ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
É fácil pensar em “Thank You For Coming” como mais um passo de Masters of Sex no retrato da emancipação sexual feminina, datando lá atrás dos anos 50, num ambiente surpreendentemente retrógrado para um hospital conduzindo pesquisas acerca da sexualidade humana. Em parte, ele é, e talvez seja isso que faça do roteiro de Amy Lippman (In Therapy) e Dennis Kinski (The Big C) um trabalho de sutileza perfeito para os moldes da série, que ainda está testando seus terrenos, ainda que se saia sublimemente em todos eles. O grande tema dessa hora de televisão, no entanto, aparece só perto do final, quando a Estabrooks Masters de Ann Dowd descreve para sua nora Libby a mentalidade masculina: “Women look back, but men… they just look straight ahead”.
“Thank You For Coming” é realmente genial porque agarra pelos chifres o tema de Masters e vai procurar as origens das origens de seu surgimento na sociedade que a série retrata. O drama feminista que vem nos sendo transmitido nas últimas semanas ganha nova dimensão quando a série resolve parar por um minuto e observar o quanto a submissão feminina já trouxe de prejuizo aqueles mesmos que até hoje a defendem. A mãe do Dr. Masters (a personagem da maravilhosa Dowd, uma atriz que quem viu Compliance não conseguiu esquecer) observava passiva o marido abusivo marcar a vida de seus filhos para sempre com violência e severidade. Uma jovem paciente do protagonista sofre mais ou menos a mesma situação, e é obrigada a implorar ao Dr. Masters que realize uma cirurgia de esterilização após o parto do segundo filho, considerando a possibilidade de deixar o marido antes que a família se torne grande demais para isso.
Em meio a essa dicotomia entram em cena dois novos personagens que balançam o coreto temático: Vivian Scully (Rose McIver), filha do presidente do hospital, cai de amores pelo Dr. Haas e, além de dar ao personagem sua primeira sombra de trama interessante e contundente desde o primeiro episódio, está aqui para representar o ideal de submissão que domina a mente dos homens na época retratada – palmas para o roteiro, que se recusa a pender para o maniqueismo e coloca Vivian como uma personagem tão digna de simpatia quanto todas as mulheres modernas de Masters; e George Johnson (Mather Zickel) é o ex-marido de Virginia e pai de seus dois filhos, que acaba indo morar com a ex após ser expulso de seu apartamento – a presença carismática do ator é o veículo perfeito para demonstrar a fraqueza e a força da personagem de Lizzy Caplan, e é curioso observar como isso só a torna mais atraente aos olhos do Dr. Masters.
No balancear das contas, “Thank You For Coming” está aqui para dar a Masters a perspectiva ampla que o seu tema exige. A observação da mãe do Dr. Masters lá no primeiro parágrafo vem tanto para colocar a série como fundamentalmente um estudo da natureza humana dicotômica entre o feminino e o masculino, quanto para acenar para o fato de que Masters não se limita a mostras suas mulheres como heroínas oprimidas – elas também são vítimas e algozes de si mesmas. E não somos todos?
Observações adicionais:
- Rose McIver, a intérprete da jovem Vivian, é uma contradição: fez pontas em telefilmes estrelando Kevin Sorbo como Hércules e na série Xena, interpretou a irmã de Saoirse Ronan em Um Olhar do Paraíso e, ao mesmo tempo, foi a Power Ranger Amarela em uma das encarnações dos heróis japoneses. Nós, sinceramente, não sabemos o que pensar, mas não é que a moça tem uma presença no mínimo marcante?
- Michael Sheen faz seu melhor episódio até o momento, e isso não é pouco. Emmys (no plural, porque Masters acaba de ser renovada para segunda temporada) esperam o moço.
***** (4,5/5)
Próximo Masters of Sex: 01x05 – Catherine (27/10)
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