22 de mai. de 2010

Galeria – Todos pela Palma: os destaques da seleção principal de Cannes 2010

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Another Year (Mike Leigh, Inglaterra)

A foto: Os atores Jim Broadbent, Ruth Sheen e Oliver Matlman, esse último um coadjuvante usual do diretor/autor britânico Mike Leigh, fazem pose em uma das passagens de Another Year, drama familiar divido em “estações do ano”.

O hype: Sem um filme em Cannes desde 2002 e vendo sua Palma de Ouro por Segredos e Mentiras quase uma década e maia no passado, Mike Leigh enfrentou a expectativa alta de ser um dos nomes mais conhecidos da selação oficial desse ano, e não decepcionou quem foi conferir Another Year no último dia 15. A performance do elenco é tão boa que a coadjuvante Lesley Manville, pouquíssimo conhecida por aqui e parceira do diretor desde High Hopes, de 1988, despontou como a primeira grade favorita ao prêmio de Melhor Atriz. O conhecido método do diretor, que constrói os personagens como em uma trupe de teatro, com a participação constante dos atores, parece ter funcionado bem dessa vez. Como todo seu conjunto, aliás: Another Year foi apontado por muitos como o primeiro grande favorito ao prêmio principal do ano.

A trama: O centro da história é o casal Tom (Jim Broadbent) e Gerri (Ruth Sheen), com quatro décadas de casamento, conhecendo-se e respeitando-se mútua e plenamente. O roteiro segue essa dupla pelas quatro estações de “mais um ano” (another year, em inglês) enquanto eles têm que se acertar com os amigos, a secretária (Lesley Manville) e o filho boa-praça (Oliver Maltman).

O filme, segundo o diretor: “O filme é sobre como nós nos acertamos com a vida, como nós encaramos a nós mesmos e aos outros, como aceitamos o que somos e essa luta. Eu não acho que é um filme que apresenta soluções fáceis, e sim um filme que nos passa emoções e pensamentos sobre como lidamos com a vida” – Mike Leigh

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Biutiful (Alejandro González Iñárritu, México/Espanha)

A foto: Orientação no set de Biutiful, drama espanhol que marca a primeira direção de Alejandro González Iñárritu (a direita) sem o apoio do roteirista Guillermo Arriaga e com o peso da indicação ao Oscar por Babel. Desta vez, porém, ele tem a ajuda de niguém menos que Javier Bardem.

O hype: É fato que Cannes sempre gostou muito do cinema de cores fortes de Iñárritu. O filme que o revelou, Amores Brutos, ganhou o prêmio da crítica em 2000. Seis anos depois, o furacão Babel o garantiu o troféu do júri e a certificação de melhor direção. Agora, ele vem com um filme que quebra com o esperado de uma obra com sua assinatura: em vez das histórias múltiplas conectadas e do multiculturalismo de suas peças anteriores, em Biutiful vemos uma história simples, que engloba os temas pelos quais Iñárritu já se confessou “obcecado” (leia-se imigração ilegal, problemas sociais e a “desumanização” da nossa sociedade) em apenas um personagem e em seus arredores. Javier Bardem despontou como o favorito para o prêmio de Melhor Ator na pele do protagonista, isso se o filme não for para metas maiores (na regra de Cannes, o vencedor da Palma de Júri não pode ganhar prêmios secundários). Munição para isso Iñárritu tem de sobra.

A trama: O protagonista Uxbal (Javier Bardem) é um contrabandista de pequenos produtos e um sensitivo, que vê pessoas mortas e cuida sozinho de dois filhos em um apartamento minúsculo em Barcelona. Ele vê sua vida vir a terra quando reencontra com um amigo de infância que se tornou policial e descobre um câncer em estado avançado, com poucas opções de tratamento.

O filme, segundo o diretor:Biutiful é o primeiro filme com o qual eu fiquei totalemnte satisfeito. Antes, eu fazia histórias complicadas para dizer algo simples sobre a vida. Desta vez, tenho uma história simples que quer dizer algo complexo sobre a existência. É um desafio diferente de tudo o que já fiz, mas que traz de volta os mesmos elementos. É como se eu fosse uma árvore que dá maçãs, ou seja, nunca vou poder fabricar algo que não seja maçãs” – Alejandro G. Iñárritu

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Fair Game (Doug Liman, EUA)

A foto: A dupla em cena já é explosiva por natureza, mas a trama extremamente política de Fair Game, baseado em um caso real da administração Bush, ajuda Sean Penn e Naomi Watts a entregar suas performances perfeitas de sempre sob a vigilância da câmera inquieta da Doug Liman.

