Vinci’s Demons, que estreou no último dia 12 e chega em seu segundo capítulo amanhã (19).
O grande diferencial da série sobre o período da vida do artista-título em que seus trabalhos foram “patronizados” pela poderosa família Medici de Florência, na Itália, é que se trata de uma produção britânica. O canal Starz já tem outra série atacando o filão histórico: Spartacus é um dos sucessos do gênero, já com sua terceira temporada finalizada. E a nacionalidade da produção, como qualquer observador de televisão pode lhe dizer, não é apenas um detalhe. Assim como no campo cinematográfico, a lógica de produção britânica e a americana são bem diferentes. E Da Vinci’s pode ter um sabor um pouco estranho, no começo, para quem não está acostumado com esse ritmo.
Para começar, a série trata o protagonista como um rebelde por natureza, um gênio incontrolável e temperamental com uma obsessão ferrenha pela honestidade. Tom Riley o interpreta com garra e tem momentos brilhantes nesse piloto, mas é impossível não remeter sua performance, especialmente nos momentos verborrágicos (que farão os fãs mais assíduos de televisão exclamar: “oh, so british!”), a de David Tennant como o personagem título de Doctor Who durante algumas temporadas.
Mais curioso ainda é que tanto esse quanto vários dos próximos episódios de Da Vinci’s são escritos (e, pelo menos os dois primeiros, dirigidos) por David Goyer. O homem é conhecido por ser o parceiro fiel dos irmãos Nolan na confecção dos roteiros da recente trilogia Batman Begins, Cavaleiro das Trevas e Ressurge, esteve envolvido na criação da cancelada precocemente Flashforward e dirigiu pelo menos um bom e subestimado filme, o suspense sobrenatural dramático O Invisível. E, claro, Goyer é americano. É interessante observar o conflito que o modo de contar histórias das duas culturas provoca, seja na ambientação e construção de personagens, seja na levada da narrativa.
Essa última, aliás, coloca as coisas para se moverem bem mais rápido do que qualquer série americana que me venha a memória. Essa é uma característica da televisão britânica que deveria ser mais observada pelos concorrentes ianques: é sempre mais agradável assistir a um piloto que nos dá a certeza de saber com o que estamos lidando (a não ser que a dúvida seja parte integrante do suspense, o que não é o caso aqui). Da Vinci’s é uma produção visualmente impressionante – atenção para a cena em que o protagonista observa o vôo de pássaros na feira de rua de Florência –, recheada de diálogos espertos e referências históricas que servem como contexto para a narração de uma história essencialmente, se não especulativa, totalmente ficcional. E talvez a auto-consciência de se fazer assim seja sua maior qualidade.
**** (4/5)
Próximo Da Vinci’s Demons: 01x02 – The Serpent (19/04)
1 comentários:
Gosto do contexto histórico e acho que o rebelde Da Vinci é promessa de coisa boa. Vou acompanhar, e espero que a temporada não deixe o nível diminuir.
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