ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Existe uma constante na história da humanidade como força narrativa, como contadora de histórias: todas as grandes criações dramáticas do homem se apóiam em motivos, temas e comportamentos absolutamente simples. Ou ao menos simples para nós, que aprendemos invariavelmente a experimentar a vida, essa equação tão absurdamente complexa, como uma montanha-russa, sucedendo soluções óbvias para problemas nada óbvios, incapazes de fugir de nós mesmos, nossos defeitos e nossa personalidade inescapavelmente quebrada. Eu não quero vender “Catherine”, a quinta entrada da temporada de estreia de Masters of Sex, como uma das grandes narrativas já feitas pelo homem, mas o episódio deriva sua força emocional impressionante desse mesmo princípio aí em cima. Essa hora de televisão, e cada vez mais o todo da série, não é sobre a liberação feminina: é sobre a prisão humana.
Existe um apelo na trama urdida por Sam Shaw e Michelle Ashford, dois dos primeiros nomes do desenvolvimentos de Masters, que é imediato, e outro que corre mais profundamente. Em primeira instância, nos importamos com os desenvolvimentos do episódio principalmente porque nas últimas semanas nos conectamos a esses personagens e ao seu drama, muito especialmente ao de Libby Masters. Caitlin FitzGerald tem construido um trabalho sublime como a esposa do protagonista interpretado com igual brilhantismo por Michael Sheen, conferindo a ela a fragilidade e a incerteza que precisam estar presente em uma mulher que se vê no meio do furacão de uma mudança social insinuante, ao mesmo tempo que precisa lidar com um inferno pessoal aterrorizante. Ao mesmo tempo, é sem abaixar o olhar que ela contracena com Lizzy Caplan, por exemplo, projetando uma força interna que é quase palpável.
É por isso que quando Libby perde o seu bebê num desenvolvimento cruelmente desmotivado de trama (por outro lado, não é assim na vida real? Nem tudo acontece por um motivo), nós sentimos por ela. É preciso mais elaboração, no entanto, para que possamos sentir por William, que joga um jogo de angústia e contenção por um tempo insuportável no final do episódio, até desabar em seu escritório ao lado da secretária. Michael Sheen é tão brilhante em expressar a raiva e a amargura de seu personagem sem explodir que é um choque ainda maior ver a emoção realmente passar por seu semblante, de uma forma apropriadamente desajeitada e desestruturadamente humana. É um choque conceitual e emocional, um ápice que a trama trabalha com cuidado exemplar e que, quando vem, é esmagador, algo que nenhum outro episódio de televisão conseguiu arquivar em 2013.
Talvez por tomar tanto cuidado com a trama de Masters essa semana, os roteiristas tenham feito a história paralela envolvendo Virginia menos envolvente. Os problemas maternais da moça com o filho Henry, que (um tanto subitamente) demonstra ressentir a mãe por não poder estar por perto graças ao trabalho, cruzam caminho com o Dr. Haas, o que é simultaneamente uma oportunidade para Nicholas D’Agosto mostrar o seu valor para a série (ele tem algum, de fato – eu também me surpreendi) e para fechar a sempre bagunçada subtrama amorosa entre os dois. O personagem funciona muito melhor com a vivaz Vivian Scully da ótima Rose McIver, de quem o Dr. Haas inadvertidamente tira a virgindade, o que recoloca no episódio a discussão da elaboração emocional e social que existe em conjunção com a percepção de sexo da época.
Em suma, Masters of Sex não quer parar de discutir a sociedade. Só tem noção, como poucas tramas tão sociais conseguiram ter, que para tal precisa discutir também o indivíduo.
Observações adicionais:
- Essa série não se esqueceu do Dr. Langham de Teddy Sears, que é tanto um alívio cômico quanto uma trama razoavelmente envolvente. Pontos extras pro episódio (que nem precisava deles) só por isso.
- A relação entre Masters e o Dr. Scully de um maravilhoso Beau Bridges volta a voga também, gerando um par de cenas comoventes e meio-amargas. Em outra nota, a esposa de Scully é interpretada por Allison Janney, o que por si só já é uma virtude em qualquer ocasião.
***** (5/5)
Próximo Masters of Sex: 01x06 – Brave New World (03/11)
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