ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Uma das muitas faces de Masters of Sex, o mais recente triunfo do Showtime que tomou de assalto a fall season de 2013, fica aparente em “Standard Deviation”: vamos chamá-la de tragédia de limites. Com seu tema combinado com sua ambientação em plenos anos 1950, a série estava destinada a abordar de forma bastante incisiva a “brecha” que existe, fatalmente, entre a visão científica visionária de boa parte de seus protagonistas e os preconceitos de uma era pré-liberação sexual. Os personagens criados por Michelle Ashford (e aqui guiados pelo roteiro do estreante Sam Shaw) transitam em um mundo em que o conflito surge do quanto eles são capazes de testar os próprios limites.
Ao concluir que precisa de sujeitos masculinos para completar o seu estudo precário ainda sediado no prostíbulo de Betty, o Dr. Masters se depara com um grupo de prostitutos homossexuais que revelam um novo aspecto da sexualidade humana. Um que, por mais que Masters of Sex em sua altivez de século XXI esteja pronto para aceitar, seus personagens, presos anos aso 50, não estão. O Dr. Masters, após assistir a uma relação homossexual, declara que este comportamento está fora da norma estatística, e portanto não deve figurar em seu estudo. Ninguém além dos próprios prostitutos contesta essa conclusão, nem mesmo a moderninha Virginia.
A grande jogada do roteiro é fazer com que esse affair todo com os prostitutos leve o Dr. Masters a descobrir que seu chefe, o Dr. Scully, um pai de família, pode ser um cliente eventual dos serviços dos moços. Uma série de flashbacks para a época em que Masters tinha acabado de se formar em medicina mostra a relação do doutor com Scully, o que é tanto uma oportunidade para ver Michael Sheen agir um pouco mais como um ser humano quanto uma bela ilustração (ainda que nada além disso) da duradora e persistente fascinação de Masters pela sexualidade humana, e do quanto o tempo é capaz de nos deixar para trás com sua mutante consideração do que é “aceitável” e o que não é. O Dr. Scully acha um ultraje que se realize um estudo focado na sexualidade, enquanto o Dr. Masters considera os homossexuais desviantes do padrão. Num curso de vinte anos, talvez menos, esses dois homens, antes cúmplices, se viram frente a frente em um ringue moral em que nenhum dos dois está completamente certo.
Outros estudos de limites e preconceitos aparecem quando uma nova doutora toma uma posição no hospital, mas é dada uma sala junto com as secretárias ao invés de um consultório próprio. Virginia a guia pelo lugar, e mesmo recebendo tratamento de subordinada não deixa de admirar a mulher, enquanto suas companheiras de trabalho decretam: “não importa onde ela de formou, nenhuma médica mulher vai olhar embaixo da minha saia”. A própria Virginia ganha seu conflito com os próprios limites também, e é bom que a série consiga humanizar a personagem, porque nas duas primeiras semanas ela tem sido a toda-poderosa voz da razão e da modernidade. Lizzy Caplan agradece a oportunidade de mostrar que é capaz de torná-la falha e ainda carismática.
Desde sua concepção, Masters of Sex estava destinada a jogar um jogo moral complicado, mas é só em “Standard Deviation” que esse potencial se cumpre completamente. Embora anto,ainda tenha mudanças de tom estranhas e deixe a curiosidade dominar a maturidade quando se trata de comportamentos sexuais, só o fato da série ter relativizado suas colunas e inserido mais cinza no preto-e-branco de seu tabuleiro faz essa hora de televisão valer muito a pena.
Observações adicionais:
- “Standard Deviation” foi um episódio muito lotado: descobrimos que, apesar dos honestos esforços do Dr. Masters, a pobre Betty não vai poder ter filhos com o seu noivo (que é interpretado por Greg Grunberg, o que é um bônus!). Annaleigh Ashford continua maravilhosa no papel.
- Also, Libby finalmente descobriu que o Dr. Masters é o responsável pelo casal não poder ter filhos, o que levou a uma cena fria, incômoda e silenciosa entre os dois. Sheen e Caitlin FitzGerald tem esse tipo de química ao contrário que os fazem perfeitos para esses momentos. Em uma reviravolta que pareceu saída de novela, no entanto, descobrimos que Libby está grávida!
- And on top of all that, temos o nascimento de gêmeos quadruplos no hospital, uma trama que só existe para dar algo a fazer a Nicholas D’Agosto, o que não é exatamente uma boa desculpa para qualquer coisa.
- Finally, Mae Whitman aparece no comecinho do episódio, como uma jovem religiosa tendo dúvidas sobre a consumação de seu vindouro casamento. Esperamos que ela volte.
**** (4/5)
Próximo Masters of Sex: 01x04 – Thank You For Coming (20/10)
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