por Caio Coletti
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O Artista não é um sucesso. Ou, ao menos, não para os padrões de Hollywood. A despeito de seu modesto orçamento de 15 milhões de dólares estimados (para os leigos: uma super-produção americana chega a bater nos 200 milhões de custo), a bilheteria mundial de 133 milhões não é um número que faça frente a blockbusters ou mesmo que possa fazer do resgate do cinema mudo ou preto-e-branco uma tendência (acredite, nenhum produtor hesitaria se a investida desse retorno). O Artista, apesar de suas cinco estatuetas no último Oscar e a revelia das dezenas de outras celebrações críticas e acadêmicas que recebeu, não vai mudar a indústria do cinema. Nem quer fazê-lo, na verdade. E talvez justamente por isso seja tão encantador.
Pode parecer óbvio, mas a mágica de O Artista reside no seguinte aspecto: o que o diretor Michel Hazanavicius propõe aqui é tão simples que deixa espaço para a criatividade e o trabalho de cada um dos nomes envolvidos no filme brilhar. Ao contrário de A Invenção de Hugo Cabret (que, diga-se, possui seus inegáveis méritos), não se trata de uma boa história que abre espaço e torna agradável a introdução de suas tecnologias. A forma de contar a história, aqui, não é um detalhe afora do processo: é parte dele. O diretor, que ganhou nome na França nos últimos seis anos, com duas adaptações de Agente 117, série de novelas popular no país, mostra-se um brilhante coordenador de talentos, e um detalhista. Sem seu cuidado peculiar a cada pequena ousadia e elemento que compõe O Artista, o filme fracassaria em seu objetivo.
E que objetivo, exatamente? Hazanavicius diz, na entrevista com o elenco e a equipe que aparece entre os extras do DVD brasileiro da obra, que sua intenção era transportar o espectador para a linguagem própria do cinema mudo, fazê-los redescobrir o encanto do seu ritmo, de sua encenação e de sua peculiar forma de nos deixar, mais intensamente, nos colocar na história. O diretor diz que o cinema mudo permite que o espectador construa sua própria experiencia, que portanto se torna, mais do que normalmente já é, única e intransferível de pessoa para pessoa. Eu, este escriba que vos fala, não posso lhe dizer, leitor, do que se trata, em seu cerne, O Artista. Porque o que emergiu de seus 100 minutos, para mim, pode surgir de outra forma para você.
Mas o filme segue George Valentin (Jean Dujardin), um astro da era dos filmes silenciosos que vê seu casamento e sua profissão ameaçados ao mesmo tempo com a quebra da Bolsa de Nova York e a chegada do som à sétima arte. Seu contraponto é Peppy Miller (Berenice Bejo), uma aspirante a atriz que encontra sua grande chance justamente com a introdução dos filmes falados. À dupla principal não se pode negar o brilhantismo de atuações absurdamente carismáticas. Dujardin é, como confirmam seus colegas de elenco na entrevista coletiva do DVD, para além do carisma de astro, um ator desses que sabem fazer da expressão um véu transparente para as emoções que pretende passar. Sua vitória no Oscar não foi à toa. Jean é magnético, versátil e brilhante. E sem dizer uma palavra.
***** (5/5)
O Artista (The Artist, França/Bélgica, 2011)
Direção e roteiro: Michel Hazanavicius.
Elenco: Jean Dujardin, Berenice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller, Missi Pyle, Malcolm McDowell.
100 minutos
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