por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
Homem-Aranha, a primeira produção de 2002, foi um marco do gênero dos filmes de super-heróis. Junto com o X-Men de Bryan Singer, o filme dirigido por Sam Raimi e estrelado por Tobey Maguire ajudou a consolidar o nome da Marvel no meio cinematográfico e, com seus 821 milhões de dólares arrecadados na bilheteria mundial, provou que o público queria ver vigilantes mascarados numa tela de cinema. Para os fãs dos quadrinhos, o primeiro filme e suas duas continuações, apesar de serem distintamente marcados com o estilo e a identidade do diretor Sam Raimi e conterem diversas “adaptações” para o meio cinematográfico, capturaram também a essência familiar que é o diferencial do Homem-Aranha entre os personagens da Marvel, e retrataram um Peter Parker perfeitamente constrangedor e naturalmente tenso na pele de Maguire.
Ciclo fechado na trilogia de Raimi com Homem-Aranha 3, de 2007, que marcou 890 milhões de dólares mundialmente, é claro que não ia demorar para se falar em algum tipo de seguimento para a jornada do personagem no cinema. O Espetacular Homem-Aranha é um reboot que pega carona numa tendência dos quadrinhos mais contemporâneos (e, não por coincidência, também dos recentes filmes de super-heróis) de mesclar a realidade do personagem principal integralmente com a do público jovem. Na série especial de histórias Guerra Civil, Peter Parker é zombeteiro e encantado com as possibilidades do poder que tem nas mãos. Aqui, também. O Peter de Andrew Garfield (A Rede Social) ainda é o garoto que não é aceito nos círculos sociais mais elevados do colegial americano, mas é também, impreterivelmente, muito cool, e descaradamente mirado no público adolescente.
O vilão da vez é o Lagarto, que se torna uma ameaça quando o Dr. Curt Connors (Rhys Ifans, de Little Nicky, um pouco menos canastrão que o normal) resolve se tornar cobaia do próprio experimento de regeneração de membros e acaba se tornando uma espécie de réptil mutante com planos de espalhar sua “modificação genética” por toda Nova York. A origem do herói você, leitor, com certeza já conhece, então não vou desperdiçar linhas recontando história antiga. O roteiro de James Vanderbilt (Zodíaco), Alvin Sargent (que trabalhou nos dois filmes anteriores da série) e Steve Kloves (Harry Potter) mexe pouco nessa área, adicionando um tempero de mistério com o destaque dado ao paradeiro desconhecido dos pais de Peter, mas em geral se tornando por vezes até maçante nas suas obrigações como um “novo” filme de origem para o herói.
Nesses momentos maçantes, quem segura o filme é Andrew Garfield. O ator empresta leveza, naturalidade, profundidade e um carisma absurdo ao herói, provando que sem dúvida nenhuma tem os requisitos para se tornar astro da lista-A de Hollywood. Se depender dos 137 milhões arrecadados na primeira semana de exibição nos EUA, ele com certeza vai ter muitos holofotes sobre si. Aumentarão também as luzes colocadas sobre Emma Stone (Histórias Cruzadas, A Mentira), que entrega um retrato sensível de Gwen Stacy, numa colocação do roteiro que repara a inversão de Sam Raimi quanto a primeira namorada de Peter (na trilogia original, ao contrário dos quadrinhos, a Mary Jane de Kristen Dunst aparecia antes de Gwen, feita por Bryce Dallas no terceiro filme).
Do elenco coadjuvante, destaque para Martin Sheen, também um dos responsáveis por tornar interessante o início do filme no papel do Tio Ben, que tem destino semelhante ao interpretado por Cliff Robertson na trilogia de Raimi. Tia May é encarnada por Sally Field, a atriz de drama por excelência, em uma adorável encarnação de uma dona de casa ainda absolutamente bondosa e condescente, mas um tanto menos sábia e, talvez, um bocado mais frágil. Na direção, Marc Webb, que estreou em longas-metragens com o celebrado (um tanto exageradamente) 500 Dias com Ela faz um trabalho surpreendente. Ele adiciona leveza a encenação e sabe lidar perfeitamente com os grandes efeitos especiais e cenas de ação, balanceando drama, comédia e aventura com a mesma maestria de Raimi, mas inserindo essa receita irresistível em um contexto mais terrenamente contemporâneo.
Essa não é a hora, nem o lugar, para julgamentos. Não há parâmetros de comparação entre o filme de Webb e os filmes de Raimi. São abordagens diferentes de um mesmo personagem. Talvez Peter e sua história percam aqui um pouco da doçura, mas ganham em realismo e identificação. Um tipo de identificação diferente que a trilogia original proporcionou, mas ainda, identificação. E, no fim de um filme hollywoodiano que quer a principio te divertir e só isso, essa conexão como o espectador é algo extremamente valioso. E é um bônus.
**** (3,5/5)
The Amazing Spider-Man
(EUA, 2012)
Direção: Marc Webb.
Roteiro: James Vanderbilt, Alvin Sargent, Steve Kloves.
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Sally Field, Martin Sheen.
Duração: 136m
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