5 de jul. de 2012

Review: Duas visões do “Fall to Grace” de Paloma Faith.

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O amor de ponta a ponta no “Fall to Grace” de Paloma Faith

por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Em 2009, quando o Do You Want The Truth or Something Beautiful?, álbum de estreia de Paloma Faith, foi lançado, a britânica surpreendeu muita gente com a sua dramaticidade natural, traduzida em vocais que muitos poderiam considerar “exagerados”, mas que funcionavam perfeitamente quando revestidos pela produção teatral e pela incontestável personalidade própria de suas composições. Paloma era uma figura que transpirava verdade. E ainda transpira nesse Fall to Grace, segundo álbum que vem para provar que a cantora não é mágica de um truque só.

Ela se arrisca por novos caminhos aqui. “30 Minute Love Affair” é curta e impreterivelmente pop com seus sintetizadores graves que servem de marcação para a música, ecoando Cyndi Lauper por todos os lados. Paloma contem-se um pouco no vocal, algo sábio a se fazer quando a letra relata um “caso de amor de 30 minutos” com um estanho que nunca mais cruzou o caminho da cantora. Já em “Let Me Down Easy”, regravando um dos clássicos do soul e adicionando baixos sintetizados e guitarras de sabor moderno (algo como no Back to Black de Amy Winehouse, mas em menor escala), Paloma mostra que conhece as artimanhas do estilo. A primeira versão da canção foi registrada por Bettye LaVette em 1965.

Ela também ataca de disco queen em “Blood, Sweat & Tears”, desde a melodia que privilegia notas longas e sem variações até os sintetizadores rápidos que a acompanham.  “Just Be”, com seu refrão cantado em delicado registro agudo, é puramente o piano melódico com toques de blues e a voz de Paloma, mas isso não é pouco. A cantora é capaz de força e sutileza em só uma interpretação, nos transportando com a sua voz pelo agridoce de uma letra romântica e, ainda assim, realista (“there’s no one else in this world I’d rather be unhappy with”). Cordas e percussão carregam “Picking Up The Pieces”, um primeiro single perfeito e uma balada reminiscente do soul das girl groups dos anos 60, com seu refrão grudento e sua interpretação estourada.

A escorregada da vez é “Beauty of The End”, que além de parecer deslocada no contexto do álbum (a canção soa como uma sobra do Do You Want The Truth or Something Beautiful?), também é um pequeno descaminho melódico e interpretativo. O refrão não casa com os versos, apesar de possuir algumas boas ideias compositivas (“falling never hurts, but landing does”), e Paloma parece cantar tudo em alta voltagem, sem a nuance interpretativa que lhe é tão especial. Nuance essa que brilha em “Agony”,  crescente no início, que acaba desembocando em uma espécie de synth-rock pulsante que lembra algumas coisas do The Killers. A melodia é brilhante, e a interpretação de Paloma é de frieza impressionante ao entoar essa constatação de que amor e agonia são sentimentos de um mesmo pacote. E ela se entrega a isso: “no time to waste/ let’s fall from grace”.

Por fim, “Let Your Love Walk In” é uma pequena pérola de pura sutileza musical. Entre os pianos e corais do gospel, Paloma e o produtor Nelle Hopper (Björk, Madonna) inserem intervenções de sintetizadores e distroções de baixo que remetem ao dubstep. Nunca essa influência, em voga na música pop atual, foi usada de forma tão delicada. A interpretação de Paloma é igualmente dotada de nunances, e a canção é a que realmente fecha o ciclo da álbum. Aqui, depois de passear por todas as neuroses, vícios e decepções do amor, Paloma declara que, ainda assim, é capaz de “deixá-lo entrar”. O cerne do trabalho da cantora é usar a teatralidade em função não só de um álbum diverso, interessante e que prende a atenção, mas também de uma mensagem deliberadamente honesta. A maior qualidade do Fall to Grace, no final do dia, é, em meio a tanta variedade musical, ser marcado com a personalidade única de Paloma em cada melodia, letra e instrumental. Um trabalho tão particular que merece, definitivamente, ser celebrado.

