ATENÇÃO: esses reviews contem spoilers!
Sutileza nunca foi o forte de American Horror Story, sejamos sinceros. Com a segunda temporada de sua trajetória, no entanto, a série de Ryan Murphy e Brad Falchuk conseguiu alcançar um status respeitavelmente complexo em sua coerência narrativa, usando uma ambientação de época para sublinhar a atemporalidade de temas como a repressão e a subversão do status quo. Havia uma inteligência guiando Asylum mesmo em seus momentos mais kitsch e divertidos (o episódio de Natal estrelado por um Papai Noel assassino vem a mente). Não dá pra dizer que foi um trabalho sutil, mas ninguém disse que precisa ser para funcionar. Coven, terceira temporada que estrou quarta-feira (09) na FX, ainda precisa se encontrar nesse sentido.
Claro, não há nada de errado em segurar as cartas perto de si num episódio de estreia. Pouquíssimas boas narrativas televisivas limitadas se mostram totalmente na primeira hora, e isso tem a ver com a própria estrutura de minissérie (é preciso lembrar que American Horror Story é uma minissérie por temporada, e experimentá-la dessa forma), que se aproxima da long-form narrative enquanto ainda mantem-se na estrutura episódica, com mais ou menos fidelidade dependendo das intenções dos criadores. Dito isso, em “Bitchcraft” – alguém diga a Murphy e Flachuk para parar com as piadinhas nos títulos de episódios? Obrigado – conhecemos uma boa parte dos jogadores no tabuleiro de Coven, mas ainda precisamos descobrir suas funções no esquema geral da trama. Ou, a bem da verdade, precisamos descobrir se há mesmo uma trama.
A protagonista parece ser Zoe (Taissa Farmiga is back, bitches!), jovem que descobre ser de uma longa linhagem de bruxas da pior forma possível: matando por acidente seu namorado durante sua primeira transa. Ela é mandada pela mãe a uma “escola de bruxas” localizada em Nova Orleans – a “nova Salem” –, onde conhece três outras jovens: Nan (Jamie Brewer, we missed you!) é a clarividente, a estrela de cinema Madison (Emma Roberts) é a telecinética, e Queenie (Gabourey Sidibe) é uma boneca de vodoo humana, ou seja, machuca quem quiser ao infringir ferimentos em si mesma, enquanto não sente dor alguma. A “escola” é comandada por Cordelia Foxx (Sarah Paulson), que ensina as garotas a controlar os poderes e manterem-se bem escondidas, procurando evitar que aconteça o mesmo que em Salem.
O conflito aparece ao descobrirmos que Fiona Goode (Jessica Lange), mãe de Cordelia e bruxa Suprema de sua geração – a que possui todos os dons juntos –, discorda da estratégia e pressente uma guerra surgindo rapidamente, o que a leva a voltar à escola e tentar ensinar as garotas a lutar por suas vidas ao invés de se esconder. Misture tudo isso a história de uma bruxa aristrocrata sádica do século XIX ressuscitada por Fiona, a Madame LaLaurie (Kathy Bates is gonna own this shit!), e o queridinho Evan Peters como um garoto de fraternidade universitária que tenta impedir que seus colegas estuprem a pobre Emma Roberts, e você tem uma tremenda bagunça narrativa em Coven. Murphy e Falchuk aprenderam a lição e juntam tudo isso sobre um tema bem pensado, uma espécie de retrato de diversas comunidades passando por momentos de crise e mostrando suas verdadeiras naturezas, suas frágeis humanidades (fazer tudo se passar em Orleans é uma daquelas genialidades nada sutis típicas de AHS), mas ainda falta juntar tudo em uma linha narrativa coerente.
A parte técnica continua apuradíssima. A direção de Alfonso Gomez-Rejon, sempre o mais estilizado dos responsáveis pela série, parece se encantar com várias tomadas, talvez especialmente com aquelas localizadas na majestosa casa onde é sediada a escola de bruxas – dali saem alguns dos takes mais lindos da fall season até agora. Destaque também para a abertura brilhante e genuinamente incômoda, provavelmente a melhor dentre as três temporadas até agora. O elenco promete performances quase tão intensas, ainda que um pouco mais puxadas para o kitsch, quanto as de Asylum. Sarah Paulson encontra uma linguagem corporal (e a língua presa) perfeita para retratar Cordelia, um papel sereno que lhe cai como uma luva. Os momentos divididos com Lange são preciosidades a serem esperadas nos próximos capítulos, muito embora o grande destaque dessa estreia seja mesmo a visceralidade e a ameaça representadas por Kathy Bates, em modo “força da natureza”.
