por Fabio Christofoli
(Clube do Camaleão)
Anos atrás, a Juliana Paes conquistou o Brasil. Poucas mulheres conseguiram isso: ser ícone. Ela foi lá por 2002, 2004. Nunca deixou de ser, é verdade, apesar de perder um pouco de espaço para outras – inclusive na crise de 2008, onde as mulheres frutas, por incrível que pareça, também se tornaram ícones. O fato é que o brilho dela se apagou um pouco perto do que era, mas agora ela parece retornar de forma triunfante, revivendo a sensualíssima Gabriela. Novamente ela é o tema preferido das mesas de bar. Ela e seu corpo.
Que pena.
Primeiramente, acho que a Juliana é muito mais do que um corpo. Ela tem uma simpatia ímpar, um sorriso sincero raro de se ver. Sim, ela é gostosa, mas isso acaba sendo um complemento ao que ela é.
Mas esse post não é sobre a Juliana. É sobre Gabriela. Fico triste de ver que uma obra tão cheia de significados seja limitada à exposição do corpo da Juliana. Gabriela tem muito mais do que isso! Fala sobre política, fala sobre o direito da mulher, fala sobre hipocrisia. Gabriela foi escrita há tanto tempo, mas seu contexto, infelizmente, parece tão atual.
Ainda somos vítimas de coronéis, eles só mudaram a abordagem. Ainda assistimos mulheres sendo discriminadas, mesmo que de maneira mais discreta. Ainda somos hipócritas. E pior, ainda temos um Nordeste sem chuvas e com fome.
Gabriela representa muito a cultura brasileira. Não só no que é dito, mas na forma que é visto. A sensualidade que envolve trama, ganha o primeiro plano em um Brasil que não paga para ser distraído. Com tantas questões, o brasileiro fica preso a uma. Esquece as outras.
Aí eu pergunto: Até quando vamos ficar chocados com um peito de fora? Até quando vamos achar mais absurdo uma cena sensual do que um político que rouba e mata inocentes? Pois isso tem em Gabriela, mas ninguém parece achar muito incomum.
Somos o povo que consagra a menina do vestido rosa e esquece o menino descalço do sinal. Ficamos abismados com coisas bobas e ignoramos o que realmente nos faz mal. Parece que fazemos um jogo mental, onde não conseguimos estabelecer prioridades.
Dizem que o Brasil está enriquecendo, você vê isso nas ruas? Eu não. Nosso transporte público é ruim, nossos hospitais estão lotados, nossa educação passa por constantes crises, nossas ruas estão cada vez mais escuras e perigosas. Estamos mais ricos e com muito mais problemas, qual a explicação? Eu digo que falta foco. E falta mesmo.
Queremos crescer como nação, mas isso não será possível enquanto não houver maturidade. Maturidade para admirar e criticar cenas de sexo, para ir além das curvas da Juliana. Precisamos olhar o mundo com um olhar mais abrangente e não ficar parado olhando e debatendo algo que não vai nos tirar do lugar.
Fabio Christofoli escreve todo último dia do mês.
1 comentários:
Acho que os problemas nacionais são atemporais e, por isso, não são anacrônicos - uma obra como Gabriela pode bem retratar a contemporaneidade desse momento, mesmo tendo sido escrita há mais de trinta anos. E isso serve para qualquer obra.
Quanto à exploração do corpo de Juliana Paes, acho natural - a personagem demanda sensualidade, sobretudo. Gabriela é como Flor, que é como Solange (de A Dama do Lotação), que é como Engraçadinha (de Asfalto Selvagem): são todas personagens cuja crítica ontológica reside na sexualidade também. O problema é encerrá-las exclusivamente na volúpia.
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