19 de out. de 2012

Wibbly Wobbly Timey Wimey Stuff: Whovians e terrestres, Doctor Who chegou ao O Anagrama! (Parte 1)

tardisA TARDIS, cabine telefônica onde o Doctor Who viaja no tempo.

por Andreas Lieber
(Tumblr)

Nada de saudação vulcaniana, “a verdade está lá fora”, sabres de luz ou “ET... Call... Home.” (ou ainda as alterações fofas que o Spielberg fez na edição de 20 anos do filme), o séquito de fãs do tv show britânico Doctor Who se identifica através de palavras como TARDIS e sonic screwdriver, ampliando o horizonte nerd desde 1963. No dia 23 de novembro desse ano, o primeiro episódio da série foi ao ar no Reino Unido pela clássica emissora BBC e passou despercebido por muitos devido à extensa cobertura da morte do presidente americano John F. Kennedy, ocorrida na véspera, e a uma série de apagões que assolou o país naqueles meses. Insatisfeita com o resultado, a BBC retransmitiu o episódio no dia 30 e a série logo alcançou um status de adoração pública e grande audiência para a emissora; a série costuma ser dividida em duas fases, nessa primeira parte da coluna você vai ficar conhecendo o período clássico.

Nessa fase, que vai de 1963 a 1996, somos introduzidos ao Doctor, um alienígena humanoide do planeta Gallifrey, na constelação de Kasterborous, que viaja através do espaço e tempo, visitando inúmeros mundos e galáxias, utilizando sua máquina do tempo/espacial no formato da famosa cabine telefônica para emergências azul com uma luzinha em cima, a TARDIS, sigla inglesa que significa Time and Relative Dimensions in Space (algo como Tempo e Dimensões Relativas no Espaço em português), e que sempre leva junto um companion, alguém que viaja com ele e o ajuda. Sua missão é incerta, flutuando entre a proteção da Terra contra ameaças de outras raças planetárias, a visita à planetas combatendo injustiças universais e a viagem a momentos da nossa história, encontrando sempre algum foco de confusão. Durante esse período clássico nos são apresentados várias particularidades de ser um Gallifreyan, como a regeneração corporal e, durante esse processo, a encarnação do Doctor em outro corpo quando vítima de um ferimento mortal, daí a interpretação do personagem ser feita por oito atores durante esse período, cada encarnação do Doctor é marcada por particularidades, mas sempre guardando a mesma essência e memórias.

Conhecendo os Doctors clássicos:

1º Doctor (William Hartnell)

William Hartnell foi o primeiro ator a interpretar o Doctor e um dos mais velhos no papel. Ele era caracterizado pelo cabelo branco nos ombros, puxados para trás, roupas sempre impecáveis e por ser um resmungão inveterado. Sempre dando uma aparência de “velhinho frágil”, se revelava um verdadeiro atleta e gênio das artimanhas. Juntamente com vários companions, como sua neta e Time Lady Susan Foreman e uma dupla de professores, Ian Chesterton e Barbara Wright, entre vários outros, percorrem principalmente momentos marcantes de nossa história como uma visita aos homens das Cavernas, um encontro com Marco Polo na China, a República do Terror na fase jacobina da Revolução Francesa, os Astecas, a Noite de São Bartolomeu e, claro, nos são introduzidos seus dois primeiros e mais importantes vilões: os Dalek e os Cybermen.

2º Doctor (Patrick Troughton)

A segunda encarnação do Doctor é vivida por Patrick Troughton, um ator levemente mais jovem que Hartnell, mas não menos cheio de surpresas. Sendo a regeneração celular e encarnação em outra pessoa um recurso novo e estando acontecendo pela primeira vez, os fãs estavam entusiasmados para ver como se daria essa passagem, e não se decepcionaram. O Doctor de Troughton continua bancando o lerdo e bobão, fazendo todos subestimarem suas verdadeiras habilidades, como a extrema inteligência e raciocínio rápido, estando sempre um passo a frente de seus inimigos. Mas como seu antecessor, o segundo Doctor também apresenta algumas características sombrias, a principio seu poder de dedução e manipulação pode apenas parecer uma brincadeira, mas quando necessário, a parte negra desse Doctor vem à tona e ele se torna um manipulador frio e sem escrúpulos. Ficou apelidado de “Cosmic Hobo”, algo como “mendigo cósmico”.

