por Fabio Christofoli
(Clube do Camaleão)
É triste acompanhar as Olimpíadas sendo brasileiro. E não pense que estou lamentando nossas medalhas perdidas, não mesmo. Lamento o espírito perdedor do brasileiro que acompanha os Jogos.
Falo daquele “torcedor” que presta atenção em determinados esportes apenas de 4 em 4 anos e mesmo assim sente-se no direito de reclamar dos erros cometidos por nossos atletas. Como se fosse um especialista. Como se fizesse parte daquilo. Indignado, ele chama o Diego Hypólito de “amarelão”. Cheio de razão, ele vai xingar a judoca Rafaela Silva no Twitter. Provavelmente vai perseguir todos aqueles que fracassarem. E pasme. Vai gostar disso. Vai adorar fazer isso, pois se trata de um perdedor.
Vencedor é aquele que entende que a base da vitória é a derrota. Que sabe que o erro alerta, conduz ao acerto se for apreciado, se for digerido de maneira sábia. Muitos brasileiros ignoram essa lição e por isso nosso país, apesar de todo potencial, não figura entre os primeiros colocados no ranking de medalhas.
O cara que se irrita com nossas derrotas, provavelmente não tem noção do esforço que esses atletas fizeram pra participar da disputa. Enquanto outros países INVESTEM PESADO na preparação para os Jogos, o Brasil vive uma realidade oposta. Aqui há pouco investimento, pouca estrutura, pouco incentivo. Muitos atletas PAGAM para competir pelo país, mesmo sabendo que suas chances são pequenas.
Dentro desse contexto, nossos atletas deveriam receber aplausos pelo simples fato de estarem lá. Mas não. Recebem uma pressão absurda por vitórias.
E eu me pergunto o motivo, já arriscando uma resposta.
Acredito que essa pressão nasce na nossa crise de identidade cultural. Adoramos receber um elogio do exterior. Um aplauso estrangeiro. É por isso que ganhar medalhas se torna tão importante, por causa desse reconhecimento que virá de fora, pois precisamos disso para ter fé no que somos.
Há um desespero inexplicável por isso, que nos faz injusto com nós mesmos.
Essa necessidade nos prejudica, pois nos induz à injustiça, como no caso dos atletas que perdem. Isso desmotiva, enfraquece, nos faz menores. Nos faz buscar soluções rápidas e comuns. O cara que perdeu lá, de certa forma desbravou algo, deveria ser exemplo para próximas gerações. Mas é condenado e, se tiver sorte, será esquecido. Ou pra sempre lembrado por seu revés. O que nasce disso? Absolutamente nada.
Vamos celebrar a derrota e com ela deixar de sermos um povo perdedor. Como diz a letra do Los Hermanos: “Olha lá, quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar”.
Fabio Christofoli escreve todo último dia do mês.
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