30 de out. de 2013

Review: The Blacklist, 01x06 – Gina Zanetakos

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

“You can trust me”. Em sua campanha promocional antes do início da temporada, The Blacklist confiou em uma frase de efeito que acompanhava todos os seus posteres e trailers: “never trust a criminal… until you have to”. Pouco dessas cinco primeiras semanas da trama se conectou a esse slogan nada promissor, e até agora era mais do que compreensível se o espectador estivesse agradecendo por isso. É claro que qualquer bom The Blacklist precisa ter pulp, mas confiar em clichezões de narrativa não é, ainda bem, uma marca da série até agora. O que todos nós estavamos perdendo, no entanto, é que numa interpretação mais ampla e mais permissiva, aquele difamado slogan pode ser absolutamente perfeito para a série.

“Gina Zanetakos”, sexto episódio da temporada, chega com a responsabilidade de recuperar o interesse do espectador depois do primeiro mau episódio do ano, “The Courier”, da semana passada. Convoca para tal a roteirista Wendy West, famosa pelo trabalho em Dexter, uma decisão que se mostra mais do que sábia: onde o episódio anterior falhava num roteiro que não trazia nada de realmente produtivo para os procedimentos, esse triunfa. É aqui, através de um surpreendentemente sutil trabalho de roteiro, que The Blacklist aponta pela primeira vez como um tomo sobre a inversão dos conceitos de bem e mal. Ou melhor, sobre a incerteza em relação a ambos.

Tanto as incidências da relação entre a Agente Keen e Red quanto a trama policial desse “Gina Zanetakos” apontam para esse lado. Ainda mais empolgante do que isso, no entanto, é que as duas tramas convergem, e The Blacklist lida com a dança de subplots interconectados com surpreendente elegância. Quando o marido Tom declara a sua inocência frente a caixa de dinheiro, arma e passaportes que Liz encontrou sob o assoalho da casa do casal, eles decidem deixar o FBI investigar e esclarecer a situação. O Agente Cooper tenta fazer a coisa certa e dispensar Liz enquanto a investigação progride, mas Red tem outros planos, e exige que a moça seja colocada no caso de uma “terrorista corporativa” batizada com o nome do título do episódio, uma malfeitora de aluguel usada por empresas que querem mexer com o mercado (e os concorrentes) de forma ilícita.

Zanetakos, interpretada por Margerita Levieva (conhecida dos fãs de Revenge), não é pintada com muitas corem além de “fria, calculista e inescrupulosa”, e talvez por isso o episódio deixe mais espaço para aqueles que a contratam se tornarem os vilões. É uma subversão interessante, especialmente para a por vezes despretensiosa The Blacklist, colocar as grandes empresas capitalistas que competem entre si como a representação do mal em uma trama. Sobra espaço para o pulp, é claro, principalmente nas duas cenas estreladas por Zanetakos antes de ser capturada: ambas ao som da banda Poliça, as setpieces montam cenários que remetem ao mais fino da espionagem não-realista que o entretenimento já produziu, com direito a perucas, montagens de uma bomba sendo instalada e agulhas mágicas que fazem um homem morrer em segundos. Zanetakos pode não ser uma grande vilã, mas certamente está a altura da fatia Ian Fleming de The Blacklist.

O material envolvendo Liz  e o marido, não surpreendentemente, funciona melhor quando envolve os efeitos da investigação e aprofundamento desse mistério na relação de Liz com Red. A equação para entender o porquê é simples: quando se trata de Liz e Tom, Megan Boone parece estar sozinha em cena, uma vez que Ryan Eggold ainda não se mostrou capaz de ser algo além do que eye-candy (além do mais, os episódios anteriores não acumularam nem perto de pathos o suficiente para fazer a “resolução” dessa semana ressoar com o espectador); já quando se trata de Liz e Red, a série está apostando num arco tão mais amplo, tão mais complexo e tão mais interessante que é até mais fácil ver Megan Boone e James Spader como um par que funciona em cena. É o clássico caso de duas ótimas performances que ficam ainda melhores juntas.

Claro, a série não chega a conclusão definida alguma, mas acena para um futuro em que Liz passará a perceber que a pessoa em quem ela mais pode confiar é Red (“never trust a criminal… until you have to”). Se essa é exatamente a intenção do criminoso em questão ou não, é a verdadeira dúvida de The Blacklist.

Observações adicionais:

- “Remember me to your wives. All of them.”

- Então, Red tem algo com que chantagear o Agente Cooper! Algo acontecido no Kuwait. Não sabemos por enquanto o que é, mas espero que seja bem grave, porque o personagem de Harry Lennyx dá liberdade demais para Red.

- A direção de “Gina Zanetakos” é creditada a Adam Arkin, ex-astro de Chicago Hope e diretor de TV requisitado (The Americans, Sons of Anarchy). É a este homem que vocês podem culpar as cenas de ação pouco desenvolvidas do episódio dessa semana, e os estranhos e não-justificados pequenos cortes constantes no meio de cenas.

**** (4/5)

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Próximo The Blacklist: 01x07 – Frederick Barnes (04/11)

Caio

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