O elenco jovem não faz feio tampouco. Farmiga e Roberts seguram bem a trama um pouco mais fraca que coloca o fundamento na relação entre as bruxas da escola, e é preciso dar mais espaço para Gabourey e Jamie explorarem suas personagens. Lily Rabe, Dennis O’Hare e Frances Conroy são três favoritos da série que também precisam de mais tempo de tela, que os senhores Murphy e Falchuk fiquem avisados. O interessante de American Horror Story é que, como uma narrativa longa ao invés de espisódica, a série não precisa estabelecer uma regularidade, um procedimento específicio para proceder semanalmente. Sem o compromisso de se estender indefinidamente, Coven pode se dar ao luxo de mostrar as cartas que tem na manga no ritmo que bem entender. Enquanto o processo for um deleite como esse “Bitchcraft”, você não vai me ouvir reclamando.
***** (4,5/5)
Lá em março desse ano, quando anunciaram que Coven seria o título da 3ª temporada de American Horror Story, e que teria bruxas como tema central, eu tive uma síncope; ainda mais depois de saber que Kathy Bates faria parte do elenco, junto da já FODÁSTICA SUPREMA e TALENTOSA Jessica Lange. E graças aos deuses, “Bitchcraft”, o primeiro episódio da série, veio pra provar ainda que de uma forma meio tímida, que será o melhor dentre os temas já trabalhados pela série. Faço essa afirmação não pelo fato de ser fã da temática, mas sim com base em todos os teasers de divulgação da série, nos quais, diferentemente das temporadas anteriores, Ryan Murphy e os roteiristas parecem ter feito a lição de casa e trouxeram para a história não só todo o contexto cultural e histórico que o tema possui, mas também toda uma adequação para os dias atuais, com direito a citação sobre Twitter, Facebook e até virais!
Tudo começa em 1834 quando Madame LaLaurie (Kathy Bates), obcecada pela fidelidade e amor de seu marido busca desesperadamente pela juventude e beleza eterna fazendo uso de uma pasta fabricada com o pâncreas dos escravos negros que ela mantinha aprisionados e sob tortura em sua propriedade. Coincidentemente, um de seus escravos era também o maior amor de Marie Laveau (Angela Bassett), a Rainha Vodu, que após saber do fato, se vinga de Madame Lalaurie.
Já nos dias atuais, conhecemos a adolescente Zoe Benson (Taissa Farmiga), que mata sem querer o boy com o qual ela decide perder sua virgindade. Depois do ocorrido, sua mãe conta que ela herdou uma disfunção genética que atinge geração sim, geração não das mulheres da família, e decide enviá-la para uma escola para jovens como ela. A diretora dessa escola é Cordelia Foxx (Sarah Paulson), filha de Fiona Goode (Jessica Lange), também conhecida como a Bruxa Suprema, que assim como LaLaurie, também deseja juventude eterna.
Depois de queimarem uma praticante de necromancia, Fiona decide que é hora de ela assumir as rédeas da escola e treinar suas alunas para a tempestade que está por vir.
Essa é a trama que dá início ao terceiro ano da série, que conta com cenas bizarras como a do começo da série, mas também com alívios cômicos nas cenas em que Queenie, uma espécie de vodu humana (Gabourey Sidibe, conhecida pelo seu papel como Preciosa) interage com a fofíssima e vidente Nan (Jamie Brewer) e também com cenas com Jessica Lange divando, drogada e fazendo carão.
A única crítica que que eu tenho é quanto a direção do Ryan Murphy, que peca um pouco no uso do efeito de olho de peixe com a câmera (sério, chega a ser abusivo), além de alguns momentos que poderiam ter sido mais intensos e acabaram ficando xoxos, como por exemplo a cena do ônibus, que eu esperava um momento meio Carrie, a estranha e automóveis voando. Mas enfim, é um comeback respeitável, de uma das melhores séries de terror da atualidade.
***** (4,5/5)
Próximo American Horror Story Coven: episódio 02 – Boy Parts (16/10)
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