Editorial da Vogue de Dezembro de 1992 por Steven Meisel
por Isabela Bez
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Sim, o grunge está oficialmente de volta. Ainda que seja abominado por grandes nomes do mundo da moda como a própria Anna Wintour, nossa sociedade rebelde não conseguiu ficar longe dele por tanto tempo. Ele surgiu na música na década de 80, mas a moda só o adotou no comecinho dos anos 90. Pela definição de Jean Paul Gaultier, “o grunge não é nada mais do que o jeito que nos vestimos quando estamos sem dinheiro”, declarou em 1993, quando adaptou o movimento para a Vogue. A Vogue, aliás, não teve saída: praticamente todas as pessoas que estavam envolvidas com moda o odiavam, mas não conseguiram deixá-lo de lado, já que era hit no mundo da música, graças a bandas como Nirvana e Pearl Jam.
O grunge pode e deve ser associado ao niilismo, que, numa definição muito pobre, é um espírito destrutivo em relação à sociedade e ao próprio indivíduo. As pessoas estavam cansadas da vida, mas não se mostravam rebeldes a ela, pelo contrário, se mostravam mastigadas por ela. Elas eram antissociais, estranhas e se escondiam do mundo. Esse foi o grunge. Por esse motivo, é tão difícil entender a associação que ele teve com a moda. Como é que um estilo que não precisa de manutenção vira moda, se a moda é uma manutenção diária dele? Foi isso o que os seguidores do movimento não entendiam. Quem seguia o estilo grunge na realidade não seguia o movimento grunge, já que as duas coisas se tornaram opostas. No entanto, as ruas e as passarelas atuais nos dizem que ele voltou. Se lá nos anos 90 o grunge não se encaixava muito bem com a moda, hoje ele finalmente pode definir um estilo. Não é mais sobre um sentimento, mas sim sobre um jeito atual de se vestir.
Louis Vuitton inverno 2013/14
As grifes que o tomaram como tema na última semana de moda internacional foram Saint Laurent e Louis Vuitton. Louis Vuitton é comandada por Marc Jacobs, que fez parte do grupo de estilistas que tentaram inserir o grunge no mundo da moda nos anos 90. A ideia que Marc trouxe para o inverno 2013 da Louis Vuitton se aproximou um pouco da ideia inicial do grunge de se esconder da sociedade. A definição de seu desfile foi basicamente: por que sair se você pode ficar em casa? E, se você puder olhar ainda mais fundo, perceberá que há certo egoísmo nisso tudo, além de um pouco de glamour. Segundo Marc, se vestir impecavelmente para ficar em casa é decadente, excêntrico e luxuoso ao mesmo tempo. Tudo isso dentro do grunge, é claro.
Por mais absurdo que isso soe, não houve sequer uma camisa xadrez ou coturno em sua coleção. O grunge do Louis Vuitton é feito de saltos finos, casacos de pele e muita seda. “[o desfile] Provou uma grandiosa transformação de um conceito para algo que alguns anos o removeram do contexto esperado”, o jornal WWD comentou. Em outras palavras, o grunge mostrado na passarela da Louis Vuitton foi o mesmo de sempre, porém visto de uma maneira diferente. E, novamente citando Marc, tal maneira é decadente, excêntrica e luxuosa.
Courtney Love para a nova campanha da Saint Laurent
Já ao contrário de Marc Jacobs, Hedi Slimane adotou o grunge mais óbvio possível em seu desfile para a Saint Laurent. Recentemente contratado como diretor criativo da grife, fez mudanças trágicas no estilo da mesma, mudanças que vão mais de acordo com o grunge visto atualmente nas ruas. Esse grunge, sim, pode ser abominado: não tem forma nem definição. É muito mais produto de fast fashion do que de uma grife considerada tão icônica no mundo da moda.
Com a intenção de atingir um público mais jovem do que YSL atendia, Hedi ressuscitou o Kurt Cobain através de nomes como Courtney Love, que participou de sua mais recente campanha para a marca. Sua coleção não foi nada mais do que um “grunge da Califórnia”, definição feita pelo próprio estilista, que contava com vestidos curtos, cardigans surrados, couro, estampas xadrez e tecidos brilhantes. Tudo muito jovial e sem graça. Tudo já visto vinte anos atrás, exatamente da mesma maneira. E qual é a graça disso? Qual é a graça de rever o mesmo tema, sem ao menos adicionar a ele outro sentido, outra inspiração? Hedi Slimane pode até ter jogado certo na primeira vez, mas a segunda foi no mínimo horrorosa. Pelo menos ele nos ajudou a distinguir uma mente brilhante, como a de Marc Jacobs, de uma mente completamente comercial.
O grunge nas ruas: as famosas já adotaram o estilo
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