por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Embora pareça um processo natural, a estrutura narrativa é regida por uma lógica implacável. Não é a toa que foram escritos livros e mais livros sobre a confecção de um roteiro: por mais que a criatividade e a honestidade sejam sempre bem-vindas, o balanço de uma narrativa precisa ser apoiado em princípios quase imutáveis para funcionar. “Trust Me”, em parte, falha em alcançar esses princípios. Sua trama parece estagnada demais, e as atitudes dos personagens, quando extremas, repentinas demais. Não só Bates Motel até agora foi apoiado mais no suspense psicológico do que nos momentos intensos, mas também o próprio episódio esquece de acumular tensão para que o meltdown dos dois protagonistas seja justificado.
Claro, não podemos esquecer que estamos falando de uma série com gente bastante talentosa envolvida, então “Trust Me” não é o episódio que vai te fazer querer parar de ver Bates Motel. E boa parte da culpa por isso é de Freddie Highmore, que abrilhanta um par de momentos iluminados do roteiro e deixa o interesse do espectador por Norman, a empatia e ao mesmo tempo a desconfiança por ele, acesos. É impressionante a emulação da expressão de Anthony Perkins no filme original de Hitchcock que Highmore faz em alguns momentos, tanto quanto é tocante sua atuação nos diálogos com o pai de Emma e com a Bradley de Nicola Peltz.
A trama entra em movimento onde o episódio anterior parou (ou até um pouco antes), reencenando a invasão de Norman a casa do Deputy Shelby sob o ponto de vista do personagem de Mike Vogel e do irmão de Norman, que o viu andando pela estrada sozinho ao voltar para casa à noite e o seguiu. Essa é uma mania herdada de Lost (com quem essa série divide o developer, Carlton Cuse, não custa lembrar), e uma que já particularmente me irritava na época. Após a aventura desnecessária, o que temos é um amalgama confuso de Norma negando o relato de Norman sobre o que Shelby tem escondido no porão (ela desce lá checar, e nada de garota asiática acorrentada), Shelby agindo como se realmente gostasse de Norma e quisesse se tornar próximo de Norman (embora os motivos do moço para ajudar os protagonistas ainda sejam obscuros – a desconfiança de Norman está mais para prudência do que para sinal de psicopatia), e o Xerife Romero encontrando a mão decomposta de Keith Summers no lago e encontrando um jeito de levar Norma à cadeia.
O que incomoda em “Trust Me” não é a multiplicidade de tramas. Isso é algo que qualquer série vai ter que lidar mais cedo ou mais tarde. Ruim mesmo é não entender de onde surgiram as ações dos personagens principais: Norman parece revoltado com a mãe, de uma hora para a outra; Norma, por sua vez, passou de manipuladora sutil para leonina desesperada. A sorte dos roteiristas é que Highmore e Farmiga interpretam seus personagens de maneira sutil o suficiente para fazê-los parecerem sempre sob uma ponte bamba, esperando um empurrão arbitrário para cair para um dos lados. Bates Motel é uma série que merece ser assistida, mas “Trust Me” não é melhor motivo para afirmar isso.
*** (2,5/5)
Próximo Bates Motel: 01x05 – Ocean View (15/04)
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