por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
É natural a desconfiança quanto ao primeiro trabalho de destaque de Madonna na direção de um longa-metragem (sua investida anterior, Filth and Wisdom, de 2008, mal saiu do circuito de festivais), especialmente depois de uma carreira de atriz que passa longe de ser celebrada, mas é também um preconceito a se deixar de lado para poder apreciar W.E. – O Romance do Século. Mantendo-se atrás das câmeras e recebendo créditos também de roteiro e produção, a rainha do pop mostra que ao menos uma coisa tirou do casamento com o cineasta Guy Ritchie (Sherlock Holmes): uma noção de narrativa impecável.
Com suas duas tramas paralelas e estrutura não linear, W.E. poderia ser um pesadelo para o espectador, se mal conduzido. O título se refere a Wallis (Andrea Riseborough) e Edward (James D’Arcy), um casal que se apaixona na Inglaterra dos anos 30. O problema é que Edward é o herdeiro do trono inglês, e Wallis, além de americana (e, por isso, naturalmente vista com maus olhos pela Coroa inglesa), ainda é casada. Enquanto essa história real de desdobramentos históricos (Edward renuncia do direito ao trono por Wallis) se desenrola, vemos Wally Winthrop (Abbie Cornish), nos dias atuais, uma avaliadora de arte que largou a carreira pelo marido, o psiquiatra William (Richard Coyle), e cujo casamento está em frangalhos, fascinada pela história de Wallis e Edward.
A forma como o roteiro de Madonna e Alek Keshishian (Amor e Outros Desastres) une essas histórias é graciosa, guardando lances cômicos e doces em meio a uma história essencialmente triste, mas sem nunca extremar a encenação para a comédia pura ou para a dramaticidade exagerada. A direção, por sua vez, tem a missão de não deixar o espectador se perder em meio a trama, e de juntar essas duas boas histórias que tem para contar em uma unidade dramática, e o faz com bastante destreza e elegância. Há alguns deslizes com a fotografia, sejam eles de Madonna ou de Hagen Bogdanski (A Jovem Rainha Vitória), mas há também momentos em que esta cria cenas plasticamente estonteantes.
O filme é fortalecido pela brilhante atuação de Andrea Riseborough. A atriz conhecida por trabalhos coadjuvantes em Não Me Abandone Jamais e Simplesmente Feliz mostra aqui intensa fibra interpretativa, vibrando de emoções a um tempo contidas e à flor da pele. Sua Wallis Simpson é uma personagem facilmente admirável, e potencialmente marcante. A contraparte moderna da história, Abbie Cornish (Sucker Punch), faz um trabalho que ainda é um pouco vacilante, mas acaba conquistando em uma construção sutil e equilibrada de sua personagem. No elenco coadjuvante, James D’Arcy (Mestre dos Mares) é um poço de carisma, e Oscar Isaac (Sucker Punch) realiza um trabalho compenetrado e louvável.
W.E. pode parecer, mas não é um filme pessimista em relação ao amor. Só não usa do filtro de realidade que normalmente se encontra nas comédias românticas. O ponto de Madonna, aqui, como naturalmente seria o de alguém recentemente saído de um divórcio, é que não existe um conto de fadas. Que amor é sinônimo de sacrifício de algumas coisas importantes na vida de quem ama, e que é humanamente impossível se sentir bem o tempo todo em uma relação. Por mais belo que seja, idealmente, a realidade do “romance do século” é muito mais banal, e muito mais triste, do que se imaginou. O amor retratado aqui é justamente aquele que destrói o ideal, e escancara o ideal. É um amor falho. Mas nem por isso deixa de ser amor.
**** (4/5)
W.E. – O Romance do Século
(Inglaterra, 2011)
Direção: Madonna.
Roteiro: Madonna, Alek Keshishian.
Elenco: Abbie Cornish, Andrea Riseborough, James D’Arcy, Oscar Isaac, Richard Coyle.
Duração: 119m.
1 comentários:
Gostei do filme, tem um elenco impecável, as roupas de época são fidedignas ao período relatado, tudo com muita elegância e charme.
James D'Arcy (Mestre dos Mares) está maravilhoso no papel do apaixonado Edward.
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