por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
Eu não sei conceber a vida senão como uma luta. Às vezes parece que minha mente trava constantemente uma batalha com a minha natureza, como se tudo o que eu mais quisesse ser fosse tudo o que contrariasse o próprio cerne da minha existência. Talvez entre aí o conceito da personalidade como uma construção, uma invenção, por vezes até uma arte. Quem sou eu quando fecho os olhos? De onde vieram esses pressupostos que passeiam pela minha cabeça, que cerceiam a minha liberdade (ou que a liberam quando acham que devem)?
Veja bem, não proponho viver a vida sem princípios. Aliás, a rigor, não proponho nada. Se digo que a própria forma como agimos externamente é uma contradição daquilo que verdadeiramente somos, deixo implícito que essa luta, esse embate, já basta, e que não devemos fazer nada que se oponha aquilo que achamos que somos. É petulante conceber o humano como dotado desse espírito rebelde (e, portanto, pensante) por natureza, alguns dirão, mas eu responderei: não quando a rebeldia e o pensamento voltam-se contra si mesmos.
A arte, quando não é uma reprodução, é um esforço em ser o contrário daquilo que já está feito. O Realismo quis ser o oposto do Romantismo, e a arte abstrata quis ser o oposto do classicismo. Então, de que forma construímos a nossa personalidade? Somos um espelho do que temos dentro de nós em que sentido? Uma reprodução exata, mas que, quando a mão esquerda se levanta de um lado, a direita se ergue do outro?
Queremos liberdade, não há dúvida. Então será que não queremos destruir tudo aquilo que temos por mais sagrado, algo que uma ferramenta tão poderosa como a nossa mente é capaz de nos convencer que não importa? Dr. Jekyll e Mr. Hyde. O médico e o monstro. Será que não “nos criamos” para sermos de um, o outro? Curando as nossas monstruosidades internas e externando as nossas inibições mais profundas. Dia após dia. Uma dualidade dentro da outra. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Porque, nesse mundo, é.
“Todos nós temos um lado de luz e um lado de escuridão; se falharmos em reconhecer o lado da escuridão, ele vai acabar nos grovenando” – Carl Jung
1 comentários:
Nossa, achei o primeiro parágrafo do seu texto extreamente interessante e, mais do que isso, achei que nenhum parágrafo seguinte deixou a desejar em relação ao primeiro. Verdadeiramente, achei o seu texto interessantíssimo.
Postar um comentário