Tendo uma notável preferência por chapéus e mostrando principalmente grande apreço por cartolas, ele imortalizou frases como “Oh, my giddy aunt!” (Ai, minha mãezinha!) e “When I say run, run!” (Quando eu digo pra correr, corra!) e viveu aventuras com companions como Polly, Ben Jackson, James McCrimmon, Victoria Waterfield e Zoe Heriot, visitando Qin Shi Huang, o primeiro imperador da China, passando pela Revolução Gloriosa na Inglaterra, inaugurando o primeiro elevador espacial, correndo da Gestapo francesa durante a Segunda Guerra Mundial e sendo forçados a procurar fundos no GalactiBank por causa de uma infração cometida pelo Doctor ao estacionar a TARDIS.

3º Doctor (Jon Pertwee)

O terceiro Doctor traz uma grande revolução à série: foi a primeira vez que as aventuras do Time Lord foram ao ar em cores! Em 1970 a tecnologia sofria um grande avanço e isso, sem dúvidas, não passou despercebido pelos roteiristas. Pertwee encarna um Doctor mais elegante e com personalidade mais suave, extremamente ligado à tecnologia, ele adora montar dispositivos e dirigir qualquer tipo de automóvel (inclusive espaciais). Ele foi exilado na Terra pelos Time Lords e trabalhava como conselheiro científico da UNIT (uma organização militar), mas não perdia a chance de sair por aí viajando pelas estrelas, levando junto companions como Liz Shaw, Jo Grant e a famosa e preferida de muitos Whovians, Sarah Jane Smith!

Sempre usava casacos de veludo, calças combinando, botas, chapéus e vários acessórios e tinha um cabelo grisalho meio caído na testa; possuía um tom meio autoritário, mas se indignava rapidamente com a burocracia e a demora em processos terrestres, cunhando expressões como “Now listen to me!” (Agora escute aqui!) e a famosa “Reverse the polarity of the neutron flow” (Inverta a polaridade da corrente de nêutrons) que, embora só tenha sido usada duas vezes na série, virou símbolo da cultura geek. Pela sua forma de se vestir e atitudes sempre carismáticas, ficou conhecido como “The Dandy Doctor” (Doctor Almofadinha) e é na estada de Pertwee que vários dos vilões clássicos são introduzidos, como o Master, Omega, os Sontarans, os Silurians e os Autons.

4º Doctor (Tom Baker)

Abram alas que o Doctor favorito da série clássica chegou! O excêntrico Doctor de Baker é considerado um dos melhores de todos os tempos (perdendo apenas uma vez para o de Sylvester McCoy (o sétimo) e duas vezes para o de David Tennant (o décimo)). Possuindo sempre um sorriso maníaco no rosto e uma expressão de louco que muito se assemelha a de um sátiro, ele foi um dos Doctors favoritos nos Estados Unidos e sempre usava um cachecol colorido no pescoço, calças de tweed, coletinho marrom, sobretudo combinando com as calças, cartola, cabelos encaracolados voando para todas as direções, enfim, o serviço completo! Ele é um dos líderes de cosplay entre todas as encarnações dos Doctors e tem uma verdadeira paixão por jelly babies, uma espécie de bala em formato de bebês, o que o ajudou a cunhar a famosa expressão “Would you like a jelly baby?”, que pode ter duas interpretações: “Você gostaria de uma bala, baby?” ou “Você gostaria de uma jelly baby?”.

Ele é o ator que ficou mais tempo no papel de Doctor, foram sete anos interpretando uma das encarnações mais imprevisíveis de todos os tempos. Baker apresentou um Doctor mais alienígena em essência, embora tenha sido o primeiro a considerar os companions seus “melhores amigos”. Ele é considerado um dos mais altivos e sombrios Doctors, podendo ficar irritadiço rapidamente e mostrando um lado perverso e inescrupuloso, como quando descobriu uma armação feita pelo Master, um de seus inimigos Time Lords, para incriminá-lo do assassinato do chefe do Conselho de Gallifrey.

