por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
Quando Tom Hooper venceu o Oscar de Melhor Diretor em 2011 por seu trabalho em O Discurso do Rei, eu não posso dizer que fiquei extasiado. Primeiro, porque era mais uma vez em que a Academia ignorava o trabalho sempre genial de David Fincher. Segundo, porque, mesmo sendo um ótimo filme com uma história inspiradora para contar, O Discurso, que também venceu Melhor Filme naquele ano, se o leitor se lembra bem, não era um filme que deixaria uma marca no cinema contemporâneo. A Rede Social era. E Os Miseráveis é, mas a não ser que eu esteja muito enganado, dessa vez a Academia vai preferir o Argo de Ben Affleck ou o A Hora Mais Escura de Kathryn Bigelow, porque dar dois premios a uma mesma equipe de produção em tão pouco tempo não é “diplomático”.
Aqui estamos nós diante do musical de maior visibilidade comercial em 10 anos, e também o primeiro a receber indicação ao Oscar de Melhor Filme nesse período (Chicago foi o precedente, em ambos os campos). E não é um musical qualquer: adaptado dos palcos, que por sua vez tomou sua história da mais famosa novela de Victor Hugo, Os Miseráveis é quase completamente cantado, com a exceção de uns poucos diálogos, e quase todo produzido com os atores cantando ao vivo no set. Sem contar, é claro, que é uma produção gigantesca. A absurda habilidade de Hooper em coordenar tudo isso, manter a encenação coesa e os elementos no lugar para que o espectador não sature do estilo do filme, definitivamente, é digna de um Oscar.
A trama, para quem não sabe, se passa na França pós-Revolução, com um novo rei no poder, e o povo abandonado a sorte da miséria e da peste. Jean Valjean (Hugh Jackman) é perseguido pelo impiedoso Inspetor Javert (Russell Crowe) após ser libertado da prisão e quebrar sua condicional, começando vida sob outro nome, em outra parte de Paris. Reestabelecido como dono de uma fábrica, Valjean acaba cruzando caminhos com Fantine (Anne Hathaway), que o pede para cuidar de sua filha, Cosette (quando crescida, Amanda Seyfried). Anos se passam e os dois, ainda perseguidos por Javert, acabam envolvidos em uma revolta de jovens franceses contra o governo autoritário.
É uma história gigantesca, maior-que-a-vida, que Hugo traçou em sua obra. Em honra a isso, Os Miseráveis não tem uma mensagem simples para passar: “Fight. Dream. Hope. Love.”. Esse é um filme que diz, em última instância, que o Sol vai nascer no dia seguinte, e que o sentido final da vida é continuar adiante, enfrentando tudo o que tiver pelo caminho, simplesmente porque vale a pena. A adaptação cinematográfica é creditada a William Nicholson (Gladiador, Nell, Elizabeth: A Era de Ouro), mas ele divide méritos de roteiro com os compositores e escritores do musical de palco, Alain Boublil, Claude-Michael Schönberg e Herbert Kretzmer. Nada mais justo em um filme que se apóia tanto nas canções, a um ponto que é mais trabalho do diretor que do roteirista manter as peças narrativas coesas.
Hooper o faz brilhantemente, com a ajuda do versátil diretor de fotografia Danny Cohen, que trabalhou com ele em Discurso do Rei. E ainda tem tempo que arrancar performances notáveis do elenco, incluindo um convincente Hugh Jackman e uma definitivamente superlativa Anne Hathaway. Ambos indicados ao Oscar (Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante), completando com outras seis as nominações do filme: Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Canção (“Suddenly”), Melhor Design de Produção, Melhor Mixagem de Som, Melhor Filme. Uma pena que a Academia não tenha achado espaço para a excelente atuação de Sasha Baron Cohen, e ainda mais lamentável que não tenha lembrado da preciosidade que é Samantha Barks como Éponine. A versão frágil de “A Little Fall of Rain” é uma das peças chaves para que Os Miseráveis toque o espectador, mesmo com todas as probabilidades jogando contra.
A segunda maior bilheteria de um musical na história (perde apenas para Mamma Mia!), mais a aclamação geral da crítica, atesta que esse é o filme do ano. Só falta, mesmo, a Academia concordar.
***** (5/5)
Os Miserávels (Les Miserables, Inglaterra, 2012)
Direção: Tom Hooper
Roteiro: William Nicholson, Alain Boublil, Claude-Michael Schönberg e Herbert Kretzmer, baseados no musical de Boublil e Schönberg, e na novela de Victor Hugo
Elenco: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sasha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne, Samatha Barks.
158 minutos
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