por Caio Coletti
(Twitter – Tumblr)
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Uma das grandes virtudes de The Americans, e isso pode até soar clichê, é que essa é uma série que não toma o lado de ninguém. Ou, melhor dizendo, que toma o lado de todo mundo. Quando estreou na televisão americana, a trama criada por Joe Weisberg tinha um desafio dos mais espinhosos: fazer a audiência ianque comprar a história e, ainda mais, torcer, por um casal de soviéticos infiltrados em solo americano, que trabalham com a KGB para derrubar o adversário russo na Guerra Fria. Em “In Control”, o espectador vai se ver tão investido nessa trama bem urdida que não só vai acabar tomando o partido de Philip e Elizabeth, como também do Agente Beeman, vizinho do casal de operativo do FBI.
É nessa ambiguidade que a série segue seu caminho, e vai ser interessante observar como Weisberg (que retorna aqui ao roteiro, ao lado de Joel Fields, de Rizoli & Isles) e sua equipe de escritores vai resolver esse dilema nos momentos de maior tensão, que precisam existir nos finais de temporada. Para quem o espectador vai ser empurrado quando o jogo chegar perto demais do xeque-mate? Há de se apostar que a série vai encontrar exatamente o equilíbrio certo para nos deixar livre para escolher ou, ainda melhor, não escolher. A história dos indivíduos aqui retratados é interessante o bastante para que nós tenhamos o sentimento de que ver tudo de dentro é nada menos que um privilégio. The Americans está fazendo tudo absolutamente certo.
A trama da semana compreende a tentativa de assassinato do presidente Ronald Reagan pelo homem que, depois se descobriu, era um fã enlouquecido da atriz Jodie Foster que tentou atirar no comandante-em-chefe da nação para impressionar a moça. No entanto, no auge da Guerra Fria, é óbvio que muita tensão aconteceu entre os dois países até que todos concluíssem que as forças soviéticas nada tinham a ver com o acidente. O fato de isso ser uma história conhecida coloca The Americans num posto delicado: não pode banalizar a história de espionagem da semana dando aos Jennings papéis pouco influentes na barganha toda entre os dois países, e não pode esperar que o espectador se mantenha atento apenas por essa história (uma vez que ele, presumidadmente, já conhece o seu final).
The Americans escapa dessas duas armadilhas. Da primeira, colocando os Jennings como os responsáveis pela transmissão de mensagens a URSS confirmando que o FBI não mais via como uma possibilidade o envolvimento soviético no acontecido. Da segunda, fazendo com que o centro do episódio seja Philip e Elizabeth tentando se conectar de verdade depois de duas décadas de casamento arranjado, e vendo que ainda há diferenças ideológicas fundamentais entre os dois. Se não há nada de novo aqui, adicione a tensão multiplicada por dez graças a ameaça clara de uma guerra nada-fria (mesmo que saibamos que ela não vá acontecer, o episódio joga bem com o espectador nesse sentido), e também um retrato mais de perto, e naturalmente quebrado, do relacionamento do Agente Beeman com a esposa. O resultado é mais uma semana espetacular para The Americans.
***** (4,5/5)
Próximo The Americans: 01x05 – Comint (27/02)
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