Baker viaja com Sarah Jane Smith por mais um período, juntamente o cachorro mecânico K-9, e depois com companions como Harry Sullivan, Tegan Jovanka, Leela, Adric, Nyssa e a famosa Romana, outra Time Lady e única das companions a sofrer regeneração (ela foi interpretada primeiramente por Mary Tamm e depois por Lalla Ward) e juntos enfrentam mistérios com múmias nas Pirâmides do Egito, mutações genéticas no espaço, fazem uma visita a Frankenstein e ao doutor Jekyll e Hyde, entre outros.

5º Doctor (Peter Davison)

Peter Davison foi uma escolha acertada para seguir os outros Doctors cujas aventuras estavam ficando um pouco sinistras demais. Com um rosto jovial e sendo considerado o Doctor mais bonito da geração clássica, ele encarnou uma personalidade leve e amigável, se tornando o primeiro Doctor em que o peso da indecisão se torna visível. Sempre de bom humor e gentil com todos os companions e personagens que encontrava ao longo de suas aventuras, ele sempre tentou ao máximo salvar todos em seu caminho, mesmo os que não mereciam. Ele era vulnerável, sensível e introspectivo, odiando qualquer tipo de violência e entregando, muitas vezes, o poder de decisão nas mãos de algum companion.

Ele continuou viajando com as companions Tegan Jovanka e Nyssa, e devido a sua compaixão, aceitou que Vislor Turlough e Kamelion viajassem com ele, embora ambos fossem, inicialmente, ameaças. Mais tarde Adric e Peri também passam a viajar com ele. O Doctor de Davison é, talvez, um dos que sofrem mais em tela: ele enfrenta a morte de Adric, o quase breakdown emocional de Tegan e percebe que, para salvar salva a vida de último companion, Peri, ele terá de se sacrificar e perder essa encarnação. Junto com seus companions, Davison viaja pela Guerra Civil inglesa, conhece o verdadeiro mal de Deva Loka, encontra Terileptils em 1966, participa de um baile de máscaras na famosa Cranleigh Hall, desmascara um impostor no lugar do Rei João I de Inglaterra entre várias visitas a planetas distantes.

A imagem do Doctor de Davison condiz com a sua personalidade, ele usava calças claras e um terno claro com detalhes vermelhos, inspirado no uniforme de cricket, um chapéu Panamá e, por incrível que pareça, um aipo na lapela. Ele foi o último Doctor da série clássica a usar o sonic screwdrive e tem importante ligação com o décimo Doctor, de David Tennant. Quando criança, Tennant assistia a essa encarnação de Doctor, adotando vários maneirismos e características. Outro fato curioso é que a filha de Davison, Georgia Moffett, é casada com David Tennant e participa de um episódio onde interpreta a “filha do Doctor”, que na época é interpretado por seu marido.

6º Doctor (Colin Baker)

Se há alguns Doctors favoritos dos fãs, também é preciso que haja um menos querido e ele se encontra na encarnação vivida por Colin Baker. Usando roupas coloridas e espalhafatosas ao extremo, como calça listrada, sobretudo xadrez, pontos de interrogação nas golas da camisa, guarda chuva colorido, lenços e um cabelo bagunçado, ele era egoísta, egocêntrico, se achava superior a todos e possuía um amor exacerbado para com gatos. Baker deu vida a um Doctor petulante e que possuía um ego inimaginável, se gabando constantemente de ter sido o único a conseguir consertar o Chameleon Circuit, sistema de camuflagem da TARDIS, e era geralmente rude com os companions; não é a toa que só teve dois, Peri e Mel, e passou apenas dois anos no papel.

Destruindo a imagem amigável que o último Baker contruira (embora os atores não sejam parentes), o sexto Doctor possui um grande apreço pela violência e pelas armas, característica extremamente criticada pelos fãs e que gerou um hiato na série. Não é claro se o molde desse personagem foi feito pelos roteiristas ou pelo próprio Colin Baker, que se recusou a filmar a cena de sua regeneração.

