21 de fev. de 2013

Review: “Struck By Lightning”, ou porque Chris Colfer pode ir muito além de Glee

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Eu tenho há tempos sido um apreciador de filmes como Struck By Lightning e, com toda a sinceridade e pouca modéstia, eu acho que o público talvez devesse apreciá-los mais também. São encantadores essas pequenas gemas contando pequenas histórias, tramas que na verdade não fazem diferença nenhuma no mundo fora da tela, mas que são capazes de divertir, envolver e, especialmente, inspirar. Posso contar nos dedos os que entraram na minha lista de favoritos seguindo mais ou menos essa fórmula: Dan in Real Life, Pequena Miss Sunshine, Um Beijo Roubado, Mais Estranho Que a Ficção. Vindo direto “da mente criativa de Chris Colfer”, como o poster define, Struck By Lightning acaba de discretamente cavar seu lugar nessa lista.

Vamos tirar o elefante branco da sala: há uma chance razoável de você, leitor, não gostar nem um pouco de Colfer. E realmente não é de se culpar, porque Glee faz um esforço enorme para fazer de seus personagens contínuos estereótipos, moldados a favor da trama, peões dos caprichos dos escritores. O Kurt Hummel de Colfer não é exceção e, embora o moço tenha ganho (com algum mérito, vamos conceder) o Globo de Ouro pelo extraordinário esforço interpretativo no papel, é aqui que conhecemos o que realmente se passa pela cabeça de Colfer, o artista. Ele escreve o roteiro e atua em Struck By Lightning, e eu desafio até os mais descrentes da capacidade do moço a passarem despercebidos por seu brilhantismo e sua voz original em ambos os campos.

Struck segue de perto o protagonista Carson Phillips (Colfer), um ambicioso estudante da high school americana, preso em uma cidade minúscula e tentando a todo custo dirigir o jornal da escola – que ele acaba tendo que escrever todo sozinho, mesmo que sua “redação” oficialmente tenha outros membros. Filho do casamento quebrado de Sheryl (Allison Janney) e Neal (Dermot Mulroney), ele tenta lidar com a amargura da mãe na mesma moeda, e caminha pelos corredores do colégio exibindo falsa confiança, mas interminável determinação. Ao ser informado pela conselheira profissional da escola (uma hilária Angela Kinsey) de que ele precisa de mais algo no currículo para entrar na faculdade dos seus sonhos, ele se concentra na missão de fundar uma revista literária. Nem que para isso tenha que chantagear todos que irão participar dela.

A primeira surpresa é que Colfer não segue o caminho esperado: Struck introduz a sua maior surpresa logo no início, revelando que o protagonista foi atingido por um raio e morto (isso não é um spoiler, really, essa é a primeira cena do filme). No caminho de recontar a história que levou até isso, o filme encontra-se como um pequeno e inesperado prazer, desenhando o arco de transformação de seu personagem de forma totalmente diversa do das dramédias por aí, retirando a mudança dramática e introduzindo o simples e claro objetivo de que não importa exatamente o que você alcança na sua vida, mas o que você mira alcançar. Esse desenho traçado por Colfer no roteiro é meticulosamente comedido, permitindo-se piadas sarcásticas em alguns momentos e estruturando a narrativa com cuidado e calma que a série da qual o moço faz parte nunca aprendeu a ter.

Poucos filmes são capazes fazer o espectador sair mais motivado e mais satisfeito do que entrou, especialmente um com um final tão anti-maniqueista quanto esse. Com um elenco todo afinadíssimo (e isso inclui o próprio Colfer!) e uma direção discreta e instintiva, Struck By Lightning vai fazer você se sentir estranhamente, deliciosamente e agridocemente bem. E se isso não é motivo para apreciá-lo, eu não sei o que é.

***** (5/5)

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Struck By Ligtning (EUA, 2012)
Direção: Brian Dannelly
Roteiro: Chris Colfer
Elenco: Chris Colfer, Rebel Wilson, Allie Grant, Christina Hendricks, Allison Janney, Dermot Mulroney, Sarah Hyland, Ashley Richards
90 minutos

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