***** (4,5/5)

Paloma Faith grita dores de amor em seu “Fall to Grace”

por Amanda Prates
(Twitter - Blog "I Enjoy, And You?")

A moça dos cabelos exóticos que surpreendeu o mundo com seu álbum de estreia, Do You Want the Truth or Something Beautiful? – chegando até a ser comparada, na época, a Amy Winehouse, por sua voz “diferente” e pela presença exagerada de soul em seu trabalho –, lançou no dia 28 de maio Fall to Grace, apresentado ao público pelo single “Pincking Up The Pieces”, que ganhou clipe dias após. A faixa, escrita por Faith ao lado de Wayne Hector (conhecido por seus trabalhos com Britney Spears e Cheryl Cole) e Tim Powell, é uma balada pop carregada de emoção e dimensões cinematográficas e expressa o sofrimento de uma mulher que luta para manter um relacionamento às sombras de uma ex-amante.

Diferentemente do primeiro álbum totalmente soul, o Fall to Grace traz o soft pop em maiores proporções, envolvente da primeira à última faixa. “30 Minute Love Affair”, possui uma batida um tanto anos 80 ou 90 e uma introdução que talvez possa ser comparada à Cyndi Lauper. Segundo a própria Paloma, essa faixa relata uma experiência real, quando em seus 14 anos, se envolveu num encontro com um homem em uma praça de Londres. “Eu perguntei se ele estaria lá no dia seguinte, ele disse que sim. Quando voltei, ele não estava e eu nunca o esqueci.”

“Black & Blue” foge um pouco do contexto das demais, já que tem as observações sociais da cantora, afirmadas quando canta “We’re just the same/ We all get desperate sometimes/ Feeling black and blue”. A faixa que se segue, “Just Be”, é a mais apaixonante (ousem duvidar).  Acompanhada apenas por um piano, Paloma envolve quem a ouve, e canta para os amantes modernos “Don’t say nothing/ Just sit nex to me/ Don’t say nothing shhh/ Just Be, Just Be...” . “Beauty of the End”, “When You’re Gone”, “Agony”  e “Streets of Glory” ressaltam dramaticamente a despedida de um amor. Em “Freedom”, Paloma sente as transformações que um amor intenso lhe causou.

Apesar de ainda se manter entre os 10 álbuns mais vendidos no Reino Unido, desde o seu lançamento, há quem diga que Paloma tenha errado nesse trabalho e não tenha conseguido alcançar o mesmo sucesso do seu último. A verdade é que a moça soube mais do que ninguém combinar tantos bons aspectos em um único álbum.

***** (4,5/5)

Fall to Grace
Lançamento: 28 de Maio de 2012.
Selo: RCA.
Produção: Nellee Hooper, Jake Gosling, Al Shux, David Arnold.
Duração: 44m57s.

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Notas (glossário):

Disco:
A disco music é um gênero de música pop que teve seu auge no final dos anos 70, tendo com ocaracterísticas os vocais produzidos com ecos, percussões de influência latina e o uso de instrumentos de sopro ao lado dos teclados e sintetizadores. A recentemente falecida Donna Summer é considerada uma das rainhas do gênero (vide "Bad Girls").

Dupstep:
Tendência absoluta no mundo da música eletrônica atualmente, o estilo surgido em Londres se caracteriza basicamente por grandes quebras de ritmo, padrões de bateria reverberantes e fortes linhas de baixo. O expoente mais destacado do estilo hoje é Skrillex (ouça "Equinox (First of The Year)"), mas o dubstep tem forte influência também no último hit de Rihanna, "Where Have You Been".

1 comentários:

Renan Carvalho disse...

Ótimas resenhas, só pra constar: Fall To Grace encerrou o ano de 2012 em 9º dos 10 álbuns mais vendidos no UK e hj já ultrapassa as 750 mil copias vendidas.