2 de fev. de 2013

Review: Um dilema entre histórias (e uma solução simples) em As Aventuras de Pi

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

As Aventuras de Pi é um filme raro. E através dessa adjetivação, este que vos fala quer dizer exatamente o que parece, e nada mais: que poucas vezes um filme estruturou-se da forma que esse filme se estrutura, que ainda menos vezes essa maquinação deu tão certo e, especialmente, que quase nunca o espectador vai sair do cinema tão intrigado (no mínimo!) quanto após sua sessão do filme de Ang Lee. Eu não estou dizendo que As Aventuras de Pi deveria ganhar o Oscar de Melhor Filme ao qual concorre com outros (dos que tive a oportunidade de ver, ótimos) oito filmes. De fato, o sentimento que fica é que esta obra transcende esse pragmatismo. E que sua concorrência, portanto, não é justa.

A trama, como uma boa parte de vocês leitores já deve saber, acompanha o personagem título (o estreante Suraj Sharma) em uma por vezes inacreditável história de um narfrágio. A família de Pi, que estava se mudando da Índia para o Canadá, não se salva do desastre, mas o garoto é deixado em um bote, em companhia de uma zebra, uma hiena, um macaco e um tigre chamado Richard Parker. Isso tudo é contado em flashback, por um Pi mais velho (Irrfan Khan) que presta depoimento a um escritor curioso (Rafe Spall). Da forma como o roteiro de David Magee (Em Busca da Terra do Nunca) trabalha a história adaptada do livro de Yann Martel, isso pode ser tanto uma fábula quanto uma inspiradora história de sobrevivência.

Assim como em sua trama, As Aventuras de Pi, o filme, nos deixa escolher em qual opção queremos acreditar. A direção de Ang Lee provem o equilíbrio perfeito que só um diretor com uma mão tão experiente e elegante poderia: sem ele, Pi poderia acabar como uma forçada fantasia simbolista ou, ainda pior, como um drama aventuresco bem entediante. O banquete visual que o filme inegavelmente é deve ser creditado tanto a Lee e seu fotografo (chileno) Claudio Miranda (Benjamin Button), quanto a equipe de efeitos especiais, que faz um trabalho absolutamente impecável. Isso e a forma como Lee mantem sua lente encantada com a história que ele mesmo está filmando  fazem o espectador grudar em As Aventuras de Pi da mesma forma que o personagem título se agarra ao bote que o salvou do naufrágio.

O toque final, o que torna esse filme um prodígio na arte de contar histórias, se chama Irrfan Khan. O ator indiano, que vem se infiltrando em Hollywood em papéis pequenos como em O Espetacular Homem-Aranha, faz um trabalho absolutamente fabuloso como o Pi mais velho. A paz que o personagem transmite, o fascínio que desprende dos gestos de alguém que tem uma história como essa para contar, tudo é tão perfeitamente capturado por Khan que, quando seu Pi deixa cair as muralhas de sua certeza aparente de tudo, caem também as barreiras emocionais do espectador. As Aventuras de Pi é um filme que parece querer questionar as ideias de religião e na fé em Deus, mas que, na verdade, encontra no ser humano o cerne do próprio sentimento de crença. E, se isso não o faz o melhor filme do ano, com certeza o faz o mais universal.

***** (5/5)

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As Aventuras de Pi (Life of Pi, EUA, Taiwan, 2012)
Direção: Ang Lee
Roteiro: David Magee, baseado no livro de Yann Martel
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Tabu, Rafe Spall, Gerard Depardieu
127 minutos

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