7º Doctor (Sylvester McCoy)

O Doctor de McCoy foi eleito em 1990 pelos fãs como o melhor Doctor até aquele ano. McCoy é marcado, no entanto, por outros acontecimentos como o cancelamento da série após 26 anos e por ser conhecido como o Doctor que mais sofreu alterações na personalidade. Começando como alguém extremamente bobo e ingênuo, ao ponto de se colocar em risco, e se transformando em alguém bastante manipulador, escolhendo suas batalhas com cuidado e inteligência, preferindo mexer seus pauzinhos por detrás dos panos e esconder as informações que possuia. Apesar dessa grande mudança, ele manteve certas características como a idiossincrasia na fala, a referência a trechos de literatura, restaurantes, comidas e bebidas ao acaso, o apreço por provérbios e ditados populares e uma grande empatia com os amigos e até mesmo alguns inimigos.

McCoy marcou seu Doctor pelo uso de um suéter cheio de pontos de interrogação, blazer clássico, gravata, chapeuzinho e guarda chuva, tinha um sotaque escocês e viajou também com apenas duas companions, Mel e Ace, e juntos passam pela lenda Arturiana, tendo que lutar contra Mordred e Morgaine, pela ditadura nazista e vários planetas nas galáxias encontrando no caminho antigos vilões como os Dalek e os Cybermen.

8º Doctor (Paul McGann)

O Doctor de McGann foi, com certeza, o que ficou menos tempo no papel, apenas uma hora e meia. As aventuras desse Doctor charmosão foram ao ar no formato de um filme em 1996 voltado para o público americano. Sabendo do sucesso que a série já tinha feito originalmente, a Fox Network pretendia ressuscitar as aventuras do viajante no tempo e embora tenha conseguindo altos índices de audiência não só nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra e na Austrália, não foi o suficiente para reacender a faísca de interesse pela continuação.

Assim como outros Doctors, o de McGann era jovial e entusiasmado, gostando de dar dicas para as pessoas sobre seus futuros. Uma característica no mínimo... interessante, era a mania de colecionar objetos “roubados” de outras pessoas durante seus encontros, como pequenos adereços ou objetos deixados para trás. Ele possuiu apenas uma companion, a médica Grace Holloway, com quem manteve um ar romântico e, causando controvérsia, trocou beijos; esse foi a primeira demonstração de afeto romântico entre um Doctor e sua companion. Ele ficou conhecido por usar um casaco de veludo verde, camisa social branca, uma echarpe no pescoço e sapato social. Um estilo bem clássico para o final do século XX.

Quanto ao plot, o filme apresenta a difícil regeneração do sétimo para o oitavo Doctor e um plano do Master para a destruição do mesmo. Ao se encontrar no meio de um tiroteio de gangues em San Francisco, o sétimo Doctor é baleado e levado ao hospital, vindo a falecer quando os cirurgiões tentam operá-lo sem levar em consideração a anatomia diferente dos Gallifreyan, como a existência de dois corações.

Sendo levado para o necrotério, sua regeneração se complica e atrasa devido ao grande número de anestésicos usados durante a cirurgia, tempo que é suficiente para os restos mortais do Master (que estavam sendo levados para Gallifrey) se regenerarem, formando uma nova encarnação do inimigo. Quando o Doctor finalmente se regenera e entra em sua oitava encarnação, conta com a ajuda da Dra. Holloway para vencer os planos do Master, que quase causaram a destruição da Terra quando ele abriu o Eye of Harmony da TARDIS, que é o buraco negro artificial que os Time Lords criam para gerar energia para suas viagens.

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Doctor Who é uma das séries de ficção científica mais antigas da televisão e conta com um recorde no Guiness Book como “série de ficção científica no ar por mais tempo”: são mais de 25 anos. Ela é considerada um dos projetos que revolucionaram em muitos aspectos as artes da filmagem e produção e um deles, que não pode passar despercebido, é o tema de abertura. Em 1966, com o nascimento de novas técnicas de áudio, Delia Derbyshire produziu um dos primeiros theme tunes eletrônicos para a série, utilizando-se de diversos materiais corriqueiros. O toque, que logo ganhou status de adoração entre os fãs, mantém-se na série até os dias atuais, sofrendo apenas alterações de Doctor para Doctor.

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