O hype: Houve quem disesse que Fair Game estava na lista da competição principal do ano apenas para representar a produção americana em Cannes. De fato, o thriller do diretor Doug Liman (mais conhecido por filmes de ação como A Identidade Bourne e Jumper) passou como pouco mais do que bom entretenimento interpretado por dois bons atores. Naomi Watts, num ano de poucas estrelas em Cannes, foi o furor dos fotógrafos na ausência de Sean Penn (dedicando todo o seu tempo a campanha pela reconstrução do Haiti), mas o centro das atenções depois dos contidos aplausos ao fim da sessão foram mesmo sobre o diretor Liman. Afirmando que dirigiu o filme pela importância do ultrajante caso real em que se baseia, mas que o via mais como um drama de casal do que como um filme que quer discutir política. A afirmação foi reiterada pela crítica, muito frequentemente como ponto negativo.

A trama: Na paranóia pós-11/09, Valerie Plame (Naomi Watts) é uma agente da CIA sob disfarce no Oriente Médio, que tem sua posição comprometida supostamente por alguém de dentro da Casa Branca depois de seu marido, o diplomata Joe Wilson (Sean Penn) escrever um editorial para o The New York Times desmentindo a existência de armas de destruição em massa no Iraque.

O filme, segundo o diretor:É um filme de mentiras e verdades. Contra uma história verdadeira, que considero importante contar. Mas o filme não é um manifesto político. Não aproximamos esse filme da política, mas da história de dois personagens que se viram no centro de uma incrível história política. Plame era uma espiã fascinante e Wilson é um personagem forte. O casal se viu no meio de um furacão político, e penso que a história deles é incrível” – Doug Liman

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Outrage (Takeshi Kitano, Japão)

A foto: Um dos cineastas mais pop do Oriente, Kitano (à esquerda), tradicionalmente um ator-diretor encara sua própria câmera ao lado de Ryo Kase, conhecido por aqui como um dos combatentes de Clint Eastwood em Cartas de Iwo Jima.

O hype: Espécie de Clint Eastwood de seu país, Kitano tem um estilo que está muito mais para Tarantino do que para o recém-completado octagenário diretor-ator. Ao mesmo tempo que quase sempre aparece na frente das câmeras de suas obras, Kitano impõe muita violência, um humor um tanto cruel e uma caricatura ao mesmo tempo incômoda e prazeroza no novo Outrage, sua volta ao universo da máfia japonesa. Se Brother é, até hoje, sou filme mais reconhecido no Ocidente ao lado do premiado Fogos de Artifício e do subseqüente Verão Feliz, esse último marca sua única seleção para Cannes antes da edição 2010. Acontece que muita gente achou que Kitano realizou um filme preguiçoso que foi selecionado apenas por seu glorioso currículo, sempre festejado entre a crítica, enquanto uma outra parcela da platéia viu no filme uma sátira ao filme de máfia clássico, feito por alguém que entende do riscado. De qualquer forma, não deve ir para as pontas.

A trama: O roteiro de Kitano pula de personagem em personagem, mas se é para apontar um único protagonista, que seja Otomo (o próprio diretor), veterano da Yakuza que é assistido por um súdito bem mais jovem (Ryo Kase) em sua escalada de vingança, violência e traição para ficar no topo da hierarquia de famílias da Yakuza.

O filme, segundo o diretor:Me sinto confiante em filmar violência, é um prato que estou sempre pronto para preparar. Quando faço isso, é com a intenção de fazer a platéia sofrer de verdade. Nunca filmei e jamais irei filmar a violência como em um videogame” – Takeshi Kitano

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Tudo partiu de um livro da escritora francesa Collette. Nele, ela relata sua experiência nas viagens pelo país com seu espetáculo. Então, como Bob Fosse (diretor do clássico All That Jazz), quis falar da dureza da vida nesses bastidores, mas também, em geral, com muita festa contagiante. E houve esse artigo no jornal Liberation sobre o novo burlesco. Me fascinei pelos produtores, por sua coragem. Juntou tudo isso e achei que valia um filme. Não acho que deveria haver uma mensagem. E só há 17 minutos de shows no filme. Eles são atores de verdade. Exibi para o pessoal da Comédie Française para mostrar o que é atuação de verdade”

(Mathieu Almaric, protagonista e diretor, fala de “Tournée”)

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